O Vulcão da Vaca Maldita

Galing kay LeoVieira0

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Um homem frustrado pelo fim do seu relacionamento descobre que a sua amada será um sacrifício em um ritual ma... Higit pa

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18

Capítulo 4

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Galing kay LeoVieira0

       Em São Gonçalo, Galileo chega em casa de noite e percebe um clima melhor no ar. Sua mãe estava mais calma e entusiasmada no telefone. Galeso se aproxima do irmão.

- Galileo! Como está o vô?- pergunta Galeso.

- Do mesmo jeito. Mas a médica falou que ele está melhorando.- diz Galileo.

- O convênio ligou para dizer que o vô pode ser transferido para um tratamento de primeiro nível em Niterói pelo mesmo valor do plano. Parece que houve uma mudança de direção nesse hospital e eles estão selecionando pacientes de fora.- diz Galeso.

- Puxa! Isso é ótimo. E quando ele vai para Niterói?- pergunta Galileo.

- Amanhã mesmo, de manhã. É o Hospital São Túlio, em Icaraí. Já pesquisei sobre ele na internet.- diz Galeso.

Galileo fica satisfeito com a notícia. Amanhã poderá visitar o seu avô no novo hospital. Mais tarde, no Comunicatix, Galileo passa a boa notícia para Alene e depois volta para a planilha de investigações sobre a Martelaria em São Gonçalo. Galileo descobre que mais igrejas e salões continuam sendo arrombados e têm as suas imagens destruídas. O rapaz cataloga as igrejas com imagens que ainda não foram violadas e a forma que fará para criar uma armadilha com o auxílio da polícia. Começa a sentir sono e ao olhar para o relógio do rodapé do monitor, se assusta. Já havia passado das quatro horas da manhã. Só teria algumas poucas horas de sono até o trabalho. Galileo pula na sua cama de cima da beliche e desaba de sono, mas tem a impressão que o despertador tocou assim que ele deitou a cabeça no travesseiro.

Com muito esforço, Galileo se levanta. As pálpebras estavam doloridas e desobedientes. Não queriam abrir de nenhuma forma. Galileo se arrasta em passos até o banheiro, onde toma uma ducha gelada. Se sente um pouco melhor, mas ainda estava cansado e dolorido. O sono ficou empurrado para mais algumas horas a frente. Preferiu café puro em vez de seu habitual café com leite. O seu escritório é perto de casa e vai a pé até o trabalho.

Na Rua Carlos Gianelli, Galileo encontra seu amigo Gervásio no outro lado da calçada. Galileo levanta o braço num aceno para o amigo. Gervásio responde levantando um potinho transparente.

- Oi, Galileo! Estou indo levar o meu exame de fezes!!- grita Gervásio, provocando risadas nas pessoas próximas.

Galileo sorri, concordando. Gervásio continuava sem noção, mas seria útil para ajudá-lo nas investigações. Precisava conversar com ele depois, porque ele também é seminarista e pode ter uma boa resposta sobre as influências martélicas na cidade de São Gonçalo.

Ao chegar no escritório, na Rua Doutor Nilo Peçanha, Galileo encontra sua mesa com os papéis da cota diária. Galileo aproveita a influência do trabalho para obter todos os acessos dos investimentos da Martelaria nos apoios e patrocínios culturais da cidade. O presidente da ONG, Alessandro Mathias, fica curioso ao saber o volume de pesquisas que o secretário havia feito na última semana.

- Galileo, por que pesquisou tanto sobre a entrada da Martelaria em São Gonçalo?- pergunta Alessandro.

- Porque eles são filantropos e estou elaborando um projeto de parceria e busca de apoio.- diz Galileo.

- Mas por que não disse antes? Eu também sou martel e tenho todo o material na minha estante.- diz Alessandro com um largo sorriso.

- Obrigado.- agradece Galileo.

- Eu acho que é um bom momento para você se iniciar conosco também. Você tem todos os requisitos que precisamos e também pode obter muitas vantagens e benefícios.- diz Alessandro.

- Eu não acho que é o momento certo, ainda. Estou com muitos problemas e vida agitada e a Martelaria envolve muito compromisso.- explica Galileo.

