Golden Sapphire [jikook]

By icebluegguk

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{ × NÃO ACEITO ADAPTAÇÕES DESTA OBRA × } ❝Park Jimin é um ômega. Vivendo numa sociedade que aceita apenas hum... More

⸙ Sobre a obra + personagens;
Capítulo 1 ⸙ Agastache Dourada
Capítulo 2 ⸙ Baptisia Dourada
Capítulo 3 ⸙ Erinus Dourada
Capítulo 4 ⸙ Iris Isotoma Dourada
Capítulo 5 ⸙ Lathyrus Dourada
Capítulo 6 ⸙ Omphalodes Dourada
Capítulo 7 ⸙ Polemonium Dourada
Capítulo 8 ⸙ Sesleria Dourada
Capítulo 9 ⸙ Ajuga Dourada
Capítulo 10 ⸙ Delphinium Dourada
Capítulo 12 ⸙ Nepeta Dourada
Capítulo 13 ⸙ Sisyrinchium Dourada
Capítulo 14 ⸙ Thymus Dourada
Capítulo 15 ⸙ Veronica Dourada
Capítulo 16 ⸙ Brunnera Dourada
Capítulo 17 ⸙ Eryngium Dourada
Capítulo 18 ⸙ Globularia Dourada
Capítulo 19 ⸙ Lavanda Dourada
Capítulo 20 ⸙ Myosotidium Dourada
Capítulo 21 ⸙ Primula Dourada
Capítulo 22 ⸙ Convolvulus Dourada

Capítulo 11 ⸙ Glechoma Dourada

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By icebluegguk

#GoldenAtt 🍂


Jeon Jungkook parecia um fantasma.

Eram as únicas palavras que Park Jimin conseguia pensar para definir o estado absorto em que o alfa lúpus se encontrava, enquanto caminhavam de volta para a tenda do mesmo. Jungkook não havia dito uma só palavra desde a execução dos tios; ele aguardou até que ambos parassem de se debater e respirar, até que assentiu para um dos guardas retirarem os corpos e enterrá-los, para depois apenas se virar e começar a andar em Jimin ao seu lado.

O Park começou a ficar realmente preocupado quando entraram na tenda e Jungkook se jogou em sua cama, encolhendo-se e deitado lateralmente, em silêncio. Jimin observou-o por um tempo, sentado na poltrona ao lado da cama e preocupado com a maneira silenciosa com que Jeon estava se expressando, enquanto o dia escurecia cada vez mais.

Quando notou que o alfa dormia, Park se levantou e decidiu tomar uma banho quente para que se sentisse melhor e mais relaxado. Pegou a bacia que se encontrava ao lado da tina, foi sozinho até o riacho para buscar água para ferver, o acampamento estava silencioso e movimentado apenas pelo guardas sentinelas, não havia rostos familiares para qualquer lado que Jimin olhasse.

O ômega tomou seu banho quente observando o alfa em sua cama, mesmo em sono profundo, o semblante perturbado não deixava as expressões de sua face e aquilo era preocupante para Jimin. Assim que estava estava seco e vestido, descartou a água suja perto das árvores da floresta e voltou ao abrigo da tenda, Park soprou as velas acesas e sentiu frio, o clima invernal já tomava conta dos dias do acampamento, então andou rapidamente até a cama, deitando-se ao lado de Jeon, com o rosto rente às suas costas.

O alfa emanava tensão, então Jimin perguntou-se se havia a menor das possibilidades de seu cheiro ter o mesmo efeito em Jungkook, do que o alfa tinha para ele.

Não custava tentar.

O ômega respirou fundo, fechou os olhos e se concentrou em espalhar seu cheiro por toda a tenda, enquanto seu braço esquerdo abraçou o corpo do alfa pela cintura, encontrando sua mão esquerda encolhida no peito e segurando-a na sua. Sentir-se calma na presença de Jeon era um fato que o Park não mais podia negar ou controlar, era como se sentia naquele instante, assim que tocou-o na mão; estava tão tranquilo que mal percebeu o sono tomá-lo aos poucos, a cada segundo pesando-lhe mais os olhos, até que estivesse inconsciente.

Ele não conseguiu ficar acordado o suficiente para conseguir perceber, mas depois de alguns minutos naquela posição e sentindo aquele aroma, os músculos do corpo de Jungkook relaxaram, seu semblante suavizou-se e seu sono tornou-se mais tranquilo.

Dormiram de mãos dadas durante todo o tempo que permaneceram adormecidos, até Jungkook acordar no meio da madrugada completamente confuso; ele apertou a mão que segurava a sua e franziu as sobrancelhas, até que reconheceu o cheiro que tomava sua cama.

O cheiro de Park Jimin.

Com muito cuidado, o alfa virou-se até estar de frente com o rosto do ômega, sentindo aquele perfume com ainda mais intensidade e reparando nos detalhes que a pouca claridade lhe permitia enxergar. Tentou focar na maneira em que seus olhos se fechavam e formavam uma linha graciosamente delineada, ou em como seu peito se mexia com a respiração compassada, mas não conseguia parar de pensar e recriar em sua mente a imagem dos corpos dos tios se debatendo, pendurados nas cordas.

Por isso, soltou a mão do ômega e colocou-a junto ao peito do mesmo com muito cuidado, levantando-se logo em seguida até a mesa alta de madeira que fica no espaço onde a tina também se encontrava, ali havia uma jarra com água e uma bacia média de alumínio. O alfa despejou um pouco da água para dentro do objeto, juntando as mãos em concha para pegar um pouco do líquido e jogar contro o rosto, esfregando seus olhos para que despertasse ou clareasse a mente.

Não conseguia parar de pensar no que havia acontecido mais cedo, não conseguia parar de imaginar como seu primo deveria estar se sentindo; conseguia entender um pouco, porque também tivera os pais assassinados, mas aquilo era diferente. Ele havia executado os próprios tios, que haviam cometido um crime, mas ainda pertenciam à família. Jungkook não sabia como se sentir ou como agir.

Precisava de uma distração, por isso, vestiu-se adequadamente, apenas com uma camisa mais grossa e um colete de couro por cima, usava as calças de pano e a bota de couro escuro como sempre; mesmo que já fosse inverno, alfas não sentiam tanto frio ― ainda mais quando era um alfa lúpus.

E, de qualquer modo, a atividade que praticaria o aqueceria.

Seguiu até a tenda de armas e pegou o arco e bolsa de flechas, colocando a alça da última atravessada em seu tronco e seguindo para fora, acelerando os passos até a floresta, para que não fosse incomodado por nenhum guarda que o visse por ali. O sol estava quase nascendo e o céu estava acinzentado, então Jungkook sabia que conseguiria enxergar bem.

