Escritor Solidário

By ArissonTavares

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Projeto criado pelo escritor e jornalista Arisson Tavares com o objetivo de promover a literatura e a solidar... More

Introdução
Alex Almeida
Luci Afonso
Elvis Magalhães
Marina Oliveira
Thaís Vilarinho
Davi Medeiros
Giovanna Vaccaro
Jéssica Paula
Alcimare Dalbone
Maurício Gomyde
Cinthia Kriemler
Marcos Linhares
Isabel Travancas
Tércio Ribas Torres
Tammy Luciano
Verônica Vincenza
Felipe Teixeira Ribeiro

Raphael Miguel

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By ArissonTavares

REABILITAÇÃO

O meu nome é Melissa Antunes Giani, mas você deve saber como é. No meio artístico, ninguém é quem deveria ser. Às vezes penso que não sou eu mesma quando assumo a outra identidade e fico me perguntando se isso é comum. Bem, já que falei em coisas incomuns, eu mesma nasci em uma família pouco convencional. O meu pai é músico profissional e vive de dar aula em uma escola de música. Nem sempre foi desse jeito, lembro bem que ele seguia o sonho de ser um rockstar, mas sua banda nunca decolou, se contentando a ganhar trocados em barzinhos. Isso não dá dinheiro e assim que minha mãe nos deixou, ele teve que arranjar um emprego mais estável, digamos assim. Tem horas que fico me culpando por ver que meio que arruinei sua ambição. Não que ele me faça sentir assim, meu pai é um fofo, esse lance é uma coisa minha mesmo. Sei lá. Já minha mãe é uma figura diferente e confesso que dela eu só quero distância. Sei que nos deixou para viver com um cara casado e se mudou para bem longe, sorte nossa. Aconteceu quando eu tinha meus cinco anos, mas ainda lembro bem de quando ela saiu com uma roupa bem curta, maquiagem carregada e garrafa de tequila na mão. Sumiu sem mais nem menos. Ainda nos falamos de vez em nunca pelo celular, mas para mim ela poderia morrer. Enfim.

Comecei falando do meu nome real e acabei me perdendo. Acontece. Então, sou a Melissa Antunes Giani, tenho recém feitos 19 anos e uma coluna fixa na Revista Viva Teen, de circulação nacional, onde falo sobre ídolos adolescentes da música. Como disse, assumo outra identidade no mundo artístico e a coluna é sempre assinada por Mel Jagger. Até gostaria de assinar Melissa Giani, acho que soaria bem, mas minha editora gosta de Mel Jagger, nome sugerido por meu pai, aliás, homenagem ao icônico Mick, dos Stones. Tá, sei que o homem é um velho e que não combina nada com o universo teen atual, mas acham sonoro e vendável. Quem sou eu para contrariar?

No finalzinho do ano passado fiz uma matéria especial para a Viva Teen com o cantor Felipe Bizz. O sujeito é um caso interessante, novinho, com cara de bebê a ponto de fazer as adolescentes se apaixonarem e dono de uma sonoridade marcante que faz até o mais hardcore dos roqueiros olhar para o seu estilo com o mínimo de atenção. Consegui a exclusiva graças ao meu pai, que deu a dica e me apresentou a um músico da banda de apoio do Felipe e que descolou essa oportunidade através de contato com o empresário. O mundo da cultura pop tem muito disso, um cara que conhece um cara que indica um cara para outro cara.

Encurtando um pouco toda a lorota, minha matéria foi premiada em um importante evento do jornalismo brasileiro e ganhou como a "Matéria Teen de 2017". U-A-L! A festa de premiação foi um arraso, cheia de gente, celebridades e ícones do jornalismo nacional. Meu pai bebeu tanto e festejou a noite toda a ponto de perder o paletó. Hilário. Foi épico e, claro, tenho centenas de fotos e postagens nas redes sociais para provar.

Só que nada nessa vida parece ser um mar de rosas, né? No dia seguinte, chegou uma bomba. Sabe a tal maldição dos genes? Pois é. Me pegou. Até aquele momento, eu jamais havia escrito sobre música em si, ou sobre o mundo da música, porque meu foco era na condição de ídolos dos meninos, ou ainda sobre roqueiros na minha coluna, mas a matéria com o Bizz foi tão festejada, tão anunciada, tão premiada, que despertou o senso aguçado da editora-chefe. Segundo ela, eu tinha o dom de transitar por aquele universo do rock.

