Mystical (l.s)

By larrylaw

131K 19.9K 57.3K

ATENÇÃO: SE VOCÊ ESTIVER LENDO ESTA HISTÓRIA EM QUALQUER OUTRA PLATAFORMA QUE NÃO SEJA O WATTPAD, ESTÁ SOB RI... More

Considerações Iniciais (necessárias para a leitura da fic)
⊱ PRÓLOGO ⊰
⊱ CAPÍTULO I ⊰
⊱ CAPÍTULO II ⊰
⊱ CAPÍTULO III ⊰
⊱ CAPÍTULO IV ⊰
⊱ CAPÍTULO V ⊰
⊱ CAPÍTULO VI ⊰
⊱ CAPÍTULO VII ⊰
⊱ CAPÍTULO VIII ⊰
⊱ BOOK TRAILER ⊰
⊱ CAPÍTULO IX ⊰
⊱ CAPÍTULO X ⊰
⊱ CAPÍTULO XI ⊰
⊱ CAPÍTULO XII ⊰
⊱ CAPÍTULO XIII ⊰
⊱ Q&A ⊰
⊱ CAPÍTULO XIV ⊰
⊱ CAPÍTULO XV ⊰
⊱ CAPÍTULO XVI ⊰
⊱ CAPÍTULO XVII ⊰
⊱ CAPÍTULO XVIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XIX ⊰
⊱ CAPÍTULO XX ⊰
⊱ EXPOSED ⊰
⊱ CAPÍTULO XXI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIV ⊰
⊱ CAPÍTULO XXV ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIX ⊰
⊱ CAPÍTULO XXX ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXIV ⊰

⊱ CAPÍTULO XXXV ⊰

6.7K 478 2.6K
By larrylaw

N/A: Get ready to return to Aberdeen. #visitaberdeen

Obrigada por lerem! Votem e comentem bastante porque eu estou com muita saudades de vocês ♡



♘♔♗

Episódio: Angel

Harry se encontrava com o tronco encostado em uma rocha que possuía o quádruplo de seu tamanho, com seus braços e pernas recém libertos das correntes agora envoltos firmemente por uma grossa corda – aqueles homens não eram como Louis, então naquela noite não haveria jogos de xadrez, jogos de perguntas ou frutas para si, eles apenas o imobilizaram e o jogaram em um canto da montanha com um pedaço de carne sangrento a sua frente, longe o suficiente para que não fosse necessário lidar com ele e próximo o suficiente para que mantivessem os olhos sobre si.

De toda sorte, muito embora seu corpo estivesse preso ao acampamento, sua mente divagou para a tenda do comandante: se alguém lhe dissesse, três semanas atrás, que ele estaria pensando em salvar a vida do líder de seus raptores, Styles certamente juraria por qualquer deus que fosse que aquilo não aconteceria nem mesmo sob pena de morte. Contudo, por qual outro motivo o cacheado se encontraria repassando mentalmente os ingredientes da receita do chá de Liam Payne para tratamento de pneumonia?

"Ele comandou o ataque que matou seus pais, Harry Styles" o cacheado disse para si mesmo como se quisesse relembrar aquela verdade que tinha consigo, mas não era como se houvesse se esquecido.

A verdade era que o feito do comandante já não era suficiente para mantê-los em universos diferentes, pois Styles adentrara o do outro outrora, bem como Tomlinson adentrara o próprio.

Harry suspirou.

Desde o princípio, sabia que não era alguém capaz de matar o assassino de seus pais a título de vingar as mortes que ele provocara, conforme o que a sociedade do século XVIII pregava, fosse porque possuía habilidades de combate nulas, fosse porque acreditava que sua consciência jamais permitiria que ele vivesse ciente de que impediu quem quer que fosse de viver. Entretanto, o fato de desejar salvar aquele homem demonstrava também sua capacidade de nutrir sentimentos positivos pelo assassino de seus pais: gratidão, admiração e empatia.

Styles se odiou por isso.

Quando, exatamente, aquilo começara?

