1095 dias sem você |Taekook|...

By Analuaautora

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[ NÃO PERMITO ADAPTAÇÕES E NEM TRADUÇÕES] 🌈 Jeon Jeongguk costumava ser um jovem soldado, cheio de sonhos e... More

Prólogo
Flower
But it's destiny
This Love
Sunset
Here i am again
Let us go
Beautiful goodbye
Hold me
Someday
Always
Give you my heart
Love Story
Broken
Friends
Only Then
Stay with me
Heart
Please Don't Cry
Marry You
Quiet Night
Talk Love
I Just Want To Say With You
Halleluja
Epílogo
Trailer: 1095 dias sem você
Nota de esclarecimento
Livro físico: 1095 dias sem você
Pré-venda de 1095 dias sem você!

Maybe Someday

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By Analuaautora

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Não aceito adaptações desta obra.

Jeongguk fechou o diário e o carregou consigo até a cama. O rapaz se deitou e fechou os olhos cansado, as pálpebras pesadas e ardendo pelo choro recente, o fazendo sentir sono, queria dizer tantas coisas para o Kim, mas no momento apenas deixou que o sono falasse mais alto e adormeceu. Não demorou muito para que seu estado profundo o fizesse sonhar, a muito tempo Jeongguk não sonhava, mas estava acontecendo de novo, na verdade era o mesmo pesadelo de antes, o rio, o avião, as pedras, vozes ao longe, ecos, uma angústia e medo.

Seu corpo se remexia contra o colchão e seus olhos se mexiam nas pálpebras, suas mãos se agarraram firmemente nos lençóis e seu coração sobressaltou ao ouvir um estrondo, a correnteza o arrastava cada vez para mais longe, sentiu vontade de gritar mas seu grito fora repreendido pelo grunhido de dor que sentiu pelo impacto das batidas em seu corpo contra as pedras, queria acordar, precisava, aquilo só poderia ser um pesadelo, não poderia estar acontecendo, mas parecia tão real, como da primeira vez, até que então, tudo se acalmou e ainda dentro do sonho Jeongguk pode ver outras pessoas.

Havia uma praia, o céu estava um pouco nublado, o local estava vazio a não ser por duas crianças brincando na areia, aos poucos o Jeon soltou os lençóis se acalmando, a cena o tranquilizou, os meninos corriam na praia e o menor de todos segurava um galho vez ou outra fazendo riscos no chão, o menino maior entrou na parte mais rasa do mar, sorrindo e chamando o garoto menor para dentro, Jeongguk não conseguia visualizar bem seu rosto, mas ele pareciam amigos, os meninos molharam os pés e depois correram de volta para areia. O mais alto se abaixou recolhendo uma conchinha no chão, o que fez o menor também se abaixar.

- Hyung, o que é isso?

O coração de Jeongguk se acelerou, e sentiu dificuldades em respirar ao ouvir a voz da criança.

O outro garoto afagou os cabelos do menino e sorriu, Jeongguk se lembrava daquele sorriso, mas não sabia de onde, sentiu-se angustiado e novamente se remexeu na cama, mas não despertou.

- São conchinhas da amizade, vê? - O outro respondeu, colocando a pequena conchinha na mão do garotinho.

- Mas só tem uma hyung!

A voz do garotinho soou mais alta, e outro sorriso nostálgico surgiu.

O garoto mais velho pegou a conchinha de volta e com um pouco de dificuldade a partiu, entregando a metade para o menor.

- Essa fica com você, e essa comigo. Nunca perca, assim podemos ser amigos pra sempre. - O garantiu, e o pequeno menininho sorriu, agitando o coração de Jeongguk.

- Mesmo!? - falou animado e o mais velho concordou. - Então eu nunca vou perder! - garantiu.

O outro sorriu, levando novamente uma das mãos a cabeça do garotinho.

- Eu também não, Jeongguk.

O Jeon acordou em um impulso rápido seu corpo se levantou na cama, seu coração batia freneticamente como se tivesse corrido uma maratona, seus olhos piscaram e tentou focalizar, aos poucos se acostumando com a luz do quarto, o sonho ainda lhe parecia tão real, procurou respirar e inspirar para se acalmar, e quando o susto passou apenas encostou a cabeça nos joelhos, se sentando na cama. Poderia ser que esse sonhos fossem lembranças suas? Eram muito reais para serem meros sonhos, engoliu a seco e resolveu tirar a prova a limpo, olhou ao redor, já estava escurecendo, mas ainda era cedo, teria algum tempo antes de ir para o serviço, então saltou da cama e correu em direção a cômoda abrindo e fechando as gavetas em busca de algo que ele nem mesmo sabia, não encontrou nada, então suas buscas foram direcionadas ao guarda roupa, abriu porta por porta e gaveta por gaveta não encontrando nada.

