As Damas de (Des)Honra

By jaque_dsb

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"Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a vingança nos separe." A vida de Susan nunca tin... More

CAPÍTULO 1 - Susan
CAPÍTULO 2 - Susan
CAPÍTULO 3 - Susan
CAPÍTULO 4 - Susan
CAPÍTULO 5 - Liam
CAPÍTULO 6 - Susan
CAPÍTULO 7 - Liam
CAPÍTULO 8 - Susan
CAPÍTULO 9 - Susan
CAPÍTULO 11 - Susan

CAPÍTULO 10 - Susan

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By jaque_dsb

"Quando eu te vi pela primeira vez

Me encantei com o seu jeitinho de ser

Seu olhar tão lindo me fez viajar

Vi no seu sorriso imenso mar ..."

Grades Do Coração - Grupo Revelação

 

- Você pode dormir aqui se quiser, Mel. - Tentava convencer minha amiga a dividir o imenso quarto comigo.

Seria melhor não deixá-la sozinha com uma Susany solta pela mansão. Eu estava preocupada com o bem-estar da minha irmã, já que enfrentar Mel furiosa resultaria em, pelo menos, três cirurgias plásticas na cara.

- Relaxa, flor. Vai dar tudo certo! Não vou destruir a noiva ainda. - Deveria me preocupar com esse "ainda" na frase, mas eu também queria ver o circo pegando fogo. Mel sentou na enorme cama.

O quarto continuava o mesmo, nada tinha mudado. Por um momento, cheguei a pensar que mamãe e Susy deveriam tê-lo transformado em algum tipo de salão de beleza ou spa. Mas a surpresa foi tamanha ao perceber que tudo permanecia do mesmo jeito, como se eu tivesse saído da Itália ontem.

Imersa em pensamentos, escutei alguém bater na porta do quarto e fui atender. Antes de notar quem era nosso convidado, já me encontrava nos braços de papai. Seu perfume familiar de Acqua di Selva rodava pelo ambiente; sua cabeleira grisalha estava tão cheia quanto meses atrás; seus 1,87 de músculos mais encorpados do que eu achei ser possível. Mesmo beirando aos cinquenta e cinco anos, ele continuava sendo um dos homens mais bonitos que já vira.

Meu pai e meu melhor amigo. Eu sentia falta dos apertados e calorosos abraços toda manhã, do grande sorriso de bom dia, dos conselhos rotineiros quando o mundo parecia errado. Eu havia sentido falta do meu pai.

Nossa ligação terminou mais rápido do que queria. Ele pôs suas grandes mãos no meu rosto e sorriu daquele jeito que iluminava a escuridão.

- Minha menininha, que saudades eu estava de você! - Abraçou-me de novo. - Você ficou mais bonita nesses meses.

-São seus olhos, papai. - Beijei sua bochecha, puxando-o para dentro do quarto. - Como o senhor está?

- Bem melhor, principalmente, sabendo que está aqui.

- Eu preciso te apresentar uma pessoa. - Arrastei-o até Mel.

Minha amiga havia se levando e estava parada tensa ao lado da cama. Seu corpo mostrava sinais evidentes de inquietude. Percebi o quanto estava nervosa, chegava ao ponto de ser cômico. Mel Cardoso com medo de conhecer meu pai? Coloquei a mão no seu ombro.

- Fica calma, raio de sol! É apenas meu pai. - Ela acenou e se aproximou do grande homem.

- É uma honra conhecê-lo, senhor! - Caramba, a doida só faltou bater continência.

- Você fez um ótimo trabalho cuidando da Susan durante esses anos, Mel. - Papai apertou sua mão com firmeza, respeitoso. Ela parecia emocionada pelo elogio. - Vou sempre estar em débito com você.

- Não precisa se preocupar, senhor! Eu só fiz meu dever.

A situação não poderia ser mais hilária, tanto que ambos esqueceram minha presença no quarto. Eu estava tentando entender de onde veio essa lealdade absurda, já que os dois haviam acabado de se conhecer. Mais inusitado que isso? Só escutar a própria voz num áudio qualquer e depois pedir desculpas as pessoas que já tiveram o desprazer de te ouvirem falando.