Na verdade, a caça para o inverno já havia, de fato, acontecido, mas Jeon precisava se distrair de algum modo, mesmo que também soubesse que seria muito difícil encontrar uma presa em pleno inverno, já que os animais deveriam estar hibernando. Ainda assim, tinha esperanças de que conseguiria encontrar um lobo das montanhas, ou um urso, queria confiar na própria sorte, pelo menos uma única vez.

O sol estava consideravelmente alto quando o alfa ouviu o som pesado das patas, não muito longe de onde estava, suspirou em entusiasmo e agachou-se, enquanto pisava com cuidado pelo chão, desviando de galhos seco que poderiam fazer muito barulho e atento à movimentação atrás de algumas árvores. Era um urso, um dos grandes, e ele tinha pelagem escura, aparentemente bem grossa.

Era perfeito para o que Jungkook estava pretendendo.

Então, ele se aproximou mais um pouco e traçou uma estratégia.


Quando Jimin acordou, seu primeiro reflexo foi estender sua mão para alcançar Jungkook, mas percebeu que o mesmo não estava ali, quando abriu os olhos se deparou com o espaço vazio ao seu lado na cama. Suspirou em frustração, enquanto esfregava os olhos para espantar o sono, a manhã já havia chegado e precisava se ocupar com alguma atividade, ou enlouqueceria.

Lavou o rosto, fez um bochecho com a mistura de água com hortelã pulverizado e escovou seu cabelo, suspirando em meio a preocupação do que o Jeon deveria estar fazendo naquele momento; esperava que ele estivesse um pouco melhor do que no dia anterior. É claro que sabia que o alfa já deveria estar acostumado com coisas como a morte, já havia passado por muita coisa ― como o próprio Jimin ―, mas ele ainda era uma pessoa e ainda tinha sentimentos; superação não era algo tão simples e o ômega sabia muito bem disso.

Arrumou sua camisa branca por dentro da calça que vestia e respirou fundo, tomando coragem para enfrentar os rostos das pessoas que o julgavam com o olhar dias atrás. Depois da execução dos Kim, Jimin tinha de admitir que esperava um tratamento um pouco diferente, afinal, Edmond também estava morto. Era o que todos queriam, não era?

O ômega se sentiu pior de repente, lembrando-se de como o garoto parecia assustado quando Jimin tirou-lhe a venda e desatou o nó da corda de seus pulsos. Lembrou-se da dor que dilacerou seu peito no momento em que viu o corpo ensanguentado de Apolline nos braços de Jungkook.

Balançou a cabeça para clarear a mente.

― Esqueça as coisas ruins, Jimin ― sussurrou para si mesmo, de olhos fechados ― Esqueça o ontem, viva o hoje.

Quando Jimin deixou a tenda do comandante, a claridade incomodou seus olhos, mesmo que a luz do sol não fosse tão forte no inverno. As pessoas notaram sua presença repentina, mas não deram importância desnecessária a ela, cada um se preocupando com suas próprias tarefas, o que foi um alívio muito bem vindo ao Park; finalmente um pouquinho de paz ali.

― Com licença ― Jimin chamou o guarda que passava por perto; era um beta, Jimin conseguia notar pelo cheiro fraco e não muito específico do jovem, mas sorriu por ter sido notado ― Saberia me dizer onde posso encontrar o Comandante Jeon?

― Alguns homens viram-no indo em direção à floresta com algumas armas ― o beta respondeu, apontando em direção às árvores atrás de Jimin ― Acreditamos que ele tenha ido caçar.

Caçar?

Mas já é inverno...

― Não se preocupe, é um costume dele ― disse o garoto ao notar o semblante preocupado de Park, ele sorriu simpaticamente ― Sempre que algo ruim acontece e o senhor Jeon sente a necessidade de espairecer, ele sai para caçar ou praticar qualquer atividade que faça-o sentir um pouco de adrenalina.

― Adrenalina?

O beta deu de ombros.

― Entendo... ― murmurou Jimin, suspirando logo em seguida ― Bem, qual é seu nome?

― Miguel Sanz Blanco, senhor ― ele fez uma reverência ― Às suas ordens.

― Não é francês, é? ― perguntou Park, franzindo as sobrancelhas e balançando as mãos de forma desajeitada e tímida ao ver o homem se reverenciando para si ― Não precisa me tratar como alguém da realeza, não sou ninguém importante.

― Vim da Espanha, senhor ― respondeu Miguel, logo endireitando sua postura para explicar: ― O Senhor Comandante anunciou que o senhor é seu Dileto na noite em que resgataram-no, senhor. Portanto, deve ser tratado com tanto respeito quanto ele.

Oh, então é por isso que todos não estavam me encarando hoje.

― Entendo ― repetiu o ômega, assentindo, mesmo que não estivesse mesmo entendendo ― De qualquer modo, obrigado, Miguel. Pode continuar seu caminho para... onde quer que esteja indo. Obrigado.

Agora Jimin não sabia como agir com aquela nova informação e, além disso, a única pista que tinha sobre o paradeiro de Jungkook era toda uma floresta enorme, onde poderia facilmente se perder ou encontrar algum humano, mesmo que confiasse em seus instintos, não tinha cabeça para se concentrar em estratégia, faro, audição e coisas do tipo.

O Jeon havia feito um anúncio para avisar a todos que Park era seu Dileto, o que aquilo poderia significar? Era apenas um título aleatório para que não o provocassem ou desprezassem sua presença? Ou tinha, de fato, um valor simbólico para outra coisa?

Jimin estava curioso, queria sanar sua dúvidas, mas estava com vergonha demais de simplesmente perguntar ao primeiro rosto conhecido que visse. E tinha plena certeza de que Kim Taehyung não gostaria de vê-lo tão cedo, depois do que aconteceu. Mais um suspiro frustrado deixou-o com aquele pensamento; ele gostava muito de Kim Taehyung, era um ômega gentil a seu próprio modo, um pouco enérgico demais para o ritmo de Jimin, mas uma boa pessoa e alguém que gostaria muito de manter uma amizade em potencial.

Era muita coisa para pensar, realmente.

Andou por todo o acampamento, observando as diferentes atividades que os lupinos ficavam encarregados de fazer, sorriu ao ver uma alfa no meio de dois ômegas na tenda dos alimentos, cozinhando e conversando alegremente. Jimin não era muito bom na cozinha, suas tentativas falharam em todas as vezes, então descartou a ideia de se oferecer para ajudá-los no mesmo instante.

Viu o que parecia ser o grupo de agricultores da Resistência, se preparando para a viagem até a região mais apropriada para plantação, notou outro grupo caminhando ao lado, carregando bacias de madeira cheias de roupas ― Jimin deduziu serem os lupinos encarregados de lavar as roupas do acampamento.

― Aproveitando o passeio?