Se afastou, e levou as mãos até os fios suados da cabeça, sentia-se frustrado, mas quando olhou para um pouco mais acima, ainda com as mãos nos cabelos pode visualizar em cima do guarda roupas uma caixa.

Seu coração sobressaltou por alguma razão.

O rapaz prontamente pegou a caixa, tossindo um pouco ao notar que estava cheia de poeira, se sentou na cama com ela, soprando e passando as mãos para limpar o máximo possível. Ele a abriu, e nela haviam várias coisas: figurinhas, algumas revistas em quadrinhos, um pequeno álbum de fotografias, alguns cds e no fundo da caixa havia algo que fez Jeongguk estremecer e prender a respiração, não era um simples sonho quando se tinha algo concreto bem a sua frente, calmamente seus dedos tocaram no fundo da caixa retirando uma pequena conchinha partida, uma pontada atingiu seu coração, ele pegou a pequena concha e olhou mais de perto, sentiu imenso carinho em segura-la como se fosse algo muito importante para si, não demorou muito para sentir algo quente escorrer por seu rosto, e ao fungar notar que estava chorando.

Ele não sabia o porquê, as lágrimas apenas vinham enquanto sentia a concha na palma, fechou os olhos fazendo o possível para se acalmar, e conseguiu, deixando a conchinha sobre a cama. Seus olhos se voltaram novamente para caixa retirando de lá um algum azul marinho, Jeongguk o abriu, e novamente uma onda de nostalgia lhe atingiu, haviam fotografias de dois garotos em várias situações, não demorou muito para o Jeon ter consciência, já havia visto aquele garoto em outra fotografia antes, se tratava do Jung e ao perceber isso sentiu um aperto na garganta.

Era estranho olhar aquelas fotografias, e perceber que seu sonho era uma lembrança com o mais velho. Hoseok era tão importante assim para si? Continuou olhando as fotos, ele parecia feliz, os dois pareciam, suspirou quase sem perceber, eram apenas crianças e pareciam tão próximos mesmo que agora um abismo os separassem, olhou novamente para concha sobre o lençol, um dia chegou a acreditar que eles seriam amigos para sempre? Um dia chegou a amar Hoseok a esse ponto? Era inacreditável, quando tudo que remetia ao mais velho o lembrava raiva e mágoa, uma mágoa crescente, mas ao olhar para as fotos e para concha tudo que Jeongguk sentiu foi saudade e tristeza, de algo que ele sequer se lembrava, mas de algo que claramente estava ali.

Fechou o álbum respirando fundo novamente, era só o que fazia nos últimos tempos, ele levantou da cama segurando os dois cds nas mãos, ainda estavam nas capas quando Jeongguk desceu lentamente as escadas. Acabou encontrando seu pai lendo um livro, o mais velho levantou o olhar dizendo um boa noite para o filho que apenas acenou, parando a sua frente.

- Sabe o que é isso? - perguntou, e o mais velho fitou os cds arregalando os olhos.

- Oh, desculpe filho. Me esqueci de jogar isso quando limpei seu quarto.

O homem se levantou, estendendo uma das mãos, mas o rapaz negou.

- O que é, pai?

- São vídeos seus e do Hoseok na infância, você não vai querer ver isso filho, me dê.

Jeongguk negou, se sentando no sofá.

- Eu quero ver.

Senhor Jeon discordou, mas a pedido de Jeongguk acabou pegando o cd e colocando no aparelho para que pudessem assistir. O vídeo começava com a imagem do céu e um pouco mais abaixo do mar, ficou por um bom tempo assim, até as vozes no vídeo dizerem: Hoseok e Jeongguk, olhem para câmera! Rapidamente a imagem mostrou os dois garotos, o Jeon os reconheceu rapidamente, eram os mesmos de seu sonho, seu coração disparou, e naturalmente levantou e chegou um pouco mais aperto da televisão, seus olhos vidrados na imagem bonita de duas crianças de mãos dadas na praia, a diferença de altura não era tanta, mas ainda sim perceptível, as orbes negras acompanharam enquanto os meninos corriam e o menor, segurou um galho desenhando no chão, o Jeon sentiu um peso no estômago, e novamente sua respiração pesar. O garotinho escreveu algo na areia, mas antes que pudesse dizer algo o outro o chamou para irem até a beira do mar, eles molharam os pés e correram se abaixando e interpretando a cena que Jeongguk virá em seu sonho.

