Eu quero esquecer que ainda sinto sua falta.
Esquecer que meu coração ainda te deseja.
Esquecer tudo em meu coração.
Eu gostaria de nunca mais vê-lo e desejá-lo novamente.
Harry mal viu as semanas passarem. Tudo que ele fazia era ficar trancado no quarto, comer de vez em quando, ter pesadelos e chorar o dia inteiro.
Louis vinha todos os dias no mesmo horário, e todos os dias ele parecia um pouco mais acabado, havia olheiras profundas em seus olhos, seus lábios estavam pálidos e seus cabelos estavam bagunçados. Styles tentava não olhar para ele, apenas encarava algum outro canto do quarto e esperava que ele fosse embora. Tomlinson apenas sentava-se na poltrona perto da cama e ficava calado o tempo todo, sabendo que o cacheado não queria falar com ele. Mas apesar de ser rejeitado todos os dias, ele sempre retornava no dia seguinte e fazia a mesma coisa.
Louis levantou-se da poltrona e olhou para Harry, que estava deitado na cama, virado para o lado em que o príncipe não estava em seu campo de visão.
– Eu volto amanhã no mesmo horário.– Louis falou, caminhando em passos calmos até a porta.
– Eu disse para não voltar.– Styles falou. Seu coração se quebrava todas as vezes que ele magoava o amado daquele jeito, mas ele sabia que tinha que fazer com que Louis o deixasse ir. Harry sabia que tinha que virar alguém que não significava nada para o príncipe, só assim ele conseguiria dormir em paz, sabendo que nunca mais ninguém arriscaria a vida para salvá-lo.
Todas as noites, absolutamente todas as noites, Harry sonhava com Alexander entrando na frente da espada. Era sempre o mesmo sonho e sempre terminava do mesmo jeito. Algumas vezes, o cacheado até conseguia sentir o peso do corpo do príncipe em cima do seu, e ele não conseguia se mexer, queria gritar, mas nada saía de sua garganta. Ele se afogada no sangue de Alexander em seus sonhos, e aquilo estava lhe corroendo aos poucos. Se ele soubesse que sairia do sofrimento de seu século apenas para experimentar o sofrimento, mil vezes pior, no século XVIII, Harry jamais teria feito aquele pedido para a divindade.
As criadas tiveram que deixar um balde de água dentro do quarto, pois toda noite Harry acordava em pânico achando que ainda estava banhado do sangue de Alexander, então ele lavava as mãos e os braços repetidas vezes, até que sua pele ficasse vermelha e começasse a arder.
– E eu disse que volto amanhã no mesmo horário.– Tomlinson falou, ignorando completamente os pedidos de Harry para que ele não viesse o visitar. Não importava o quanto o cacheado lhe mandasse embora e pedisse para que nunca mais voltasse, deixar Harry ir não era uma opção para Louis.
O príncipe soltou um suspiro cansado, passou pela porta e a fechou com calma. Ele se dirigiu a sala do rei, pensando em que tipo de trabalho Thomas teria para ele agora.
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Noah não estava nenhum pouco melhor que Harry. Ele passava os seus dias em seu quarto, sentado perto da janela, encarando as mesas e cadeiras no jardim, onde ele, Harry e Alexander costumavam se sentar no final da tarde e observar o pôr-do-sol. Além disso, seu irmão também estava em seus sonhos todas as noites. O quarto príncipe sonhava com a mesma coisa repetidas vezes. O fato de ter sido incapaz de salvar o próprio irmão lhe matava aos poucos, ele lutou tudo que pôde, deu seu melhor, e mesmo assim não foi capaz de salvá-lo.
Além disso, havia seu outro irmão, Robert. O mais velho dos príncipes sempre havia sido como um pai para todos eles, ele os acolheu e os apoiou em todas as decisões de suas vidas. No fim, Robert acabou sendo traído pelo próprio irmão, e ele morreu sem saber disso. Noah não conseguia parar de pensar nisso em nenhum momento, sua família tinha praticamente desaparecido.
Louis o vinha visitar também, e diferente de Harry, Noah se comunicava com seu irmão. Louis lhe dava forças para continuar, mas no fundo o quarto príncipe sabia que o outro estava tão destruído quanto ele. O mais velho não teve tempo para ficar de luto, ele teve que se recompor o mais rápido possível, sem poder derramar uma única lágrima. Louis estava aguentando tudo aquilo calado porque ele tinha que proteger as pessoas mais importantes de sua vida, que naquele momento eram Harry e Noah.