Bom, na verdade eu concordo. Fui criada entre um show e outro do meu pai e de seus amigos, em meio às festas, barzinhos, eventos, sempre acompanhada de música, claro. Quando não estávamos "trabalhando", nos momentos de lazer também tínhamos a companhia da boa música, especialmente o rock and roll. Acontece que, mesmo assim, meu assunto na revista não tinha tanto a ver com essa vertente. Apesar de entender muito de rock graças ao meu pai, escrevia sobre ídolos adolescentes da música que, muitas vezes, não tinham nem um pingo de rock nas veias. Queríamos meninos bonitinhos, não os badboys. Eu estava feliz e contente por assinar uma coluna na Viva Teen e radiante por ganhar um prêmio. As coisas não poderiam continuar assim?

O destaque que recebi fez com que a minha editora-chefe tivesse uma ideia estúpida e me transferisse. De um dia para o outro, mudei drasticamente, fui forçada a isso. Do quarto andar fofo e cheiroso onde fica a redação da Viva Teen, pulei para o oitavo andar, feio e fedido onde fica a redação do periódico Rock On. Isso mesmo, Rock On, a revista que aborda o mundo do rock com enfoque no comportamento masculino. Chorei horrores, me desesperei, brotou espinhas no meu rosto, até engordei algumas gramas. Que mancada! Todos tentavam fazer como se essa mudança parecesse uma promoção, mas não era, pelo menos não parecia. Naquele lugar só trabalhavam homens, uns tipos estranhos que comiam o dia todo. Vez ou outra até faziam competições de Air Guitar ou outras idiotices de homens barbudos.

Meu pai ficou feliz da vida, ainda mais depois que soube que o editor responsável pela Rock On era um amigo de festança de tempos da juventude, um tal de Hector Viana. Em casa eu até transparecia estar feliz, mas não é tão fácil mudar drasticamente de ares assim. Ostentava um sorriso no rosto para deixar de magoar meu pai, mas chorava por dentro.

A primeira semana foi horrível, a segunda foi péssima e a terceira... Na terceira semana Viana deve ter percebido que eu não servia apenas para tirar xerox e fazer cafés, ganhei minha primeira pauta de matéria, não que isso tenha me deixado no céu. Na verdade, o assunto estava mais para o inferno mesmo, com direito a capeta com tridente e tudo. O assunto? Ele, o roqueiro preferido dos tabloides, o astro megalomaníaco Rob Fyre.

Fyre é muito problemático, tipo, muito. Acho que é o mais próximo que o Brasil tem de um Kurt Cobain, ou um Axl Rose, ou os dois juntos e misturados com vodka e tônica. Bomba relógio. Vive se metendo em confusão, estampando fotos constrangedoras, protagonizando matérias sensacionalistas. Começou a carreira na adolescência em Curumim, estourou em todo país e viajou o mundo com sua banda, a Sons At Mud.

Sou fã do cara desde que me conheço por gente, do seu som setentista, da pegada hard e presença de palco, mas ele é problemático demais. Quando Viana disse que Rob estava em pauta, meu coração disparou.

Tipo, uns dias atrás eu vi uma notícia na TV dizendo que o cantor estava sendo internado pela milésima vez por culpa de seu notório envolvimento com substâncias tóxicas, drogas pesadas mesmo. Lembro até das palavras do seu empresário feioso culpando uma pílula sintética ou algo assim. Uma coisa seria ter que lidar com o ego do rockstar, o que já seria bem desafiante, mas outra completamente diferente é ter que lidar com um viciado.

É, pensei um buzilhão de vezes em desistir da matéria, dizer para o Viana encontrar outro para falar sobre o Rob e me dar qualquer coisa mais leve para cobrir, ou não. Cheguei a pedir um ou dois dias para pensar na pauta. Que petulância a minha. Tinha acabado de entrar no time e já estava pedindo tempo. Bom, foi em uma conversa com meu pai que acabei mudando de visão sobre a coisa toda. Ele é mais que o homem que me gerou e criou, é meu mentor e melhor amigo. Nessas conversas acabo pensando melhor nas coisas para tomar atitudes diferentes.

Claro, eu queria continuar na Viva Teen, dentro da minha zona de conforto, cuidando dos assuntos que mais gosto e que tenho facilidade para escrever sobre. Só que nem tudo saiu como eu queria, a vida é desse jeito. De nada iria me adiantar ficar sofrendo e choramingando, foi o que meu pai orientou. Em momentos como esse, a oportunidade de encarar novas facetas deve ser aproveitada. Seria a chance de quebrar a zona de conforto e mostrar o motivo de ter vencido o prêmio que conquistei. Tipo, não faria sentido ser uma jornalista acomodada para o resto da vida.