Hoseok era seu amigo, piscou os olhos calmamente, cada vez chegando mais próximo a tela, senhor Jeon apenas via suas reações preocupado. Após se levantarem já com as conchas nas mãos Jeongguk pode ver o que estava escrito na areia, sua garganta se fechou rapidamente e seus olhos arderam ao ler o que seu eu na infância escreveu.

"Hoseok e Jeongguk, amigos para sempre"

- Jeonggukie e isto é tortura filho, pare. - senhor Jeon pediu atrás de si, ao notar que o mais novo chorava.

Jeongguk já não prestava atenção ao redor, tudo o que conseguia visualizar eram os dois garotos voltando a correr na praia de mãos dadas, por alguns segundos a tela ficou preta o fazendo piscar os olhos e liberar as lágrimas acumuladas em sua linha d'agua. Mas logo tudo ficou claro novamente e uma nova imagem apareceu, era uma garagem e haviam quatro garotos nela, desta vez Jeongguk não demorou a se reconhecer, nem ao Jung, ambos usavam camisas idênticas de uma banda qualquer, haviam alguns instrumentos e os outros garotos os tocavam, eles estavam crescidos.

- O que é isso? - perguntou, não desprendendo os olhos da televisão.

Senhor Jeon coçou as pálpebras fechadas.

- Vocês tinham uma banda com outros dois garotos do bairro, era uma bagunça.

Um sorriso não premeditado surgiu no rosto de Jeongguk no mesmo instante que Hoseok segurou um microfone e começou a cantar desafinadamente enquanto os outros garotos tocavam, Jeongguk apenas passava as mãos pelas cordas de uma guitarra causando ruídos terríveis.

- Todos os vizinhos reclamavam do barulho. - senhor Jeon concluiu, sorrindo também com a recordação.

- Era divertido, não era? - Jeongguk sussurrou, fitando a televisão.

- Certamente, já que você passava mais tempo com Hoseok do que em casa... - senhor Jeon parou de falar, para olhar o filho. - Vocês gostavam muito de gravar esses ensaios. - concluindo.

Jeongguk piscou os olhos e outra vez a tela escureceu, mas não demorou muito para que novas imagens surgissem, mas desta vez havia apenas o Jung em frente a câmera, desta vez estava ainda mais velho que antes, sentado em uma cadeira segurando os joelhos.

- Kookie, eu pensei em diversas coisas para fazer mas no fim, nada saiu como planejei. - O rapazinho no vídeo riu, envergonhado. - Decidi gravar um vídeo então, e como estou sem cds aqui eu vou gravar em cima do nosso ensaio magnífico, desculpa - Hoseok ergueu as mãos mas estava sorrindo. - Não é todo dia que se faz dezoito anos, e hoje é o seu dia. Eu tô nervoso, é estranho demais gravar um vídeo para o seu melhor amigo? espero que não. - O rapaz limpou as mãos nos jeans que usava e lambeu os lábios. - Cara, eu só quero dizer que eu te amo. E que eu te desejo toda felicidade do mundo, quero que estejamos sempre juntos, porque afinal sem mim, você não seria nada, não é? - O Jung sorriu novamente ajeitando a jaqueta jeans que usava. - Quero passar cada momento da sua vida com você, você pode contar comigo pra sempre, e quando nós dois estivermos velhos, sem objetivos na vida e só nos restar o casamento, eu também quero estar com você. Mas não, eu não quero me casar com você, deus me livre. - Hoseok fez uma careta e Jeongguk sorriu.

- Que idiota... - comentou, se divertindo.