O ômega quase saltou de susto com a presença repentina do homem ao seu lado, virando-se em sua direção e identificando o senhor que sorria amigavelmente para si. Não havia sentido sua aproximação por ser o Curandeiro, Valentin, ele era humano, não possuía nenhum cheiro específico.

― Me perdoe por assustá-lo, senhor ― ele pediu, mas sem desfazer o sorriso.

― Não foi nada ― respondeu Jimin, mesmo que sua mão direita estivesse sobre o peito, a fim de aquilo fizesse seu coração acalmar-se ― Estou a procura de alguma atividade, para ser mais exato.

― E encontrou uma? ― perguntou Valentin, observando a movimentação do acampamento junto ao ômega.

― Na verdade, não ― Park soltou um suspiro pesado ― Nunca fui muito habilidoso nas atividades domésticas, mesmo que isso seja o inverso do que se espera de um ômega. Sempre me saí bem quando Antoinette me pedia para ler para ela, ou nos treinamentos dos guardas.

― De fato, são habilidades inesperadas para um ômega, mas posso assegurar que a matilha dos Jeon é bastante diferente também, como o senhor. É claro que existem os que gostam de manter a tradição, como os senhores Kim pensavam...

Os Kim...

― O senhor tem visto Kim Taehyung em algum lugar? ― Jimin perguntou, procurando por entre as pessoas no acampamento ― Imagino que ele não esteja disposto para atividades.

― Certamente, não o vi ― concordou Valentin ― Me preocupo com ele, seus pais não eram amorosos, mas Taehyung os amava muito. Estou preocupado com Jungkook também.

― Por quê?

― Bem... não é a primeira vez que ele sai para caçar por estar com coisas demais na cabeça ― aquela fala atraiu a atenção de Jimin, então seus olhos seguiram para o Curandeiro, que era pouco mais alto que ele ― O mesmo aconteceu quando os pais dele faleceram, porém, naquela época, ele tinha tinha Simon.

― Quem é Simon?

― Era o pai de Apolline ― a menção do nome da garota fez o peito de Jimin arder ― Ele morreu envenenado, quando Jungkook partiu com um grupo para resgatá-lo.

― Aparentemente, tenho parcela de culpa em mais mortes do que pensei.

― Absolutamente, meu jovem ― Valentin parou de andar, encarando Jimin com seriedade e esperando que o ômega lhe encarasse de volta ― Você não estava empunhando a espada envenenada que cortou a perna de Simon e tenho certeza de que não usou uma corda para asfixiar Apolline, nem quis que nada disso tivesse acontecido.

O ômega permaneceu em silêncio, assim que voltaram a caminhar lado a lado, com as palavras daquele homem em mente, repetindo-as em sua cabeça, até que se deparou com a veracidade delas; ele realmente não pretendia que nada daquilo tivesse acontecido, então, não deveria se sentir tão culpado pela morte de seus entes queridos, das pessoas que havia acabado de conhecer, das que não conhecia e das que não apreciavam sua existência.

Contudo, ainda que soubesse disso, por que isso não mudava nada?

Por que continuava se sentindo culpado mesmo assim?

― Já que não encontrou nada de interessante para fazer ― Valentin continuou, tomando a atenção de Jimin mais uma vez ― O que acha de fazer companhia a este homem de idade? Posso lhe ensinar uma coisa ou outra sobre ervas e como usá-las para fins medicinais.

O Park pensou bem naquela oferta, era fato de que já não confiava tanto assim em humanos, mas lembrou-se de que Jungkook confiava naquele homem de forma especial, então confirmou com a cabeça, sorrindo pequeno.

― Vamos até minha tenda ― Valentin disse, acenando com a cabeça para uma direção.

O ômega seguiu o Curandeiro, ainda observando tudo à sua volta e se assustando com as pessoas que paravam para cumprimentá-los, já fazia algum tempo que não era bem tratado naquele lugar. Recordou-se, então, das palavras de Miguel e decidiu que perguntaria a Valentin o que significava ser o Dileto de alguém.

― Você ficou aqui por alguns minutos quando teve o choque de temperatura ― o Curandeiro disse, ao que entraram na tenda ― Provavelmente não se lembra, já que estava entre a consciência e a inconsciência naquela noite. Bom... mais inconsciente do que consciente.

Jimin olhou em volta, havia uma maca improvisada, armário e baús, vidros com ervas e materiais que o ômega não conseguia identificar. Era um pouco bagunçado, mas ― pelo menos para Park ― muito interessante. Ele encarava de perto o espaço onde várias plantas, arrancadas pelas raízes, estavam.

― Eu ainda não preparei esses ― o mais velho disse.

― O que faz com essas plantas? ― Jimin perguntou, segurando algumas para cheirá-las.

— Elas têm propriedades medicinais, quando usadas corretamente ― explicou ― Caso usadas de forma inadequada, algumas não têm efeito algum. Porém, no caso das symbelmynes, se usadas de forma inadequada, podem matar.

— Eu pensei que a única utilidade delas era para o chá supressor.

— Esse é o principal motivo dos lupinos a usarem, sim — assentiu Valentin — Se você ferver as pétalas, terá o chá supressor. Se macerar as pétalas, terá um veneno fatal contra lupinos.

Jimin estava, de fato, muito impressionado.

— Os humanos já sabem disso — Valentin continuou — Foi isso que matou Simon e invalidou o olho esquerdo do Senhor Jeon, o único antídoto são as niphredils, uma flor muito difícil de encontrar, já que elas florescem em galhos de árvore.

Aquilo teve o poder de assustar Park Jimin.

— Não se preocupe, senhor — o Curandeiro tocou o ombro de Jimin — Temos um estoque satisfatório das duas flores.

Aquilo despertou interesse em Jimin, ele estava curioso sobre o uso das plantas e os diferentes cuidados que poderia exercer em pessoas feridas ou doentes, era uma boa atividade para começar. Enquanto Valentin explicava os principais efeitos da erva dentro de cada recipiente que segurava para exibir ao ômega, explicava como prepará-la e como aplicá-la sobre os ferimentos, ou como administrá-la.

Era uma verdadeira aula e o ômega parecia uma criança curioso, com os olhos brilhantes, lacrimejando de felicidade por estar obtendo conhecimentos tão ricos e tão úteis.

Ficaram tanto tempo conversando sobre aquilo que, quando Jimin percebeu, o dia já estava acabando. Jimin pediu para que o Curandeiro acompanhasse-o até a tenda de Jungkook, já que queria continuar conversando com o senhor, havia apreciado a companhia do mais velho. Enquanto caminhavam, com o acampamento começando a ser iluminado pela fogueira principal e as tochas que os guardas carregavam, Park lembrou-se de uma dúvida que o acometeu mais cedo naquele dia.

— Senhor — chamou — Está aqui há mais tempo do que eu e já deve conhecer todos os costumes. O que significa ser o Dileto de um alfa?

