Boyfriend Material | tendery

By woolari

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Em um futuro onde a tecnologia está avançada o suficiente sendo possível projetar modelos robóticos idênticos... More

Prólogo
Capítulo 1 - Curiosidade
Capítulo 2 - Inocência
Capítulo 3 - Encanto
Capítulo 4 - Ternura
Capítulo 5 - Infortúnio
Capítulo 6 - Lástima
Capítulo 8 - Desespero
Capítulo 9 - Laços
Capítulo 10 - Despedida
Epílogo
SPIN-OFF

Capítulo 7 - Afeto

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By woolari

Semanas passaram e o sorriso no rosto de Sicheng começara a aparecer. Não valia a pena se remoer em sofrimento. Hendery o havia convencido de que Yuta partira em paz e que ele deveria seguir sua vida, pois era o que o japonês desejava.

Viver com Hendery também havia ficado melhor para Ten desde o mês passado. Ambos dormem juntos, ou melhor, Ten dorme e Hendery o faz companhia acalentando-o enquanto adormece e ansiando seu despertar diário. Ten algumas vezes se sentia desconfortável pois nunca havia tido um namorado antes. Não que Hendery fosse seu namorado, mas esse nível de proximidade com alguém era a primeira vez que o garoto estava experimentando. Ele esperava que Hendery apenas notasse certas atitudes como sendo algumas daquelas coisas sem explicação aparente que humanos fazem. Mas não era necessário se preocupar com isso, certo? Hendery fora comprado em uma loja de "namorados", afinal. Ele havia sido programado para essas funções. De qualquer modo, Ten era grato que o robô jamais houvesse feito uma pergunta sequer do porquê ele gostar de dormir com o rosto contra seu peito, por exemplo.

– Você gosta de mim, não é? – Hendery pergunta de repente em uma manhã.

Ten deixa a torrada cair, bufando por ter que limpar a manteiga do chão.

– É claro que eu gosto de você. Já disse que você me cativou, esqueceu?

– Não é disso que estou falando, é que...

Hendery hesita ao perceber que tinha a atenção de Ten.

– Pode falar.

– Bem, existem robôs para as mais diversas funções, você sabe. Eu fico me perguntando o porquê de você ter me escolhido. Quero dizer, eles tem robôs programados para serem apenas amigos.

Ten engole seco e em seguida toma um gole de café tentando esconder o nervosismo. Ele sabia onde Hendery queria chegar. Fingindo manter as coisas sob equilíbrio, ele morde um pedaço do bolo que havia comprado na padaria do canto enquanto evita troca de olhares com o robô.

– Me desculpe se isso te chateia, é que eu realmente não entendo. E mesmo que tente agir como seu amigo, é difícil para mim pois tenho que ficar me limitando.

– O que eu disse sobre pedir desculpas desnecessariamente? – o garoto diz agora caminhando em direção ao robô oferecendo-lhe uma xícara de café.

– Desculpe.

Ten começa a sorrir. Hendery o encara com as sobrancelhas franzidas.

– O que foi?

– Hm, é que tem algo aqui... – o robô passa os dedos no canto da boca do garoto os direcionando em seguida até sua própria boca lambendo restinhos de glacê que ele havia acabado de coletar.

Ten fica imóvel. Ele não se mexe e nem diz coisa alguma. Quando Hendery fica movimentando a mão na frente do rosto do menor para despertar sua atenção o mesmo se vira rapidamente contra o balcão e continua calado.

– Ten?

– O-oi?

– Você está bem? Parece que deu bug, mas você não é um robô. – Hendery começa a rir.

Ten continuava paralisado. Encarar uma torneira de repente parecia deveras interessante.

– Ten? – Hendery repete agora preocupado.

– Hendery. – finalmente ele lembra como pronunciar palavras – Você tecnicamente é um namorado, certo?

– Pelo menos eu deveria ser, até você me dizer o contrário.

– Não me tira o foco. – Ten diz ainda sério e sem olhar para Hendery o que faz o robô sorrir.

– Sim.

– Então, tecnicamente coisas que namorados fazem são familiares para você, certo?

– Sim.

– Tem algo que eu gostaria de fazer. Tudo parte do meu teste. – ele diz agora se virando para Hendery.

– Sim?

– Eu posso... – Ten gagueja enquanto revira o olho várias vezes. – Eu posso...

– Você quer me beijar? – Hendery pergunta com um tom bastante calmo e limpo, em contraste com as palavras de Ten, que saiam confusas e enroladas.

– Não é que eu queira te beijar, eu só quero testar uma coisa. Desde que você foi programado para isso acho que não tem muito problema, certo? Quero dizer, você deveria ser meu namorado apesar de eu não deixar, o que é óbvio que não aconteceria porque eu não sou fã de relacionamentos. Eu só fiquei um pouco curioso, também não é como se eu fosse me apaixonar apenas com um beijo, isso seria tão-

Os lábios de Hendery eram macios, Ten enfim pudera constatar isso. Ele vagarosamente vai fechando os olhos até sentir seus próprios lábios mais úmidos. Café. Um beijo com gosto de café. Tudo o que o tailandês conseguia imaginar no momento era estar sentado em uma varanda apreciando um vasto campo, céu azul, ar puro, o vento levemente frio tocando em seu rosto que era equilibrado por uma calorosa e quentinha xícara de café. Uma risada gostosa é ouvida e ao seu lado: Hendery. Ele não precisava de mais nada. Se pudesse pararia o tempo e eternizaria aquele momento. Mas uma coisa o traz de volta à realidade: o aviso dos cem dias de Taeyong. Ele havia cometido um erro ao se permitir ser beijado? Não importava o quanto o garoto ousasse mentir para si próprio, ele estava se apaixonando. Não que fosse necessário um grande esforço para se apaixonar por Hendery. Mas eles eram diferentes no fim das contas, talvez estivesse chamando por problemas.