- Desculpe, eu não sou bom com as palavras. - O Jung no vídeo suspirou, e se inclinou se abaixando por breves segundos, até trazer um violão consigo. - Eu fiz uma música pra você, mas não espere muito, ok? Sério, não espere nada disso. - Hoseok limpou a garganta e com a ponta dos dedos batucou no violão. - 1,2,3 - ele disse em inglês, antes de continuar em coreano. - Eu tenho um amigo ele é bonito, tira boas notas e é bom em tudo, mas ainda lembro... que ele me seguia, como um filho segue um pai, ele me dizia, assim bem baixinho, hyung você é tão incrível, um dia espero crescer e assim, como você eu quero ser e ele não sabia que eu sentia, tanto orgulho ao ouvir, e que pra mim o que mais valia, era ser alguém que ele sempre seguiria. - O Jung terminou os acordes e fora como se todo o mundo parasse, seus olhos negros fitando a câmera e Jeongguk vidrado neles.

- Essa foi pior coisa que eu já ouvi. - O Jeon comentou, ainda fitando a tela.

E antes que pudesse dizer qualquer outra coisa uma vontade absurda de rir lhe atingiu, ele se curvou, tocando os joelhos e a primeira onda de risadas veio, sequer prestou atenção ao que o Jung ainda falava no vídeo, apenas riu até que o ar lhe faltasse e sua barriga doesse.

E quando voltou a se endireitar, haviam lágrimas em meio ao seu sorriso, ele cobriu os olhos com um dos braços e tornou a falar.

- Isso é horrível... péssimo... a pior coisa...

Senhor Jeon se aproximou ao ouvir o primeiro soluço do filho, o tocou em um dos ombros e Jeongguk revelou o rosto, não estava mais sorrindo.

- Isso é horrível appa, tão ruim. - repetiu, e o homem concordou.

- Eu sei filho, eu sei.

O mais velho puxou Jeongguk para um abraço e o garoto se permitiu chorar, enquanto a voz de Hoseok ainda soava pela sala.

"Feliz aniversário, Kookie."

Jeongguk se preparou para ir ao trabalho depois de guardar todas as coisas que achou, estava aéreo, eram muitas informações ao mesmo tempo para processar, o diário e os sentimentos do Kim, as lembranças que provavelmente estavam voltando, pouco a pouco, e seu relacionamento com Hoseok, havia muito o que pensar, e pensou precisar de anos para digerir tudo. Mas não tinha todo esse tempo, então apenas seguiu seu caminho em direção ao trabalho. Mas fora como se não estivesse ali, as pessoas ao redor e os sons eram apenas detalhes, Jeongguk secava um dos copos quando sua mente viajou para longe, para o sorriso que o Jung direcionou a si logo após prometer nunca perder a concha, então eles tinham esse tipo de relação? Se descuidou um pouco, e não percebeu quando o copo caiu se partindo no chão, assustando a pobre senhora Min.

Tentou tomar cuidado das outras vezes, mas vira e mexe se pegava pensando no seu passado, mais precisamente no amigo que costumava ter, após ler o diário do Kim muitas coisas se clarearam e deixaram de ser grandes tempestades para se tornarem algo um pouco mais leve, uma garoa irritante que não o deixava descansar. Sabia que não conseguiria ficar em paz enquanto não fizesse o que estava pensando em fazer, quando a lojinha fechou e ajudou a recolher as mesas, o Jeon aproveitou que Yoongi iria trancar o restaurante para perguntar-lhe algo.

O Min puxava as portas quando Jeongguk parou ao seu lado, o ajudando a terminar o trabalho, o garoto agradeceu e deu boa noite ao Jeon, mas parou quando ouviu sua voz novamente.

- Onde Hoseok mora? - questionou, tranquilamente.

Mas isso deixou o Min assustado e desconfiado, apenas tombou a cabeça para o lado estreitando os olhos.

- Por quê? Quer terminar o que começou?

Jeongguk revirou os olhos, e fitou seriamente o homem a sua frente.

- Quero conversar com ele, mas claramente não sei onde ele mora, por favor, me diga.

- Jeongguk... sei que vocês têm um passado e uma coisa toda maior, e que não posso me meter, mas, sério, se você quer fazer mal para o Hoseok eu vou te dar uns cascudos, ele já está sofrendo o bastante, não vou deixar que o mate.

- Não quero matá-lo. - Jeongguk disse, convicto. - Se quisesse já teria feito isso.

- Não confio em você.

- Ora, me diga de uma vez, prometo que não vou bater nele... quer dizer, vou me esforçar. - Jeongguk sorriu um pouquinho com sua última fala, vendo de canto de olho a boca do Min se abrir em indignação.