Olhando para o homem, Jimin notou o sorriso divertido dele.

— Já lhe contaram, então — ele disse, antes de responder: — Isso não funciona apenas para alfas, mas para ômegas e betas também, é uma questão de respeito mútuo. Quando um lupino é declarado ser o Dileto de alguém, é quase como um aviso de que essa pessoa está tentando cortejá-lo, ninguém pode demonstrar interesse por ele até ele dar sua resposta, positiva ou negativa, para o lupino que declarou-o seu Dileto. No caso de Jungkook, como ele é o líder da matilha, as pessoas vão se dirigir a você com mais respeito. Se você aceitá-lo, será como se firmassem um compromisso, caso não aceite, ainda terá o respeito, mas outras pessoas poderão tentar se aproximar e você poderá se envolver com outros lupinos normalmente.

Jimin se perguntava se havia entendido corretamente.

Jeon Jungkook declarou estar interessado romanticamente por mim para toda a matilha?

— Não fique tão assustado — Valentin disse, rindo da reação impressionada de Jimin — Ele é um bom rapaz, Jimin. Comete erros de vez em quando, mas todos nós cometemos.

Jimin assentiu.

— Eu gosto dele — admitiu o ômega — Eu... Eu não tenho dúvidas quando se trata dele.

— Isso é bom, mas sugiro que conversem mais sobre o assunto. Ele é o líder, as coisas se tornam um pouco mais complicadas quando se tem tanta responsabilidade.

— Sim — Jimin concordou — Precisaremos conversar.

Quando Park estava de volta à tenda, não sentiu o cheiro de Jungkook, o que significava que o alfa não havia voltado, a preocupação voltou a tomar seu peito e o mal estar fez-se efeito em seu estômago. Estava com medo de algo ruim ter acontecido com Jeon na floresta e coisas ruins pareciam ser as mais comuns de acontecer, tanto naquele lugar quanto na vida do próprio Jimin.

Deitou-se na cama, de barriga para cima, e entrelaçou seus dedos, apoiando as palmas sobre o peito, tentando respirar fundo e manter em mente somente a ideia de que Jungkook voltaria cedo ou tarde, mesmo que estivesse muito difícil manter-se positivo. Decidiu tomar um banho quente para dispersar os pensamentos ruins e, quando estava vestido novamente, sentou-se na cama olhou para a fenda de entrada da tenda e esperou.

Esperou e esperou, até que pegou no sono.


Os passos pesados do alfa podiam ser ouvidos pelos guardas, Jeon Jungkook surgiu dentre as árvores com duas carcaças de animais sobre os ombros, os sentinelas fizeram uma reverência ao que Jeon caminhava por entre eles, Jungkook devolvia o cumprimento com um acenar de cabeça, já que suas mãos estavam muito ocupadas.

O alfa pediu para que dois guardas buscassem a pele de urso que estava sobre a árvore próxima ao riacho, enquanto deixava as carcaças na tenda responsável pelo preparo das carnes. Seguiu até sua tenda e adentrou-a silenciosamente, as velas estavam acesas e Jungkook logo suspirou quando identificou Jimin sobre sua cama, em um sono tranquilo.

Não queria chegar muito perto, porque sabia que seu cheiro não seria dos mais agradáveis naquele momento; estava suado, os fios do cabelo grudados na testa, a roupa — principalmente sua camisa — estava coberta de sangue de animal. Aproximando-se da tina de madeira, Jungkook sentiu o cheiro perfumado da água, então soube que fora a água usada para o banho do ômega.

Resolveu reaproveitar a água para seu próprio banho, então a ferveu e despejou-a de volta à tina, esperando que esfriasse um pouco para que pudesse entrar e lavar-se da forma apropriada. Após se secar e vestir a calça mais folgada que encontrou no velho baú de madeira, Jeon voltou à área onde sua cama ficava, encontrando o mesmo ômega que dormia lindamente em sua cama sentado, com os pés no chão, braços cruzados e um bico irritado nos lábios.

— B-Boa noite, Jimin — Jungkook cumprimentou, amaldiçoando-se por mostrar-se tão ansioso perto do outro.

— Onde estava? — foi a resposta de Park, franzindo suas sobrancelhas e levantando-se para aproximar-se do alfa, tentando ignorar o fato dele estar sem a camisa, mesmo que o clima estivesse congelante — Estávamos muito preocupados com você, sabia?

— Estavam? — Jeo não sabia como reagir àquilo — Todos sabem que saio para caçar quando estou nervo—

Eu não sabia! — Jimin depositou um tapa no ombro do alfa — Eu fiquei muito preocupado, Jungkook, poderia ter me avisado! Eu sequer conheço o costume de vocês! Poderia ter me dito que havia me declarado seu Dileto, teria aceitado no mesmo momento!

Espera... O que ele disse?, Jeon estava paralisado com a declaração de Jimin.

— Seu alfa teimoso — continuou o ômega, dando-lhe mais um tapa no outro ombro — Maluco, imprudente e—

Aquele foi o momento em que Jungkook segurou o rosto macio de Park e juntou seus lábios, calando-o com um beijo. Jimin nem pensou em lutar contra ele, seus olhos se fecharam e suas mãos seguraram os pulsos firmes de Jeon, acariciando-os com seus polegares e retribuindo-o. A pressão dos lábios finos de Jungkook fazia Jimin sentir-se tão bem, da mesma maneira que os lábios carnudos de Park acomodava os de Jeon de forma prazerosa.

Era a segunda vez que se beijavam, mas parecia ser a primeira, o choque que percorreu o corpo de ambos era o mesmo.

Não se aprofundaram no beijo, porque não era hora para aquilo, mas sabiam que teriam de conversar sobre o que acontecia entre os dois em algum momento. Quando se separaram, Jungkook juntou sua testa à de Jimin, respirando fundo, deixando o cheiro do ômega preenchê-lo e soltou o ar logo depois.

— Não faça mais isso, Jungkook — Jimin sussurrou, ainda de olhos fechados — Eu realmente fiquei preocupado.

Era uma sensação boa, Jungkook pensou, ter alguém se preocupando consigo. Havia alguém bem ali, de carne e osso, abraçando-o, tocando-o e lhe dizendo para nunca mais sair repentinamente, porque se preocupava. Era a melhor sensação do mundo.

— Não farei — Jungkook sussurrou de volta, sorrindo e abrindo os olhos, encontrando-se com os de Jimin — Eu prometo.

O ômega precisou juntar toda a coragem que tinha para tomar a iniciativa de selar os lábios do Jungkook novamente, logo se virando e ficando de costas para o alfa, seu rosto estava queimando e tinha certeza de que estava completamente vermelho. Jeon conseguia ver os pontos avermelhados das orelhas do ômega e não conseguia desfazer o sorriso.