– Ele vai voltar a falar com você.– O quarto príncipe disse, sem olhar para o irmão, apenas encarando a vista pela janela. Ele apenas conseguiu ouvir o suspiro cansado de Louis.– Ele ama você.– Noah falou e o outro rapaz quis rir, Louis não tinha mais tanta certeza que Harry realmente o amava.
Antes daquilo tudo acontecer, Louis estava planejando deixar o castelo, ir morar em alguma cabana no meio da floresta com Harry e passar o resto de suas vidas juntos. Ele até estava buscando pela aprovação de Robert, antes que o irmão mais velho ficasse doente.
– Eu devo ir.– Louis passou pela porta, deixando novamente Noah sozinho com as suas memórias.
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Não era permitido que Styles saísse do quarto, ele estava sendo vigiado por guardas vinte e quatro horas por dia, mas não é como se ele realmente quisesse sair, até porque mesmo se quisesse, ele não tinha forças o suficiente para sair da cama. O máximo que ele conseguia era perambular pelo quarto e voltar a se deitar minutos depois.
Ele continuava a pensar em como tudo tinha dado errado. Como as coisas haviam chegado naquele ponto? Ele não se lembrava daquela parte da história, tudo que ele sabia era que Louis se tornaria rei em 1734, e ainda faltava um ano para que aquilo acontecesse. Thomas realmente virava rei na história original ou a história estava mudando? Talvez seus professores de história tenham citado Thomas e Robert antes e ele não tenha escutado, pois estava ocupado demais dormindo em cima de seu livro.
Tudo que ele sabia era que tinha que manter Louis seguro até 1734. Harry não podia deixar que Tomlinson arriscasse sua vida para salvá-lo e acabasse morrendo. Daqui a alguns anos quando a Inglaterra mais precisasse, Louis estaria lá para levá-la ao auge de sua riqueza e poder.
O pensamento de ter que algum dia segurar o corpo sem vida de Louis em seus braços o matava. Harry sentia como se fosse uma facada em seu coração, ele jamais conseguiria conseguiria se recuperar se algo assim acontecesee. Talvez Styles também tinha começado a amá-lo mais do que deveria, mais do que sua própria vida. De repente, o príncipe havia se tornado tudo que mais importava em todo o mundo.
Com esses pensamentos, as lágrimas começaram a cair devagar, uma por uma, até que ficassem descontroladas e ele não conseguisse mais segurar o choro. Ele amava Louis, queria passar sua vida inteira com ele, mas sabia que não era possível, que não importava o quanto ele tentasse, Tomlinson estava fora de seu alcance. Como ele pode se apaixonar por Louis? O erro foi seu desde o começo. Como ele pode achar que eles iam poder ficar juntos? Harry se sentiu um idiota por ter deixado seu coração o guiar. Agora ele sabia que seu coração pertencia unicamente e exclusivamente ao príncipe, e não tinha como pegá-lo de volta.
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Mais uma semana se passou, como todas as outras semanas. Styles ainda tentava de todas as formas ignorar a presença de Louis, quando ele vinha o visitar.
– Quando você vai voltar a falar comigo? – Tomlimson perguntou. Era a primeira vez que ele tinha dito algo aquela semana toda. Normalmente, ele só vinha, sentava-se na poltrona e ficava quieto, apreciando o silêncio entre ele e Harry, porém, naquele ponto ele já estava tão magoado que ele tinha que perguntar. Nenhuma resposta veio, então ele continuou.– Eu sei o que você acha sobre eu servir Thomas. Eu entendo. Eu também o odeio, mas essa é a única forma que eu achei pra proteger você e Noah. E quanto a Alexander....– Ao tocar no nome do irmão mais novo, Louis não conseguiu continuar. Harry finalmente virou para encará-lo, coisa que ele não tinha feito a semana toda.
– Ele tinha dezessete anos, Louis. Ele era uma criança.– Styles disse, sua voz mostrava claramente que ele estava próximo de chorar.
– Eu sei...– Louis disse. Passou a sua mão por seu rosto cansado e depois pelos cabelos.
– E aquele desgraçado o matou. Ele tinha dezessete anos, uma vida inteira pela frente.– Harry sentou-se na cama, dessa vez sentando-se cara a cara com Tomlinson, seus olhos já estavam vermelhos.– Você quer saber o que eu fico fazendo nesse quarto o dia inteiro? Eu continuo imaginando os dias que Alexander nunca vai ter. Eu nunca vou conseguir ensiná-lo o truque de ganhar no xadrez, ele nunca vai conhecer o amor da vida dele, nunca vai se casar e nunca terá filhos. Ele está preso em algum lugar escuro para sempre, e isso dói demais. Você não tem nem ideia disso. Enquanto isso você está lá, servindo ao homem que o matou.– Styles apontou o dedo na direção de Louis, como forma de acusação.