- Eu sei que você é de igreja, Galileo. Mas a Martelaria não é uma sociedade satânica. Ela apenas compartilha segredos entre os membros selecionados para juntos, prover um mundo melhor para a nação futura. Temos membros de todas as religiões.- explica Alessandro.

- Eu prometo pensar na proposta, após me aprofundar nas pesquisas. Mais tarde, eu preciso visitar o meu avô em Icaraí. Mas vou deixar os relatórios prontos na sua mesa.- diz Galileo.

- Tudo bem.- concorda Alessandro.

Na Rua Coronel Moreira César, em São Gonçalo, Gervásio entra na clínica para entregar o seu exame de fezes. Não imaginava que na recepção encontraria Aline Reis, a amiga de infância de Galileo e ex-namorada de adolescência dele. Gervásio se sentiu o maior de todos os idiotas e teve vontade de fugir, mas era tarde. Queria poder desaparecer naquele momento, mas Aline já o tinha reconhecido. Faltava só mais um pouco de coragem e insanidade para ele poder engolir o conteúdo do frasco e dizer que não tinha nada ali para entregar.

- Gervásio! Que surpresa!- diz Aline.

- Eu que o diga...- murmura Gervásio, entre os dentes.

- Eu atendo aqui no período da manhã. Em que posso ajudá-lo?- diz Aline.

- É... vim entregar isso aqui.- diz Gervásio, envergonhado, colocando o potinho no balcão.

- Tem que colocar o nome nele.- diz Aline, entregando uma etiqueta adesiva.

- Mas é merda. Pode cheirar!- diz Gervásio, destampando o pote e o aproximando de Aline.

Aline faz uma careta. A recepção fica empesteada com o forte odor de fezes. Aline toma o pote de Gervásio e o tampa.

- É pra colocar o seu nome nele! Mas deixa, eu faço isso.- diz Aline, irritada.

Gervásio sai da clínica e observa o movimento da polícia e dos jornalistas na igreja em frente. Mais uma unidade foi invadida e violada. Gervásio não entende porque tanta violência e afronto religioso. Parecia ser a imposição de uma seita na cidade querendo mostrar que tem mais poder.

Galileo termina o seu trabalho e sai do escritório. Pega um ônibus para Niterói e em seguida, teria que pegar um para Icaraí. Durante o percurso para Niterói, Galileo começa a sentir sono, pois havia dormido pouco na madrugada anterior. Faz um grande esforço para se manter acordado e muda de banco para ficar mais exposto à luz do sol forte e não dormir. Mesmo assim, os embalos e movimentos das curvas do percurso do coletivo o deixa mais sonolento. Com esforço, Galileo se mantém acordado durante a viagem.

No Cemitério São Lázaro de Itaipu, na Estrada Francisco Cruz Nunes, ocorre o velório de Zenaib Haddad. O sheik Darius chega no local mais tarde e cumprimenta a família. A jovem rebelde Mahaila estava longe, na entrada da capela, vestida com sua vestimenta gótica e maquiagem pesada, parecendo uma bruxa. Darius se aproxima.

- Eu sinto muito, princesa. Sua avó está bem, agora. Allah a recolheu com ele.- diz o sheik.

- Eu não pedi a sua opinião. Me deixe sozinha!- diz Mahaila, sem olhar para ele.

- Eu sei como se sente, princesa, mas quero dizer que pode sempre contar comigo para o que quiser.- diz Darius, segurando em seus ombros.

- Não se atreva! Eu já disse que quero ficar sozinha!!- diz Mahaila elevando o tom de voz.

- Mahaila! Isso são modos? O sheik só está sendo gentil com você.- repreende Jathara, se aproximando.

- Me deixem em paz!!- grita Mahaila, lacrimejando e correndo do local.

Jathara não vai atrás. Sua filha estava muito perturbada e quase não havia dormido. Mahaila corria percorrendo vários túmulos e para perto de um túmulo com acabamento em mármore preto. A menina se senta sobre ele e começa a se sentir melhor. As trevas parecem que a acolhem os seus mais sombrios e densos sentimentos, como se toda a amargura fosse puxada para o abismo e escuridão. Mahaila fica um bom tempo e sua imagem tenebrosa ilustra o ambiente.

