Glitter | taekook

By mutacyon

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[ LIVRO FÍSICO DISPONÍVEL NO SITE DA EDITORA EUPHORIA] A banda Poison sofre um abalo quando Jorja, a vocalist... More

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Prólogo
I.
II.
III.
IV.
V.
VI.
VII.
VIII.
IX.
X.
XII.
XIII.
XIV. [ parte 1 ]
XV. [ parte 2 ]
XVI.
XVII.
XVIII.
XIX.
XX.
XXI;
XXII;
XXIII;
XXIV;
XXV;
XXVI;
XXVII;
Epílogo
EXTRA
NOVA VERSÃO FÍSICA DE GLITTER

XI.

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By mutacyon

NOTAS (abram os comentários)

J E O N G G U K

Era o quinto cigarro seguido que quase desfazia em seus dedos enquanto ele pensava na dor aguda que sentia.

Estava sendo completamente ignorado por Taehyung. Não de um jeito inocente como das outras vezes; olhos desviando dos seus e sumiços esquisitos. Era frio e cruel, porque Taehyung só fingia que Jeongguk não existia, a expressão sempre raivosa no rosto sendo a maior armadura.

Cinco dias desde o grande show tinham se passado e Jeongguk não imaginou que a relação entre eles se tornaria um caos. Sabia que seria difícil para Taehyung, que ele negaria até não conseguir arranjar mais desculpas e que talvez o evitasse, mas não estava preparado para receber tanto desprezo, algo dentro daqueles olhos mais escuros que o usual fazendo Jeongguk perceber que a coisa era mesmo séria, um não se aproxime riscado em sangue nas pupilas.

Mas Jeongguk queria se aproximar. Queria beijá-lo de novo, queria as mãos fortes dele na sua cintura de novo, queria os toques doces e carinhosos, os beijos singelos no queixo, os olhares envergonhados e os risos contidos, qualquer coisa que o fizesse se sentir ainda mais rendido.

Taehyung tinha se transformado em uma casca vazia impenetrável. Não se parecia em nada com ele, não tinha nem mesmo os resquícios tímidos adoráveis de antes e parecia muito mais distraído, muito mais arredio, esbarrava em Jeongguk sem perceber e, embora soubesse que estava sendo evitado, muitas vezes sentia que Taehyung não fazia de propósito.

Jogou a bituca do sexto cigarro pela janela e mordeu o lábio, nervoso. Se pudesse voltar atrás, não teria beijado Taehyung, porque pelo menos ainda seriam amigos. Jeongguk estava só cansado de perder pessoa, cansado de se sentir tão sozinho, cansado de não conseguir fazer ninguém ficar.

Queria que Taehyung ficasse. Queria desesperadamente que ele ficasse.

Respirou fundo o ar fresco que vinha do lado de fora e fechou os olhos, quase conseguindo sentir o gosto da boca de Taehyung na sua. Ele beijava bem, muito bem, e tinha uma pegada boa que até agora causava suspiros em Jeongguk sempre que ele decidia reviver aquele momento, o coração disparado no peito e os calafrios quentes na coluna indicando que não tinha sido tesão reprimido.

A primeira vez que Jeongguk começou a gostar de alguém, foi com dez anos, quando conheceu Danny. Ele tinha cabelos castanhos que desciam nos ombros e olhos azuis intensos, tão brilhantes que chegavam a cegar, dando a impressão de serem dois diamantes lapidados nas cavidades. Jeongguk amava fazê-lo rir, porque as covinhas das bochechas apareciam e as sardas no nariz ficavam mais evidentes, a voz dele fazendo seu coração acelerar assim como acontecia quando estava com Taehyung e, por isso, talvez, já soubesse exatamente o que estava acontecendo.

Estava se apaixonando.

Depois que Danny morreu, Jeongguk nunca mais gostou de mais ninguém, porque mais ninguém conseguia fazer seu peito doer de amor. Não era apaixonado na época, mas talvez tivesse ficado se ele estivesse vivo, talvez até se tornassem um casal, mas não importava mais, já era passado. O presente, o que estava enfrentando no momento, era diferente. Era mais intenso. Muito mais profundo. Parecia rasgá-lo por dentro para sair. Parecia sufocar.

Sim, era o começo da porra de uma paixão. Paixão por uma pessoa que ainda nem se conhecia direito e Jeongguk estava ficando sem forças, não conseguiria ajudá-lo se ficasse pensando tanto em beijá-lo, mas também não conseguiria sufocar tudo isso por muito mais tempo.

Estava em um dilema. Ceder à paixão e piorar ainda mais a situação de Taehyung, ou dissipá-la completamente e ver Taehyung melhorar?

Suspirou e conferiu o horário no celular. 19:00 horas, Taehuyng provavelmente estava prestes a chegar, então Jeongguk saiu do apartamento e ficou esperando por ele na frente da porta, mãos nos bolsos da jardineira jeans curta e lábio entre os dentes; gosto ferroso escorrendo na língua.

Ele apareceu alguns minutos depois. Estava usando uma camiseta cinza manchada de alguma coisa irreconhecível, talvez gordura, e calça jeans extremamente larga, quase caindo pelos quadris. Na boca, um baseado que fedia muito, o odor da maconha incomodando o nariz de Jeongguk mesmo ele estando bem longe, ainda invisível aos olhos de Taehyung, que focava os próprios pés.

Quando Taehyung passou a chave pela fechadura, Jeongguk deu um passo para frente, tão nervoso que pensou que fosse explodir assim que dissesse alguma coisa.

— Tae? — chamou baixinho e pensou que ele não tinha escutado, mas os ombros retesaram e seus movimentos pararam, indicando que estava prestando atenção. — Podemos conversar?

Um minuto de silêncio torturante, tão torturante que Jeongguk sentiu dor de barriga, um tipo de brisa congelante subindo pela garganta e vazando como ar sôfrego pela boca.

— Não.

Não. Simples assim. Não. Um maldito não seco e ignorante, como se Jeongguk fosse qualquer cara na vida dele.

Crispou os lábios e fechou os punhos. Ainda era um ser humano e ainda tinha sentimentos, não era porque tentava ser compreensível que aguentaria toda e qualquer grosseria vinda dele. Seu coração não era de ferro e muito menos saco de pancadas.

— Será que pode ser mais educado? Consegue fazer isso? — ralhou, recebendo como resposta mais silêncio. — Por que você está me tratando desse jeito?

Queria ouvir direto da boca dele. Queria que ele dissesse, que confessasse, que encarasse de frente, que fizesse tudo ser real. Enquanto Taehyung sufocasse tudo na própria cabeça e fingisse que nada aconteceu, continuaria se negando e se torturando.

— Eu não estou fazendo nada. — Taehyung virou de frente para Jeongguk, sobrancelhas apertadas e baseado quase caindo da boca. — Está imaginando coisas.

Abriu a boca, incrédulo. Imaginando coisas? Praticamente tinha sido empurrado pelos ombros por cinco dias seguidos, não recebeu nem um olá ou um boa noite, muito menos olhares ou pedidos de desculpas pelos esbarrões acidentais, e estava imaginando coisas? Tinham se beijado no camarim de um bar e depois passaram a agir como dois estranhos, porque, claro, Taehyung saiu correndo, mas estava imaginando coisas?

Inacreditável. — Soprou um riso debochado e umedeceu os lábios, andando para frente até estar a centímetros do rosto dele, que não suavizou em nada. — Você está sendo cruel, Taehyung. Não jogue suas frustrações em cima de mim, não te fiz nada.

— Sim, você fez! — Ele aumentou o tom de voz. Era irritado e cortante, então Jeongguk deu um passo para trás, surpreso. Taehyung era instável demais e, algumas vezes, se esquecia disso. — Você me confunde, eu não quero estar confuso! Quero ser normal, me deixa ser normal!

Foi como um tapa. Ardeu tanto que Jeongguk contorceu o rosto em uma careta magoada, coração batendo mais devagar e sangue correndo grosso, as pequenas lágrimas formando-se invasivas no canto dos olhos. O que doeu não foi o fato de que Taehyung estava o chamando de anormal, mas saber que estava causando ainda mais mal a ele, machucando ainda mais profundamente sua alma.

— Está se confundindo sozinho! — falou no mesmo tom que o dele, tentando provar a si mesmo que não tinha sido o responsável por essa merda toda, mesmo que o cérebro negasse. — Foi você quem me pediu um beijo, lembra disso? Foi você! Está se iludindo, Taehyung. Está se machucando!

— Eu?! Eu estou me machucando?! — Taehyung apontou para si mesmo e bateu de leve no próprio peito, a voz grossa e grave subindo gradativamente até ele estar quase gritando, o baseado caindo no chão. — A minha vida virou uma bagunça desde que você entrou nela com essas... essas... maquiagens bonitas e aquele jeito rabugento! Pelo amor de Deus, algumas vezes eu até tocava de propósito só para te fazer bater na minha porta! Você me deixou maluco!

Jeongguk piscou, aturdido. De propósito? Então todas as crises de ansiedade que enfrentou desde que chegou foram causadas por um motivo tão mesquinho? Taehyung queria vê-lo, então tocava, fazia seu cérebro virar gelatina morna e depois dizia ah, foi mal, esqueci?

Respirou fundo, sentindo o corpo tremer. Tinha que se controlar, tinha que controlar a vontade de mandar ele ir se foder, porque, de qualquer forma, Taehyung não sabia dos problemas que ele tinha com a música, então não era como se pudesse condená-lo.

Detestava o fato de que, até em situações como essa, sempre pensava primeiro no outro e não em si mesmo.

— Eu não tenho culpa de ter vindo morar aqui — praticamente sussurrou, sentindo o estômago inteiro revirar, pronto para soltar tudo o que tinha comido, porque se enjoava quando ficava nervoso. — Não tenho culpa de você ser desse jeito, então não me coloque de vilão da história.

— De que jeito, Jeongguk?

— Reprimido.

Taehyung arregalou os olhos, parecendo ainda mais irritado do que antes. O rosto inteiro dele ficou vermelho e endurecido, uma veia pulou na lateral do pescoço e os ombros retesaram tanto que pareceram duas placas de pedra, a respiração saindo tão acelerada que era como se desse para escutar o coração dele martelando o peito.

