Algo Perverso Está por Vir

By MariEleuterio

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O reino de LUNDYS é governado por dez famílias reais. Na aurora dos tempos, seres celestes - mimados e egoíst... More

Prólogo
Capítulo I
Capítulo II

Capítulo III

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By MariEleuterio

Seren chegou ao salão de jantar, que estava agora lotado de rostos que conhecia, e pediu para que o cavalheiro não a anunciasse. Sempre sentira que que esses anúncios impunham o que deveria ser uma certa autoridade a sua presença, e não era algo que a agradasse. Ignorando haver convidados externos - e eram uma minoria que preferia não dar importância, estava na Ilha Mandelah, sua casa, e os vassalos eram sua família. Não havia local para tantas formalidades ali. Foi saudada por vários lordes e suas esposas, fez questão de percorrer o local, distribuindo sorrisos e perguntando sobre a saúde das crianças e desempenho da colheita de todos eles. Muitos pediram notícias de Aurora - a amiga, ainda que pertencente a família Recee, de Louvria, era tão querida quanto a própria Seren. Todos sentiam sua falta. A música do ambiente estava animada, e em instantes começaria a receber convites para dançar, que ela jamais recusaria.

Após ter visto e saudado quase todos os rostos, andou em direção a Marcel, que muito satisfeito, conversava com Andrei com a voz muito alta sobre... ela. Claro. Estava na conversa, os acompanhando, uma mulher que Seren desconhecia. A mulher, em um chamativo vestido vermelho, foi a primeira a notar a sua presença, tão logo se aproximou. Ela era estonteante. Quando Seren pensava em como seus antepassados celestiais seriam, a aparência era algo semelhante a daquela mulher. A pele branca como cera, sem nenhum resquício de cor, e enormes olhos claros demais contrastavam com o cabelo negro. Os cabelos iam até a altura do queixo em pequenas ondas, mais curto ainda na parte de trás - o que era muito incomum em damas da realeza. E ela era da realeza. A forma como se movimentava não deixava quaisquer dúvidas. A mulher lhe abriu um sorriso que Seren se pegou descrevendo como sedutor, e tocou levemente os ombros de Andrei para sinalizar a chegada de Seren. Sentiu o próprio sorriso estremecer um pouco. Ótimo, desgostava da convidada tão somente por ser bonita aquele ponto, e porque tinha liberdade para tocar Andrei - que, pensando bem, sequer gostava muito também. Era ridículo, sabia. Desde quando deixava se intimidar pela aparência de quem quer que fosse? Tratou de se recompor, lembrando que era a herdeira Ambrose e estava em casa. Em casa.

-Seren! - chamou o pai, ainda que ela já estivesse muito próxima - Por onde andou? Distribuindo sorrisos, apostaria minha vida. - Ele se virou para os dois convidados, como se explicasse o que estava contando anteriormente - É por essas que a adoram por aqui.

Se não estivesse usando toda sua força para não sentir intimidada, Seren teria ficado muito constrangida com a forma como o pai se gabava dela. Negou com a cabeça, com toda a graça e falsa modéstia que podia. A estranha, que a observava, concordando, não esperou que Marcel as apresentasse. Fez uma saudação muito elegante, e disse com a voz quente, que soava como tudo mais:

-Nascida em uma deslumbrante noite, que anunciava o verão, Seren Ambrose, a estrela da Ilha Mandelah. - Havia muito tempo que não ouvia a história da noite se seu nascimento. A escolha do nome Seren, que significava estrela em alguma língua antiga, fora era exatamente por esse motivo. O céu estava estrelado na ilha, após um longo período de nuvens. A estranha continuou ainda, com um sorriso estranhamente satisfeito - Por anos ouvi sobre sua beleza princesa, mas nenhum bardo chegou a fazer jus. Não é mesmo impressionante, Andrei? - Perguntou para o Lorde Storm, que a encarava um pouco perdido. Por pouco não respondera a pergunta da mulher.

- É claro - assentiu Andrei educadamente, fazendo uma reverência. - Princesa.