No terminal rodoviário de Niterói, Galileo consulta a hora em seu relógio de bolso e corre até a plataforma seguinte. Agora tem que pegar outra condução para a Avenida Governador Roberto Silveira, no Hospital São Túlio, onde foi transferido o seu avô Luiz.

O rapaz corre e entra no ônibus que já se preparava para partir. Encontra um lugar próximo a janela. Se acomoda e fica atento ao ponto que ira descer.

Galileo estava cansado. Suas pálpebras pesavam novamente. Devia ter tomado um café na rodoviária, antes de pegar o ônibus. Galileo acaba inclinando a cabeça no vidro da janela. As ruas percorridas não têm sol por causa dos prédios. Muitas sombras intermináveis são feitas no rosto sonolento de Galileo e ele acaba adormecendo. Um sono pesado, sem sonho; apenas a necessidade extrema de recarregar suas forças.

O ônibus percorre várias ruas e passa do ponto em que Galileo devia ter descido. O rapaz continuava dormindo profundamente. Quando acorda, percebe que estava longe demais do ponto e olha em seu relógio de bolso pra calcular quanto tempo tinha dormido e quanto longe estaria do local.

- É só comigo!!- murmura Galileo, dando um pulo do banco e puxando a corda do sinal para descer.

O ônibus para e Galileo desce irritado em uma rua desconhecida. Começa a andar de volta, rumo ao ponto de ônibus. Para não ficar isolado e não correr riscos, Galileo anda até encontrar um ponto mais movimentado para esperar seu ônibus em segurança, pois o local é uma estrada. Galileo caminha até encontrar um local com muros altos e brancos, parecendo ser um cemitério. De longe, ele avista uma criatura esquisita, porém muito normal para o ambiente que estava. Uma espécie de assombração, mas naquela hora da tarde não representava nenhum perigo e nem provocava medo. Parecia ser uma bruxinha magrela. Muito esquisita, mas despertava curiosidade.

Galileo continua se aproximando e sentiu uma agitação interna estranha. Ela não parecia nem ser uma humana. Normal era óbvio que ela não era. Talvez ela seria outra pista do intrinsecado enigma da horogamia física que havia começado para ele.

Uma menina gótica. Magra, com cabelo preto e desgrenhado. Uma maquiagem pesada com traços árabes, já borrada pelas lágrimas. Galileo e a menina trocam olhares rápidos. A menina tinha um olhar agressivo e sombrio. Galileo passa por ela e continua caminhando rumo ao seu próximo ponto de ônibus. Galileo percebe que está sendo observado por ela.

Galileo resolve diminuir o passo enquanto raciocina a melhor forma de abordagem. Tem curiosidade em conhecer a bruxinha árabe. Começa a sentir medo da armadilha que pode estar oculta naquele momento. Subitamente o medo se transforma em motivação. A estranha emoção na verdade é uma virtude para ele. Galileo se vira e volta decidido a conversar com a menina gótica.

Mahaila observa o esquisito rapaz branco que se aproximava dela, na entrada do Cemitério São Lázaro de Itaipu. O seu olhar fica mais frio e negro, como duas pedras de ônix. Galileo também não para de encará-la e estava decidido a conhecê-la. Os dois estavam próximos. Mahaila nem piscava. Galileo continuava decidido.

- Boa tarde. Você sabe onde eu pego um ônibus para Icaraí?- pergunta Galileo.

Mahaila faz uma pausa, enquanto observava o rapaz. Ele realmente parecia perdido e não com segundas intenções.

- Conheço pouco este lugar também, mas se andar mais longe, poderá encontrar.- diz Mahaila.

- Obrigado.- diz Galileo.

- Você está perdido?- pergunta Mahaila.

- Não! Eu só desci no ponto errado. Mas vou conseguir achar o endereço.- diz Galileo.

Uma pausa é feita entre os dois. Galileo observa mais uma vez a aparência estranha da menina.

- Você está bem?- pergunta Galileo.