- Se esforçar? - Yoongi se aproximou dele e lhe deu um cascudo. - Bata nele e estará frito amanhã, ouviu? Estou te avisando.

- Estou brincando, não seria capaz de me meter com você. - Jeongguk balançou a cabeça fingindo medo, fora a vez de Yoongi revirar os olhos.

- Ótimo.

Acabou desistindo e revelando o endereço do Jung ao Jeon, mas na verdade Yoongi realmente temia pelo homem, mas sabia que os dois precisavam daquilo, e o que lhe restava era desejar que tudo terminasse bem para os dois. Já se passavam das vinte e duas da noite, Jeongguk andou calmamente recordando da pequena explicação que Yoongi lhe fez, Hoseok não morava longe, e desejava que estivesse acordado no momento. Não precisou andar muito para chegar ao local, mas ao se deparar com o portão azul não teve coragem de bater. Ficou encarando o portão, sentindo-se totalmente idiota por estar parado na frente da casa do Jung, pensou em dar meia volta e ir embora, aquilo era besteira, mas seus pés não permitiam, algo no fundo de sua mente lhe dizia que os dois precisavam daquela conversa, portanto no fim, venceu seus anseios e tocou a campainha.

Suas mãos começaram a suar, e respirou fundo a medida em que ouviu passos lentos, o Jung já estava dormindo quando ouviu a campainha tocar e se levantou. Ainda bocejava quando destacou o portão e coçando um dos olhos visualizou Jeongguk parado a poucos passos de si. Logo todo o sono abandonou seu corpo o deixando em alerta, seu coração disparou no peito, quase não conseguia acreditar que aquilo era real, então se permitiu coçar os olhos pesados, mas o garoto estava realmente ali.

- Jeon...gguk? - sua voz soou quase um sussurro.

O Jeon o olhou de cima a baixo, e quase sorriu para o fato do mais velho estar com os pés descalços na calçada.

- Desculpe, pelo horário, eu posso entrar um pouco? - perguntou, educadamente, não sustentando o olhar com o mais velho.

- Claro.

Hoseok abriu o portão dando passagem para o mais novo, ainda totalmente confuso, e o seguiu pela calçada.

- Aconteceu algo? - perguntou. - Soobin está bem? O Tae... - O Jung se calou ao tocar o nome do Kim.

Jeongguk parou no meio do caminho e depois se virou para encarar o homem, não queria falar sobre Taehyung, ainda não.

- Nada aconteceu com eles. - respondeu, rapidamente desviando o olhar.

Hoseok concordou, e acompanhou com o olhar quando Jeongguk se sentou nos pequenos degraus em frente a porta, o fitando, o Jung não sabia o que dizer ou pensar, sequer imaginou que um dia o Jeon estaria assim em sua casa, e após longos minutos em silêncio apenas encarando um ao outro, o mais novo suspirou profundamente.

- Eu vim conversar. - revelou.

Hoseok não pode evitar ficar surpreso e partiu os lábios pronunciando um "ah" totalmente confuso. Jeongguk queria conversar?

- Me lembrei de algumas coisas pela manhã.

- Suas memórias?

- Sim.

- Isso é muito bom, Kookie!

O Jung se animou, mas logo percebeu que havia usado um apelido com o rapaz, e se desculpou. Hoseok realmente não entendia o intuito do Jeon de vir a sua casa no meio da noite para conversar, mas estava disposto a ouvi-lo se isso era o que desejava.

- Quer algo para beber? - perguntou, chamando a atenção do outro que fitava as pedrinhas na calçada.

Ainda processando o fato de ouvir o mais velho o chamando pelo apelido tão familiar.

- É uma boa ideia. - respondeu.

Hoseok pediu licença e passou por Jeongguk para entrar em casa. O rapaz estava nervoso, haviam tantas coisas que queria perguntar e contar ao mais novo, mas por hora apenas pegou uma latinha de refrigerante na geladeira e entregou ao rapaz que o olhou com uma sobrancelha arqueada, segurando.

- Melão? - questionou e o Jung concordou.

- Era seu preferido quando mais novo, o meu também.

O Jeon assentiu, abrindo a lata e a virando goela abaixo. Era estranho estar ali, era estranho a atmosfera familiar que sentia, principalmente ao sentir o gosto do refrigerante, novamente, nostalgia. Jeongguk voltou a fitar o mais velho assim que terminou o gole, o Jung se mantinha em pé com os braços cruzados em frente ao corpo, fitando o mais novo em busca de respostas.