— Ah, e sobre você ter me declarado seu Dileto — Jimin lembrou-se, se virando para Jungkook novamente, tentando não se importar com o fato de estar aparentando toda sua timidez — Não precisa esperar muito, eu aceito.

— Aceita...?

— Sim, eu... — Ai, meu Deus, o que estou fazendo? — Eu não sei como isso funciona — cobriu o rosto com ambas as mãos e sentou-se sobre a cama mais uma vez, completamente envergonhado com a risada de Jungkook de fundo — Maldição. Eu não deveria dizer que aceito, não é?

— Tinha, sim — respondeu Jeon, com a risada ainda mais aparente, Jimin notou que aquela era a primeira vez que presenciava o alfa rindo daquela maneira; afastou as mãos do rosto quando sentiu Jungkook segurando seus braços, deparando-se com a figura de Jeon ajoelhado à sua frente, com o rosto próximo ao dele — É que existem uma sequência de coisas que a pessoa que declara ter um Dileto precisa fazer por ela.

— Então... — o ômega mordeu o lábio inferior nervosamente — Eu acabei adiantando as coisas?

— Sim — Jungkook respondeu, com o sorriso nos lábios — Para ganhar sua atenção, além de cuidar de você, eu precisaria dar-lhe um presente feito com as minhas próprias mãos, para depois pedir a você que fosse meu parceiro.

— Ah, e você... hm... estava planejando fazer algo para mim?

— Comecei seu presente hoje, na verdade.

Meu coração bate tão rápido quando estou com ele, pensou Jimin.

— Vou ficar feliz em aceitá-lo, o que quer que seja — Park disse, conectando seus olhos aos de Jungkook mais uma vez — Contudo, já quero deixar claro que minha resposta é sim.

Era como se eles soubessem que não se cansariam daquele momento, olhavam para o outro como se quisessem estendê-lo um pouco mais, mas sabiam que precisavam voltar para a realidade, descansarem, o dia seguinte aguardava coisas novas que não poderiam ser descobertas sem disposição.

Como um acordo mútuo e silencioso, Jimin deitou-se na cama e Jungkook se levantou para apagar as velas, o escuro tomou conta da parte interna da tenda e o corpo do alfa tomou seu lugar na cama, ao lado do ômega. Estavam de frente para o outro e resolveram ficar de mãos dadas.

Então, eles souberam.

Estavam apaixonados.


×


Park Jimin sentia falta de Kim Taehyung.

Ele percebeu isso quando acordou na manhã seguinte a uma das melhores noites que havia passado naquele acampamento, com Jeon lhe dizendo que teria de passar o dia sozinho mais uma vez, já que tinha muitos detalhes para discutir com os conselheiros da matilha e deixou-o na cama para descansar por mais quanto tempo quisesse.

Jimin sentou-se sobre ela algumas horas depois, bufando em tédio por não ter a companhia do ômega mais velho e por não poder ficar ao lado dele em seu luto. Conseguia imaginar por quanta dor Taehyung deveria estar passando naqueles dias, mas sempre que Park tentava uma aproximação ao vê-lo andando — sempre acompanhado de Jung Hoseok — pelo acampamento, o loiro encarava-o com raiva e se afastava rapidamente.

É claro que o Kim também o culpava pela morte dos pais, afinal, Jeon não escondeu de ninguém o fato de eu ter delatado o que vi na noite em que Apolline e Edmond morreram. Taehyung sabia que eles não eram pessoas boas, mas eram seus pais e a dor ainda era muito recente.

Quando se vestiu naquela manhã, Jimin tinha em mente procurar o Curandeiro, já que sua companhia tagarela sobre plantas e propriedades medicinais era melhor do que ficar enfurnado dentro de uma tenda, assistindo o dia passar. Seu corpo se arrepiou inteiro uma vez que colocou os pés para fora da proteção da tenda ― não que fizesse tanta diferença ―; o dia estava mais agradável, mas ainda era muito frio.

Eram os mesmos rosto da manhã passada, nada diferente, as mesmas tarefas, nenhuma novidade desagradável, nenhum olhar indesejado, era uma rotina na qual poderia se apegar mais uma vez. Seu peito encheu-se de alívio e Jimin precisou deixar um pequeno sorriso surgir em seus lábios, como se fosse um sentimento que não coubesse apenas no interior de seu corpo, precisando externá-lo de alguma forma.

― Senhor Park!

Os passos do ômega pararam, ele se virou para trás, tentando identificar o som da voz que lhe parecia familiar, de certa forma, e viu um homem alto vindo em sua direção; cabelo castanho escuro e olhos cor de mel, pele bronzeada.

Era um alfa, mas seu cheiro ― ao contrário de sua voz ― não lhe era nada familiar.

― Pois não? ― respondeu Jimin, afastando alguns fios platinados dos olhos com o dedo indicador da mão esquerda.

O alfa parou poucos centímetros à sua frente, era bem mais alto que o Park. Ele respirou fundo e sorriu para a figura confusa de Jimin.

― Imaginei que não se lembraria de mim, senhor ― ele disse, fazendo uma reverência ― Meu nome é Frontin Davillier, sou um dos guardas do Comandante Jeon. Eu fui o primeiro a encontrá-lo na noite em que foi atacado, o levei aos cuidados de nosso Curandeiro.

Agora não era uma surpresa de que não houvesse se lembrado do jovem, Jimin não se lembrava de uma série de coisas que haviam acontecido naquela noite, inclusive do ataque que ― Jungkook lhe explicou depois ― ele dizia ter sido feito por um humano que apareceu misteriosamente na floresta, perto demais do acampamento.

― Oh, foi você? ― Jimin sorriu na direção do outro, estendendo-lhe sua mão ― Então devo agradecê-lo profundamente. Muito obrigado, senhor Dav―

― Não me chame de senhor! ― Frontin balançou as mãos, interrompendo-o, apavorado só com a ideia de Jimin tratá-lo com tanto respeito, mas logo se achou desrespeitoso por ter interrompido-o ― Perdoe-me. Não me chame de senhor, não há necessidade.

― Bem, então vou chamá-lo de Frontin ― o ômega continuou sorrindo, esticando um pouco mais sua mão, já que o alfa ainda não havia apertado-a.

Então, com as bochechas um pouco mais vermelhas que o normal ― que não passou despercebido pelo Park ―, Davillier aceitou o aperto de mão e também sorriu.

― Muito obrigado por me prestar socorro, Frontin ― continuou Jimin ― Ninguém o teria feito da forma que fez. Bem, pelo menos não naqueles dias.

― Não foi nada, senhor Park, de verdade ― o alfa respondeu, desfazendo o contato das mãos ― Fico feliz por ver que já está bem melhor.

Controle-se alfa! Ele é o Dileto de seu Comandante!, pensava ele.