Seren quase sentiu que zombavam dela. Sabia, certamente, que tinha uma boa aparência. Nunca duvidara disso, mas sabia também que parte considerável de onde vinham todas aquelas palavras era mais relacionado a sua história do que qualquer outra coisa. As pessoas não se davam conta? A caçula de uma família antiga que conseguira subsistir ao massacre dos irmãos mais velhos. Tudo era mais trágico se acontecido com uma bela moça. Mas agradeceu mesmo assim. Não sabia o nome da mulher, e depois de uma saudação carregada como aquela, seria muito grosseiro perguntar quem era ela. Olhou para o pai, esperando uma explicação.

-Esta agradável dama, filha, é a Srta. Gaya Fleur, de Barh. - Fleur. Tal como Andrei, a mulher pertencia a uma das antigas famílias da realeza, que não estavam na linha de sucessão para o trono. Nunca estiveram, aliás. A família Fleur era peculiar até onde havia possibilidade: A única das antigas famílias matriarcal. Nasciam, indiscutivelmente, belíssimas mulheres e estas nunca se casavam. Todas se apontavam como filhas da mestiça Lys e não faziam quaisquer distinções de quem de fato, nascia de quem. Os pais, muito pouco importava, não haviam bastardos em Barh como no restante do reino. Impressionada, Seren falou:

-Seja muito bem vinda a nossa casa, Gaya. Infelizmente, é raro recebermos visitas tão interessantes para nossos jantares. É uma honra. - As palavras não saíram hesitantes, como temia, somente gentis. - Veio acompanhando o Lorde Storm? - Perguntou, sem transparecer toda a curiosidade que tinha.

- Não - Gaya sorriu, graciosamente. - Andrei é um velho amigo, mas nos encontramos aqui pela mais pura das coincidências. - Seren franziu o cenho. A menos que... Não. O pai não se atreveria. Mas Marcel cortou todas as dúvidas em seu semblante

- Sim! Não é maravilhoso? Gaya, por sorte, aceitou a ideia de fazer o juramento antes mesmo de lhe conhecer pessoalmente. - O que? Mas ela era uma mulher! Seren logo afastou esse pensamento horrível. Ela própria era uma mulher e era impensável protestar isso na frente de uma Fleur. Pensou no que seria adequado dizer, mas as circunstâncias pesavam demais.

- É certamente uma surpresa, Srta. Fleur. - Disse, pausadamente.

- Sim! Posso imaginar! Mas não se preocupe, Seren, você verá como faz sentido. Eu soube de coisas a seu respeito. Maravilhosas, devo dizer, mas comigo irá ter proteção em uma área completamente diferente. - Gaya Fleur disse aquelas palavras como se explicasse todos os pensamentos na cabeça de Seren, mas só piorou a situação, pois agora tinha ciência de que essa mulher também sabia sobre ela. E de qual espécie de proteção falava, afinal de contas? Em qual aspecto Gaya se julgava tão adequada para protegê-la de algo? O sorriso de Gaya estava grande demais, quase como se estivesse deliciando sua confusão. Que petulância! Oras, Seren suportaria qualquer coisa que lhe levasse para junto de Aurora, mas aquilo começava a insulta-la enquanto a pessoa que era. Naquele momento, decidiu que não somente suportaria de tudo, mas entraria no jogo de todos eles. Era somente mais um dos desafios que pretendia se sair muito bem. Sim, definitivamente poderia brincar.

-Meu pai, Srta. Fleur, ele ainda vai me matar dos nervos. E qualquer dia eu ei de retribuir - falou, irônica. Todo o grupo riu, e Seren acrescentou, com humor - Me pergunto quem seria o terceiro. Temo que não tenha imaginação o suficiente para antecipar as ideias de Marcel, e acreditem, estou acostumada com toda a excentricidade de seu caráter.

Era fácil perceber que Gaya e Andrei estavam supondo que essa atitude demonstrava uma revolta infantil - ironia quase sempre o fazia, mas Marcel a conhecia melhor. Ele entendeu que essa era ela entrando no jogo, aceitando o desafio. Seu sorriso agora mostrava todos os dentes - Marcel nunca negara o quanto também gostava de jogar com ela.