Jeongguk mordeu o lábio, mas não desceu a postura, braços cruzados no peito e queixo erguido, o olhar desafiador.

— Por que todas as pessoas sempre agem como se soubessem coisas sobre mim que nem mesmo eu sei? — Ele não gritou como Jeongguk pensou que gritaria, mas manter a voz baixa e dura foi muito pior, fez Jeongguk engolir em seco. — Você não me conhece, então para de me analisar como se conhecesse e me deixa em paz de uma vez.

Jeongguk segurou o choro, mas a boca trêmula denunciava isso, já que não era muito bom em esconder suas emoções. Sua pele parecia fria e oscilante, como se a pressão tivesse descido.

Se afastou um pouco de Taehyung e o observou. A expressão raivosa não mudou nem mesmo depois de dizer coisas tão ruins, o que fez Jeongguk perceber que, sim, não o conhecia. Não o conhecia como pensou que conhecia. Taehyung estava sendo maldoso de propósito e sabia disso, queria machucar Jeongguk ainda mais.

— Tudo bem — resmungou, uma lágrima solitária descendo pela bochecha. — Se eu soubesse que agiria dessa forma, não teria te beijado aquela noite.

— Aquilo foi um erro, Jeongguk. — Taehyung se aproximou até estarem com os rostos quase colados e Jeongguk viu a umidade nos olhos escuros. — Se eu soubesse que algo assim aconteceria, não teria deixado você se aproximar tanto.

Recuou, verdadeiramente devastado. Abriu a boca para responder, mas não conseguiu dizer nada, então fechou e balançou negativamente a cabeça, esperando Taehyung retirar o que disse.

Quando isso não veio, ele entendeu a dimensão daquelas palavras duras.

— O que você quer dizer com isso? — Fungou e passou os dedos com raiva nas bochechas, expulsando as malditas lágrimas que já estavam descendo sem parar, um soluço irritante escapando logo depois. — Vamos, Taehyung, diga com todas as letras, seu covarde!

Empurrou-o de leve, sem intenção de machucar, só desejando que ele desembuchasse de uma vez e parasse com todo aquele mistério imbecil que já estava dando nos nervos.

Taehyung suspirou e olhou para cima, parecendo organizar uma explicação como se Jeongguk fosse burro ou algo do tipo, o que só serviu para deixá-lo ainda mais puto, outro empurrão fazendo presença, as costas fortes de Taehyung batendo na porta do apartamento.

— Que droga, Jeongguk?! — Sentiu o corpo ser empurrado também, mas se manteve firme, apertando os pés contra o chão sujo e devolvendo na mesma moeda, dessa vez com mais força ainda. — Para com isso!

— Está arrependido de ter me conhecido?! — gritou, nervoso. Nem sabia o porquê de estar sendo tão extremo, mas algo nisso tudo acendeu um pavio curto que ele mantinha no peito, as palavras saindo emboladas e trêmulas, completamente banhadas em agonia. — Fala de uma vez!

Taehyung o segurou pelos ombros, apertando-o no lugar, as mãos grandes e fortes machucando um pouco a pele, os olhos escuros dele cintilando em raiva e em alguma coisa que Jeongguk não soube reconhecer, mas não era como se importasse tanto, não quando já sabia exatamente o que ouviria em seguida.

— Sim, Jeongguk. — Taehyung soprou a resposta, praticamente nem piscando para isso. — Eu me arrependo de ter conhecido você.

Então ele simplesmente se virou, abriu a porta e entrou, batendo-a com tanta força que o quadro que Jeongguk comprou caiu no chão e espalhou vidro para todos os lados.

Se permitiu chorar sem nem saber o motivo e abaixou para pegar o quadro, grudando-o no peito depois de ler o que tinha escrito. Estava tão magoado que nem conseguia sentir mais o rosto, a pele parecendo toda amortecida. Taehyung tinha sido muito maldoso. Nunca imaginou que ele diria coisas tão duras assim, nunca imaginou que ele explodiria dessa forma, logo com uma pessoa que parecia tão próxima de se apaixonar. Porra, ele não enxergava isso? Não enxergava o brilho em seus olhos? Os sorrisos imbecis e os flertes descarados? Como tinha tido coragem de falar aquilo? De partir um coração daquela forma?

Soluçou algumas vezes e fungou, entrando no apartamento para trocar de roupa. Precisava sair, espairecer a mente e ir para o único lugar onde ninguém o julgaria por gostar de homens, porque lá todo mundo também gostava.

★ ♬ ★

J I M I N

Eram quase 20:00 e Jimin estava arrumando a bolsa para ir para casa depois de um turno extremamente cansativo no trabalho.

O imbecil do Anderson preencheu mais de 50 relatórios com informações totalmente erradas e uma péssima ortografia, então sobrou para ele corrigir tudo, já que a porra da gestão da empresa era tão inútil que não conseguia nem contratar um funcionário para analisar as folhas antes de serem anexadas nas pastas.

Estalou o pescoço de um lado, depois de outro, então suspirou e jogou a bolsa de couro no ombro antes de afrouxar a gravata e desabotoar os primeiros botões da camisa que parecia espremer seu pescoço, dirigindo-se ao elevador com o gostinho da liberdade na língua.

Não gostava de seu trabalho, mas pelo menos ali dentro ninguém ligava para a cor de seu cabelo, o rosa chamativo que tanto amava. O ambiente era estressante e exaustivo, mas só de poder ser ele mesmo perto dos colegas e até mesmo do chefe já compensava um pouco.

Chegou no térreo e caminhou pelo hall de entrada, os sapatos sociais fazendo um eco irritante por todo o local, seus ouvidos sensíveis pelo cansaço começado a dar indícios de que começariam a zumbir de novo, como andava acontecendo com frequência.

Cumprimentou o zelador e ele liberou sua saída. Os olhos fecharam tranquilos quando a brisa refrescante da noite atingiu sua testa ligeiramente suada, os pulmões se expandindo automaticamente em busca de uma respiração mais natural. Sorriu e arrumou os cabelos com os dedos curtos, abrindo um pouco os olhos, que foram direto para a boate que ficava de frente para a empresa, as luzes azuis e roxas piscando psicodélicas do lado de dentro, as silhuetas masculinas dançando indecentes de um lado para o outro.

Se chamava Naughty Boys e era uma boate de gays. A primeira e única tão explícita da região, já que todas as outras ficavam em lugares escondidos, tinham menos luzes e eram muito mais fechadas, praticamente sendo impossível enxergar através dos vidros.

Jimin não gostava dessas boates e não gostava de trabalhar de frente para uma. Sempre que estava indo para casa, enxergava a placa gritante e pensava em Taehyung. Normalmente, conseguia calar a própria mente com um sacudir de cabeça, mas as coisas que vinham acontecendo ultimamente só fazia com que as lembranças e suposições ficassem mais fortes, mais vívidas.

Mordeu o lábio e foi até a pequena loja de fumo ao lado do prédio para comprar um cigarro, o cérebro traidor reproduzindo imagens da infância; cheiro de pipoca amanteigada e bolinhos de chuva; briga dos pais e infelicidade do irmão.

Os dois eram crianças muito diferentes e, antes da adolescência, não tinham muitas coisas em comum, mas se davam bem e se amavam muito. Jimin sempre compartilhava com Taehyung suas intensas paixonites, desde as da infância até as da vida adulta, mas Taehyung nunca falava sobre nenhuma e, quando questionado, só dava de ombros e dizia que não achava nenhuma garota da turma — ou de qualquer outra — interessante.

Até os dez anos, jimin achava que Taehyung era só muito difícil de conquistar, mas depois de uma certa noite, enquanto descia as escadas escondido para dar um susto nele e no amigo da escola que estava lá para fazer um trabalho, Jimin viu uma coisa que fez tudo ficar um pouco diferente.

— Marlboro, filtro vermelho — disse para o atendente e suspirou, apoiando o queixo na mão enquanto esperava. — Obrigado.

Pegou a cartela e entregou o dinheiro, dispensando educadamente o troco de três dólares antes de sair e parar para observar a boate outra vez, seu coração doendo sempre que atrelava aqueles caras de dentro ao irmão.

Naquela noite, quando abriu a porta do quarto de Taehyung em um vão pequeno para que pudesse deixar seu rosto parado no meio para que o vissem e se assustassem, Jimin pegou o amigo beijando-o na boca, só um selinho forte e ingênuo. Jimin teria entrado com raiva para questionar o que aquele mané pensava que estava fazendo, mas ficou em choque quando, depois de se separarem, Taehyung se inclinou para beijá-lo de volta, o selinho durando um pouco mais que o anterior. Lembrava da sensação do rosto perdendo a cor, a pressão caindo quase que instantaneamente, obrigando-o a se segurar na parede para não levar um tombo feio.

O que tinha acontecido, afinal?

Entrou no quarto mesmo assim, para evitar que algo além acontecesse, e tentou disfarçar a cara de susto, mas Taehyung o conhecia como a palma da mão e conseguiu ler em seus olhos que ele tinha visto tudo, então, depois que o amigo foi embora, Taehyung puxou Jimin para perto e apertou as mãos dele entre as suas, o choro intenso retumbando pelo quintal, o nariz escorrendo e o rosto inteiro vermelho, coberto de desespero.

Eu só queria saber como é beijar, ele disse com uma voz dolorida, lágrimas descendo em cachoeira pelas bochechas. Por favor, não conta 'pro papai, Jiminie! Por favor, não vai acontecer de novo. Eu juro!

Jimin não contou. Ele nunca tocou no assunto com ninguém, muito menos com a mãe, mas não era como se eles não soubessem, porque Jimin conseguia escutar os dois cochichando pelos cantos da casa quando Taehyung estava tomando banho ou dormindo, as palavras atacando seu coraçãozinho de criança.

Ele não é normal, Susan!, o pai dizia. Tem alguma coisa de errado com aquele garoto, eu sinto isso!

Não vai falar assim do meu bebê, seu filho da puta!, ela respondia, tão furiosa que Jimin conseguia imaginá-la toda vermelha. Taehyung é só um garoto que não segue o padrão que você quer que ele siga!