― Estou bem melhor, de fato! ― contou alegremente o ômega ― Jungkook tem cuidado muito bem de mim.

― Imagino que sim, já que ele... o declarou seu Dileto naquela mesma noite.

― Ah, sim, sim ― confirmou Jimin, assentindo, virando-se lentamente, como um convite para que Frontin caminhasse consigo ― Esse parece ser um assunto que foi muito falado entre vocês.

― Certamente ― assentiu Frontin ― Foi uma surpresa, já que o Comandante Jeon nunca se interessou por ninguém durante os anos em que esteve no comando. Até o senhor chegar.

― Nunca, hm? ― Park repetiu a informação, como se quisesse perpetuá-la em suas lembranças; ele sorria enquanto olhava para os próprios pés, dando um passo de cada vez, e suas bochechas estavam rosadas ― Isso é muito tempo.

― Imagino que esteja feliz por isso.

― Eu sou tão transparente assim?

Ambos começaram a rir de forma suave.

― Como todo respeito, meu senhor, mas muitos ômegas foram insistentes em uma tentativa de encantar o senhor Jeon em seus próprios charmes ― informou Davillier ― Ele sempre foi muito rígido em questões de responsabilidade, não tinha tempo para nada, se não tivesse uma ligação direta com sua tarefa principal. Liderar.

Jimin assentiu, compreendendo as palavras de seu mais novo amigo.

― Foi uma surpresa, sim, mas uma boa surpresa ― continuou, atraindo a atenção de Park ― Todos nos importamos com o outro aqui, principalmente com nosso líder. Sua solidão sempre foi um assunto delicado, mas muito discutido por nós. Então, é bom saber que ele não está mais sozinho.

Um calor bom aquecia o peito de Park, ele estava feliz por saber que estava fazendo bem a Jungkook, mesmo depois de toda a dor que ambos sofreram.

― Ainda me sinto culpado ― admitiu.

― Todos nós cometemos erros, senhor Park ― Frontin disse, em um tom mais ameno e simpático dessa vez ― Nem sempre temos decisões muito sábias e, querendo ou não, somos dominados por nossas emoções. Não esqueceremos o que aconteceu, mas não vamos condená-lo por isso, medidas poderiam ter sido tomadas na época, mas ninguém o fez ― ele suspirou ― A culpa não foi apenas do senhor.

Enquanto Jimin se perguntava o provável motivo de todos parecerem ter algo sábio a dizer a ele naquele acampamento, o perfume característico que estava começando a se apegar se fez mais presente, então, o ômega olhou em volta, procurando pela figura de seu alfa parceiro. Ele estava vestindo roupas escuras naquela manhã, Park notou que seu cabelo estava bem maior do que quando o conheceu e ele caminhava em sua direção naquele momento.

Será que meu coração sempre baterá rápido assim quando eu o vir?, era o que se perguntava.

― Bom dia ― Jungkook cumprimentou-o, com o sorriso que fazia as pernas do ômega bambearem; contudo, o alfa logo o desfez assim que encarou o outro alfa que lhe acompanhava ― Bom dia, Davillier.

― Bom dia, Senhor Comandante ― Frontin fez uma reverência aos dois ― Vou voltar às minhas tarefas.

Não passou despercebido pelo ômega a elegante troca de olhares rígidos entre os dois, enquanto Frontin se afastava aos poucos, Jungkook não tirou os olhos dele até que já estivesse há uma distância considerável. Logo depois, retornou seus olhos a Jimin e eles voltaram a brilhar carinhosamente, os cantos de seus lábios estavam mais erguidos, mostrando todo seu conforto ao ter sua companhia.

― O que foi isso? ― Jimin perguntou, rindo um pouco ao final da frase.

― Esse alfa está interessado em você ― Jungkook respondeu.

Ele foi tão direto que Park precisou de um tempo para processar sua resposta e rir novamente quando entendeu, com todas as letras, o absurdo que Jungkook havia acabado de lhe falar.

― Você está começando a ver coisas, Jeon ― Jimin provocou, empurrando sem força o ombro do mais alto ― Ele veio perguntar se eu estava bem, já que foi a primeira pessoa com quem falei quando fui atacado. Acho que está começando a levar o assunto sobre sermos parceiros muito a sério, alfa.

― Todos nós levamos muito a sério, porque é importante ― ele cruzou os braços ao dizer, erguendo uma das sobrancelhas em tom de provocação ― Se acha que estou vendo coisas, deveria ter visto como ele reagiu no dia em que você foi atacado, quando pedi para ele se retirar da tenda de Valentin.

― Eu não me lembro de nada daquela noite. E por que ele tinha que se retirar, de qualquer maneira?

O alfa arregalou os olhos e os desviou do olhar incisivo de Jimin, o ômega notou que o mais alto havia ficado envergonhado, mas isso só aumentou sua curiosidade.

― Jeon?

― Você estava tendo uma hipotermia e... ― Jungkook pigarreou, antes de continuar: ― Precisávamos te livrar de qualquer peça de roupa que contribuísse para você sentir mais frio e... bem, sua roupa toda estava molhada, então...

Jimin entendeu rapidamente até onde aquela informação chegaria, mas não queria ter entendido tão rápido, porque a vergonha lhe atingiu com a mesma velocidade. Ele cobriu a boca com ambas as mãos, enquanto seus olhos saltavam e sua mente estava em um branco completo, não sabia o que dizer.

― Vo-Você... me vi-viu...? ― foi o que saiu da boca do ômega.

― Eu não vi nada ― tentou assegurar Jungkook, mas Jimin franziu o cenho, duvidando muito de suas palavras, porque era uma coisa bem improvável de ser verdadeira; como um alfa não olharia para o corpo de um ômega nu bem na sua frente? ― De verdade, eu não reparei em seu corpo, Jimin, eu prometo!

O Park nunca havia tido nenhum contato íntimo com ninguém, em toda sua vida, sempre pensou que morreria como um solteirão, já que não tinha tempo para se dedicar à sua vida particular, estava sempre muito focado em seu trabalho. As únicas pessoas que o viram nu foram seus pais, mas apenas até seus treze anos, depois disso, mais ninguém. Pelo menos, não com seu consentimento.

Não via nada de mais em Valentin tê-lo despido, o mais velho era o mais próximo que tinham de uma ajuda médica mais especializada, mas ter o alfa que cortejava-o olhando seu corpo desnudo, ainda mais quando não estavam sequer conversando com o outro na época... lhe deixava envergonhado e fazia-o sentir-se um pouco indecente.

― Precisamos conversar ― Jungkook murmurou, suspirando pesadamente ― Podemos terminar esse assunto em minha tenda e... Existem outros assuntos importantes também.

Jimin não disse nada, apenas assentiu e seguiu o alfa de volta à tenda.