- Não se preocupe com o terceiro, querida. - Marcel bebeu toda uma de vinho antes de completar - Digamos que seria bem menos divertido de se ver.

- O que quer dizer que eu talvez gostaria? - Perguntou Seren.

- Quanto a isso, não tenho dúvidas. - Afirmou, categórico.

- Não vejo como poderia acontecer. - Respondeu, acrescentando depressa - Sem ofensas, é claro. - Mas nenhum dos dois pareceu ofendido.

- Mesmo? Sempre me subestimando. - Marcel indicou um convidado que chegava ao salão e ela estreitou os olhos, até poder distinguir a silhueta e... Caius! Quando avistou o cabelo loiro e olhos cor âmbar, tão parecidos com o da mãe e seus irmãos, se jogou nos braços do tio materno, rodopiando. Caius não tinha sobrenome, era um filho bastardo do pai de sua mãe e consequentemente, meio irmão da rainha. Costumava ser uma presença constante durante a infância de Seren, mais próximo de sua mãe do que qualquer dos outros irmãos legítimos, mas não o via há anos. Tinha conhecimento que Caius, sem qualquer favorecimento da ligação com a rainha, conquistara um exército considerável. Ele pareceu constrangido com a recepção, especialmente agora que todos no salão os observava, mas sorria, satisfeito.

- Bem, a minha recepção não foi tão calorosa. - Alfinetou Gaya, mas Seren sequer pensou em responder. Andrei murmurou algo para a Srta. Fleur que Seren não conseguiu ouvir, mas ambos riram da piada particular. Uma de suas músicas preferidas começou a tocar no salão, e antes de qualquer coisa Seren agarrou o braço do tio.

- Venha! Dance comigo, precisamos colocar a conversa em dia! - E o puxou para o centro do salão, antevendo advertências sobre damas esperarem que os cavalheiros a tirem para dançar, nunca do contrário. Caius não protestou.

- Você é muito mais gentil do que eu mereço, Seren - constatou, se referindo a própria ausência ao longo dos anos. Mas Seren entendia, de verdade. O tio era um homem duro e de poucas palavras, mas adorava a irmã e mais ainda, era muito próximo do também falecido sobrinho, Lester.

- Não muito gentil. Eu, por exemplo, sei que você odeia dançar. - Falou, com humor. Caius deu uma risada longa, como se isso o lembrasse algo. Eles se separaram, como a dança indicava.

- As vezes penso que meu pai precisa ser contido. Como lhe arrastou para essa história? - Se separaram de novo.

- Acredite, Seren, não é, ao todo, uma ideia ruim. - Caius ficou sério - No restante do reino, você precisará ser protegida e eu tenho dever de fazê-lo. - As palavras não a agradaram.

- Eu ainda sou sobrinha da rainha, não é mesmo? - Ele fez uma pequena careta a menção de sua irmã mais velha. - E além do mais, eu posso me proteger.

- Só você sabe como o mundo pode ser cruel com vocês, damas. - Falou, certamente se referindo a mãe de Seren. Mas ela dispunha de outras armas, tanto figurativas, quanto literalmente. Aprendera com os erros. Desejou muito mostrar a ele o que aprendeu nos últimos anos. Ele lembrava dela como uma criança ativa, e ela se deliciaria em alterar essa imagem. Sem dúvidas Caius ficaria orgulhoso e diabos, se todos os outros já sabiam.

- Amanhã de manhã, me encontre na menor clareira ao sul, escondida por sebes. Você entenderá o que quero dizer.

Ele a acompanhou em mais uma música, e então alguns jovens da ilha, seus amigos, a tiraram para dançar também. Dançou a noite inteira com tantos conhecidos que quase esquecera o restante do dia. Andrei não a convidou para dançar ou tentou falar com ela novamente, mas Gaya o convenceu a duas ou três valsas - notou, achando engraçado, que ele não era um dançarino experiente. Algumas vezes, Seren sentiu que seus olhos iam até ela enquanto dançava, mas não o deu a satisfação de voltar o olhar.

A noite finalmente chegara ao fim, e exausta, podia sentir que encontraria com Aurora. 

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