- Não!- diz Mahaila.

- Notei. Ninguém fica feliz em um cemitério.- diz Galileo.

- Minha avó morreu.- diz Mahaila.

- Eu sinto muito.- diz Galileo.

- Ela morreu em meus braços.- diz Mahaila, lacrimejando.

- Eu sinto por isso.- diz Galileo.

- Já perdeu avó também?- pergunta Mahaila.

- Sim. Minha avó morreu quando eu tinha cinco anos. Eu tenho muitas lembranças boas dela.- diz Galileo.

- Por que tem que ser assim?- murmura Mahaila.

- Nós estamos aqui de passagem. Por isso devemos aproveitar cada instante. Mas sua avó, com certeza está melhor do que a gente.- diz Galileo.

- Não está não; minha avó era bruxa.- diz Mahaila.

Galileo fica pensativo. Então deveria estar acontecendo uma convenção satânica. Com pentagramas, sacrifícios de bodes e velas negras, enquanto sepultam o cadáver da velha.

- Se você quiser luz à sua vida, saiba que Jesus Cristo é o único caminho para esse destino. Ele vai lhe tirar todo esse sofrimento e esse peso denso e escuro se transformará em um alívio puro e luminoso. Terá uma vida de leveza e alegria. Todo o mal se dissipará. As trevas não podem com a luz. Aceite-O como único e suficiente Salvador de sua vida e grandes maravilhas você presenciará.- diz Galileo.

- Obrigada. Mas não me sinto preparada para tomar uma decisão tão rápida. Nossa família não confia na doutrina de Issa.- diz Mahaila, se referindo a Jesus.

- A aceitação não é imediata. O evangelho se manifesta naturalmente. Eu vou lhe deixar os meus meios de contato e depois você me procura. Meu nome é Galileo.- diz Galileo, enquanto entrega o seu cartão à Mahaila.

- Prazer em conhecê-lo, Galileo. O meu nome é Mahaila. Agora eu tenho que voltar. Vão sepultar o corpo da minha avó daqui a pouco.- diz Mahaila se despedindo.

- Claro, Mahaila. Até mais, então.- se despede, Galileo.

Galileo volta para a sua caminhada. Mahaila volta para a sua capela. Dois jovens com um novo destino cruzado. Galileo avista o ônibus e embarca rumo à Avenida Governador Roberto Silveira. O caixão de Zenaib é fechado e sepultado. Galileo chega ao Hospital São Túlio e visita o avô, que continuava doente. Galileo desanima e tem uma estranha sensação que ele não melhorará. Talvez seja o clima fúnebre que presenciou ao passar pelo Cemitério São Lázaro de Itaipu. Aquela menina depressiva também contribuiu bastante para deixá-lo de baixo-astral. Galileo chega em casa de noite. No Comunicatix, Mahaila havia adicionado o seu e-mail. Galileo da atenção simultânea à Alene e Mahaila. Ele fica sabendo por Alene, que a sua mãe está mais azeda com as notícias do vandalismo nas igrejas e salões com imagens. De Mahaila, Galileo começa a saber mais de sua história. Uma menina sofrida que usa um visual rebelde para camuflar o seu sofrimento. Típico de meninas de família abastada e sem a atenção que merecia. Gervásio entra na linha e Galileo se anima a falar com ele também. A sua vida estava se tornando destemperada. Uma namorada doce, uma sogra azeda, uma amiga amarga e um enigma salgado faziam parte do cardápio de Galileo. O rapaz combina ir na casa de Gervásio na manhã seguinte, antes do trabalho. Galileo analisa as suas pesquisas e vê que a SAG pode ser útil na busca de mais informações sobre a Martelaria.

A cidade de São Gonçalo amanhece novamente. Ao som dos roncos dos motores de britadeiras e tratores que reformavam inúmeras ruas, Galileo acorda também, ao som do ronco de seu irmão Galeso, que dormia na cama de baixo da beliche. Galileo toma café rápido e sai apressadamente para se encontrar com Gervásio.