Está mimando ele, mulher! Vai deixá-lo se transformar em um homem depravado e cheio de princípios errados?! Podem acabar machucando ele!

Foi então que Jimin percebeu de uma vez por todas que um homem gostar de outro homem não era mesmo coisa boa. Seu irmão, seu lindo irmãozinho, se transformaria em um monstro se continuasse desse jeito. Ou ainda pior: em um monstro que seria caçado pelas pessoas, exatamente como Frankenstein.

Ele não queria que isso acontecesse. Não queria que Taehyung se machucasse. Não queria que ele virasse uma criatura verde toda costurada e feia. Taehyung era Taehyung, seu melhor amigo e a outra metade da sua laranja, não podia deixar que isso acontecesse.

No ano seguinte, o pai foi embora. Sumiu de casa e, lentamente, foi cortando contato até desaparecer de uma vez, deixando em Jimin um buraco enorme, um vazio que nunca mais seria preenchido.

Internamente, culpou Taehyung. Seus pais estavam sempre discutindo sobre isso, sempre falando sobre padrões, monstros e anormalidades, então algo nisso deve ter explodido no relacionamento, fazendo seu grande herói sair sem olhar para trás, abandonando-o sem pensar duas vezes.

Eu não tenho culpa, pensava e chorava e soluçava, os braços quentes da mãe apertando seu corpo. Culpe Taehyung, mas não me culpe. Puna ele, mas não me puna. Eu não fiz nada de errado.

A raiva era grande, mas, apesar disso, ainda eram sangue, uma só pessoa, então ela se dissipou com o tempo, em especial quando, no oitavo ano, Taehyung finalmente arranjou uma namorada, fazendo Jimin se sentir aliviado e esperançoso, porque poderia procurar o pai algum dia e dizer que as coisas tinham voltado ao normal, que conseguiriam ser uma família feliz de novo.

O nome dela era Pandora e, estranhamente, Pandora se parecia com um garoto. Ela usava roupas dois números maiores, moletons desbotados e calças feias, sempre cinzas ou pretas. Seus cabelos pretos repletos de cachos lindos eram curtos, na altura da nuca, mas estavam quase sempre alisados e escondidos em um boné. A pele negra, uma pele brilhosa e macia, nunca aparecia de fato, com exceção do rosto fechado em uma expressão tediosa e irritada, os lábios volumosos quase nunca sorriam.

Jimin não entendia como eles conseguiam ser um casal, já que sequer ficavam juntos como dois pombinhos apaixonados, mas pelo menos Taehyung estava saindo com alguém do sexo oposto, o que já era uma vitória.

Então, subitamente, no primeiro ano do ensino médio, o namoro terminou e, alguns meses depois, Jennie estava substituindo o lugar e ela também era bonita, com longos cabelos pretos sedosos, vestidinhos delicados que mostravam as coxas sedosas levemente vermelhas e batons escuros que realçavam seus olhos castanhos puxados.

Taehyung perdeu a virgindade com ela, mas agiu como se nada tivesse acontecido. Quando Jimin perguntou, todo animado e curioso, Taehyung só deu de ombros e disse que tinha sido legal. Só legal, nada extraordinário como tinha sido a própria primeira vez, nada extasiante e psicodélico como todos os garotos descreviam.

Naquele dia, as lembranças da infância voltaram e Jimin pensou no amigo da escola que, a propósito, tinha se assumido gay no dia em que Taehyung e Pandora terminaram. Gay, pau com pau e músculo com músculo. Gay, uma palavra que parecia sempre piscar no fundo dos olhos do irmão, olhos cansados e angustiados, com um tom macabro que nunca ia embora.

Taehyung pareceu ainda mais triste aquele ano, andando se arrastando pelos cantos e evitando de sair, então o namoro com Jennie não durou nem cinco meses e ele nunca mais chegou perto de outra garota até Jorja aparecer bêbada na quadra do colégio com mechas rosas e confetes na mão.

De repente, Taehyung estava falando sobre ela o tempo inteiro, um sorriso retangular lindo e sincero, do tipo que Jimin nunca tinha visto, então ele soube na hora.

Taehyung estava apaixonado.

Da noite para o dia, Jorja significava tudo para Jimin. Esperança, animação e alegria, uma visão de futuro onde o irmão pudesse ser feliz namorando uma mulher.

Isso, claro, se Jorja soubesse amar alguma outra pessoa que não fosse aquele maldito drogado escroto que nunca ia embora.

A última namorada de Taehyung foi Cassie e Jimin gostava mais dela do que das outras duas. Ela era inteligente, doce, habilidosa e muito sexy e, embora já soubesse como aquilo tudo acabaria, Jimin não conseguiu não ficar abismado quando descobriu que tinha acabado.

Como você deixou uma mulher como ela ir embora?!, perguntou quando Taehyung disse que ela tinha terminado tudo, mas ele só deu de ombros como sempre e continuou tocando o violão, sequer pensando em pedir uma reconciliação.

Foi entre isso e a morte de Jorja que Taehyung ficou ainda mais fechado que o normal; sorrisos cansados e falta de atenção excessiva; sumiços longos e instabilidade frequente. Não sabia o que era, não teve coragem de perguntar, mas sentia que ele estava se afastando aos poucos e sentir isso doeu, porque se Taehyung fosse embora também, Jimin não suportaria mais viver.

Isso continuou até Jeongguk, o cara que não aguentava música, aparecer do nada.

De repente, Taehyung estava feliz. Estava empolgado. Estava irritantemente sorridente. Parecia um bocó andando de um lado para o outro com olhos brilhantes e voz leve, fluida, um estranho interesse por maquiagens e pela boca de Jeongguk que, a propósito, ele não conseguia parar de encarar, e já estava ficando tão óbvio que até o presidente poderia notar lá na casa branca.

E, então, Jimin se sentiu uma criança outra vez, espiando pela fresta do quarto e escutando os cochichos do pai, a promessa que Taehyung fez de nunca mais beijar um garoto provavelmente prestes a ser quebrada, porque a tensão entre eles era visível e, se não explodisse entre quatro paredes, explodiria em público, e Jimin sinceramente não sabia o que seria pior.

Taehyung se transformaria no homem depravado que o pai mencionou. Ele viraria um monstro e seria caçado, mas Jimin não queria que o machucassem, não queria que o levassem.

Se Jeongguk nunca tivesse aparecido, então Taehyung continuaria livre e limpo, não estaria correndo riscos. Se Jeongguk nunca tivesse aparecido, Taehyung continuaria sendo seu irmãozinho pequeno e fácil de proteger. Mas a situação já tinha fugido de seu controle e, lentamente, Jimin estava aceitando que não conseguiria fazer mais nada para evitar o que estava claro desde que eram crianças.

Tragou fundo o cigarro e soprou a fumaça para longe, observando a ondulação dela no ar frio. Ainda estava parado na frente da boate, esperando uma resposta para seus pensamentos confusos, mas era óbvio que não conseguiria, porque não era um cara religioso e Deus não daria nada assim de graça, embora, às vezes, ele rezasse de qualquer jeito antes de dormir, pedindo proteção não a si mesmo, mas a Taehyung.

Amassou a bituca na calçada e começou a caminhar para o ponto de ônibus, mas alguma coisa do outro lado da rua chamou sua atenção, então estagnou no lugar e reconheceu dois riscos azuis acima de olhos puxados e pequenos.

Jeon Jeongguk.

Abriu a boca e o acompanhou com o olhar, praticamente deixando o queixo cair quando ele parou para conversar com o segurança da boate, rindo e parecendo extremamente confortável, como se já o conhecesse.

— Filho da puta!

Sussurrou, incrédulo, e atravessou a rua correndo tão rápido que nem olhou para os dois lados antes, o coração batendo desesperado no peito.

Parou atrás de Jeongguk, a movimentação acelerada chamou a atenção e ele virou lentamente a cabeça, parecendo levar segundos para processar o que estava vendo.

Então ele arregalou os olhos, denunciando que tinha sido pego no flagra.

— Jimin? — resmungou, estático, e então o rosto adquiriu uma expressão cheia de pânico. — O que você está fazendo aqui?

— Eu trabalho do outro lado. — Apontou para o prédio da empresa e Jeongguk seguiu com o olhar, engolindo em seco. — Estava entrando na boate, não estava, Jeongguk?

Ele parecia sensível, como se o dia tivesse sido ruim, então não demorou muito para que começasse a chorar, soluços fortes pulando da garganta enquanto estendia a mão para tocar em Jimin, na gola da camisa e nos ombros, puxando-o para perto em súplica.

— Não conta para o Taehyung, Jimin! — Os dedos embrenharam no tecido branco de sua roupa e Jimin se deixou bater de frente com o corpo dele, o rosto impassível e a raiva contornando a língua. — Não conta para ele, por favor!

Não conta para o papai, Jiminie!

Não vai acontecer de novo!

— O que você não quer que eu conte? — rosnou, os olhos profundos e molhados de Jeongguk fazendo um bolo estagnar na garganta, porque ele se parecia tanto com Taehyung. — Que você é gay ou que estava prestes a entrar em um lugar cheio de homens que provavelmente vão querer te tocar? Qual dos dois, Jeongguk? E por qual motivo eu acho que é a segunda opção?

Jeongguk fungou e abriu a boca para chorar com ainda mais força, o corpo tremendo com tanta intensidade que a blusa da Joplin subia e descia, contornando os quadris.

— Eu faço o que você quiser! — ele disse alto, tão alto que qualquer um conseguia escutar, então se jogou para cima de Jimin e o apertou em um abraço. — Eu vou embora, não vou ficar, mas não diz que eu estava aqui!

— Está apaixonado por ele, não está? — sussurrou, segurando-o pelos ombros para afastá-lo. — Responde.

Jeongguk passou as mãos pelo rosto para limpar as lágrimas, bochechas vermelhas e maquiagem escorrida, então mordeu o lábio e fechou os olhos, sacudindo a cabeça com força para cima e para baixo, como Jimin suspeitava.

— Sim — ele respondeu baixinho, controlando o choro. — Estou. Estou apaixonado por ele.