- Pai, relaxa, posso me proteger sozinha. - Eles se voltaram para mim, como se, de repente, tomassem consciência da minha companhia. - Não é como se Mel fosse minha guarda-costas.

Senti quando ambos estremeceram e me fitavam assustados. Caramba, será que nenhum deles sabia o que era descontrair?

- Gente, calma, eu só estou brincando! - Sorri na intenção de apaziguar a situação. Os dois se miravam ainda incrédulos. Eu hein! Que povo doido.

- Vocês querem comer alguma coisa? - A voz do meu pai ainda mostrava evidências do nervosismo. - Podemos pegar algo na cozinha. Pelo visto, teve gente que esqueceu de fazer o almoço nessa bagunça toda.

- Claro. Mel e eu só vamos trocar de roupa e o encontraremos lá em baixo.

Papai acenou e saiu apressado. Quando me virei para conversar a sós com minha amiga, ela já batia a porta do banheiro da suíte, levando a mala consigo. Totalmente perturbada, pensei incrédula.

Enquanto esperava a doida sair, optei por um short preto, salto alto discreto e uma blusa bege de mangas compridas, com o ombro vazado. Deixei os cabelos soltos para valorizar meu rosto proporcional e passei uma maquiagem sutil, nada tão exagerado. Sorri com o resultado. Vivendo na casa da inimiga, seria melhor estar preparada para sambar na cara dela.

Minutos depois, Mel deixava o banheiro com um vestido escuro, colado ao corpo, que valorizava suas curvas perfeitas.

- É sempre bom estar inatingível para as rivais.

Sorrindo, seguimos para a cozinha. Como papai havia dito, ninguém tinha preparado o almoço. Numa mansão imensa, o povo decidiu não se preocupar em comer. Que calamidade! Como alguém esquecia a comida?

Por sorte, havia petiscos de variados formatos e gostos, provavelmente, feitos para o noivado da noite. Mel e eu nos entreolhamos por meio segundo, depois atacamos a mesa farta. Papai chegou minutos depois, achando graça das nossas caras e bocas, e acabou por nos acompanhar na refeição improvisada. Não tinha percebido o quanto estava faminta, até o primeiro salgado de camarão tocar minha língua. Caramba, isso aqui é o paraíso. Obrigado aos deuses da comida por terem me dado paladar.

O momento estava tão bom que, por um minuto, esqueci que me encontrava em território hostil. Eu tinha nome para aquele tipo de situação: U-R-U-C-U-B-A-C-A. Assim mesmo, escrito em maiúsculo, negrito, itálico, sublinhado e todos outros designs do Microsoft Word que eu tenho o direito de usar.

Mamãe, Susany e a modelo da Tiffany entraram na cozinha, como uma cópia fidedigna das Panteras ou das Três Espiãs Demais. Rita parecia estar feliz ao nos ver, a socialite estava confusa com nossa presença e Susy... Bem, continuava nos tratando como ratos inferiores.

- Vocês não foram apresentadas à Gisele ainda. - Claro que o nome dela seria Gisele! Não duvidaria se o sobrenome fosse Bundchen também. - Ela é a cerimonialista de todo o casamento.

Um sinal de alerta ressonou por minha cabeça. Cerimonialista? Interessante!

- É um prazer conhecê-la, Gisele! - Sorrindo, apertei sua mão. Quem sabe ela possa ser uma nova e futura aliada. - Sou Susan, a irmã favorita da noiva e uma das damas de honra. - Comentei irônica e percebi o momento que Susy revirou os olhos.

- É a única que tenho e, ainda por cima, gêmea. Deveria ser considerado crime e um pecado gravíssimo meu rosto pertencer a você também. Então, eu não diria que é a favorita. Se papai tiver outro filho, mesmo que ele seja algum tipo de prisioneiro ou mafioso, com toda certeza, será meu irmão favorito.

Papai engasgou com o suco de maracujá.

- De onde você tirou uma história dessas, Susy? - Como resposta, ela apenas deu de ombros.

