O Que o Espelho Diz - A Rainh...

By MeewyWu

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Capa Atual: Foto de Alice Alinari, instagram: alice_alinari A Rainha da Beleza: O que o Espelho Diz. Bethany... More

Epígrafe
Prólogo
I - Alianças Diferentes
II - Um fantasma no Palácio
III - O Conselho Real
IV - Informação Vazada
V - Palácio de Verão e Vidro
VI - Chuva de Cristais
VII - Vidro Embaçado
VIII - Protetora de Paris
IX - Cavaleiro de Prata
X - Teia de Veludo Vermelho
XI - Carvão e Metal
XII - Ilusões Refletidas
XIII - Prismas
XIV - Retinta
XV - Sonhos de Marfim
XVI - Espadas de Madeira
XVII - Floresta de Esmeraldas
XVIII - Penas Prateadas
XIX - Corpos e Fantasmas
XX - Rios de Sangue
XXI - Palácio de Ferro
XXII - Cartas à Morte
XXIII - A espada vermelha
XXIV - Claro como Cristal
XXV - Coroa de Ossos
XXVI - Sapatos Brilhantes
XXVIII - Posição Política
XXIX - Arte da Guerra
XXX - O Que o Espelho Diz
Epílogo
O Que o Espelho Diz - Por Meewy Wu
AESTHETICS

XXVII - Segredo Americano

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By MeewyWu

-Nem acredito em quão feliz eu estou que esse jantar acabou – suspirou Alicia, se jogando na cama quando chegamos ao quarto dela.

-Digo o mesmo – suspirei, me sentando em uma poltrona, olhando para a enorme gaiola perto da janela – Seus pássaros não eram azuis?

-Ah, soltamos aqueles – ela desfez com a mão, gemendo ao se sentar novamente – Apolo comprou esses para mim. Foram resgatados de um navio na costa de Portugal, estavam tão machucados quando ele os trouxe.

-São tão diferentes – franzi a testa, observando as aves acinzentadas com indícios de penas verdes começando a crescer, e bicos curvos para baixo - Da maioria dos pássaros, na verdade.

-Nós pesquisamos um pouco... – ela balançou a cabeça como se aquele pensamento fosse absurdo – Bem, Apolo pesquisou um pouco – ela se corrigiu , levantando e pegando um livro em um aparador, folheando um pouco antes de me entregar – Parece que são... Ah, é um nome difícil... Pa-pa-guei-o. Não tenho certeza se é assim que se fala. Apolo disse que são aves da América do Sul, então nem imagino como chegaram até aqui ou se poderei soltar eles depois que crescerem.

-É tão grande – falei, passando a mão pelo desenho na página, uma ave verde maior do que a minha mãe, com a legenda "escala reduzida" – Tão bonito...

-Nem parece um animal de verdade – ela deu os ombros, sentando-se em uma segunda poltrona em frente a mim e pegando um copo de água da mesa de centro – Então, qual era o problema de Fox essa noite?

-Eu gostaria de saber tanto quanto você – suspirei, puxando uma das almofadas na qual eu estava sentada e apoiando no colo – O humor dele estava péssimo.

-Bem, ele passou vários dias viajando – ela tentou contornar, mas deixou uma careta escapar – Mas Tina insistiu em fazer isso. Parece que nada do que falo para ela faz efeito.

-Foi ideia de Tina esse jantar? – perguntei. Já não era sequer capaz de me surpreender com aquilo.

-Quando eu a alcancei mais cedo, alguns organizadores a alcançaram para falar sobre isso. Eu disse que era uma péssima ideia, mas tudo que ela dizia era que "as pessoas precisam ver o rei" – Alicia mordeu o lábio inferior – Não sei o que fazer.

-É como se ela nem fosse mais a Tina de quando eu cheguei aqui – confessei – Como se fossem duas pessoas diferentes.