Jimin suspirou e apertou o meio do nariz quando sentiu o zumbido no ouvido voltar, a dor aguda parecendo atingir o fundo de seu cérebro, estresse e cansaço dançando dentro dele.

Jeongguk estava apaixonado e, a julgar pelo comportamento abestado de Taehyung, o sentimento era recíproco.

Não conseguiria fazer nada para impedir e, se permitindo pensar racional pela primeira vez na vida, Jimin entendeu tudo.

Seu irmão também gostava de homens, exatamente como o pai sempre suspeitou.

Pensou que conseguiria evitar que a ficha caísse, que conseguiria evitar que Taehyung deixasse esse lado escapar, mas, no fundo, sempre soube que não seria firme o suficiente.

Taehyung podia até finalmente ter se transformado no monstro que Jimin tanto temia, mas não seria caçado ou machucado, porque Jimin jamais permitiria.

Nem por Jeongguk e nem por ninguém.

— Não vou mandar você voltar — Jimin disse e empurrou Jeongguk de leve, observando os olhos arregalados dele. — Não vou te proibir de fazer nada. Você já corrompeu o meu irmão, agora lida com isso e seja homem, porque se machucá-lo, se algum dia pensar em ferir o coração dele, eu acabo com a sua raça. Você entendeu, Jeongguk?

Jeongguk demorou para processar, mas quando entendeu, suspirou aliviado e agradeceu um milhão de vezes, sorrindo vez ou outra, um sorriso que fez Jimin pensar em como Taehyung se sentia quando o recebia.

— Só quero dançar — Jeongguk disse e apontou com o queixo para a boate. — Só beber e dançar.

— Faça o que quiser, só não magoe o meu irmão.

Disse com ignorância e virou as costas para ir embora, tão exausto que sentia que desabaria na rua a qualquer instante, a porra do zumbido pulsando ainda mais forte nos ouvidos.

★ ♬ ★

T A E H Y U N G

Era sexta-feira e Taehyung estava completamente arrependido.

Além de cansado e estressado, é claro. Fazia dias que ele não sabia o que era comer alguma coisa decente ou tomar um banho com mais de dez minutos, o nervosismo de todos os dias parecendo grudar em seus ombros como crostas de suor e a barba por fazer pinicando o queixo e o maxilar, seus braços preguiçosos até mesmo para levantar uma simples lâmina de barbear.

Estava sentado no sofá desde o fim do expediente na lanchonete. Na vitrola velha que conseguiu por uma mixaria em uma venda de garagem, tocava um dos álbuns favoritos de Blues de Taehyung, o icônico The Sky Is Crying, de Stevie Ray Vaughan, lançado em 5 de Novembro de 1991, um pouco mais de um ano após a morte do artista em um acidente de helicóptero nas fronteiras de Wisconsin.

No momento, a faixa reproduzida era uma regravação instrumental de Little Wing, uma das melhores de Jimi Hendrix, e Taehyung estava de olhos fechados, um cigarro na boca e um copo barato de uísque na mão de pulso mole apoiada no braço do sofá, que balançava levemente de um lado para o outro enquanto ele sentia os vibratos da maravilhosa guitarra Fender Stratocaster atingirem o fundo de seu peito machucado.

Já tinha perdido a conta de quantos copos tinha tomado e de quantos cigarros tinha fumado, mas não importava tanto, porque ele queria simplesmente cair carregado do sofá, sem pensamentos e sem remorso, só sono profundo e tranquilo, um pouco de paz depois de tantos temporais seguidos.

Ignorar Jeongguk estava sendo muito mais difícil do que ele pensava. Era ridículo como seu cérebro repassava as cenas do beijo do camarim e da briga da noite anterior repetidas vezes como páginas de um livro independente, praticamente obrigando-o a voltar atrás na decisão de fingir que Jeongguk não existia até todos os sentimentos confusos irem embora de uma vez.

Estava evitando Jeongguk há cerca de seis dias, mas o coração não tinha diminuído em nada o ritmo e seu corpo continuava implorando por mais dele, mais toques e mais beijos, mais daqueles ofegos no seu rosto, mais das pernas firmes em sua cintura, mais das mãos grossas em seu pescoço.

I wanna be close to you, baby

Yeah, let me be close to you

I wanna be close to you darlin'

'Til you don't know what to say or do

Eu queria estar perto de você, baby

Yeah, me deixe estar perto de você

Eu queria estar perto de você, querida

Até você não saber o que dizer ou fazer

Chegava a ser uma putaria o jeito que o destino tentava forçar as coisas, pulando uma música do disco para que Close To You começasse a tocar bem no momento em que estava pensando, de novo, em como Jeongguk era forte em seus braços e em como tinha sido um completo imbecil com ele. Não que estivesse realmente mentindo quando disse que se arrependia de tê-lo conhecido... É só que, se Jeongguk nunca tivesse se aproximado tanto, não estaria nessa situação horrorosa e nunca teria encostado os lábios nos de outro homem.

Tinha sido uma delícia, mas qual é, não podia ser normal. Não podia ser normal sentir mais coisas beijando um outro cara do que beijando uma mulher, e Taehyung não conseguia de jeito nenhum engolir isso de uma maneira tranquila.

Suspirou e balançou a cabeça no ritmo da música, tirando o cigarro da boca para jogar o último gole quente do uísque garganta abaixo, praticamente nem sentindo mais a ardência.

Colocou o copo no chão perto do pé e tragou o cigarro até ficar sem fôlego, a queimação gostosa descendo pelo peito e parecendo expandir os pulmões, fumaça saindo em linha reta dos lábios mais ou menos abertos, o resto escapando pelo nariz até a sensação de alívio começar a dar as caras.

Olhou preguiçoso para a porta quando escutou batidas nela, mas não estava disposto a abrir, porque se fosse Jeongguk, sabia que não reagiria do jeito mais são e não queria nem imaginar o que acabaria acontecendo caso o deixasse entrar.

Jogou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos para tentar dormir enquanto as batidas aumentavam de tom, as pancadas cada vez mais altas e estridentes, parecendo entrar no fundo de seu cérebro.

— Quem é, porra?! — gritou alto para a voz bêbada sobressair a música da vitrola, mas sua cabeça doeu pelo esforço, então levantou com dificuldade para desligá-la, lançando o cigarro em qualquer lugar no processo. — Jeongguk, não vou abrir se for você!

— Taehyung, sou eu, Cassie!

Franziu as sobrancelhas, confuso, e esfregou os olhos só para confirmar que não estava sonhando acordado.

Caminhou vagarosamente até a porta antes de abri-la com cuidado, espiando pela fresta antes de descer a atenção pelo rosto meio preocupado de Cassie; bochechas vermelhas e cabelos em pé.

— Cassie, o que foi? — resmungou com a voz toda enrolada da bebida, o porre ficando mais evidente agora que ele estava falando baixo e não gritando. — O que aconteceu?

— Como assim o que aconteceu, seu idiota?! — Cassie abraçou o próprio corpo de frio e Taehyung notou que ela vestia apenas uma regata branca finíssima e shorts de dormir. — Você me mandou uma mensagem toda esquisita, me pediu para vir rápido! Não está lembrado? Eu só vi quando já estava indo dormir, por isso estou vestida assim. Vai me deixar entrar ou não? Estou congelando!

Taehyung olhou para cima, pensativo, mas a puxou pelo braço e fechou a porta, correndo para pegar um casaco no quarto, tropeçando nos móveis e no copo de uísque, fazendo-o rolar para algum lugar. Quando voltou, a cobriu delicadamente nos ombros com um moletom preto de botões, ajeitando-o um pouco antes de se sentar no sofá para processar as informações.

— Não me lembro de ter mandado mensagem para você — disse com uma voz irritantemente embargada, esfregando o rosto para tentar espantar um pouco do álcool.

Cassie suspirou e levantou uma sobrancelha, parecendo nervosa, o que fez Taehyung se encolher, preocupado. Se mandou qualquer coisa, estava tão bêbado que nem percebeu, já que estava dormindo, fumando e enchendo a cara desde cedo, a memória sendo afetada durante os cochilos.

— Cadê o seu celular? — ela perguntou e começou a procurar pela bagunça do apartamento, pulando as pernas esticadas de Taehyung com tanta graça que ele achou adorável, soltando um risinho que a fez se virar, curiosa. — O que foi? Me ajuda a procurar, Tê.

Taehyung rolou os olhos e bufou quando ouviu o apelido ridículo propagado por Jimin desde o ensino médio.

— Cas, eu não sei onde está, deve estar perdido em muitos lugares, você vai ficar a noite inteira procurando. — Deu de ombros e apoiou a cabeça pesada na mão, cotovelo na coxa coberta por um moletom quentinho. — Cadê o seu?

Ela levantou do chão e arregalou os olhos, sorrindo meio sem graça ao puxar o celular do bolso do short do pijama, arrumando os cabelos no processo.

Tão bonita, Taehyung pensou. Nunca teria deixado ela ir embora se fosse um cara normal.

— Fiquei tão preocupada que esqueci que trouxe. Aqui, olha o que você me mandou.

Taehyung piscou para afastar a visão embaçada e pegou o Nokia — que tinha o jogo irado da cobrinha, aliás — e começou a rir das mensagens ridículas que tinha mandado para Cassie, a ortografia toda cagada e o desespero que só aparecia quando estava muito, muito, muito bêbado.

Jogou a cabeça para trás, uma gargalhada forte e intensa ecoando pelo apartamento. Quase não se reconheceu ali, e se não fosse pelo seu contato salvo — Teteco, a propósito — acharia que Cassie estava delirando.

— Que porra é essa?! — perguntou quando recuperou o fôlego. — Cas eun n me mexo mais, corrie p cá? O que isso significa?!

— Acho que Cas, eu não me mexo mais, corre para cá. — Ela sentou ao lado de Taehyung e esperou ele terminar de ler todas as mensagens, o sorriso sumindo conforme descia mais a barra. — Tae, é sério, o que aconteceu?