O garoto apertou a latinha contra as mãos sentindo sua temperatura fria. Logo seus olhos se voltaram para frente e sem mais delongas despejou o que realmente queria saber.

- Como foi? - questionou, e ao notar confusão no rosto do outro tentou ser mais claro. - Como foi quando eu parti, como se sentiu, o que fez, o que eu significava para você? - Por fim, atingindo seu objetivo.

O Jung sorriu levemente, pela primeira vez na noite, observando enquanto o Jeon abaixava o rosto para a latinha em suas mãos.

- Você significava família para mim, Jeongguk. Ainda significa. - O Jeon ouviu, ainda cabisbaixo. - Eu fui o primeiro a saber quando aconteceu, e como eu me senti? Eu me senti culpado, por não ter ido no seu lugar naquele avião ou pelo menos acompanhá-lo. - desta vez o Jeon levantou o olhar para fitá-lo. - O que eu fiz? Eu me desesperei, o que qualquer pessoa naquela situação faria, mas depois eu tive que manter a postura, me forcei a manter firme e voltei para casa. Encontraram sua placa de identificação presa em galhos de uma árvore perto do rio, foi a única coisa... e eu a levei, para o Taehyung.

O Jung engoliu a seco se recordando muito bem do momento, do olhar triste do Kim, de seu grito de dor e recusa, de tudo.

- Ele não quis acreditar, nem eu mesmo acreditava ainda. Ele não suportou, estava frágil, eu também não aguentei mais segurar e chorei tentando me desculpar, mas não havia nada que eu pudesse fazer.

Jeongguk assentiu, levemente, e deu outro gole no refrigerante, antes de continuar.

- Eu li o diário do Taehyung. - Jeongguk revelou. Surpreendendo Hoseok. - Nele o Tae diz que você o ajudou a me procurar mesmo quando os oficiais pararam as buscas, o que me fez pensar bastante, você já o amava?

O Jung piscou os olhos sentindo pouco a pouco seu coração acelerar.

Hoseok não o respondeu.

- Porque... esse seria o momento perfeito para deixar tudo para lá, por que se deu o trabalho de me procurar? Porque alimentou as esperanças do Tae? Você não o queria?

Hoseok o olhou desacreditado e sorriu, levando uma das mãos a nuca, Jeongguk estava mesmo dizendo aquilo?

- Está mesmo dizendo isso? Pensa mesmo que sou tão baixo a esse nível?

- Eu não conheço você. - Jeongguk resmungou.

- Você me conhece. - desta vez Hoseok se aproximou do rapaz. - E eu te amo Jeongguk, foi por isso que eu te procurei, porque eu também queria que você estivesse vivo, e meus sentimentos em relação ao Taehyung não tem nada haver com isso.

Ambos se fitaram intensamente. Havia algo no Jeon que o inclinava a agir assim, ao mesmo tempo em que queria ser maduro e conversar com o Jung, também queria ser imaturo e acusá-lo de tudo.

- Então quando foi? quando se apaixonou por ele? Me conte o que você deveria ter me contado, Hoseok, seja sincero como nunca foi com o seu melhor amigo.

Após ler o diário Jeongguk soube que o Jung não se apaixonou pelo Kim depois que sofreu o acidente, isso era antigo, só poderia ser. As palavras ácidas de Jeongguk fizeram o Jung suspirar, era nítido o quanto o mais novo ainda estava magoado consigo, mas ainda sim queria ouvi-lo, então seria sincero, como ele pedia.

- Eu me interessei pelo Taehyung desde o primeiro dia em que o vi no parque. - começou. - Eu queria falar com ele, muito. Mas você foi mais rápido do que eu. Dava para ver no seu rosto o quanto você havia gostado dele Kook, e eu não quis atrapalhar isso. Você sempre foi um garoto romântico, que sonhava em se casar e construir uma família comum, eu nunca quis isso pra mim, tinha outros objetivos na vida, não ia me deixar levar por uma atração momentânea, mas você, eu sabia que pra você era especial, porque você nunca se interessava por ninguém.

- Pelo jeito era especial pra você também. - O Jeon comentou.