-Talvez seja – ela deu os ombros – A princesa Marie Antoinette que grita ordens no campo de batalha e ameaça generais nos conselhos de guerra, sem dúvidas não é a mesma Annie tímida que chora de saudades de Nisha.

-Sou capaz de amar as duas – falei, rindo – Não sei se posso dizer o mesmo de Valenttina.

-E de Fox? – ela ergueu uma sobrancelha.

-Fox – bufei – Nem acredito que ele deixou Dylan naquela situação. Ele sequer me deixou ir ajuda-lo.

-Passe alguns dias ao lado de James, e é isso o que acontece – ela grunhiu, pegando o jarro de biscoitos e devorando dois seguidos, aninhando ele no colo.

-James? – me surpreendi.

-Eles chegaram juntos. Isso faz pensar que deveriam ter viajado juntos para onde quer que Fox tenha ido – ela fez uma expressão desgostosa – O duque ira fazer o que puder par conseguir poder, e virar Fox contra Dylan – mais um bicoito – Ou contra você, não é algo que ele se incomodaria.

-Tenho certeza de que se passássemos o resto dos nossos dias sem a presença de James Bordeaux, eu não reclamaria – rimos – Nem imagino como deve estar sendo para você.

-É estranho... Não é mias horrível como era antes, mas às vezes... E Apolo não está aqui... – ela suspirou, olhando para a cama vazia e engolindo as lágrimas– Não deve ser nem de perto tão ruim quanto é para Dylan. Não é a primeira vez que o pai o faz passar por isso, e dessa vez Isabel não estava lá para defender ele.

Pensei em Dylan, gritando "Não me proteja Alicia. Eu tenho uma esposa que deveria fazer isso". – Já aconteceu algo assim antes?

-Uma vez, até onde eu sei. E era apenas uma mulher, não doze – ela balançou a cabeça em desaprovação – Dylan deveria ter quinze anos. E a mulher em questão era uma das amantes de James, com três ou quatro vezes a idade de Dylan.

-Céus – gemi.

-Eu nunca soube o que aconteceu, com detalhes, mas estavam os dois sentados e Dylan parecia tão desconfortável – ela deu os ombros – Isabel o puxou de lá e exigiu uma revanche no xadrez. E perdeu a noite inteira, exigindo que eles jogassem até que ela ganhasse.

Pressionei os lábios contendo um sorriso – E eu adivinho que Isabel Venezza não é ruim no xadrez, não é mesmo?

-Ela venceu o rei Florence quando tinha sete anos – Alicia concordou, compartilhando um sorriso comigo – Enfim, depois disso Dylan passou semanas como um cachorrinho atrás dela. Em certo momento achei que ela o jogaria da janela.

-Eu não duvidaria – ri outra vez com Alicia, antes de perguntar – Acha que eles ficaram bem?

-Não é a primeira vez que eles brigam – ela deu os ombros – Mas eu gostaria de saber o motivo... – ela estreitou os olhos para mim – Bethany?

-Por que todos presumem que eu sei de algo? – perguntei exaltada.

Ela revirou os olhos – Dá para ver na sua cara que você sabe – ela riu – Mas tudo bem, talvez eu pergunte a Dylan em retorno a ter resgatado ele essa noite.

-Pelo menos ele não deve mais achar que você está irritada com ele – apontei, enquanto ela me estendia o jarro e eu pegava um biscoito.

-Ah, eu estou irritada com ele – ela grunhiu, puxando uma perna para cima da poltrona – E vou seguir irritada com ele se ele seguir se embebedando enquanto meu marido está em Paris por ordens dele.

-Então, depois que Apolo voltar ele está livre para seguir se embebedando? – brinquei.

Ela deu um sorriso travesso – Quando Apolo voltar eu mesma deveria pensar em me embebedar um pouco.