– Eu já disse que eu sei, Harry! – Tomlinson se levantou e caminhou até Harry, ele segurou em seus ombros e o sacudiu.– Pare de achar que você é o único sofrendo. Você pode parar de ser tão egocêntrico? Ele era meu irmão. Robert e Alexander eram meus irmãos. Eu não tenho dormido há dias, e você sabe o porquê? Porque eu continuo ouvindo gritos me chamando para salvá-los. Não importa o quanto eu tente, jamais serei capaz de alcança-los.– Louis deixou suas mãos saírem dos ombros de Harry e ele se afastou, sabendo que não deveria descontar sua raiva no cacheado.– Robert era meu confidente para a vida inteira, eu não precisa dizer nada e ele sabia exatamente o que eu estava pensando. Alexander era meu irmãozinho, apesar de eu nunca ter dito ou demonstrado, eu o amava. Fui treinado a minha vida inteira para proteger essas pessoas, e quando eles mais precisaram de mim, eu falhei. Eu sei que Alexander está em algum lugar escuro para sempre, porque ele continua chamando por mim todas as noites, ele continua esperando pelo seu irmão mais velho para salvá-lo, e eu não consigo... Eu não consigo alcança-lo, Harry. Eles estão tão distantes...
Louis deixou as memórias de quando ele e Robert eram crianças invadirem sua mente. Ambos corriam pelo castelo todo, todo dia era uma festa para os dois, Johannah quase ficava louca tentando segurá-los.
– Quando crescermos e eu me tornar rei, você vai ficar ao meu lado, certo? – Robert perguntou, os dois estavam sentados em umas pedras perto do rio. Johannah estava do outro lado sorrindo para os dois. Louis não disse nada, então, Robert o cutucou.
– Hummm.– Ele assentiu com a cabeça. Não sabendo muito bem como se expressar.
Aquelas memórias se desfizeram e algumas novas começaram a surgir em sua mente.
Quando Johannah teve Alexander e acabou morrendo durante o parto. Louis estava destruído, tinha chorado escondido de seus irmãos em seu quarto, porém, Robert acabou o encontrando, agarrou em seu braço e o arrastou para um lugar.
– Você deveria conhecer Alexander.– Robert falou, quando pararam em frente ao berço do recém nascido. Louis o observou, os olhos do bebê eram azuis como os seus e eles o encaravam diretamente. O príncipe herdeiro retirou a criança do berço, a segurou em seus braços e tentou entregá-la para Louis.
– Acho melhor não.– Louis negou, cruzando seus braços.
– Vamos! Você tem que segurá-lo.– Robert passou o bebê para os braços de Louis. O segundo príncipe o segurou cuidadosamente, tentando não perturbar a criança.– O nome dele é Alexander Levy Tomlinson. Era assim que mamãe queria que ele se chamasse.– Louis olhou para a criança em seus braços e tentou conter o sorriso ao vê-lo bocejando. Os olhinhos dele se fecharam devagar enquanto o segundo príncipe o balançava devagar.
Agora Alexander tinha dezessete anos para sempre. Todos eles continuariam a envelhecer, mas Alexander sempre teria dezessete anos. Sua vida tinha parado ali. O bebê que Louis segurou em seus braços estava perdido para sempre em algum lugar.
Louis caiu de joelhos na frente de Harry, as lágrimas caindo sem parar, ele chegava a soluçar. Styles tinha certeza de que qualquer pessoa que passasse pelo corredor conseguiria ouvir o choro do príncipe. Foi ali que Styles percebeu que estava sendo egoísta esse tempo todo. O cacheado estava machucado por ter perdido Alexander, mas e quanto a Louis? Aquela era a família dele, as pessoas que estavam com ele desde sempre.
– Venha.– Harry chamou. Louis o olhou ainda com seus olhos cheios de lágrimas.– Eu vou te abraçar.– Styles abriu os braços e esperou que Tomlinson viesse, o que não demorou muito. Louis foi direto para os braços do cacheado, ainda chorando muito. O príncipe deixou seus braços envolverem o corpo do cacheado o mais apertado que pôde.
Encoste nas minhas costas
Chore mais uma vez
Emprestarei minhas costas sem perturbar suas lágrimas
Seja vulnerável mais uma vez.