A cerimonialista, que não percebeu ou ignorou as farpas trocadas por nós duas, somente escreveu algo na prancheta que trazia consigo.

- Então, você, Ada e Lucile serão as damas de honra?

Credo, já tinha esquecido do trio parada dura. Não acredito que elas ainda são amigas, mesmo depois de tantos anos. Não basta aguentar uma, tenho que sobreviver às três, ainda mais sabendo que estaremos no mesmo lugar e ao mesmo tempo. Oh, carma, por que não me abandona logo?

- Sim, mas a Mel será uma também. Nesse caso, seremos quatro damas de honra. - Lancei um olhar para minha amiga que comia algum tipo de pastel. - Já que, pelo visto, eu não mereço ser madrinha da minha própria irmã piranha. - Sussurrei a última parte, mas Gisele deve tê-la ouvido, uma vez que arregalou os olhos.

- Eu pensei que você fosse a madrinha. - A cerimonialista frangiu o cenho e se virou para Susy. - Sua irmã não seria a madrinha?

- Amada, só se for a madrinha do Belzebu. Até parece que eu aceitaria uma cópia horrível e malfeita de mim mesma ao meu lado no altar.

Se ela tivesse arrancado meu coração e o restante dos outros órgãos, doeria menos, sem dúvida alguma. O mais engraçado de tudo nessa comédia romântica, é que ninguém, nem mesmo papai, sequer notaram o quanto eu fiquei machucada com as palavras duras da minha irmã. Apenas Mel, que me conhecia tão bem, percebeu minha chateação. Acho que Susany sentia prazer em me ver desestabilizada. Porém, ela não sentiria o gostinho de me ver sofrendo ou magoada. Recompondo-me, procurei seu olhar, totalmente imparcial.

- Sabe, Susy. Acho que, no caso, você que deveria ser considerada uma cópia horrível e malfeita de mim. - Bebi um gole do meu café com leite. - Até porque, quem chegou ao mundo primeiro foi eu. E se perguntassem numa revista de moda, eu seria considerada a mais bela, já que essa sua plástica não foi uma das melhores. - Sorri, tendo 100% de sua atenção agora. Ela achava que eu não perceberia o afinamento do nariz? Pelo amor de Deus, nós somos GÊMEAS! - Você deveria processar o cirurgião que fez esse rombo na sua cara, minha irmã. Ele te deixou mais feia que o Chuck.

Horrorizada e desesperada, Susy levou a mão ao nariz. Lágrimas já brilhavam e escorriam por suas bochechas. Histérica, correu para os braços de mamãe. Depois, eles diziam que eu era a dramática da família. Susany parecia uma criança de 28 anos descontrolada e mimada. Todo esse dramalhão por uma simples plástica tosca? Ave Maria!

Para completar a mini vingança, acabei por lembrar das suas últimas palavras dirigidas a mim ainda naquela manhã.

- Credo, Susy, sempre fraca e sentimental. - Disse com a voz falsamente doce. - Quando você crescerá? Estou louca para descobrir - Sorri pela maldade cometida. Eu já estava com minha vaga no inferno garantida.

Minha deusa interna reluziu quando Susany finalmente reconheceu as palavras. Como eu queria registrar o momento da sua raiva em uma foto. Como resultado, a marmanja chorou mais no colo de mamãe.

- Você está linda, minha filha. Susan estava só brincando! - Rita buscou meus olhos a procura de ajuda. Meus queridos, longe de mim acudi-la nesse momento, eu quero mais é que o parquinho pegue fogo.

- Não... - Comi outro salgado. - Não estava brincando, não!

Susany caiu em desespero mais uma vez e mamãe me censurou com apenas um olhar. O que eu fiz agora? Todo mundo viu que foi ela que me atacou primeiro. Não é justo apenas eu sair de errada na história toda. Contudo, o prazer de vê-la desesperada era mais integro que todas as ilegalidades dessa vida injusta. Como queria ter uma pipoca grande agora para assistir de camarote sua angustia. Papai e Mel disfarçavam o orgulho, mas era visível em seus olhos. E... GOOOOOOOOLLLL! 2 a 1 para Susan, a empresária.