Ao chegar, Gervásio ainda estava se arrumando. Galileo é convidado pela mãe dele para entrar. Galileo se senta junto ao amigo na cozinha e aceita uma xícara de café com leite.

- Gervásio. Preciso falar algo sério com você e preciso da sua ajuda.- diz Galileo.

- Eu não tenho dinheiro!- adverte Gervásio.

- Não é isso! É o seguinte: eu acho que sei o que está acontecendo por trás dessa onda de vandalismo pelas igrejas e templos religiosos.- diz Galileo.

- Eu também! Eu acho que é algum grupo que não gosta de igreja.- diz Gervásio.

- Claro, não é?! Eu quero dizer que já sei qual o grupo que está por trás disso.- diz Galileo.

- Ontem, quando eu fui levar o meu exame de fezes, eu vi uma igreja que foi arrombada e destruída por dentro. Mas não havia nenhuma pista.- diz Gervásio.

- Isso porque o simbolismo não está no resultado da destruição e sim na forma de destruição. As imagens foram destruídas a golpes de martelo, o instrumento principal da Martelaria.- explica Galileo.

- E você acha que a Martelaria está por trás de tudo isso? Os martéis são sincretistas e respeitam as demais doutrinas e seitas só para obter apoio e influência por todos os lados. Eles até veneram a Rainha do Sol.- explica Gervásio.

- Isso não justifica, Gervásio! Eles podem afagar a sua cabeça com uma mão e apedrejá-la com outra. Eles querem ganhar confiança pra atacar depois. É aquele truque de colocá-lo num tapete vermelho e depois puxá-lo com força.- diz Galileo.

- Eu vou lhe provar que não é bem assim, Galileo.- diz Gervásio.

- Cara, a mãe da minha namorada fica culpando a nossa religião por causa disso. Diz que esse vandalismo todo é culpa de crentes ignorantes. Tenho vontade de pesquisar sobre isso só para desmascará-la.- diz Galileo.

- Talvez ela esteja chata assim porque não gosta de você como genro dela. Têm sogras que são tudo umas vacas.- diz Gervásio.

- Ela é pior que uma vaca, Gervásio. É uma vaca maldita.- diz Galileo.

- Providencia o casamento logo. Daí você não precisará mais ter que encará-la.- diz Gervásio.

- Não é tão fácil, Gervásio. A Alene não está trabalhando e só com o meu salário não daria pra manter tudo sozinho. Sem contar com as despesas para mobiliar tudo e aluguel de casa. Mas eu vou pensar numa solução sim. Eu só queria que minha sogra fosse tão chata comigo.- diz Galileo.

Os rapazes saem de casa e Vera Lúcia, mãe de Gervásio, observa tudo do outro cômodo. Ela pega o telefone e liga para a sua líder espiritual.

- Irmã Graça?! É Vera Lúcia. Por acaso o nome do namorado de sua filha é Galileo?- pergunta a mãe de Gervásio.

No escritório, Galileo responde aos e-mails de Mahaila. A menina estava ainda muito abatida com a perda da avó. Galileo envia várias mensagens de conforto e otimismo. O presidente da ONG, Alessandro Mathias, ainda não havia chegado. Galileo se levanta e vai até a estante dele. Começa a percorrer a leitura nos títulos das laterais dos livros martélicos: Os Princípios das Leis Martélicas, Martelaria para Iniciantes, Os Símbolos da Martelaria, A Martelaria em São Gonçalo.

Galileo retira o último livro visto da estante. Começa a folhear as páginas em pé mesmo. Galileo se admira com tanta preciosidade. Haviam diagramados diversos mapas de São Gonçalo e muitas referências simbológicas. Entre eles, o do Maciço de Itaúna.

- Eu sabia! O vulcão não é lenda!- pensa Galileo, rindo feliz com a descoberta.

- Bom dia, Galileo!- diz Alessandro, entrando na sala.

- Oi, Alessandro. Desculpe consultar a sua estante. Era importante.- justifica Galileo.

- Não se preocupe, Galileo! Esse acervo é nosso; todos os membros podem consultar a hora que quiser. Bom saber que está se interessando sobre a história da Martelaria. Mas conhecerá melhor se se tornar um dos nossos.- diz Alessandro.