Ele fechou os olhos com a vergonha corroendo cada parte de seu corpo. Frases como estou chorando, estou sozinho, não consigo respirar e fiz merda era o de menos. O que realmente pegou, foi a sequência que veio logo depois disso.

Quero Jeongguk

Sinto falta dele

Sinto saudades

Quero beijá-lo

Taehyung nem conseguia pensar em uma mentira para contar, porque tinha sido pego de surpresa. E por que caralhos tinha mandado mensagem logo para ela? A única explicação era a de que seu cérebro imbecil escolheu Cassie como primeira opção para essa onda de vergonha, porque estava pensando muito nela desde que foram no bar mexicano depois daquele ensaio, o que acarretou em todas as suas memórias sobre sua dificuldade em fazer o pau subir, o que consequentemente o fez tentar se masturbar pela primeira vez depois de tanto tanto, o que acabou não dando certo, porque Jeongguk apareceu na sua cabeça para atrapalhar — ou melhorar — tudo.

Era tão previsível, não acreditava que tinha sido tão burro em ficar com a porra do celular enquanto bebia. Aliás, nessas horas ele resolvia funcionar, não é? Aquele pedaço de porra velha!

— Caralho, o meu grau até passou — resmungou e entregou, constrangido, o celular para ela, afundando o rosto entre as mãos suadas. — Eu sou muito burro!

Sentiu uma mão carinhosa esfregar gentilmente suas costas, contornando os ombros até chegar na nuca, onde cutucou o músculo rígido de esforço e estresse.

— Não consigo nem imaginar o que aconteceu para te deixar nesse estado — ela disse com uma voz dócil, rindo baixinho em seguida. — Mas pode conversar comigo, se quiser. Sabe disso, não sabe?

Balançou a cabeça e levantou o tronco depois de bufar, relaxando o corpo e olhando para Cassie de soslaio, a expressão atenciosa dela aquecendo seu coração.

— Cas, você gostava de mim? — perguntou depois de alguns segundos só ponderando a ideia. — Você gostava mesmo de mim?

— Eu gosto de você, Taehyung. Minha paixão ainda não passou, mas está quase lá. — Ela sorriu, era tão bondosa que ele se sentiu um bosta inútil por quebrar um coração dessa forma. — Não faz essa carinha, eu vou ficar bem. Sou uma mulher adulta!

Taehyung riu um pouco sem graça e desviou os olhos para as mãos trêmulas apoiadas nas coxas. Se pensasse com força, conseguia sentir a cintura de Jeongguk em seus dedos, os cabelos molhados de suor e as costas quente

Porra, estava tão desesperado para tê-lo de novo, mas seu lado racional simplesmente levantava barreiras e barreiras.

— Alguma vez eu consegui satisfazer você? — sussurrou, os olhos ainda presos nas mãos. — No sexo, quero dizer.

— Algumas boas vezes, quando você estava inspirado.

Taehyung não sabia definir o que exatamente o deixava excitado quando, nas poucas vezes, faziam sexo, nem no que pensava para se desfazer na própria mão depois. Em alguns momentos, enquanto fechava os olhos e se permitia vagar pelas obscuridades da própria mente, se imaginava com um pau na boca ou, quando conseguia ficar em cima de Cassie um pouco depois de ela se satisfazer, imaginava um corpo masculino no lugar do dela, o que era tão estranho que, depois de gozar, simplesmente esquecia que tinha acontecido.

As memórias estavam voltando todas de uma vez e Taehyung não estava gostando, se sentia pressionado e encurralado, assustado também.

— Acho que você foi uma guerreira. — Soltou um riso sem humor. — Não sei fazer sexo direito, provavelmente nunca fiz mais de quinze vezes e quando fiz, foi sempre tão... automático.

Pensou em como se masturbou imaginando Jeongguk. Tinha sido o melhor orgasmo de sua vida e ele só se esfregou na porra do colchão, aquele tesão insuportável sendo coisa de outro mundo.

Taehyung suspirou. Estava começando a juntar as pecinhas, mas tinha medo de terminar o quebra-cabeça.

— Você só não encontrou aquela pessoa que acende a química, Taehyung. E se serve de consolo, você tem dedos fantásticos.

Taehyung gargalhou e a empurrou com o ombro, recebendo um empurrão de volta, o corpo parecendo mais leve e tranquilo, respiração fina e controlada.

— Acho que encontrei, Cas — respondeu e mordeu o lábio, sentindo a culpa voltando com força. — Mas simplesmente não posso ceder. Não é certo, sabe?

— Taehyung, você está apaixonado?

Olhou para ela, sem saber o que dizer. Estava apaixonado? Realmente estava apaixonado por um homem?

— Eu não sei. Não tenho certeza.

Cassie tocou delicadamente a bochecha de Taehyung com a ponta dos dedos e se inclinou lentamente, apertando os lábios contra os deles em um ato de carinho indescritível, fazendo-o fechar os olhos e suspirar, porque estava se sentindo amado e acolhido.

Quando ela se afastou, pegou no pulso de Taehyung e apertou a mão dele contra o seio esquerdo, perto das costelas. Taehyung arregalou de leve os olhos quando sentiu o coração acelerado dela, o ritmo tão rápido que chegava a ser surreal.

— Quando você beija a pessoa, sente seu coração assim? — Cassie sussurrou a pergunta e apertou a mão dele com mais força, as batidas retumbando nos dedos. — Sente, não sente?

Taehyung engoliu em seco e sentiu lágrimas descendo pelas bochechas, porque, caralho, ele sentia. Quando beijou Jeongguk pela primeira vez, sentiu que estava prestes a ter um infarto, de tão desesperado que seu coração batia.

— Cas, você acha que eu sou anormal? — perguntou e começou a chorar, se encolhendo para dentro dos braços dela, deixando a cabeça cair na curva do pescoço cheiroso. — Você acha?

— Não, meu amor. — Ela fez carinho nos cabelos encaracolados, mergulhando os dedos neles. — Você não é anormal, é um ser humano livre para amar quem quiser. A vida é sua, só deve dar satisfações a si mesmo.

E pelo resto da noite, Taehyung chorou nos braços de Cassie até finalmente pegar no sono, a cabeça nos joelhos dela e as mãos nas coxas geladas.

★ ♬ ★

No dia seguinte, quando acordou completamente morto por ter dormido na pior posição possível, levantou e esticou o corpo, ouvindo-o estalar inteiro, partes do pescoço e ombros queimando incessantes, o pulsar constante incomodando os nervos.

Puxou Cassie do sofá, que tinha ficado sentada a noite inteira com a cabeça dele no colo, e a carregou para a cama, cobrindo-a com os lençóis antes de voltar para a cozinha e conferir as horas no relógio de parede.

Os ponteiros marcavam 12:40.

Tinha dormido tanto assim?

Olhou ao redor, notando a bagunça pelo apartamento; copos, garrafas vazias de uísque, cerveja ou vodca e bitucas de cigarro por todo o lado. Como não estava mais vendo Jeongguk, não tinha mais ânimo para limpar, muito menos para organizar, então ficaria do jeito que estava até Jimin aparecer de saco cheio de novo.

Sentou no sofá e suspirou, só a pequena menção mental sobre Jeongguk fazendo sua cabeça doer. Não sabia se deveria falar com ele ou deixar as coisas como estavam, mas seu coração estava incomodado com todo o andar da carruagem e a resposta pulsava clara no fundo dele. Não era exatamente a que Taehyung queria, então estava tentando ignorá-la e fingir que ainda precisava pensar com mais calma.

A conversa com Cassie tinha sido esclarecedora, por mais que ainda fosse difícil demais enxergar o que estava acontecendo. Não se lembrava de sentir coisas tão loucas por nenhum outro homem, então talvez algo em Jeongguk especificamente o atraísse, e não necessariamente pessoas do mesmo sexo.

Bufou, com raiva, mas ao mesmo tempo que bufou, sorriu, bobo, ao lembrar de como o beijo dele era gostoso e de como parecia encaixar perfeitamente bem no seu, lábios finos escorregando pelos grossos, a língua molhada pressionando a sua...

— Caralho, Taehyung! — sussurrou e bateu na própria testa, esfregando-a em seguida como se tentasse puxar todos os pensamentos nojentos e pervertidos da cabeça. — Não seja um homem depravado!

Taehyung levantou para ir tomar um banho e, quando chegou na garagem para o ensaio, pouco preparado para ver Jeongguk de novo depois de seis longos dias o evitando ao máximo, percebeu que tinha tomado a melhor decisão, porque Storm estava sentada no colo dele, fazendo trancinhas nos cabelos macios que Taehyung queria tocar e sorrindo de um jeito que ele nunca conseguiria fazer se estivessem em público.

Sentiu o coração doer e murchar, porque mesmo que estivesse decidido a não pensar mais em Jeongguk daquela forma, algo lá no fundo incomodava.

Olhou para eles outra vez, lágrimas se formando nos cantos pela constatação do óbvio: Storm era certo, Taehyung não era. Ela era boa para ele; não o magoava e conseguia mostrar como se sentia sem medo dos julgamentos ou de parecer nojenta. Ela era tudo que Jeongguk merecia.

Respirou fundo, engoliu o choro, fingiu um sorriso e entrou na garagem com a noção de que estava parecendo deplorável; com as olheiras fundas, barba por fazer e cabelos desgrenhados enfiados dentro de um boné velho.

— Nossa senhora, que cara de merda é essa? — Namjoon foi o primeiro a notá-lo, fazendo todo mundo virar a cabeça em sua direção. — Parece que passou uma semana inteira chapando.

— Tipo isso. — Deu de ombros e caminhou para perto da guitarra linda que já não o animava mais, passando a alça pelo corpo e conectando no amplificador antes de começar a dedilhar algumas notas. — Vamos tocar? Qual a setlist de hoje?

Resmungou, o rosto voltado para baixo, a falta de coragem impedindo-o de olhar para Jeongguk ou para qualquer um. Tinha a sensação de que todo mundo sabia alguma coisa, de que estavam só esperando ele contar ou deixar escapar em um momento de fraqueza.

Como o pai dizia, mentira tem perna curta.

— Taehyung, tudo bem? — Jimin desceu do banquinho da bateria e pegou o rosto dele entre as mãos pequenas, olhando-o no fundo dos olhos, a expressão preocupada adornando o rosto angelical. — O que foi?

