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By arifonseca

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Série Sentidos - Livro 3 Histórias independentes O que você faria se tudo à sua volta desmoronasse de repente... More

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By arifonseca

Agnes

Passo pela portaria do luxuoso condomínio fechado vislumbrando as casas enormes, sem muro e com jardim na frente. Parece que estou naqueles filmes americanos.

Olho no relógio quando avisto o número do meu destino e respiro aliviada que consegui chegar a tempo. Ainda faltam 20 minutos para o horário do próximo turno. Hoje vim bem devagar, conhecendo o bairro e as paradas de ônibus. Creio que não terei problema quanto a isso.

Caminho pelos quadrados de cimento no chão, emoldurados pela grama verdinha, e aperto a campainha admirando os entalhes perfeitos da porta de madeira.

Uau, esse lugar é incrível!

— Boa noite, eu sou a Agnes! — cumprimento sorridente a mulher de meia idade que abre a porta.

— Boa noite, sou a Elza.

Ela não corresponde o sorriso, mas libera a minha passagem. Pelas roupas brancas, sei que se trata da enfermeira.

Merda! Será que tinha que vir com algum uniforme? Entro reparando na minha calça jeans e blusa de malha simples.

— Tinha que vestir algo específico? — Puxo assunto, preocupada.

— Nossa agência oferece uniforme padrão para esse tipo de atendimento em casa — é a única coisa que me diz.

Aceno com a cabeça e mexo nas mãos, ansiosa.

Samuel não falou nada sobre isso e imaginei que poderia vestir qualquer coisa. Espero que não tenha problema no primeiro dia. Era só o que me faltava.

Sigo-a por um corredor amplo, cheio de quadros na parede, e constato que por dentro é ainda mais bonito que por fora.

— A senhora Creuza está tirando um cochilo, não se sentiu muito bem hoje por causa da experiência com a quimioterapia — ela explica e entra em um quarto onde a mulher pálida está deitada. Parece tão frágil e cansada.

— Quais efeitos colaterais ela teve? — pergunto baixo, sentando-me ao seu lado em uma espécie de sofá no canto esquerdo do ambiente.

Não combina muito com a decoração, acho que foi colocado aqui recentemente para esse fim.

— Náusea, vômito e boca seca, além da falta de apetite que já vinha tendo — enumera parecendo um robô.

— Coitada da Dona Creuza, no começo é ruim mesmo.

A mulher não diz mais nada e também fico quieta, observando a cama. Será que a enfermeira passou o dia todo assim? Deus, não consigo ficar parada desse jeito por tanto tempo não.

Quando dá exatamente sete horas, ela se despede e vai embora deixando uma pasta na minha mão com o relatório do dia para entregar ao Samuel.

A minha aflição só aumenta.

Tinha que trazer material para fazer relatório escrito também?

Admito que um pouco do suor que se acumula nos meus dedos é pela inquietação em vê-lo. Esse bendito homem invadiu até meus sonhos ontem, que porcaria. Não consegui entender até agora essa fixação nos seus olhos verdes.

Exatos 15 minutos se passam até que Dona Creuza abre os olhos. Escancaro um sorriso enorme de alegria porque, definitivamente, não nasci para ficar sentada sem fazer nada de útil.

— Como está se sentindo? — Aproximo-me da cama e a ajudo se sentar.

A senhora simpática corresponde meu sorriso com um caloroso, como se estivesse muito feliz com minha presença.

— Ainda estou com um pouco de náusea — admite fazendo uma careta e fica de pé. — Esses efeitos são muito ruins, e hoje só foi o primeiro dia.

— Muitos efeitos colaterais desaparecem rapidamente após o término do tratamento, fica tranquila. Se Deus quiser o tumor vai diminuir, a senhora vai operar e ficará boa de novo.

Passei a noite de ontem estudando no meu quarto sobre várias coisas da doença. Quero estar o mais preparada possível para ajudá-la no que for preciso.

— Amém, minha filha. Amém! — Toca no meu rosto e faz um carinho ali.

Mal a conheço, mas já gosto tanto dela. Aparenta ser uma mulher espetacular.

— Quer sair um pouco desse quarto?

— Aí, por favor — balança os braços, apontando para a porta. — Não aguento mais ficar parada aqui. As outras enfermeiras só sabem me mandar repousar o dia inteiro.

— Eu também não tenho vocação pra isso não — rio de novo e estendo meu braço para que possa se apoiar.

Voltamos pelo corredor dos quadros e Creuza vai me apresentando aos poucos sua casa. Surpreendo-me ao saber que mora sozinha em um espaço tão grande. Contei por cima três quartos com suíte e dois banheiros sociais.

O cômodo que mostra por último é o que chama mais minha atenção. A cozinha dela é a dos meus sonhos. Toda planejada nos tons preto e vermelho, ostentando uma bancada central de dar inveja até nos participantes do Master Chef.

— É tudo fantástico, Dona Creuza — elogio sinceramente.

Meus olhos quase não piscam ao ver o fogão na bancada de mármore. Sempre sonhei com um desses. Lá em casa temos um Dako velhinho, sem uma boca funcionando para ajudar.

— Obrigada, querida — agradece e noto um pesar na sua voz. — Era a casa dos meus sonhos, pensei em cada espacinho dela. Não consegui me desfazer depois do divórcio, nossa mente é um mistério e adora se martirizar.

— Sinto muito.

— Já faz tempo, estou aprendendo a me redescobrir. Nada como um dia após o outro pra curar nossas feridas, não é mesmo?