Não havia sequer dez pessoas no salão de café da manhã, onde eu me recolhi enquanto baixavam minhas malas – a maioria havia partido para Bordeaux o mais cedo possível, enchendo as estradas. Camille e eu dividimos uma mesa, comemos em um silêncio confortável para ambas e nos despedimos.

Segui para meu quarto pelos corredores menos movimentados com malas e baús, encontrando Annie em um corredor, andando de um lado para o outro e vestida para uma guerra – Não para luta-la, mas para comandar uma, com um blazer militar preto de ombreiras e medalhas douradas, cabelos amarrados e expressão irritada.

-O que?- ela grunhiu, quando sua visão periférica provavelmente notou minha presença.

-Desculpe, eu não queria incomodar – falei, baixando a cabeça e dando mais um passo para frente – Algum problema?

-Desculpe Bethany, eu achei que fosse... – ela respirou fundo, como se estivesse pronta para soltar uma série de xingamentos, mas em vez disso apenas falou – Vossa majestade.

-Vocês brigaram? – perguntei, ouvindo passos se aproximando – O que aconteceu?

Ela mexeu o nariz com irritação – Deveria perguntar isso para o seu futuro marido e o novo animal de estimação com prazer em ataque em massa que ele chama de tio! – ela gemeu, voltando a andar de um lado para o outro – O que aconteceu Fox, para você perder a porcaria do bom senso?

-Então... James? – esperei. Ela respirou fundo, tentando se acalmar, e assentiu com a cabeça.

-Sim, James – ela concordou – James, que sumiu com meu irmão por dias e fez lavagem cerebral nele – ela apertou com força a pasta vermelha em suas mãos – Eu sou o rei, Antoinette, ele diz. Eu faço as escolhas, eu dou as ordens. Eu não vou ser como o papai e ficar atrás de todas as mulheres na minha vida. Eu me pergunto se ele sequer acredita nisso. Papai era um home de verdade, que faria tudo pela família. Que morreu pela família.

-E isso foi... – tentei me lembrar das reuniões que aconteceriam naquele dia. A roupa de Annie ajudava muito. Conselho de guerra – Na frente dos generais?

-Você deve imaginar a reação naquela sala, certo? – ela riu sem nenhum humor – A general Raevsky, a russa lembra-se? Ela saiu furiosa da sala, dizendo que se ele não estava preparado para ouvir a opinião de mulheres ele estava pronto para lutar sem elas. E Fox ficou em silêncio, enquanto James ameaçava reduzir o exército Russo a pó com...

-Antoinette! – gritou Dylan, surgindo no corredor, e parando surpreso – Olá Bethany.

-Dylan – cumprimentei, enquanto ele se aproximava de nós mais calmo.

-Isso é um absurdo Dylan – ela arfou, com os olhos arregalados para ele – É monstruoso. Vai contra tudo sob o que a Eurásia foi construída.

-Eu sei, eu sei, acredite eu sei – ele grunhiu frustrado – Mas sair batendo os pés não ajuda em nada.

-Algum de vocês vai me explicar o que está acontecendo? – perguntei frustrada, olhando entre eles.

Annie engoliu em seco, me entregando a pasta vermelha – Isso.

Abri, folhando aos poucos a infinidade de mapas e desenhos estranhos, semelhantes a carros, mas quadrados e com grandes bicos erguidos. Uma palavra estava escrita em vermelho sobre um dos desenhos "Tanque". – O que é um tanque?

-É um carro de guerra – Dylan explicou – Foi usado nas três primeiras guerras mundiais. Lamarque Parish aboliu depois de decidir que a Eurásia deveria resolver seus conflitos sem destruir a si mesma.

-As paredes devem ser mantidas, e os homens devem matar seus próprios inimigos – Annie falou, apoiando uma mão na parede.

-Sim, ele falou isso também, pareceu bastante nobre naquele tempo – Dylan desfez com a mão – Um tanque mantém os homens protegidos, tem alto poder de fogo e tecnologia de contato a longa distância...