— Nada — sussurrou com a noção de que a voz tinha saído quebrada, mas limpou a garganta e desviou delicadamente do toque dele, voltando a olhar para a guitarra. — Só estou cansado.

Era mentira e Jimin sabia, mas Taehyung não entendeu o porquê de, ao invés de franzir as sobrancelhas e ameaçar chorar como sempre fazia, Jimin olhou para Jeongguk com aparente fogo nas iris castanhas, raiva abundante quase transbordando pelos poros.

Seguiu-o lentamente e seu olhar conectou com o de Jeongguk por poucos segundos antes de ele desviar, magoado, e voltar a fazer carinho nos ombros de Storm, que riu e puxou alguns fiozinhos do cabelo dele para cima.

Precisava mesmo esquecê-lo. Pelo bem dos dois.

— Estávamos esperando você para montar uma setlist. — Hoseok tirou Taehuyng dos devaneios, então só suspirou e virou para olhá-lo, fazendo uma careta por ele estar usando uma tiarinha ridícula que puxava a franja meio encaracolada para trás. — Que foi?

— Que tiara é essa, cara? — Apontou para a cabeça dele, que só deu de ombros e pegou a guitarra do apoio, figurinhas novas de bandas mais famosas coladas por todo o corpo laranja. — Cadê o Jin, a propósito?

— Teve um compromisso, disse que vai aparecer só no show. — Namjoon respondeu, posicionando-se com o baixo no corpo. — Yoongi e Sunny também, ele ficou preso na loja hoje.

— E a mamãe? — Virou para Jimin, levantando uma sobrancelha em dúvida. — Ela disse que estaria aqui hoje.

— Turno extra — Jimin respondeu e voltou a sentar atrás da bateria, girando as baquetas autografadas pelo baterista da Floyd. — Alguma ideia 'pra setlist?

— Eu pensei em seguir um estilo mais clássico hoje. — Ouviu a voz doce e firme de Jeongguk soar bem perto, mas não desviou os olhos da guitarra, dedilhando-a com um pouco mais de força por culpa do nervosismo. — 'Pra mostrar que sabemos tocar qualquer coisa.

— Interessante — Namjoon disse. — Que tipo de clássico?

— Jazz.

— Somos uma banda de rock, não de Jazz — Jimin retrucou com uma voz ácida. — Pode desmontar toda a nossa imagem, Jeongguk.

— Não exatamente — Hoseok respondeu. — Se puxarmos para uns acordes agressivos vez ou outra, a combinação pode surpreender. Aliás, Jazz Fusion é um gênero pouco explorado por bandas de rock. Já ouviu Muffin Man, do Frank Zappa?

— É claro que já! — Jimin aumentou o tom de voz, indignado. — Mas o que o Jeongguk está pedindo é para transformarmos Jazz clássico em Jazz Fusion em menos de seis horas!

— Que música você está pensando, Jeongguk? — Hoseok perguntou e Jimin tentou protestar, mas se calou depois de gaguejar um pouco. — God Bless The Child, da Billy Holliday? Down Hearted Blues, da Bessie Smith? Summertime, da Ella Fitzgerald, mas na composição da Joplin?

— Solitude, da Nina Simone.

Taehyung parou, dedos desafinando baixo na guitarra e olhos arregalados.

Nina Simone era uma de suas cantoras favoritas de Jazz e tinha contado isso para Jeongguk em uma das vezes em que tomaram cerveja depois do trabalho no corredor do prédio, a língua meio embolada citando Solitude, Love Me Or Leave Me, Satin Doll e outras, o brilho nos olhos dele enquanto ouvia tudo com atenção, sorrindo vez ou outra, focando sua boca molhada vez ou outra, concordando vez ou outra, porque ele também gostava de Nina, mas não na mesma intensidade, gostava mais porque Little Girl Blue da Janis era um remake de uma composição no piano dela, então ele tinha pesquisado um pouco e se interessado.

Solitude, da Nina, fala sobre solidão romântica e desespero em ter de volta um amor que foi embora. É uma música de versos curtos, com solos bonitos, e Taehyung sempre se sentiu reconfortado por ela, agradecido por não ser o único a sentir um vazio no peito.

E Jeongguk sabia disso.

— Solitude? — Jimin perguntou e soltou um riso debochado. — Como você pretende transformá-la em Fusion, cara? Vai dar muito trabalho.

— Vamos modificar só ela, o resto da setlist pode ser Fusion simples, como Frank Zappa, Jack Bruce, Lee Ritenour e até mesmo Jimi Hendrix, apesar do ritmo dele ser um pouco diferente — Jeongguk propôs, voz aveludada descendo como seiva pelos ouvidos sensíveis de Taehyung, que já sentiam saudades dela. — Não é assim tão difícil, precisamos arriscar.

— Mas arriscar seis horas antes do show? — Jimin bufou e acertou um prato com a baqueta, o som estridente retumbando pela garagem. — Não vamos ter tempo de ensaiar as outras músicas.

— Não podemos ensaiar antes de sábado, Jimin — Namjoon respondeu. — Todos nós trabalhamos, não dá para arrumar mais tempo.

— Se não conseguirmos nenhum resultado em três horas, montamos outra setlist — Hoseok disse e Taehyung quase conseguiu enxergar um sorriso animado entre as palavras. — É uma ideia excelente, pode atrair mais público.

— E por último nós deixamos These And Those Stigmas — Jeongguk concluiu, o timbre nervoso nos lábios. — Taehyung? O que você acha?

Taehyung fechou os olhos, pensando no que responder, mas decidiu parar de agir como uma criança e levantou a criança, encarando cada um deles nos olhos, a visão meio embaçada por ter ficando tanto tempo encarando o chão ou a guitarra.

Enfim, depois de enrolar um pouco, virou para Jeongguk, sentindo um raio partir sua coluna em duas. Os olhos intensos e escuros dele pareciam opacos, como se tivessem perdido todo o brilho depois de quinta, a pele dos lábios estava seca, sem gloss ou hidratante, e Taehyung desejou beijá-la e cuidá-la com a própria saliva.

— Acho bom — soprou um resposta, a voz rouca e sôfrega denunciando toda a dor que vinha sentindo e era como se ele não tivesse mais forças nem mesmo para chorar. — Acho muito bom.

Jimin suspirou e acariciou as têmporas meio vermelhas de raiva, mas então balançou a cabeça e franziu as sobrancelhas, a expressão como se dissesse fazer o que, né? e Taehyung quis se encolher para dentro dos braços dele, porque estava cansado demais de lidar com tantas coisas novas e confusas, queria só familiaridade e segurança, carinho e atenção, mesmo que Jimin estivesse bravo no momento.

Jeongguk sorriu pequeno e desviou o olhar, respirando fundo em seguida, parecendo ter feito muito esforço para uma simples pergunta e Taehyung sabia exatamente como ele estava se sentindo, porque somente olhá-lo era como perder todo o ar e toda a energia, o corpo amolecendo tanto que os pés precisavam fincar no chão para que os joelhos não o acertassem.

— Ótimo, então. — Hoseok levantou os dois polegares para cima e abriu um sorriso gigante que fazia seus olhos fecharem, expressão infantil tomando forma. — Vamos decidir o resto das músicas?

— Eu quero que o Taehyung cante essa comigo — Jeongguk começou sussurrando, mas a voz tomou força no final, decidida e firme, a cabeça virando rápido para encará-lo. — Na verdade, eu queria que o Taehyung fosse meu vocal de apoio em músicas mais tranquilas, porque nós combinamos.

Taehyung quis dizer não. Abriu a boca para responder, mas quando olhou para Namjoon, ele torceu os lábios em repreensão, então percebeu que não podia mais tomar decisões por si só e que, algumas vezes, teria que deixar as próprias emoções de lado para satisfazer o crescimento da banda, que já estava caminhando para alcançar um nível profissional.

Puxou o ar com força para os pulmões e soltou em um bufar, observando o rosto determinado de Jeongguk murchar para dar lugar à decepção.

Era só isso que conseguiria dar para ele; uma lista imensa de decepções. Não era uma mulher, não era Storm, não era seguro. Nunca conseguiria satisfazê-lo do jeito que ele esperava que fosse acontecer.

— Só não vou poder cantar com você durante as músicas agitadas — respondeu e deu de ombros, tentando expulsar a tristeza profunda que cutucava seu coração inchado. — Só isso.

— Está de bom tamanho para mim. Calmaria combina com a gente.

Taehyung estreitou os olhos, porque Jeongguk não parecia estar falando da música, mas ele virou para frente com rapidez, apertando o microfone entre os dedos antes de ajustá-lo na altura exata e começar a listar músicas que combinariam com a entrada de Nina Simone.

Taehyung estava nervoso para cantar uma música tão íntima com ele, mas, como Namjoon indiretamente indicou, não havia mais espaços para reclamações fúteis.

★ ♬ ★

Jeongguk estava mais bonito do que nunca quando eles subiram no palco para começar o show. Ele estava usando uma blusa de botões com estampa de zebra, uma jaqueta vermelho sangue brilhosa, calça preta justa e botas sociais lustrosas.

Taehyung quis tocá-lo. Quis ainda mais quando o observou deslizar, bruto, com a ponta do dedo indicador, uma sombra prateada pelos olhos. Ele estava concentrado, sobrancelhas franzidas e boca meio aberta, mas parecia meio perdido também, pupilas desfocadas dançando de um lado para o outro no espelho, como se procurasse por alguém ou alguma coisa, então Taehyung se virou antes que acontecesse qualquer contato visual.

Ficaram lado a lado na frente do palco e Jeongguk cumprimentou a plateia daquele jeito charmoso de sempre, o bar parecendo ainda mais lotado que o sábado passado, cartazes simples da banda pendurados pelas paredes, com o telefone e o nome de Jin para contato bem pequenos no rodapé, luzes azuis e vermelhas dançando um pouco acima deles.