A gratidão provavelmente se deu quando o comandante se voltou contra seu próprio exército para defender seu pudor, quando lhe deu abrigo, água, comida, vestes decentes, ou quando salvou sua vida duas vezes. A admiração possivelmente veio quando Louis demonstrou reconhecer literatura grega, falou sobre filosofia helenista e parafraseou filósofos, décor, tal qual Harry costumava fazer com suas citações favoritas. Por fim, a empatia fez as vezes, quando impediu Tomlinson de se ferir, quando cantou para acalmá-lo, quando se permitiu dormir com os dedos entrelaçados aos dele, quando ouviu o pedido de socorro que ele levava no olhar.

Argh. Admitir tudo aquilo era difícil, machucava, fazia com que ele se sentisse fraco, patético até, mas ainda assim, era a verdade, e verdades precisam ser encaradas.

Todavia, ainda que incontroversa sua vontade de salvar a vida de Louis, não era como se estivesse livre para descer aquela montanha, procurar os ingredientes necessários e então se dirigir à tenda e convencê-lo a tomar o chá duas vezes ao dia até que se curasse. No mais, muito provavelmente o comandante não precisaria de sua ajuda – Tomlinson era o melhor guerreiro de todos os sete reinos, enfrentara a morte diversas vezes e a vencera em cada uma delas. Era isso que o líder do exército escocês fazia. Era isso que faria mais uma vez.

Diante de tal pensamento, ele não ousou retirar seus orbes verdes da entrada da tenda, pois sabia que o comandante em breve passaria por aquele rasgo, consciente, saudável e disposto.

Em breve.

Logo.

A qualquer instante.

-x-

Na primeira noite com a ausência de Louis, Harry só queria que Stanley, o soldado que retirara o corpo inconsciente de Tomlinson de seus braços, saísse ao acampamento e mencionasse com os demais homens o estado do homem, mas isso não ocorreu. A ausência de notícias soava tão ensurdecedora quanto a farra dos soldados ao redor da fogueira, os quais bebiam mais vinho do que o normal, não parecendo sequer razoavelmente preocupados com o próprio líder e, em verdade, pareciam celebrar a possibilidade de que este morresse.

Harry quis gritar mais alto que a canção de bêbado que cantavam.

Tal canto, no entanto, foi perdendo a força conforme os homens iam se amontoando sobre o solo, próximos a fogueira e emaranhados uns nos outros, completamente alcoolizados. O grito, por sua vez, ficou preso na garganta de Styles quando os viu novamente – os fantasmas de Aberdeen. Passavam entre os corpos desacordados fazendo o que Harry sabia que costumavam fazer todas as noites: esvaziando os recursos do exército escocês. Eles faziam aquilo gradualmente a cada noite, nitidamente com intuito de fazer com que os soldados debandassem da floresta, pois não os queriam ali, mas não necessariamente os deixando sem nada, visivelmente desperdiçando o suficiente por noite apenas para que em breve fosse necessária uma racionalização.

De pronto, os orbes verdes do cacheado percorreram todo o perímetro até onde alcançavam, buscando por cabelos negros ornamentados em uma trança lateral e um vestido creme sujo de sangue e, ao virar a cabeça para a direita, seu coração falhou uma batida ao encontrar quem procurava sentado ao seu lado, com as costas apoiada na mesma rocha que ele.

Jesus Cristo! – exclamou Harry, respirando fundo e piscando pesadamente.

Anne emitiu uma de suas gargalhadas que tinham o condão de fazer suas expressões parecerem mais joviais.

– Para um ateu, sua descrença é frágil, Sun – ela encostou a cabeça em seu ombro, ainda rindo.

– Eu acho que ateus supostamente não deveriam crer em fantasmas, então fui expulso deste honorável clube – Styles proferiu, fechando os olhos por alguns instantes ante a textura dos fios da mulher em seu pescoço e bochecha: era tudo tão real. – A senhora sumiu, mamãe. Por que sumiu?

Ela levantou a cabeça de seu ombro, o fitando gentilmente.

– Filho, você sabe que eu não estou aqui de verdade, não é? – ele baixou o olhar para as próprias pernas e nada respondeu, porque, porra, claro que ele sabia, ele passou por todas as fases do luto por ela, porém, ser capaz de vê-la, ouvi-la e tocá-la não ajudava muito em se lembrar do fato de que ela não mais existia. – Eu estou morta, Sun. Essa história não é mais sobre mim.

O jovem Styles suspirou e, em seguida, ergueu a cabeça, voltando seus olhos para o céu.