Quando Ten subitamente se afasta do beijo, o robô apenas o olha por um segundo, sorri e beija sua testa, desaparendo para o quarto a fim de realizar uma rápida recarga. De alguma forma aquele pequeno sorriso fez com que os pensamentos ruins da cabeça de Ten voassem pra longe. Hendery e seu sorriso adorável. Ele era real. O sentimento que ambos compartilhavam um pelo outro também era. Não se aproximar de Hendery por ele ser "diferente" é cruel. Ten sabe o quanto ele quer ser humano.

O único que havia começado tudo era Ten. Ele era responsável por Hendery. Ele o cativou e permitiu ser cativado. Ao lembrar da relação de Sicheng com Yuta, Ten conclui algo: se Hendery possuía mesmo apenas cem dias, então eles já haviam perdido muito tempo, não perderiam mais.

••••

Cochichos começam a incomodar Ten enquanto ele e Hendery caminham pelos corredores da faculdade. Alguns eram altos o suficiente para que ele soubesse o motivo de todo aquele tumulto.

"Nossa, como é alto." "Ele é lindo."

"Moço dos cabelos negros namora comigo, por favor."

Hendery sorri. Era a primeira vez transitando por ali. Ele sempre ficava esperando o garoto do lado de fora, lendo algum livro ou estudando visualmente insetos e flores. "Posso te acompanhar até sua sala?" ele havia perguntado no portão. "Por que não?" Ten pensou, afinal Hendery já havia mostrado que sabia se comportar muito bem na presença de humanos.

"Baixinho, você poderia me apresentar seu amigo?"

"Será que são namorados?" "Não, eu acho que não, eles não combinam."

Ao virar-se para procurar de onde havia saído aquele último comentário, Ten é surpreendido por um toque macio e sente seus dedos entrelaçando-se com os de outrem.

– Hendery, não-

O mais alto dá de ombros e continua caminhando. Ele ouvira também, e apesar de ter ficado animado com todos os elogios, seu humor despencou rapidamente ao perceber que Ten havia sido afetado por um comentário bobo. Pouco importava se ambos eram namorados ou não, visto que sua presença estava chamando tanto a atenção das pessoas de modo que as levassem a duvidar que Ten fosse capaz de conseguir alguém como ele, Hendery queria mostrar que elas estavam enganadas. Muito enganadas. Era como se ele estivesse tentando dizer: "Você acha que nós não combinamos? Olhe como ficamos bem juntos."

Ten normalmente rejeitaria Hendery, ele odiava ser o centro das atenções e depois daquilo comentários certamente surgiriam pelo campus, mas por algum motivo não o fez dessa vez. Talvez fosse porque a atitude de Hendery havia sido nobre. Ele quis ajudá-lo e não o desmereceria em público. Ou talvez fosse porque queria mesmo que soubessem que ele estava com Hendery. A segunda opção era mais provável.

Quando chegam na frente da sala, Ten puxa delicadamente o pescoço de Hendery e lhe dá um selinho. O robô arregala os olhos com tal atitude completamente inesperada vinda do companheiro. Entretanto, aquilo era como deveria ser, desde o início. Ten finalmente havia entendido o motivo de Hendery ter sido criado.

– Você quer que eu o espere?

– Não precisa. Você sabe chegar em casa, certo? Vá para lá e se recarregue. Assista ou leia algo. Eu vou demorar hoje.

– Então vou estar te esperando com um jantar maravilhoso.

Ten sorri. – Faça isso.

A ânsia de chegar logo no apartamento preenchia o peito de Ten durante todo o período em que ele estivera em aula.

Quando finalmente chega no edifício ele para com os dois pés colados e suspira. Um sorriso marcava seu rosto. Ten sempre esteve bem. Ele não havia presenciado de fato acontecimentos que o deixassem triste. Porém, após conhecer Hendery, ele chegou à conclusão de que "bem" não era o bastante e desejava profundamente que todas as pessoas pudessem compartilhar desse sentimento.

Ele destrava a tranca do apartamento e exclama um sonoro "Cheguei!".

Sem resposta.

– Hendery?

Ten joga a mochila no sofá e coloca as mãos na cintura.

– Ha ha! Não tem nenhuma graça. Você pode sair agora, eu não gosto dessas coisas.

Ainda sem resposta.

O celular vibra em seu bolso e o garoto o retira para atender. Era Sicheng. Ele falava com uma voz abafada mencionando algo sobre ele ter permitido que Hendery saísse em outras companhias.

– Sicheng! Fala com mais calma. Eu não estou entendendo você.

Após um momento ouvindo o amigo do outro lado da linha, sua expressão muda.

– Você pode me encontrar lá? Por favor, vá para lá.

Ele desliga o telefone, pega seu casaco e sai correndo.

[continua...]

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