(Coloquem Solitude, da Nina Simone, para tocar agora, está no início do capítulo)

Jimin iniciou Solitude com batidas fracas e sensuais nos pratos, o resto do instrumental acompanhando de forma mais acelerada, seguindo a modificação de ritmo que conseguiram fazer mais cedo com o tempo quase estourando.

Jeongguk apertou o microfone de chão e fechou os olhos para começar a cantar, a voz baixa e grossa, tão diferente das outras vezes, quase fez Taehyung desafinar, porque era linda e impactante, um timbre afinado que parecia rasgar o peito e atingir o coração, como uma flecha poderosa banhada em dor profunda, tantas mensagens escondidas que era impossível decifrar todas.

— Na minha solidão você, me persegue com devaneios de dias passados. Na minha solidão, você me insulta com lembranças que nunca morrem.

Jeongguk segurava as últimas sílabas e as estendia como Nina fazia, trazendo mais poesia para a melodia. Ele estava tão imerso que não sorriu quando o público começou a acompanhar, acanhado, algumas palavras fora de ordem, muitas pessoas perdidas nas ondas de sentimentos que o fôlego dele produzia, outras completamente encantadas, outras emocionadas.

— Sento-me na minha cadeira, cheio de desespero. Ninguém poderia ser mais triste. Com tristeza em todos os lugares, eu sento e fico olhando, e eu sei que eu vou logo enlouquecer.

Jeongguk abriu os olhos quando Taehyung cantou e então o primeiro contato visual da noite, com o instrumental de fundo e a voz grave dele ecoando intensa pelas caixas de som, foi como um banho de água fria; peles arrepiadas e corações acelerados, a angústia de ambos praticamente estendendo os braços para um toque aprofundado, dedos quase se entrelaçando, mas perdendo forças conforme os versos chegavam ao seu fim inevitável.

— Na minha solidão, estou rezando; caro Senhor acima, mande de volta o meu amor.

Cantaram juntos a última parte, olhos nos olhos e dor transbordando, cada um com a sua própria. Taehyung puxou a respiração com força e sentiu o peito inchar, prestes a esguichar tudo que estava preso, o que talvez fosse bom, mas, no momento, não deixaria acontecer, então só desviou para o público e se distraiu quando começaram a aplaudir.

Quando o show acabou, Taehyung não ficou para beber e comemorar, só colocou a guitarra no ombro e montou na bicicleta instável, pedalando a toda velocidade para casa, vento esparramando o cabelo para trás e secando os olhos, tão distraído que não verificou a rua antes de atravessar, a buzina de um carro em alta velocidade soando tão alta e estridente que ele ofegou de susto e apertou os freios com tudo, praticamente sendo arremessado para a calçada segura, o corpo quicando no chão.

Sentou de súbito, meio chocado e meio apavorado, logo quando o carro atropelou sua magrela, pedaços dela amassando no asfalto, outros pedaços voando por aí.

Seus olhos foram crescendo enquanto ele processava o que tinha acontecido e, quando se tocou de que teria que andar a pé até ter dinheiro para comprar outra bicicleta, virou o rosto para cima e gritou, furioso, punhos apertados contra as canelas ardidas.

— Puta que pariu! — gritou de novo, um grunhido de raiva arranhando a garganta em seguida. — Vai se foder, caralho!

Choramingou e fechou os olhos quando sentiu as dores no corpo; braços ralados dos pulsos aos cotovelos, joelhos da mesma forma, quadris extremamente doloridos, pernas pulsando por terem sido o apoio de queda e queixo amassado, provavelmente escorrendo sangue.

Levantou com dificuldade e caminhou mancando para casa, levando cerca de 40 malditos minutos para chegar, o fôlego curto pelo esforço, pelo susto e pela dor.

Para piorar, o elevador não estava funcionando...

... De novo.

Sentou, derrotado, com as costas apoiadas na parede da frente, estendendo as pernas doloridas no corredor e jogando a cabeça para trás, olhos fechados e lábios soltando um suspiro.

A vida não pode piorar, Taehyung.

— O que aconteceu?

Sim, ela pode sim.

Abriu um dos olhos, enxergando um Jeongguk preocupado de pé bem ao seu lado, o rosto forte e delicado como o de um anjo.

— Eu caí — respondeu, simples. — Me estabaquei na avenida principal.

— Ah.

Ah.

Queria que Jeongguk subisse de uma vez e o deixasse para trás. Era nele que estava pensando quando atravessou a rua sem prestar nenhuma atenção, então era culpa dele.

Só me deixa respirar aliviado, Jeongguk. Só por uma vez, para de me confundir.

— Tem coisas em casa para tratar isso aí? Seus braços estão em carne viva. — Ele levantou as sobrancelhas e Taehyung só desviou o olhar para a pele esfolada, permanecendo em completo silêncio. — Pode infeccionar.

— Eu tenho remédio em casa — respondeu a contragosto. Era mentira, não tinha esse tipo de coisa guardado, não gastaria dinheiro com isso. — Obrigado.

Porque não era mal educado, é claro.

— Tudo bem.

Jeongguk subiu pelas escadas sem pensar duas vezes e Taehyung até se sentiu meio ignorado, estava esperando que ele insistisse mais, estava esperando que ele o puxasse do chão e o levasse para o apartamento, mas surpreendentemente nada aconteceu.

Suspirou pelo que parecia ser a décima vez no dia e fechou os olhos para cochilar um pouco antes de enfrentar a escadaria.

★ ♬ ★

— Eu beijei o Jeongguk.

Amelia apenas tirou o rosto das anotações e encarou Taehyung com uma expressão neutra, olhos carinhosos o incentivando a contar mais, as sardas nas bochechas parecendo deixá-la ainda mais acessível e confiável, como uma amiga de infância que você faz durante as férias de verão e nunca mais encontra depois.

— E como foi?

Taehyung já estava preparado para essa pergunta, mas mesmo assim não sabia como responder sem parecer estranho. Como contaria para ela que se enfiou nas pernas de um homem e experimentou o sabor da língua dele enquanto suspirava e ofegava desejando mais? Que seu coração bateu com tanta força que pensou que fosse parar? Que pareceu certo e que o encaixe do corpo dele era perfeito para o seu? Que, em alguns segundos de puro delírio, pensou que morreria feliz se a última coisa que fizesse fosse beijar Jeongguk?

— Foi... — Mordeu o lábio, pensativo, a perna esquerda balançando sem parar, a sola do sapato fazendo um tec tec tec irritante no piso de linóleo azul. Se ele dissesse, conseguiria conviver com isso depois?

— Taehyung?

Olhou para ela, cansado e assustado. Como foi, Taehyung? Como você se sentiu? Porra, seja honesto pelo menos uma vez na sua vida. Confesse pelo menos uma vez na sua vida. Faça chover, faça sair, jogue para fora!

— Foi... — Respirou fundo e soltou o ar bem devagar, dando espaço para a coragem meio cambaleante entrar, as palavras escorregando doces e amargas dos lábios secos: — O melhor beijo que eu já dei na minha vida. Eu me senti tão vivo, como se fosse um novo fôlego.

Ela sorriu e então riu, parecendo orgulhosa e aliviada, quase como se esperasse que Taehyung dissesse isso já há um bom tempo, a ficha dele caindo lentamente em cima da cabeça como um véu sedoso de noiva; ela sabia, assim como todo mundo parecia saber.

Por que todas as pessoas agem como se soubessem coisas sobre mim que nem mesmo eu sei?

— Essa é uma boa notícia, não é? Você tinha me dito que parecia sempre difícil se conectar romanticamente com todas as namoradas que teve.

Amelia levantou uma sobrancelha e apoiou o queixo na mão aberta, os lábios rosados e finos adornavam seu rosto afetuoso e tranquilo, um porto-seguro no meio de todo o caos que estava sendo sua vida nos últimos dias.

— Três — resmungou e sorriu meio sem graça, desviando os olhos dos dela, encarando a perna que já não balançava mais com tanta rapidez. — Só tive três namoradas.

— Bom, é, desculpe. — Ela balançou a mão em um gesto de arrependido e arrumou os cabelos enrolados atrás das orelhas, uma pontinha da franja contornando a sobrancelha. — Mas, mesmo assim, o que eu disse ainda é válido.

— Eu não sei — retrucou e franziu o nariz, dentes arrancando pelinhas dos lábios. — Estou confuso, não sei o que sinto. E ele ainda continua sendo um homem. Somos dois homens. Não faz sentido.

— Você se sente atraído por ele e ele por você, por isso se beijaram, como todo ser humano faz. Esse é o sentido que está deixando escapar. Não precisa ser tão complicado assim.

Taehyung não entendia. Se era assim tão fácil, então por qual motivo ele simplesmente não conseguia? Por qual motivo não conseguia simplesmente voltar atrás, pedir desculpas a Jeongguk por ter sido um imbecil e beijá-lo de novo?

— Preciso de um tempo para pensar — respondeu depois de alguns segundos, voz baixíssima e olhar amuado, exausto. Nesses momentos de reflexão, Taehyung se sentia tão fraco e derrotado, tão invisível. Apesar de muitas vezes desejar sumir, não gostava de sentir que não pertencia a lugar nenhum, que não pertencia a ninguém. — Só preciso de um tempo.

— O tempo que quiser, mas lembre-se de que, muitas vezes, rodeamos demais um caminho que é só seguir reto, nos cansamos e então pensamos que tomamos a decisão errada, quando, na verdade, é a mais certa de todas e não enxergamos por culpa do esforço.

Taehyung balançou a cabeça e eles mudaram de assunto. Contou sobre o tombo que levou e sobre os shows oficiais. Ocultou que encontrou com a mãe de Jorja na recepção, ocultou que ela lhe deu aquela carta e também que se masturbou do jeito mais indecente possível enquanto pensava em Jeongguk de maquiagem.

Essas partes Taehyung preferia resolver sozinho, se possível nunca mais pensando nelas.

Quando saiu do consultório, estava se sentindo muito mais leve do que antes.

★ ♬ ★

Um mês depois

Era sábado e Taehyung estava atrasado para o ensaio mais importante da banda — segundo Storm —. Corria como louco pela rua, desviando em cima das pessoas, pulando caixas e cestos de lixo jogados de qualquer jeito nas calçadas, se espremia entre becos e contornava portões, os pulmões parecendo em brasa enquanto ele respirava acelerado e bagunçado, coração batendo rápido e cabelos quase desgrudando do couro.