-Eu estou começando a achar que você está comprando essa loucura – Annie grunhiu para ele.

-Militarmente, é um projeto genial – ele deu os ombros – Mas a destruição que causa... A quantidade de inocentes feridos... De todo modo, eu prefiro a honra de encarar meus inimigos nos olhos.

-Isso é mesmo capaz de gerar tanto estrago? – perguntei, voltando para os desenhos anteriores.

-Mais do que você sequer é capaz de imaginar – Annie murmurou, e então olhou para Dylan – Vamos mostrar para ela.

-Mostrar o que... Não! – ele arfou, erguendo um dedo na frente dela – Nós concordamos nunca mais ir até lá.

-Ela vai ser rainha Dylan, ela precisa ver – Annie apontou para mim – Antes que seu pai convença meu irmão a construir uma nova bomba, talvez uma como a que destruiu a Austrália?

-Bethany... Gostaria de ver um desses de perto?- Dylan apontou para os papeis na minha mão. – Por favor, diga que não.

-Eu... – pisquei, olhando para Annie – Vamos.

Ela sorriu, me guiando pelos corredores sob os protestos de Dylan, até uma escada escondida atrás de outra escada, levando a intermináveis lances de escadaria cada vez mais para baixo do que parecia ser sequer possível.

-Que lugar é esse? – Arfei, quando finalmente paramos em um lugar parecia um galpão sem paredes, com o teto alto e iluminação fraca, centenas de peças aparentemente aleatórias espalhadas por todos os lados.

-Quando o palácio de Versalhes foi reconstruído, pareceu uma boa ideia colocar um andar subterrâneo para guardar todas as coisas mortais ou valiosas que alguém deve ter achado interessante – Dylan deu os ombros, enquanto eu girava em meio a pinturas e máquinas gigantes. Ele se apoiou em um objeto que parecia uma bala gigante, e Annie deu um grito – Isso é a carcaça de uma bomba atômica russa. Você sabe que nada aqui é perigoso de verdade, Antoinette.

-Isso não quer dizer que você deveria estar tocando em tudo – murmurou ela, revirando os olhos – De todo jeito, nós viemos para que Bethany pudesse ver...

-Ah, esse é meu favorito... A Monalisa, de Leonardo da Vinci – ele me puxou, animado, até um pequeno quadro – Já foi à pintura mais cara do mundo.

-Você nem queria vir até aqui – grunhiu Annie, passando o braço pelo meu e me guiando para trás de um par de aviões, e então – Esse, Bethany, é o monstrinho que James Bordeaux quer construir.

Meu coração parou por um segundo, enquanto o longo canhão daquele carro apontava direto para meu rosto. Engoli em grito, enquanto Annie me puxava e me explicava todas as formas como aquilo era destrutivo e Dylan murmurava detalhes de como funcionava aquele monstro prateado.

-Achamos que ele talvez fosse preto ou verde, mas que pintaram para que não se tornasse mais resistente ao longo dos séculos – Annie falou, erguendo a mão e depois recolhendo.

-É claro que como tudo aqui, não é mais funcional – Dylan lembrou a ela.

-Mas o que seu pai quer fazer é –deixei meus próprios pensamentos escaparem – Isso é uma insanidade.

-Foi o que eu disse – Annie suspirou balançando a cabeça.

Olhei para Dylan – Nós somos... Somos mesmo capazes de construir algo assim?

-Não se trata de construir um, mas de construir centenas – Dylan deu os ombros – Não acho que tenhamos recursos ou tecnologia para algo assim. Ou recursos para uma quantidade para colocar na guerra. Ainda mais sem a Rússia.

-Por que a Rússia é tão importante nisso? – perguntei confusa, olhando para um par de sapatos de solado vermelho, com uma placa escrita "Louboutin" na frente. Dylan também estava olhando para eles.