Dentro dos aposentos, os dois sentaram sobre a cama, de frente para o outro. O Park ainda não sabia o que dizer com a informação que havia obtido poucos minutos atrás.

― Jimin ― Jungkook o chamou, o ômega ergueu o olhar para ele ― Eu não vi nada, não me permitiria fazer algo assim. Estou sendo sincero. Eu o respeito verdadeiramente.

Ele não está mentindo, pensou o mais velho.

― Eu acredito em você ― Jimin sussurrou.

Só era um pensamento perturbados, ele não conseguia se imaginar nu sob o toque de ninguém no momento, não sabe se reagiria da forma certa. E o que Jimin mais queria, era ser certo para alguém. Como aceitou Jeon Jungkook como seu parceiro alfa em potencial, queria ser certo para ele.

― Você disse que temos assuntos importantes a tratar ― disse Jimin, endireitando sua postura e respirando fundo, preparando-se para o que estava por vir ― Do que se tratam?

― Principalmente sobre... Victorine Boyer ― Jungkook respondeu com pesar.

O alfa já havia percebido as reações de Jimin quando aquele nome era mencionado, além do incômodo, parecia haver medo também. Jungkook entendia, também sentia, mas sabia disfarçar melhor.

― Aparentemente, a aliança de meus tios e Boyer é recente, começou pouco antes de resgatarmos você ― começou a contar, prestando atenção na maneira em que o olhar de Park se perdia, mesmo que demonstrasse estar prestando atenção ― Meu tio era seu espião, Boyer lhe prometeu proteção e regalias, assim que tivesse acabado conosco.

O ômega não lhe respondeu, porque sabia que Jungkook estava fazendo uma pausa antes de continuar a falar. Mas estava demorando demais a vir, então seus olhos foram conectados aos de Jeon, como se insistisse para que ele continuasse.

― Em uma das cartas, ele falou sobre a chegada de Edmond ― sua voz tremia quando falou, notando o olhar de Park tornar-se mais frio ― Na carta mais recente, ele comentou sobre o êxito na missão do garoto em assassinar um dos nossos.

Aquilo não era uma surpresa; saber que Edmond Dantes havia realmente assassinado Apolline não era uma novidade, Jimin havia aprendido a enxergar os sentimentos das pessoas através de seus olhos, viu o quanto o garoto se sentia culpado no dia de sua execução, o sangue da garota ainda estava seco em suas mãos e roupas, não era possível que não fosse culpado. Mas saber que havia, de fato, uma confirmação sobre o que ele havia feito, uma confirmação justamente daquele homem, despertava ira em Park.

Ele cerrou os olhos com força, assim como os punhos, sentia raiva.

― Ei ― Jungkook o chamou, enquanto se sentava ao seu lado, dessa vez mais perto, aconchegando-o ao seu corpo de forma que o ômega se sentisse tranquilizado ― Eu sei como deve estar se sentindo, mas preciso que preste atenção no que vou dizer agora.

― Estou ouvindo ― sussurrou o mais velho.

― Na última carta que enviou, Boyer também comentou sobre um ataque que estão planejando contra nós ― ele disse e Jimin conseguia sentir o quanto Jungkook estava assustado, mesmo que conseguisse disfarçar bem ― E honestamente? Nós não temos mais para onde ir, se recolhermos nossas coisas e procurarmos outro lugar para ficarmos de novo, e de novo, e de novo... eles vão nos cercar.

"Eles já sabem onde estivemos, já tomaram os locais dos antigos acampamento. Se continuar assim, não teremos mais para onde ir e seremos massacrados por eles. Consegue entender o que estou dizendo?"

O ômega deitou sua cabeça sobre o ombro esquerdo do alfa e assentiu.

― Você quer resistir ― Jimin respondeu.

― Precisamos resistir.

― Mas?

― Sinto que uma guerra inevitável está chegando ― Jungkook deitou sua cabeça sobre a de Jimin ― E não vamos poder fugir dessa vez, teremos que enfrentá-los. Mas eles têm armas que conseguiriam acabar com todo nosso exército.

― Teremos que atacar com tudo que temos.

― E eu não consigo manifestar tudo que tenho, por causa das doses de supressores.

O ômega se afastou um pouco para conseguir virar sua cabeça na direção do alfa, agora estavam muito perto do outro, olhando nos olhos e sentindo a hálito quente na pele.

― Você quer parar de beber o chá, é isso? ― Jimin perguntou e Jungkook assentindo, confirmando a conclusão do Park ― Bom... eu tenho algum controle sobre o meu lobo, meu pai me ensinou. Não tenho controle total, eu deixei de tomar uma vez e era dia de lua cheia... foi quando nos conhecemos.

O comandante lembrava-se daquela noite como se tivesse acontecido no dia anterior, seu alfa também estava mais forte, ele teve uma febre tão forte que chegava a tremer de frio.

― Mas podemos começar diminuindo as doses, eu ajudo você ― Jimin continuou falando ― E, enquanto te ajudo, posso treinar com você, até não precisarmos mais. Leva tempo e muito esforço, mas se quisermos mesmo isso... vamos ter que dar um jeito. N-Nós começamos diminuindo a quantidade de chá e―

― Jimin ― Jungkook o interrompeu, segurando seu rosto e fazendo-o encarar seus olhos ― Aprecio sua ajuda e a aceito de bom grado. Fico feliz que queira fazer isso comigo, eu me sinto mais seguro e mais forte por isso. Mas... sabe que a partir do momento em que pararmos de tomar o chá... o nosso cio―

― Eu sei ― Jimin confirmou com a cabeça em movimentos rápidos ― Sei disso.

Jeon esperava que ele dissesse um pouco mais do que o fato de que ele sabia sobre o cio. Mas nada veio e Jungkook já não sabia mais se aquilo era realmente uma boa ideia.

― Jimin, o meu alfa deseja você ― Jungkook sussurrou de uma vez ― Entende o que isso significa?

O alfa de Jeon Jungkook desejava o ômega de Park Jimin, mas ― muito além disso ― Jungkook desejava Jimin. Ambos, lobo e homem, reconheciam Jimin como seu futuro parceiro e ômega. Mas Jeon precisava saber se Park aceitava isso, ou teriam de dar um jeito.

― Entendo ― Jimin sussurrou em resposta e seus olhos brilhavam enquanto se mantinham em contato com os de Jungkook ― É recíproco, Jungkook. Meu ômega também deseja você.

Recíproco.

Jimin sente o mesmo, era o único pensamento que importava a Jungkook.

O alfa colou seu lábios aos do ômega, em um beijo demorado, mas casto, sem muito contato, apenas uma demonstração simples de afeto que alegrou aos lobos de ambos.

― Vamos dar um jeito de dar certo ― foi a última coisa que Jimin sussurrou, antes de voltar a se aconchegar ao peito de Jungkook.