O nariz de Susy escorria e sua maquiagem estava estragada. Mamãe apenas lançou um olhar para o grande Lorenzo, o suficiente para fazer nós dois estremecermos. Como solução, papai abraçou a outra filha, tentando confortá-la.

Mirando os três abraçados, reparei no quanto pareciam uma família feliz sem mim. Uma família pequena, mas unida. Eu não deveria pertencer aquele quadro pintado; eu nunca fui um deles e nunca seria, dado que foram 10 anos distante, sem o amor e a convivência de uma mãe e irmã. Os ciúmes e a inveja assolaram, pois, mais uma vez, Susany tinha tudo aquilo que eu sempre quis: uma casa com pais que, realmente, a amavam. Então, ela tinha tudo.

O ambiente da cozinha me sufocava agora. Eu era a intrusa ali e não merecia furar aquela bolha familiar. Senti lágrimas de tristeza queimarem meus olhos. Levantei e me dirigi à saída.

- Sul, onde você vai? Quer que eu a acompanhe?

- Não, prefiro ficar sozinha agora. - Respondi para Mel, ainda de costas. Continuei meu percurso para fora daquela fábula alegre e intima.

- Não esquece que precisamos de você aqui à noite para o noivado. - O grito de Gisele ainda me encontrou no meio do caminho, mas apenas ignorei tudo e todos ali.

Eu me sentia vazia e solitária, como se, de repente, a verdade cintilasse na minha frente: nunca fiz parte daquela família. Eles continuaram suas vidas, - Susy iria até se casar - como se eu não passasse de uma pedra no meio do caminho. Os versos de Carlos Drummond de Andrade nunca tiveram tanto significado. E somente eu permanecia ferida, vivendo eternamente naquele passado doloroso.

Quando percebi, os ventos secos da estação abraçavam meu rosto nas ruas do bairro. Os vigias fizeram pouco caso quando atravessei os portões de casa, queria ver se algum deles teria coragem suficiente para me deter.

Suspirando, levantei a cabeça e fechei os olhos. Até o local permanecia do mesmo jeitinho de sempre. Poderia me guiar por essas ruas de olhos fechados que não me perderia, eu era o próprio mapa ambulante da cidade de Florença. Quando me sentia insignificante, aguentar mamãe ou Susy dentro de casa estava fora de cogitação. Então, extravasava horas do dia passeando pela cidade. Foi assim que conheci o Pietro's Caffè e era para lá que seguia nesse exato instante.

Assim que ultrapassei as enormes e brilhantes portas de vidro, o cheiro familiar de capuchino dançou valsa comigo. O recinto era um conjunto de cafeteria, bar e livraria, tudo misturado num ambiente só. O local havia sido redecorado, mas sua essência moderna e clássica ainda prevalecia; os funcionários velhos foram substituídos por novos e o espaço aumentado.

De vez em quando, era bom provar um bom café e entrar num mundo novo com a leitura. Contudo, nesse momento, apenas segui em direção ao bar requintado. Não que eu seja considerada uma cacheira, mas o álcool servia para apaziguar a dor, e agora, eu precisava urgentemente de uma overdose de tequila. O barman magrelo, percebendo que eu não estava para conversa, apenas me serviu um copo.

E lá estava eu, mais uma vez, em uma rodada de autodepreciação, escutando música ambiente italiana. A ideia inicial e principal sempre foi superar e destruir os "felizes para sempre" da minha irmã perfeita, mas ninguém teve a ousadia de dizer que seria tão doloroso.

Susany tomava os chás das sete com a Cinderela, Branca de neve, Rapunzel e todas as princesas famosas e lindas da Disney, enquanto eu fazia a reunião dos vilões, junto à Rainha Má, Lady Tremaine, Úrsula e os outros personagens mais odiados. Sempre fui e serei a Dolores Umbridge de Harry Potter, sem perdão ou alforria capaz de me transformar numa boa pessoa perante minha família. Mesmo se minha irmã fizer merda, a culpada será eu por não ter conseguido freia-la no tempo certo. Vida ingrata!