Annie pigarreou – Séculos atrás, a Rússia era uma das mais eficazes em termos de tanques de guerra – ela explicou – Não seria uma surpresa se ainda tivessem arquivos a respeito disso.

-Tornaria tudo mais fácil para meu pai – Dylan ponderou, ainda olhando para os sapatos – Nós deveríamos subir. Vão dar nossa falta logo.

-Você poderia leva-los – murmurou Annie, se afastando de nós – Não acho que alguém notaria.

Ele riu zombeteiro – Não acho que caberiam em mim, prima. Mas Fox deveria tentar, ele estava falando em pedir por dinheiro para esse projeto para alguém que adora sapatos.

Isabel ergueu uma sobrancelha quando entrei no quarto, cruzando com Sabrine que saia apressada – Então Bethany, será você quem irá me contar por que estão todos tão alvoroçados?

-Não sei o que quer dizer – falei, olhando em volta – Vim ver se precisava de ajuda com as malas, mas você parece ter se saído muito bem sozinha.

-Sabrine se fez útil, se dependesse dos empregados nada seria feito direito – ela desfez com as mãos – Então, o que aconteceu na reunião com os generais que fez todos se eriçarem de repente?

-Você provavelmente deveria esperar por Fox para perguntar isso, acho que ele irá pedir um favor a você – murmurei, enquanto ela fazia sinal para que eu me sentasse na cama – Embora Dylan...

-Se Fox quer algum favor meu – ela me cortou, pensativa – Isso quer dizer que ele precisa de dinheiro da minha família – ela continuou, franzindo os lábios – Eu imagino o que James deve ter negociado com ele nessa viagem, para conseguir apoio de Fox nessa ideia estúpida.

Pisquei – Por que você se dá ao trabalho de me perguntar?

-Por que não tenho espiões na sala do conselho, Bethany – ela grunhiu irritada – E não posso andar por ai e ver as intenções nos olhos das pessoas. Mas eu sei que James e Fox viajaram e sei que James tenta há anos procurar alguém para financiar esse projeto. Imaginei que um dia chegaria a Fox.

-Se acha tão estúpido, imagino que Dylan estivesse certo sobre não estar disposta a entrar nisso – falei esperançosa, mas ela me deu um olhar decepcionado antes de responder.

-Mesmo se eu fosse insana de investir em armaria militar que irá diretamente para o exército particular de James, e não para o de Paris por que sem duvidas ele convenceu Fox que isso passaria a imagem errada, como tentou convencer a mim anos atrás – ela pontuou, muito duramente – Nem minha mãe, nem Teodore ou minhas irmãs apoiariam isso. Bem, talvez Juliette apoiasse, mas James provavelmente sofreria um acidente em seguida e ela colocaria as mãos em tudo.

-Bem, isso é um alivio – assenti, olhando para ela enquanto ela fingia estar distraída com a colcha da cama – Estamos mesmo fazendo isso?

-Estamos – ela concordou teimosamente – Ah se estamos.

-Isabel... - suspirei – Não pode simplesmente fingir...

-Ah sim eu posso – ela firmou.

-... Que Dylan não existe – terminei, me irritando um pouco.

-Ele parece muito bem fingindo que eu não existo – ela resaltou olhando para mim – Sim, entrando as escondidas enquanto eu estou dormindo para buscar as coisas dele e entregando correspondências que ele não deveria ter aberto – ela engoliu as lágrimas que começavam a se formar no rosto dela.

-O que? – ergui uma sobrancelha, completamente alheia àquela conversa. Ela respirou fundo.

-Eu vou resolver isso – ela falou mais para si mesma do que para mim – Vou resolver tudo.

Engoli em seco, enquanto ela genuinamente se distraia olhando para o sol entrando pela janela – Bem, se você não precisa de mim eu deveria conferir que está tudo pronto antes da hora de partirmos. Que horas Teodore virá busca-la?