Bora, era hora de aceitar o desafio e prosseguir conquistando meu espaço. Fiz o que tinha que fazer. Viana não chegou a precisar esperar tanto assim pela minha resposta. Já no dia seguinte ao meu pedido de tempo, logo que cheguei à redação, me apresentei em seu escritório e apertei sua mão para assumir a matéria especial envolvendo o roqueiro Rob Fyre.

Só que comigo é sempre oito ou oitenta, faz parte da minha personalidade. Rock On faria um especial sobre o astro da Sons At Mud, mas a pauta estava relativamente aberta. Sem pensar muito na coisa, até porque se pensasse, até poderia desistir dessa loucura, pedi permissão para que Viana me deixasse tentar uma exclusiva com o super cantor.

Espera, agora você deve estar perguntando sobre minha sanidade. Rob havia acabado de ser internado pelo próprio empresário em uma clínica de reabilitação por causa do vício em drogas. Sim, isso mesmo. Minha ideia era ousada, mas chegou a arrancar um sorriso malicioso no rosto do editor da revista. Me ofereci para me infiltrar no mesmo recanto em que o rockstar estava enfiado, me passaria por uma viciada e dele me aproximaria. Tudo, é claro, pelo bem da notícia. O plano era simples e o ápice seria conseguir uma exclusiva com o recluso.

Haviam riscos e eram mais do que claros, até porque em momento algum poderia deixar com que Rob ou qualquer outra pessoa soubesse das mentiras sobre minha internação ou o real motivo disso. Tudo precisava ser feito de modo meticuloso e eu iria ter que conviver com Fyre até ganhar sua confiança para pedir a entrevista exclusiva.

E já que tinha que me tornar grande amiga de Rob, até para não deixar a farsa escapar ou ser descoberta, passei a estudar exaustivamente tudo sobre o líder da Sons. É, sempre fui uma fã de sua carreia e trajetória artística, mas precisei e fui além. Me tornei especialista, praticamente uma PhD. Por dias, respirei, almocei e jantei Rob Fyre. Decifrei cada um de seus enigmas, conheci todos seus problemas, defeitos e também qualidades. Meu pai fez a parte dele, demonstrou estranhamento pela minha obsessão pelo roqueiro canastrão, mas no fundo sabia que não deveria se meter. Minha missão exigia sigilo absoluto para dar certo, porém era nítido que todo meu esforço era em função do cargo na Rock On. Esperto que é, meu pai notou que eu estava mergulhando de cabeça no mundo do rock e nisso teve satisfação. Enfim eu estava me ajustando, seja como for, estava seguindo seu conselho.

Passei pela infância do roqueiro em Curumim e das dificuldades que passou ao ser criado apenas pela mãe solteira. Me identifiquei com parte dessa história, já que também fui criada apenas por meu pai, mas as coincidências paravam ali mesmo. Para começar, a mãe de Rob sempre foi viciada em remédios e negligenciava o pequeno filho constantemente. Foi intimada quatro vezes por abandono de incapaz e quase que a Assistência Social levou a criança. Na adolescência, Fyre se meteu em novas encrencas e tracei uma linha interessante de observação. Penso que foi aí que o rapaz passou a construir a personalidade de rockstar que viria a lhe acompanhar pelo resto da vida. Fã de rock clássico, tentava imitar seus ídolos e foi então que passou a beber e colecionar atos de vandalismo. Encontrei até um boletim de ocorrência assinado por um de seus vizinhos há dez anos, acusando o adolescente de atos obscenos na vizinhança.

Outro assunto que me chamou a atenção, mas que eu já conhecia, foi uma participação em festa junina em que Rob e sua banda se apresentou. Era para ser uma ocasião despretensiosa, festa de escola de idiomas, mas o cara roubou a cena. Só se falava nele e sua performance nos dias seguintes entre o ambiente estudantil, e os mais otimistas acertaram na profecia. A Sons At Mud estourou e o resto virou lenda.

Paralelo ao meu esforço para conhecer melhor Rob, a Rock On, a pedido de Viana, passou a tomar medidas para descobrir onde o rockstar estava internado, dado que era mantido em sigilo e distante da mídia de forma proposital por seu empresário e outros assessores que queriam blindar o artista. Fiquei na curiosidade sobre qual tarefa seria mais difícil, a minha ou a deles.