- Eu não estou pronto ainda pra isso.Eu preciso deste livro emprestado.- diz Galileo, tentando fugir do assunto.

- Claro; pode levar!- diz Alexandre.

Na hora do almoço, Gervásio é liberado e vai até a pensão, próximo à praça do centro de São Gonçalo. O local estava cheio e não podia esperar muito, porque o seu tempo era limitado. Gervásio volta e decide ir almoçar no Rodo Shopping, na Rua Doutor Nilo Peçanha.

Ao entrar pela lateral do Shopping, na Rua Eduardo Vieira, Gervásio nota uma movimentação vinda de dentro de um salão e corre até lá. Era outra igreja que estava sendo destruída por dentro. Gervásio pula o muro baixo e se prepara para fotografar o crime com o seu celular. Não consegue encontrar nada; apenas vultos gordos no local. Os criminosos envolvidos eram muito rápidos. A destruição acaba e Gervásio se prepara para fotografar os criminosos que iriam sair e se esconde. Aguarda um tempo e nada. Eles devem ter fugido pela porta dos fundos. Só que não há outra saída; a não ser que eles tivessem saído pelo telhado e percorrido até chegar à outra rua.

Gervásio por coragem ou insanidade entra no local. Talvez esses criminosos estariam refugiados, aguardando o momento certo para fugirem. Então ele entraria, fotografava e fugia. Se eles estivessem armados, Gervásio jogaria o celular longe como sinal de socorro e para preservar a prova da denúncia. A porta de entrada estava arrombada e encostada. Gervásio a abre com facilidade. O gordo vai fotografando vários pontos do salão de entrada da igreja. Várias cacos de imagens espalhados pelo chão. Gervásio vasculha o outro cômodo e não havia nenhuma escada ou algo que servisse para uma fuga por cima do salão. Realmente foi algo estranho e sobrenatural a destruição das imagens.

Gervásio ouve um som de viatura vindo do lado de fora. Ele vai para fora satisfeito, decidido a entregar o celular com as fotografias. Ao chegar ao salão principal, Gervásio é surpreendido pelas armas apontadas dos policiais. Gervásio levanta os braços, soltando o celular. Um policial o algema e o coloca na viatura. As fotos são vistas por outro policial.

Gervásio não sabe o que dizer para sair desta enrascada. Estava na pior hora, no pior local e não tinha nenhuma forma de convencimento para com os policiais. Mesmo assim, arrisca a se explicar.

- Seu guarda! Eu não destruí nada naquela igreja. Eu apenas entrei para fotografar os criminosos que...- Gervásio tenta explicar, até ser calado por um murro vindo do policial assistente.

- Cala a boca, seu otário! Fale apenas quando o delegado for te perguntar!- diz o policial.

Gervásio abaixa a cabeça e chora enquanto uma lágrima desce junto com o sangue na boca. Os policiais são estúpidos e não têm pena. Estavam há semanas investigando sobre os responsáveis pelas depredações das imagens das igrejas e agora finalmente conseguiram prender um suspeito.

Na delegacia, na Avenida Dezoito do Forte, Gervásio é fotografado, fichado e interrogado. Em seguida é levado até uma sala escura, onde tem os seus braços algemados para trás da cadeira. Uma luz forte é posicionada em seu rosto e seus óculos são retirados. O delegado Mendes, um homem grisalho na casa dos cinquenta anos, se posiciona em frente ao gordo para interrogá-lo. Outro policial estava mais distante, longe da luz.

- Muito bem, balofo! As coisas melhorarão para você se resolver abrir a boca. Me diga agora quantos de vocês existem por aí.- diz o delegado Mendes.

- Eu não sei de nada. Eu só fui fazer investigação e encontrei o local destruído.- diz Gervásio.

Mendes dá um soco, quase desequilibrando Gervásio da cadeira. Gervásio olha para baixo, intimidado.

- Vou perguntar mais uma vez! Quantos de vocês compõem essa quadrilha?!- pergunta o delegado Mendes.