-Vocês vão sair na hora do almoço, certo? Ele deve estar aqui pouco depois. Sem dúvidas todos estaremos em Bordeaux para o jantar. – ela ainda estava olhando para o sol – Bethany pode me alcançar uma caixa da gaveta de cima da penteadeira? Teodore foi cruel o bastante para insistir que eu só poderia pega-la se me sujeitasse a usar a maldita cadeira de rodas.

-Por que não pediu para Sabrine? – perguntei, andando até a penteadeira e pegando a caixa e uma carta logo em cima dela, fora de seu envelope – O que é isso?

Ela me olhou feio – Veja por si mesma – ela grunhiu amargamente – Agora, a caixa Bethany.

-São exames médicos? – franzi a testa diante a todos aqueles termos, entregando a caixa para a mão estendida dela – É sobre a sua perna ou... – olhei a data, engolindo em seco – Esse é o dia depois que eu fui sequestrada.

-Você é brilhante Bethany – ela soltou a caixa na perna boa, respirando fundo – Antes que siga com as suas perguntas irritantes e inconvenientes, esse exame quer dizer que eu sou incapaz de engravidar.

Encarei-a boquiaberta – Você... Como assim, você estava...

-Semântica – ela grunhiu revirando os olhos – Que eu sou incapaz de levar uma gravidez até o fim. Eu sou uma bailarina. Meu ciclo menstruar nunca foi bom. Sem dúvidas a bebida não ajudou em nada. – ela abriu a caixa respirando fundo – Não acho que eu gostaria de ser mãe. De todo processo de engravidar. Dylan e eu seriamos péssimos pais, e agora ele tem mais um motivo para se arrepender desse casamento se ele quiser.

-Eu sinto... – comecei, mas ela me cortou com um olhar flamejante.

-Não sinta pena de mim Bethany, não é a coisa mais dolorosa que eu já perdi – ela desfez com a mão – Tudo ficará melhor se Teodore não estragar as coisas em Paris.

-Você sabe... – engoli em seco – Pode contar a ele se quiser. Sobre mim. Se isso ajudar a explicar por que escreveu as cartas.

Os olhos dela se encheram de lágrimas outra vez – Às vezes você é tão gentil que eu esqueço que tenho que odiar um pouquinho você como faço com todos os outros Bethany. – ela deu um sorrisinho antes do rosto ficar sombrio outra vez – Mas nada disso importa. Dylan não quer explicações ou desculpas. Ele só quer apontar dedos e se sentir melhor e mais honrado do que todos agora que voltou do exército. Só quer acreditar que alguns meses faz um homem honrado. Há, meu pai era um homem honrado.

Sorri enquanto ela seguia falando, incapaz de concordar com ela, mas aliviada por ela estar colocando tudo aquilo para fora ao invés de seguir fingindo que não havia um problema ali.

Ela estalou os dentes uns contra os outros – Só é mais fácil para ele se convencer que ele não quer uma esposa traidora do que admitir que não quer uma esposa que não pode mais desfilar ao lado dele, que não é mais um troféu em um palco ou sobre um cavalo. Que ele mal pode foder e é incapaz de dar um filho para ele. Dylan que pegue o moralismo dele e case-se com a garota com quem ele trocava beijos na montanha enquanto eu achava que o idiota estava morto se quiser – ela tirou uma seringa de líquido brilhante da caixa, preenchida apenas pela metade, e ergueu contra a luz – Nada vai importar quando eu voltar a andar.

-O que é isso? – arfei, observando seringa preenchida com líquido cinza-prateado de dentro da caixinha. Ela desfez com a mão – Cameron disse que você não estava mais tomando remédios.

-Isso não é um remédio – ela dobrou o trono para frente, enfiando a seringa no tornozelo e apertando. Quando ela tirou, tinha um quarto da seringa preenchida – Talvez seja melhor chamar de cura.