— É verdade. — Coloco um cacho revolto atrás da orelha e aproximo-me da bancada. — "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã".

— Salmos 30, versículo 5 — complementa, sorrindo radiante. — Eu sabia que você era perfeita.

Fico sem entender a segunda parte do comentário, no entanto, não me estendo no assunto porque uma enxurrada de lembranças do meu pai e da Ayla invadem a minha mente.

Passo a mão no mármore gelado para não precisar encará-la com os olhos marejados. Realmente, o tempo cura nossas feridas, mas jamais esquecemos. Aqueles que amamos sempre estarão com um pedaço do nosso coração.

O importante é que agora ficou a saudade boa e foi embora toda revolta e angústia que o sofrimento traz.

— Preparações com gengibre e limão ajudam a diminuir a náusea. — Quebro o gelo que ficou, com nós duas imersas em memórias, mudando completamente de foco. — Se a senhora quiser, posso preparar alguma coisa pra jantar.

— Imagina, não precisa se incomodar com isso. — Ela caminha até onde estou e para ao meu lado. — O Samuel contratou um restaurante pra enviar refeições aqui pra mim e a enfermeira do turno.

— Eu amo cozinhar, não seria incomodo algum. Pra mim quanto mais me mexer, melhor. Se tiver abóbora e gengibre aí, tenho uma receita deliciosa em mente.

Aprendi a cozinhar com minha mãe ainda criança, quando fazia quitutes para vender. Dona Cilene faz milagre com qualquer alimento e não desperdiça nada. Um dom nato!

— Amo abóbora! — Sorrio com a mudança empolgada nas suas feições. — Sério? Você não se importaria?

— Claro que não, vai ser um sonho realizado cozinhar em um lugar assim.

Com o salário que estão me pagando, eu até faxinaria a casa inteira se precisasse.

— Não me farei de rogada, Agnes. Há dias estou sem apetite, mas foi só você falar de abóbora que até salivei.

— Me mostra onde guarda as coisas que em quarenta minutos o jantar estará servido.

Animada, Dona Creuza me ajuda separar tudo e liga no restaurante para cancelar a entrega de hoje.

Fico feliz em saber que está com vontade de comer. Pacientes com câncer de estômago perdem o apetite com muita frequência, fazendo quimioterapia o quadro piora.

O tempo passa e a gente nem percebe falando de diversos assuntos enquanto me divirto com suas panelas brilhantes de aço inox. Quando sirvo, ela come com vontade, o que só me faz sorrir ainda mais.

— Fiz bem molhadinho pra ajudar com a boca seca também — conto, pegando meu prato e fazendo companhia ao seu lado.

— Agnes! — Ela faz uma pausa dramática. — Está incrivelmente delicioso.

— Que bom que gostou, só de ver essa carinha...

— Que cheiro gostoso é esse? — A figura altiva que aparece na porta da cozinha, vestindo uma camisa preta dobrada no braço, interrompe todos meus pensamentos.

Devia ter um desses no meu bairro. Que falta de sorte, gente.

Nunca me canso de admirar como Samuel é bonito.

— Filho, a Agnes fez um creme de abóbora com gengibre divino! — Passa os dedos nos lábios, imitando um gesto de joia em seguida. — Você precisa comer, pega um prato. Aposto que estava na imobiliária até agora sem se alimentar direito.

— Você não precisa cozinhar, não faz parte das suas obrigações — ele explica preocupado, como se eu fosse entrar na Justiça por causa disso.

— Eu adoro cozinhar, não tem problema nenhum — respondo me perdendo no seu olhar penetrante.

Por que justo ele faz questão de olhar no olho quando está falando? Podia ser como os outros, Senhor.

Ajuda aí essa pobre alma.

— Eu já falei sobre isso com ela — Dona Creuza fita-me com carinho, tocando na ponta do meu cabelo solto —, mas a abençoada fez questão e tenho que admitir que faz tempo que não comia com tanta vontade.

— Que bom que está com apetite agora, mãe. — Ele se aproxima dela e deixa um beijo na sua testa. Assim fica cada vez mais difícil! — Ontem me deixou muito preocupado.

— Nem estou com ânsia, a Agnes disse que gengibre melhora náusea e fez um prato especial.

A atenção do homem volta novamente para mim e reprimo com todas as forças a necessidade de engolir em seco. Ele ia perceber minha garganta mexendo.

Seu olhar agora parece de aprovação, como se estivesse feito certo de escutar a mãe e me contratar.

Pego uma nova colher de sopa para tentar distrair minha mente dessa magneticidade esquisita.

— Não te falei que seria bem mais espontâneo e divertido? — Ela encara o filho sorridente e quase derrubo o talher quando Samuel corresponde seu sorriso balançando a cabeça.

Puta merda!

Se eu estava preocupada antes disso não dar certo, agora eu tenho certeza.

Esse homem vai acabar comigo.

É fácil demais viciar nesses olhos verdes selvagens e no movimento dos lábios que parecem tão macios.

Tenho medo de perceberem que estou estranha e acabar sendo demitida por ficar babando no filho da minha paciente.

Ou posso resolver o problema do dinheiro extra, e acabar arrumando outro como me apaixonar por Samuel.

Apaixonar? Senhor, cada vez piora mais. Não acredito que disse essa palavra na terceira vez que vi o homem.

Como me manter nesse emprego assim?

Ai gente, eu dou tanta risada com a Agnes. É uma figura! 

Toda na sofrência e o boy nem a nota kkkkkkkk

Judieira.

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