Eles compartilharam um misto de sentimentos naquele instante; havia medo, apreensão e raiva em relação às tramoias de Boyer, à incerteza de um futuro pleno para todos aqueles lupinos. Mas sentiam-se seguros nos braços do outro, era uma promessa do início de algo que acalentaria o coração de ambos; finalmente, podiam confiar em alguém cegamente e mostrarem suas fraquezas para essa pessoa digna de sua confiança.

Tinham um ao outro.


Há algumas tendas de onde Jimin e Jungkook firmavam um compromisso com o outro, Kim Taehyung estava deitado em sua cama, entre os braços de seu amado, Jung Hoseok. Ele agradecia por ter o ômega mais velho ao seu lado, a única pessoa em quem podia confiar no momento.

Todos os dias, era Jung quem o acordava pela manhã e acalentava seu coração ferido, antes de se levantar e ir até a tenda de alimentos para pegar o café da manhã de ambos. Até então, ninguém além de Hoseok e Jungkook haviam visitado-o para saber sobre seu estado, mas Taehyung sequer quis receber o primo, de qualquer modo.

― Vamos, TaeTae ― era o que sempre ouvia Hoseok dizer ― Precisa se alimentar, vamos comer juntos...

E, então, Taehyung deixava com que Jung abrisse sua boca para colocar pequenos pedaços de pão banhados em sopa, fechando-a para que o mais novo mastigasse e, naturalmente, engolisse. O Kim não sentia o gosto dos alimentos e parecia não sentir fome também, era como se tivesse entrado em um estado vegetativo estranho, que fazia com que ele não sentisse necessidade de nada.

É claro que Taehyung sentia vergonha daquilo, de como estava agindo, mas não tinha forças para ser diferente, não por enquanto. Ele só pensava em tomar algum tempo para descansar.

― Eu preciso fazer a guarda durante o dia ― Hoseok disse, quando terminaram de se alimentar ― Conversei com Jungkook e ele concordou que eu fizesse as rondas durante o dia, para ficar com você durante a noite.

― Não diz o nome dele ― sussurrou Taehyung em resposta, sentindo a raiva preenchê-lo ― Não quero ouvir.

― Tae―

― Eu entendi, Seok ― interrompeu-o, virando seu rosto para longe dos olhos do outro ômega ― Não se preocupe, ficarei bem.

Hoseok assentiu e se levantou, depositando um beijo no topo da cabeça do Kim e se retirando sem dizer mais nada, não havia mais o que dizer, de qualquer forma. Não era como se Taehyung, de fato, odiasse o primo pelo que aconteceu, mas seu lado emocional ainda não havia aceitado, talvez jamais fosse aceitar, então era melhor que se mantivessem afastados do outro.

Ficar sozinho sob uma tenda, sem ter com quem conversar, sem ter vontade de se levantar para qualquer coisa era, no mínimo, tortura. O ômega sabia que devia estar mais magro e os fios dourados que tanto exibia de seu cabelo deviam estar opacos, não sabia ao menos como estava se suportando tão bem.

― Taehyung? ― alguém chamou, do lado de fora da tenda ― Kim Taehyung?

Ele sequer precisou olhar para saber quem era, reconheceu seu cheiro, era Min Yoongi.

― Posso entrar? ― ele perguntou.

― É o que quer fazer, não é? ― foi o que Taehyung respondeu.

Sentou-se sobre a cama, ignorando o fato de não estar apropriadamente vestido para receber visitas; vestia apenas uma camisa branca e larga e mais nada além disso, o cabelo estava maior, porque não se preocupou em cortá-lo nos últimos dias, e estava grudado na testa, porque tinha pesadelos durante as madrugadas, mesmo que estivesse muito frio.

O cobertor da pelagem de lobos, que seu próprio pai havia caçado e confeccionado, o esquentava mais do que o necessário, pois ele sempre dormia acompanhado de seu ômega.

Viu o alfa dar dois passos para entrar em sua tenda; a pele pálida de Yoongi parecia ser acentuada no frio, ele parecia ser feito de inverno. Vestia uma camisa preta por baixo do colete de couro da mesma cor, mas que reluzia como se fosse uma obsidiana negra.

― Por que veio? ― Taehyung perguntou, soltando um suspiro cansado, ele realmente não queria ter de lidar com o noivo indesejado naquele instante.

― Queria vê-lo ― respondeu suavemente, juntando as mãos atrás do corpo, endireitando a postura e analisando o estado do ômega com os olhos cautelosos ― Não vim visitá-lo antes, porque era muito difícil encontrá-lo sozinho, esperei Jung sair para vir saber como se sente.

― Estou péssimo, como pode ver.

― Talvez se sinta melhor com uma boa notícia.

― Não acho que esteja com humor para ouvir boas notícias no momento, senhor ― disse sem a menor vontade, ou paciência.

― Tenho certeza de que se sentirá, no mínimo, aliviado com a que darei ― insistiu o ômega, aproximando-se da cama e, posteriormente, do lado em que Taehyung estava deitado.

Sem pedir permissão, Yoongi sentou-se ao lado do Kim, olhando para seu rosto e tocando-lhe a face delicadamente; foi quando Taehyung percebeu que, apesar da aparência combinar totalmente com o clima congelante, o alfa possuía a pele quente.

― Sei que está doendo e sinto muito por isso ― ele sussurrou ao ômega, prendendo a atenção do mesmo aos seus olhos e palavras ― Talvez, se tivéssemos nos conhecido verdadeiramente antes de se apaixonar por outra pessoa, eu pudesse ter me esforçado para fazê-lo se encantar por mim e aceitar o acordo entre nossos pais sobre nosso casamento.

O Kim não sabia o que dizer, muito menos o que sentir.

― Não tinha achado necessário antes, porque me encantei por você sem precisar trocar uma só palavra ― admitiu, sorrindo como se pedisse perdão ― Lhe desejo meus pêsames pela perda de seus pais, apesar de tudo. Mas, agora que uma parte desse acordo não mais existe, está livre dele.

Então, ele se levantou e inclinou-se sobre o corpo de Taehyung, sussurrando:

― Não precisará mais se casar comigo.

Depositou-lhe um beijo na testa, demoradamente.

E se foi.

◈ ━━━━━━━━ ⸙ ━━━━━━━━ ◈

Olá, amores!

Acho que essa foi a atualização mais rápida que já fiz nos últimos meses, hehe. Trouxe um capítulo um pouco menor do que o último, mas igualmente importante, espero que tenham gostado!

Não esqueçam de checar o dicionário Kai Gealai (na minha bio há um link para a thread do meu perfil no twitter, podem ir para Minhas fanfics > Wattpad > Golden Sapphire, vocês entraram o link para o documento lá).

Até a próxima! 


Tenda de Valentin:

(Desconsiderando o chão e o telhado de madeira)

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