Ergui uma sobrancelha, observando ela mexer os dedos da perna ferida e por fim girar o tornozelo lenta e longamente, com um suspiro de alivio. Olhei novamente para a caixa onde ela guardava a seringa, a tampa de madeira com uma pintura desbotada. Metade coberta com a bandeira da Itália e metade com uma bandeira com listras brancas e vermelhas, e estrelas em um fundo azul.

-Onde você conseguiu isto? – Engoli em seco – Isabel, o que tem naquela seringa?

-Isso não é da sua conta, Bethany – ela grunhiu irritada – Você não tem que ir para Bordeaux escolher flores ou qualquer outra merda além de ficar se escondendo no meu quarto como um cachorrinho perdido?

Esperei – Eu não vou sair daqui até você dizer o que é isso. – ela revirou os olhos e fechou a caixa, me ignorando completamente – Você tem um segredo meu. É o justo, não?

-Você é irritante. Antes da terceira guerra mundial um vírus que matou milhões fez que cientistas do mundo inteiro se unissem a procura de uma cura perfeita para todos os males – ela cedeu, respirando fundo – China, Inglaterra, Alemanha, dezenas de países que os nomes foram esquecidos há muito tempo... Mas a aliança que chegou mais próxima de conseguir essa cura universal foi a da Itália com os Estados Unidos. Então vieram as guerras, alianças foram feitas e desfeitas, e o projeto foi esquecido, com doze amostras imperfeitas nas mãos do avô da minha avó. Quatro foram usadas desde então...

-Meu pai se recusou a trazer seringas quando veio para Paris – ela explicou – Não que tivesse feito diferença, imagino, não é algo que possa reverter à morte ou reconstruir um membro amputado. Sei que minha avó usou quando foi atingida por uma doença extinta após minha tia nascer. E sei que minha família cedeu uma à avó de Fox quando ela foi envenenada. Minha mãe sempre viaja com três delas. Teodore me deu uma, e levou outra para Paris, para que minha tia possa tentar replica-la.

-Sua tia?- franzi a testa, confusa, e isso a fez ao menos rir.

-Minha tia é formada em química Bethany, passou quatro anos em Cambridge estudando fórmulas, balé e anatomia – ela explicou, rindo cruelmente – E teve amantes que se dedicaram muito mais ao ramo do que ela. Quando usamos no primeiro dia, consegui caminhar por quase uma hora inteira sem dor dentro do quarto. Teodore acha que se eles conseguirem aperfeiçoar a fórmula talvez em alguns meses eu possa voltar a dançar, mas mesmo se só conseguissem replicar o que tem agora eu só precisaria de dois ou três meses para poder caminhar novamente.

-Isso é ótimo – falei, animada. Ela negou com a cabeça.

-É uma fórmula confusa, cheia de ingredientes que talvez não sejam mais possíveis de ser encontrados – ela respirou fundo como se afastasse um pensamento ruim – Minha tia é boa no que faz. Ela teria conseguido quando fraturou o joelho se minha mãe tivesse enviado uma amostra da fórmula para ela, e ela tem essa amostra agora.

Assenti, olhando assustada para a porta quando essa se abriu e Sabrine surgiu com um maço de folhas nas mãos – Não vai acreditar o que encontrei no quarto de Teodore.

-É melhor eu ir, está quase na hora de partir – falei, me afastando, enquanto a mais nova pulava no lado vazio da cama. Sorri ao deixar o quarto. Ao menos, havia esperança.

Olá pessoal, só queria avisar que o livro de contos "A Imagem Perfeita" foi postado, e já estamos começando com o conto da Alicia e do Apolo em 5 capítulos. Acompanhem aqui: 

https://www.wattpad.com/story/146109436-a-imagem-perfeita-histórias-de-a-rainha-da-beleza

Estamos chegando na reta final de O Que o Espelho Diz - Só mais três capítulos pessoal - Não esqueçam de votar e comentar e até mais!

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