- Sim, era. Mas eu não sabia disso. Então eu guardei para mim, e depois disso você não parou mais de falar no Taehyung, você estava claramente apaixonado, eu não me meteria entre vocês dois.

- Mas se meteu. - o rancor era nítido na voz do Jeon, Hoseok desviou o olhar por um tempo, antes de continuar.

- Sim, me meti. Você tem razão. - desta vez o mais velho voltou a fitá-lo. - Porque a atração que eu sentia pelo Taehyung acabou se transformando em admiração quando fomos forçados a viver com a dor da sua perda. Porque a admiração se tornou carinho, e o carinho se tornou amizade... porque parar de olhar para o Taehyung se tornou impossível para mim, e por ele ser quem é, por ter se mostrado forte ao mesmo tempo que tão vulnerável, por ter se superado e em meio ao caos, ter corrido atrás de seus sonhos, por ter me permitido ampará-lo em um momento de tanta dor e por também ter sido meu ombro amigo, tudo isso contribuiu para que todo e qualquer sentimento meu se tornasse amor.

O Jeon soltou a latinha que segurava contra a calçada e se levantou indo em direção ao Jung, ele se agarrou a camiseta do mais velho o encarando de perto, o Jung não desviou o olhar.

- Droga, eu prometi ao Yoongi. - Jeongguk resmungou, sem soltar o tecido.

Hoseok franziu a testa pensando no porquê do Jeon tocar no nome do Min.

- Você ainda o ama? - perguntou, mesmo sabendo ser uma pergunta boba.

- Sim. - Hoseok respondeu positivamente, o que fez o sangue de Jeongguk ferver ainda mais.

Mas o mais novo apenas respirou fundo, tentando se controlar.

- Mas eu sei que ele te ama, então eu estou feliz por ele, porque finalmente pode estar ao seu lado.

Com as palavras do mais velho Jeongguk aos poucos soltou sua camisa, se endireitando.

- O que quer dizer? - questionou.

- Não me importo em não ser amado, desde que o Taehyung fique bem. Ele sempre te amou, eu nunca tive dúvidas disso e não teve um dia em que isso não ficasse claro para mim, eu nunca tomei o seu lugar, Jeongguk. - O mais velho repetiu uma das frases do Jeon. - Eu quis ser para o Taehyung alguém em quem ele pudesse confiar, alguém com quem pudesse se sentir seguro, eu estava disposto a ser ferido por ele, se necessário, eu só queria vê-lo sorrir.

Jeongguk não soube o que responder perante ao olhar repleto de sentimentos do Jung.

- Ele e Soobin se tornaram pessoas muito importantes e eu queria protegê-los a todo custo, mas eu sabia, no fundo eu sabia que ainda não havia conseguido alcançar o coração do Taehyung, e depois que você voltou eu claramente não ficaria no meio de vocês dois novamente, ele não precisava nem me dizer, eu sabia que tinha perdido desde que comecei, só me permiti aproveitar o pouco tempo que tive com ele.

- Você me faz querer socá-lo e ampará-lo ao mesmo tempo. - Jeongguk comentou, fitando o chão.

Hoseok sorriu pouco, e observou o Jeon dar um passo para trás.

- Vocês estão juntos? - está foi a vez de Hoseok questionar. Mas logo se arrependeu ao notar que também era um pergunta boba, então a reformulou. - Bem, você está cuidando bem dele? Já o perdoou? Você sabe que ele carrega um peso, não sabe?

- Eu sei, não fale como se conhecesse o homem que amo melhor do que eu. - alfinetou mas o Jung não se abalou.

- Cuide bem dele, faça-o feliz, ele merece.

- Eu sei. - garantiu, se virando de costas para o Jung.

Jeongguk fitou o céu por alguns instantes, a raiva se dissipando aos poucos e dando lugar a um sentimento de imenso vazio.

- Nós éramos muito próximos, não éramos? - questionou mudando de assunto. E ainda de costas para o Jung.

- Sim, como irmãos.

- Eu gostaria de me lembrar, as vezes quando durmo eu tenho sonhos, tenho certeza que são minhas lembranças mas é raro de acontecer, o que me deixa ainda mais angustiado, me sinto um livro com várias páginas arrancadas.

- Um dia você vai tê-las de volta, confie.

Aos poucos o Jeon se virou para encarar Hoseok que também o olhava com atenção.

- Me lembrei de você... na nossa infância... estavamos na praia, eu te chamava de hyung o tempo todo.