No fim, deu que conseguimos. Lembro que foi no mesmo dia em que recebemos a notícia positiva sobre meu pseudo-internamento que acabei contando a real para meu pai. Meu velho sempre foi muito preocupado comigo, coisa de protetor mesmo. E sei que o semblante estampado em seus olhinhos significavam essa preocupação, mas ele apenas segurou suavemente minhas mãos e disse com sua calma peculiar, que sempre foi sua marca mais registrada, o que nunca vou esquecer. Me apoiou de forma completamente cega e me incentivou a seguir em frente, que apesar dos perigos, que confiava em mim e em meu talento. Claro que chorei litros e dei um forte abraço no fofo.

No dia seguinte já me adiantei. Separei minhas coisas, conferi mil vezes se não estava me esquecendo de nada e parti no carro de um motorista particular bancado pela Rock On para Umuarã, uma cidadezinha do interior paulista, esconderijo do famoso roqueiro Rob Fyre.

Não sabia o que me aguardaria lá, mas de uma coisa eu tinha certeza. Sairia com uma entrevista exclusiva do meu alvo e seria uma das matérias mais emblemáticas de minha carreira. O conceito todo da ação era ousado e eu estava confiante demais no sucesso. Só uma coisa poderia atrapalhar, eu não poderia nunca, jamais, me envolver ou me apegar demais ao rockstar. O sujeito era encantador, muito bonito, de feições atraentes, mas isso tudo deveria e tinha que ficar de fora. Para mim, ele não poderia mais ser visto como um ídolo e sim como um viciado que me concederia entrevista.

Fiquei de queixo caído quando vi os portões da Casa São Dimas e sua placa de boas-vindas. O lugar era lindo, grande, com uma boa área verde e repleta de profissionais que prometiam recuperar até mesmo o mais degenerado dos drogados.

Apresentei meu nome de batismo, Melissa Antunes Giani, assinei centenas de documentos, juntei declarações e até um laudo médico forjado pela Rock On. No fim, fui até instruída a gravar um vídeo onde assumia a responsabilidade por minha suposta internação voluntária e assinei um cheque. Vistoriaram minhas coisas e quase me impediram de entrar com o notebook, só me deixaram em paz quando comprovei que o computador não tinha acesso à internet.

Passei meu primeiro dia em paz, sem ter a necessidade de contato com o roqueiro, mas sempre atenta a qualquer movimentação. Quando antes pudesse encontrá-lo entre os demais, melhor. Só que não o vi em momento algum pela manhã ou pela tarde, nem mesmo na roda de apresentações que fizeram conosco em meio ao bosque.

Eu estava conversando com a moça que seria minha colega de quarto durante a internação, Bianca não sei do que, e estávamos nos dirigindo ao salão onde aguardaríamos por algumas instruções antes do jantar. Acho que falávamos sobre qualquer coisa quando fui tomada de assalto por uma sensação deliciosa que há muito tempo eu não sentia. Ao longe, enquanto ainda atravessávamos o pátio externo, ouvi uma suave e doce melodia de piano. O toque sutil passou a se misturar a uma voz um tanto quanto rouca, mas bela. Parecia com o canto de um anjo que mencionava constantemente as palavras perdão e redenção, uma letra linda e apaixonante que me fez emocionar na mesma hora. Tudo era tão lindo!

Percebendo as lágrimas brotando em meus olhos, Bianca as enxugou e me sorriu dizendo que todos os internos gostavam de parar o que estavam fazendo para ouvir aquele som e que isso se repetia todas as tardes antes do jantar.

Fiquei curiosíssima e perguntei sobre o que era aquilo, se era algum funcionário ou uma terapia diferente. A moça simplesmente balançou a cabeça e respondeu com um sorriso nos lábios que quem cantava aquela música era um paciente misterioso chamado Roberto Chamas e que sempre dizia que estava lá procurando por redenção, pois quase havia morrido em uma crise de abstinência. Aquele era seu jeito de seguir com a reabilitação.

Foi naquele momento que percebi. Assim como Rob Fyre estava tentando retomar a ser o que era, o jovem sonhador chamado Roberto Chamas, eu já não poderia ser Mel Jagger e, realmente, não poderia mais ser ali. Ao me emocionar com a história e com a canção, havia voltado a ser a doce Melissa Giani e precisava resgatar essa inocência.  

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