- Eu só vi a sombra de um. E ele é muito rápido. Conseguiu fugir por cima da igreja, sem precisar usar nenhuma escada ou móvel.- diz Gervásio levantando a cabeça.

Mendes dá um soco com mais força em Gervásio. Agora o gordo tinha um hematoma roxo no rosto.

- Onde vocês se escondem?!- pergunta o delegado Mendes.

- Eu também quero descobrir!- responde Gervásio.

Mendes dá um soco com toda a força em Gervásio, fazendo o gordo cuspir sangue. Seus dentes estavam ensanguentados e sua boca espumava.

- Pare! Por favor!! Eu não sei de nada!!- grita Gervásio.

- Fale!!- grita Mendes, dando um soco no estômago de Gervásio.

- Eu não sou bandido!!- grita Gervásio, se esforçando para recuperar o ar.

- Fale!!- grita Mendes, dando uma bofetada em Gervásio.

- Eu não sou bandido!!!- berra Gervásio.

- Não grite comigo!!!- esbraveja Mendes, pegando a cadeira ao lado e desferindo em cima de Gervásio com toda a força.

Gervásio cai com a cadeira, desmaiado. A cadeira que Mendes usou como arma não se quebra porque é feita de mogno muito forte. O delegado Mendes acende um cigarro e fica pensativo.

- Eu acho que não foi ele mesmo. Mas precisamos mantê-lo aqui. Leve-o para a cela.- ordena Mendes.

- Delegado, ele se cagou!- diz o policial.

- Então deixe ele se recuperar sozinho aí. Depois leve-o para tomar um banho e faça o curativo nele.- diz o delegado, deixando o local .

A luz do refletor é apagada e a porta fechada. Gervásio é deixado no local como se não tivesse valor algum. Mais ferido e sujo estava se sentindo por dentro diante de toda aquela humilhação. Gervásio chora silenciosamente naquele quarto escuro tentando recompor o que fará da sua vida agora.

Anoitece e Gervásio continua preso. Chora até ficar cansado e dormir. Em Niterói, na Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres, Faruk chega do trabalho em sua luxuosa cobertura. Durante o jantar em família, inicia o assunto com sua filha Mahaila.

- Como você está, Mahaila?- pergunta Faruk.

- Melhorando, pai.- diz Mahaila.

- Tenho boa notícia: estou providenciando um casamento para você. Não precisará mais ficar conosco.- diz Faruk, para desespero de Mahaila.

- Com licença. Eu não tenho mais fome.- diz Mahaila, se levantando e indo depressa para a sua suíte.

A menina se tranca no quarto e corre para o banheiro, onde chora de frente para o espelho. Ao olhar, percebe que sua maquiagem está borrada. Mahaila odeia a ideia de se casar contra a vontade. Não era justo porque ela não estava mais debaixo daquelas tradições de seu país. Queria poder escolher o seu marido. E apenas uma opção povoava a sua cabeça.

Em seguida, na delegacia da Avenida Dezoito do Forte, Eduardo e Vera Lúcia, os pais de Gervásio, são notificados da prisão do filho e vão até o local. O crime foi classificado como inafiançável. Gervásio foi autuado de destruir o patrimônio de quase uma centena de igrejas. Vera Lúcia chora ao saber que não tem como fazer para tirar o seu filho do local. Eduardo se envergonha. Sabia que o filho não batia muito bem da cabeça, mas não poderia ser tão insano a ponto de provocar tamanha desordem e crime de intolerância religiosa. Em sua cela, Gervásio toma banho e veste a roupa limpa, levada por seus pais. Na enfermaria, recebe um curativo no lado esquerdo do rosto, boca, queixo e no braço direito, que quase fratura o húmero quando cai com a cadeira, se não fosse o excesso de banha para amortecer.

Gervásio volta para a cela. Haviam mais dois detentos. Se acomoda no canto e guarda os seus óculos no bolso. Respira fundo e olha para o teto, procurando solução. Apesar de todas as loucuras, Gervásio é paciente e esperançoso. A Bíblia relata muitos homens de Deus que também foram aprisionados. Gervásio se mantém confiante e decide evangelizar os detentos da sua cela. A madrugada passa lentamente na prisão.

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