- Acho que ainda não deveria ser a hora para uma bela moça encher a cara com tequila. - Uma voz rouca e sexy arrepiou os pelos dos meus braços e deixou partes do meu corpo em estado de inquietude.

Eu já conhecia aquele papinho chulo. Ele sentaria ao meu lado, tentaria me pagar uma bebida, puxaria assunto e, algumas rodadas depois, estaríamos os dois nus em algum quarto de hotel em Florença. Mas hoje, minha disposição para flertar era mais escassa que ações do Governo. Ainda de costas para o convidado, disse incisiva:

- Não quero que sente ao meu lado, nem me pague uma bebida. Não vamos dormir juntos e eu não estou com ânimo para suportar macho alfa com algum tipo de mentalidade viril e tosca sobre mulheres que bebem sozinha num bar da cafeteria. - Verti o pequeno copo de tequila enquanto estralava os dedos. - Já pode se retirar agora.

Por um momento, cheguei a pensar que o ser realmente atendeu meu pedido. Ilusão tola e ridícula! Captei o exato instante em que o vulto sentou no banco vago ao meu lado. Então, ele era do tipo insistente? Credo, pior tipo de homem! Estava pronta para soltar os cachorros em cima do indivíduo, mas congelei no certeiro tempo que prendi meus olhos nos seus.

Caralho, mãe natureza! Não me diz que estava chovendo homens bonitos nessa calorzão de Florença e eu perdi a ocasião!

Ele tinha o corpo daqueles modelos da Ford Models Brasil, braços músculos e mãos grandes e delineadas, que pareciam ser bem maciais. Seus cabelos escuros e lisos salientavam o rosto másculo e duro como se tivesse saído de umas das pinturas do Leonardo da Vinci. O deus nórdico possuía também dois grandes oceanos sombrios no lugar dos olhos. A temperatura do ambiente parecia ter subido uns 100ºC em apenas segundos, num tipo de tensão sexual exalando só de minha pessoa. Apenas dizer que aquele filho de Thor com a Afrodite era bonitinho, seria uma blasfêmia.

- Eu não sou um macho alfa e isso não é uma tentava tosca de levá-la para cama. - Sua voz era como beijos sendo distribuídos por toda minha pele. - Só me preocupei com o fato de uma mulher sozinha encher a cara, sem ninguém para ampará-la caso seja necessário.

Eu devia estar em algum tipo de contemplação silenciosa, visto que o neto de Odin parecia querer alguma resposta.

- Não sou indefesa, nenhuma mulher é. - O barman se aproximou de novo com outro copo.

- Eu acho que já é o suficiente para a moça por hoje. - Roubou minha tequila e bebeu tudo com um mero suspiro.

Raiva. Quis socar o rosto do cretino ali mesmo na bancada. Ele podia ser lindo, como uma manhã de sol após o inverno, mas continuava sendo um completo panaca. Depois dizem que Deus não dá asas as cobras. O infeliz deveria ser considerado uma naja azul com um par de asas negras como a noite.

- Escuta aqui, idiota! Ninguém rouba bebida de Susan Pellegrini e vive para contar a história.

- Então, o que você vai fazer, Susan Pellegrini? - A cópia do Damon Salvatore me encarou com diversão. Acabei percebendo que cometi o erro gritante de ter dito meu nome para o desconhecido gato. Merda! Senhor, pode me levar agora. Eu estou pronta para partir.

- Eu posso quebrar seu nariz com apenas um movimento. - Limitei-me a admirar a coragem do energúmeno másculo por provocar alguém desequilibrada emocionalmente.

- Adoraria vê-la tentar. - Desafio brilhava nos seus intensos olhos azuis. Ele tinha algo de perigoso que soava tão sexy na minha corrente sanguínea e nos batimentos do meu coração.

Tentando acabar com toda aquela prepotência, abri a mão na intenção de estapear seu nariz. Porém, no último instante, o sobrinho de Loki agarrou meu pulso. Senti quando fui puxada e acabei caindo de bruços no seu colo. Seu perfume narcótico de hortelã me fez lembrar de algo esquecido, quase familiar. Meu rosto esquentou ao notar a grande protuberância pélvica perto da minha face.