Storm queria fotografá-los profissionalmente para o jornal da faculdade. Isso incluía maquiagem, roupas específicas e poses e, embora Taehyung detestasse essas coisas, principalmente sair em fotos onde geralmente parecia feio e desengonçado, era importante para a minúscula carreira da Glitter, porque Storm iria expor em um campus enorme cheio de jovens que adoravam curtir shows depois de uma longa sexta-feira cansativa. Além disso, ela também passaria alguns vídeos das apresentações deles em salas específicas, como forma de documentário para um projeto pedido pela direção.

Então, bom, não era pouca coisa e Taehyung tinha que ter aparecido na garagem da mãe uma hora atrás, mas perdeu muito tempo dormindo depois de beber como um louco na noite anterior. Ao acordar assustado e ainda meio zonzo, teve que tomar uma ducha veloz e fazer a barba ridícula que todo mundo parecia amar criticar. Storm faria picadinho dele e depois jogaria em algum esgoto por aí, o que não seria tão ruim assim, já que Taehyung se sentia mesmo um pedaço de bosta flutuante, principalmente quando decepcionava desse jeito.

Derrapou ao virar a esquina e parou com as mãos nos joelhos assim que chegou na frente da garagem, saliva espirrando da boca junto com as lufadas de ar azedas de uísque.

— Uma hora atrasado, Taehyung! — Escutou a voz exasperada dela e só balançou a cabeça como que dizendo não consigo responder nada agora, espera um minuto. — E você está todo descabelado, vou ter que te arrumar antes de começar.

Assim que recuperou o fôlego, levantou o corpo e apertou as mãos na base da coluna, alongando-a e ouvindo-a estalar dura, a dor eletrizante percorrendo os nervos. Porra, estava todo travado.

— Perdi a hora dormindo, foi mal — resmungou e coçou a nuca, constrangido, então olhou para todos e arregalou os olhos, surpreso. Estavam muito bem arrumados, com roupas de qualidade e maquiagens coloridas. — Estão boa pinta.

Sorriu e entrou na garagem, encolhendo os ombros ao encarar a expressão enfurecida de Storm, que usava um batom vermelho chamativo que o fez se lembrar de Jorja, o corpo retesando por poucos segundos antes de ele decidir empurrar para o fundo da mente e focar no que importava no momento.

— Tetê, pensei que não viria mais — Jimin disse e fez um biquinho, estava adorável usando maquiagem rosa. — Tudo bem?

— Tudo — respondeu e balançou a cabeça, assentindo. — Nam, Seok, como estão?

— De boa — Namjoon resmungou, a voz meio monótona como sempre, cabelos divididos para o lado de um jeito charmoso.

— Tranquilão, mas de porre. — Hoseok abriu o sorriso enorme de sempre. — Bebi igual louco ontem, a festa que eu fui estava irada.

— Você não disse que ia passar a noite estudando 'pra matéria de cálculo da faculdade de engenharia que seu pai te obrigou a fazer, mano? — E, de novo, Namjoon parecia disposto a pegar Hoseok na curva, que só deu de ombros e se limitou a isso. — Tu é muito mentiroso mesmo, nossa senhora, cara.

— 'Tá delirando, eu não disse nada 'pra você.

Namjoon ficou vermelho de raiva e soltou o ar como um chiado pelo nariz, apertando os punhos nas laterais do corpo.

— Disse sim! Fomos comer hambúrguer na quinta com o Yoongi e você disse exatamente isso!

— Não 'tô lembrado, não.

— Cara!

Taehyung deu de ombros e virou para Storm, esperando pelas ordens dela. Queria cumprimentar Jeongguk, mas eles praticamente não socializavam mais, com exceção de quando estavam cantando juntos, familiaridade e saudade abraçando ambos.

— Storm, você vai nos fotografar um por um e depois todos juntos, não é?

Jeongguk, que usava uma sombra linda azul de glitter, disse e esfregou os lábios cheios de gloss transparente com brilhinhos, olhando para Taehyung em seguida, que se sentiu intimidado pela firmeza na voz dele, voz que ele sentia saudades de ouvir gargalhando, chamando seu nome ou suspirando afetado.

— Vou. — Ela franziu as sobrancelhas, ajeitando as traças em coque acima da cabeça. — Qual a sua ideia?

— Eu faço a maquiagem do Taehyung e arrumo o cabelo dele. Onde estão as roupas que você separou?

Taehyung entortou os lábios, incomodado. Não queria ficar muito próximo dele, não queria sentir o cheiro do perfume dele ou o cheiro da pele, porque sentiria vontade de beijá-la e tocá-la, sentiria vontade de repetir tudo o que fez no camarim, depois do primeiro grande show.

Mas, novamente, se repreendeu. Era tudo pela banda, precisava priorizá-la e não sabia fazer maquiagem. Se Jeongguk fizesse, Storm aceleraria o processo e depois eles conseguiriam ensaiar para a noite, diminuindo as chances de errar.

— Ah, certo, pode ser. Usa a vermelha nele, 'tá? Vai ficar bonito. As roupas estão na caixa no sofá, só tem as dele ali. Valeu, Gukkie.

Jeongguk sorriu e Storm ajustou a câmera no pescoço antes de ir até Namjoon, Hoseok e Jimin, que ainda discutiam sobre mentiras e compromissos, coisas que não interessavam a Taehyung, que estava prestes a trocar algumas palavras com Jeongguk depois de um bom tempo preservando silêncio.

Jeongguk caminhou até o sofá e tirou de lá uma jaqueta preta de veludo com detalhes em lantejoulas, uma camisa branca de botões e gola social, uma calça jeans clara com rasgos nos joelhos e tênis brancos de cano alto, com duas faixas pretas nas laterais.

Jeongguk estendeu as roupas para Taehyung sem olhar para ele, ainda fuçando na caixa em busca de uma outra coisa e, quando levantou com um brinco de pressão que era só um argola com um fiozinho prata pendurado, sorriu largo, do tipo que Taehuyng mais gostava.

— Vai se trocar que eu preparo a maquiagem.

Ele disse e voltou a olhar na caixa em busca dos produtos de beleza, então Taehyung entrou em casa para se vestir, girando no espelho como um bobão por estar se achando muito bonito, o brinco em uma orelha só sendo o toque final.

Quando voltou, abriu a boca para fazer uma piada com Jeongguk, que parecia um garoto da escola usando uma jaqueta colegial azul e laranja, florzinhas bordadas enfeitando a parte do peito, o cabelo penteado no meio.

Ele estava lindo, tão lindo que Taehyung precisou se segurar para não dizer nada, mas acabou não aguentando, se arrependendo em seguida quando Jeongguk o olhou de forma indecifrável, sem sorrisos envergonhados ou corpo molinho.

— O que disse? — Franziu as sobrancelhas, confuso. — Não prestei atenção direito, estava escolhendo uma cor. Gosta desse vermelho ou desse?

Jeongguk apontou para um puxado para o laranja e depois para um vermelho metálico.

— Eu não disse nada — soprou uma resposta, sorrindo sem humor. — Vermelho metálico.

— Ótimo. Senta aqui.

Taehyung obedeceu, se jogando no sofá e deixando as pernas aberta para que Jeongguk pudesse ficar no meio delas, os dedos delicados puxando seu queixo para cima e ele só desejou ganhar um beijo ali, um selinho, qualquer coisa que trouxesse de volta o costume que tinham adquirido antes das coisas pegarem fogo no camarim.

Fechou os olhos, sentindo o indicador dele pressionar de leve a pele, realmente como se o beijasse a distância, como Taehyung tinha feito depois de ler These And Those Stigmas.

Não durou muito, porque Jeongguk apartou o contato do local e começou a esfregar a maquiagem em suas pálpebras, meio brusco como fazia em si mesmo, contornando só até o côncavo e descendo, o simples toque fazendo Taehyung suspirar.

Estava necessitado e com saudades, não dava negar. Pelo menos não por muito mais tempo.

Jeongguk terminou de passar a sombra e pediu para Taehyung abrir os olhos, o sorriso pequeno inocente sendo a primeira coisa que viu, o coração tropeçando nas batidas e as bochechas fazendo um esforço sobrenatural para não retribuir.

— Seu cabelo está uma bagunça. — Jeongguk riu e ajeitou os fios prateados, alisando-os até estarem contornando o rosto, a franja dividida ultrapassando as sobrancelhas e cobrindo um pouco os olhos. — Bonitão, hein?

Taehyung sufocou uma gargalhada, mas deixou que ela morresse, focando em não ceder com facilidade. Precisava esperar todos os sentimentos confusos e indecentes passarem para que sobrasse apenas amizade genuína e zero vontade de beijar, então poderia voltar a conversar normalmente com Jeongguk.

Jeongguk enfiou o dedo em um tubinho de gloss vermelho bem discreto e espalhou pelos lábios de Taehyung, sendo um pouco mais delicado dessa vez, apenas deslizando de um lado para o outro até preencher tudo, olhos nos olhos dele, tão profissional que já não precisava mais olhar para o que estava fazendo.

Vergonhosamente, Taehyung deixou um ofego escapar e Jeongguk riu baixinho, guardando as coisas da maquiagem antes de apontar com o queixo para Storm e ir até ela, parando com as mãos na cintura ao observá-la tirando um monte de fotos de Jimin, que parecia animado e feliz fazendo um monte de poses, a maquiagem rosa já nem incomodando mais.

Em pouco menos de três semanas, eles estavam estampando o jornal da faculdade de Storm que, secretamente, era uma das mais ricas e requintadas do Brooklyn.

Glitter: Um fenômeno que mistura AC/DC e Janis Joplin sem perder a essência de nenhum dos dois, criando uma nova fórmula para o rock que vai explodir cabeças. 


Não esqueçam da tag lá no twitter, #glitterazulTK


NOTAS (abram os comentários)

E o ensaio editado pela Storm ficou assim:


Little Wing, Stevie Ray Vaughan

Close To You, Stevie Ray Vaughan


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