❤ Capítulo 7

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Samuel

Tomo um gole do café fumegante, ajeito a pasta na outra mão e empurro a porta de vidro da imobiliária com o ombro. Estou com pressa, atrasado para o trabalho depois de permanecer quase a semana inteira ausente devido a internação da minha mãe.

Tive que passar no Starbucks e garantir uma bebida bem forte para conseguir ficar acordado. Ainda não gozei de uma noite decente de sono: a dor de cabeça e o cansaço estão cobrando seu preço.

Pelo menos, resolvi a questão das enfermeiras ontem mesmo. O primeiro turno começou pontualmente às sete horas, estava lá verificando se tudo ia ocorrer bem.

Dona Creuza não está muito feliz de ter alguém grudado no seu pé, mas o importante é que não se opôs à minha ideia. Se ela ficasse sozinha o dia todo, eu não conseguiria fazer nada de preocupação.

— Bom dia, senhor Samuel! — Priscila me recebe com um sorriso. — Sua mãe está bem hoje?

— Acordou bem, obrigado. — Correspondo com um de praxe e sigo em direção ao elevador. — Pede para o José Paulo ir na minha sala, por favor.

— Pode deixar, já vou pedir.

Aperto o botão com rapidez e encosto próximo ao espelho. Dois corretores também aproveitam a subida, me cumprimentam com cordialidade e perguntam sobre a saúde da minha mãe.

Assim que desço no andar, quase não consigo chegar ao destino de tanta gente que me para desejando melhoras e oferecendo orações. Apesar de não frequentar mais a empresa desde o golpe do Telso, Dona Creuza ainda é muito querida entre os funcionários.

Priscila mandou flores em nome da equipe assim que chegamos ontem do hospital. Esse tipo de carinho não tem preço. Ela merece.

Entro na sala já tirando o paletó, pegando documentos da pasta e ligando o computador. Estou com várias atividades pendentes, o que só faz a enxaqueca aumentar ainda mais.

Ouço um barulho na porta e nem levanto a cabeça para checar quem é, crente que se trata de José Paulo.

— Como foi a reunião na Supremac? — pergunto olhando duas planilhas ao mesmo tempo.

— Que belo administrador você é, deixando qualquer um resolver assunto sério da imobiliária. — Cerro os dentes ao notar o tom de voz autoritário do meu doador de esperma.

— O que você quer, Telso? Não tô com paciência pra você hoje — resmungo ainda com a atenção nos papeis.

— Você veio cheio de marra me dar lição de moral segunda-feira, e agora está aí faltando serviço à toa. — Observo-o de esguelha se aproximar e se inclinar na mesa. — Seu salário também vai ser descontado, viu?!

Com a raiva começando a borbulhar na minha pele, encaro a figura altiva na minha frente. Ele sorri debochado, ostentando dentes brancos demais para parecerem naturais.

Nojo. É isso que sinto desse homem.

Enquanto os funcionários que poderiam ser distantes se importam, Telso sequer ligou alguma vez para saber como estava a mulher com quem viveu durante mais de 27 anos.

Com certeza sabe do diagnóstico do câncer e viu a movimentação da imobiliária. Simplesmente não se interessa mesmo.

— Ao contrário de você, eu não sou sanguessuga — cuspo as palavras, segurando com força os documentos para não voar em cima dele. — Mesmo por um motivo legítimo, não por causa de balada, avisei ao RH pra descontar meus dias.

— Acompanhar parente no hospital não é motivo.

Como minha mãe pode se deixar enganar por uma pessoa mesquinha desse jeito? Pior que nem posso dizer que essa atitude é de agora.

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