Hoseok sorriu, pois essa era uma de suas melhores recordações com o amigo.

- Você nunca se cansava de me chamar assim. - Hoseok concluiu, ainda com um sorriso.

Jeongguk observou aquele sorriso, e também sorriu, ainda com os lábios fechados.

- Hyung? - chamou, fazendo o outro olhar para si, surpreso.

O coração de Hoseok voltou a acelerar rapidamente e um frio no estômago de Jeongguk se alastrou.

- Vamos nos despedir? - perguntou.

Hoseok não entendeu muito bem, mas apenas assentiu encarando as orbes negras brilhantes.

- Na minha lembrança você me deu um presente. - continuou falando, e levou uma das mãos ao bolso do casaco que usava. - Você disse que se eu guardasse poderíamos ser amigos pra sempre.

Pouco a pouco a compreensão passou pelo rosto do mais velho, que apenas assentiu. Jeongguk abriu a palma da mão e mostrou ao Jung a pequena conchinha que o dera a muitos anos atrás.

- Temos muitas fotos juntos hyung, e eu vi nossos vídeos também.

Os olhos do Jung já brilhavam.

- A música que você fez para mim é péssima. - Jeongguk sorriu, sentindo seus olhos arderem. - Mas eu gostei.

Não havia mais raiva ou ciúmes no momento, apenas um sentimento profundo que Jeongguk não conseguia assimilar.

- Temos muitas lembranças juntos e eu não me lembro de 1% delas, mas essa em especial me tocou, então... - a garganta do Jeon se fechou, sentindo uma vontade absurda de chorar. - Eu quero te agradecer por ter sido meu melhor amigo.

- Jeongguk... - Hoseok tentou falar, também com a garganta seca.

- Eu desejo que você siga sua vida e seja feliz também. Eu agradeço por tudo que fez pelo Taehyung e pelo meu filho. Eu sinto ciúmes quando penso que você esteve ao lado dele e eu não, mas também sinto alívio por ele ter tido alguém com quem contar, alguém como você, por isso lhe sou grato. - a primeira lágrima escorreu pela bochecha de Jeongguk, que apenas lambeu os lábios, tentando se manter calmo. - Eu não me lembro de você, mas eu sinto algo aqui. - levou uma das mãos até o peito. - Todos os sentimentos ainda estão dentro de mim, então quando eu sonhei com aquela lembrança, eu senti, esse carinho.

- Para mim é o mesmo, meu carinho por você nunca mudou. - Hoseok respondeu, secando uma lágrima que correu por sua bochecha.

- Mas nós dois sabemos que nada nunca mais será como antes, não é?

- S-sim.

- Então vamos fazer isso direito. - O Jeon pegou a conchinha ainda em sua mão e segurou uma das mãos do Jung a colocando em sua palma, está que ficou molhada pelas lágrimas do mais velho. - Não posso mais ser seu melhor amigo, muita coisa aconteceu, nós dois mudamos, e há um abismo entre nós agora. Aceite a conchinha de volta, mas não a perca, talvez no futuro possamos nos sentar e agir normalmente, talvez não, mas quero que saiba, que gostei muito de tê-la.

Hoseok suspirou entre as lágrimas e fechou a palma com a concha, a apertando firme.

- Seja feliz Jeongguk, você merece mais do que ninguém, não sabe como sou grato por você ter voltado com vida para nós, para mim você sempre será meu pequeno dongsaeng, vou levá-lo em meu coração e nas minhas memórias... E-eu posso te abraçar?

Perguntou ainda um pouco incerto se o Jeon aceitaria, mas o garoto apenas concordou, e logo o Jung o abraçou, derramando toda e qualquer lágrima, sentindo aos poucos o mais novo retribuir o abraço, Jeongguk também chorava, embora não se lembrasse, seu coração doía com a perda, a perda de um amigo que sabia no fundo, ser importante para si, os homens se abraçaram por alguns minutos antes de se separarem com alguns tapinhas nas costas dados pelo Jung.

O mais velho sorriu e tentou secar o rosto molhado, Jeongguk fez o mesmo e no fim ambos apenas riram, estavam falhando miseravelmente.

Jeongguk sentia-se muito mais leve.

- Quem sabe um dia, Jeongguk. - Hoseok falou, sabendo que o garoto o entenderia muito bem.

- Quem sabe um dia, hyung.

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