Levantei nervosa, a fim de ignorar o ocorrido e a vergonha. O infeliz segurava a risada quando o encarei.

- Filho da mãe! Isso foi quase assédio. - Rangi os dentes.

- E você tentou me agredir, bravinha. - Que porra de apelido era aquele? - Estamos quites!

- Quites merda nenhuma! - A situação já deu o que tinha que dar. Então, tentei me erguer para ir embora, mas fui impedida. - Era só o que faltava para completar o dia bosta de hoje. - Sussurrei, mas o idiota escutou, já que pareceu bem interessado.

- Pode me contar seus problemas se quiser. - De repente, ele pareceu tão sincero que quase falei sobre minhas perturbações. Cancela, senhor! Eu só ando pensando merda nesses dias difíceis. - Sabe, desabar com estranhos é ótimo, você só os verá uma vez.

- Sinto muito, estranho. - Mencionei, dando ênfase no substantivo. - Mas não estou nem um pouco afim de te contar meus problemas.

- Por que não, Susan?

- Não fale comigo como se fossemos íntimos! Eu nem te conheço.

- Mas pode conhecer muito bem. - Entendi o duplo sentido na sua frase, principalmente depois do sorrisinho safado que me lançou. Eu não ligaria se amanhecesse todo dia com aquele sorriso. Merda de novo! Para de pensar besteira, Susan Barbieri Pellegrini! - Relaxa, não vou fazer nada que não queira. Estou apenas tentando ajudar uma moça sozinha no bar. - Levantou as mãos em rendição e eu vi verdades em sua fala.

- Tudo bem, duplicação imperfeita do Jamie Fraser. - Ele soltou uma risada por minha escolha de palavras. Mais uma vez, me peguei imaginado situações impuras com aquela voz.

- Sou Liam. Liam Albuquerque. - Sua imensa mão cobriu a minha. Por um instante, senti aquela típica corrente elétrica dos romances e contos de fada ultrapassando por nós dois. Rezei para que não tivesse acontecido só comigo, seria loucura demais para uma tarde. Ele não era o amor da minha vida, então decidi esquecer a sensação, por mais que parecesse uma tarefa impossível.

- Você já me conhece, Liam. - Estriei os olhos.

- Vai me contar o porquê de toda essa bebedeira?

Sua mudança drástica de assunto não passou despercebida. Mesmo com a primeira impressão tosca, Liam parecia ser um bom ouvinte. Não faria mal algum! Ele era um estranho e eu só o veria uma vez. Uma pontada de tristeza espetou meu coração com esse banho de realidade. Para que isso tudo, Susan? Você o conhece há apenas 10 minutos! Sacudi a cabeça e suspirei.

- Minha irmã perturbada vai casar daqui há três semanas, o noivado é hoje à noite e ela está para me deixar louca. - Liam parecia atento a cada palavra, como se não quisesse perder nada. Eu o agradeci mentalmente por ser um ótimo espectador. Continuei. - Sabe, Susany sempre fez da minha vida um inferno, principalmente, na adolescência. Era tão doloroso que me mudei para o Brasil e só apareci hoje, depois de 10 anos.

Conversar com ele se mostrou mais fácil que o esperado. Não pretendia contar da minha mudança.

- Que coincidência, eu sou brasileiro.

- Já tinha sacado que você não era daqui pelo sotaque. Que bom que é do Brasil. Amo o país, apesar dos seus problemas

- Touché, bela moça. - Liam sorriu, mas depois ficou sério. - O que seu pai faz quando Susany faz da sua vida de pandemônio?

- Ele sempre tentou amenizar um pouco a situação, mas Susy sempre conseguia o que queria. Seu sonho é acabar com minha existência.

- Que situação triste, bravinha!

O gato parecia realmente estar chateado com a circunstância e eu me vi sentida com sua compaixão: um estranho que se dignou a ouvir meus problemas. Eu iria continuar minha narrativa melancólica, mas meu celular tocou. Era Bitello.

- Oi, tio!

- Susan ... - Ele estava nervoso. - Eu acho melhor você voltar para casa. Ada foi presa.

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