– Você sente dor?

Anne emitiu um sorriso tranquilo antes de voltar os olhos na mesma direção de Harry: ela sabia o quanto ele sentia sua falta, mas, ainda assim, ali estava o seu garoto, mais preocupado com ela do que consigo. A mulher conhecia cada aspecto do ser humano que criou e sabia que o narcisismo era um deles, mas este sempre retrocedia quando se tratava das pessoas com quem ele realmente se importava.

– Eu sinto preocupação, aflição e ira – ela revelou, honestamente. – No mais, é apenas um sentimento de não pertencer.

Styles engoliu em seco, porque ele identificou todos esses sentimentos na face da mulher quando a encontrou pela primeira vez após o acidente que a matara, e por mais que gostasse de ser capaz de vê-la, ouvi-la e tocá-la, era verdade que preferia que ela desaparecesse definitivamente se isso significasse que ela encontraria a paz.

– Você sabe o que é? Sua missão aqui? – ele perguntou, contando as estrelas mentalmente e lembrando-se de Gemma: a garotinha fantasma nunca soube o que a prendia no plano terrestre, mas caso sua mãe soubesse, ele poderia ajudá-la.

– Eu acho que nenhum de nós realmente sabe, mas – Anne riu – o que era capaz de me deixar preocupada, aflita e irada em vida?

O cacheado abriu seu maior sorriso para o céu: ele gostaria de ter certeza das respostas de todas as perguntas do mundo tanto quanto tinha certeza da resposta daquela.

– Eu estar em perigo – ele riu e segundos depois juntou as sobrancelhas, abaixando a cabeça para fitá-la. – Você está aqui para me proteger – deduziu corretamente, sem maiores dificuldades.

E, claro, não poderia ser outra a sua missão, já que, vasculhando em sua memória, todas as aparições de Anne se deram em momentos em que ele verdadeiramente se encontrava encrencado. Assim, Harry sentiu-se o jovem mais sortudo do mundo por ter sua própria mãe como anjo da guarda e simultaneamente se sentiu o maior estorvo do universo por ser o motivo de lhe ser vedado o descanso, então um biquinho nasceu em seus lábios, de pronto.

– Vem sendo uma tarefa um tanto quanto difícil, mocinho – sua mãe cutucou seu ombro com o dedo indicador, com sua gargalhada dissolvendo a carranca alheia como devia ser.

– Esse é um momento perfeito para uma mãozinha fantasma, dona Anne – seus olhos verdes escorregaram da imagem da mulher para a corda que prendia seus pulsos.

Os traços alegres alheios foram substituídos pelas tais preocupação, aflição e ira quando o sorriso jovial abandonou seus lábios.

– Não é assim que funciona, Sun.

Styles a fitou com as sobrancelhas unidas em confusão – ele vira Gemma bagunçar seu quarto inteirinho apenas com a força do pensamento, vira a própria Anne liberar uma serpente para ajudá-lo a fugir, bem como Aurora arrancar uma árvore pela raiz e arremessá-la no caminho dos escoceses a metros de distância. Parecia ser exatamente assim que funcionava.

– E seus superpode...?

– Existem limitações deste lado – Anne o interrompeu, com um tom áspero e elevado, mas ao notar que o fizera, suas sobrancelhas tremelicaram e suas expressões se suavizaram. – Me desculpe, filho. É só que... É como eu te disse: essa história não é mais sobre mim. Existem regras e não me refiro apenas a nos materializar somente para um seleto grupo de pessoas e apenas durante o turno em que nossa morte ocorreu, mas também ao fato de que nossa intervenção no plano físico é restrita. Ela precisa ser mediata – ela expôs, com um tom de voz que indicava que não sabia ao certo se ele compreenderia.

Styles, contudo, era um jovem esperto e aquela era justamente uma das questões que ele levava consigo sem saber que o fazia – mesmo se tratando de seres poderosos, os fantasmas nunca intervinham de forma direta para ajudá-lo: quando esteve em Aberdeen pela primeira vez, sua mãe o alertou da presença do exército escocês para que fugisse, contudo, não usou suas capacidades místicas contra seu perseguidor; quando, em sua primeira noite de rapto, sua mãe apareceu para si, ela invocou uma jiboia para ajudá-lo a escapar, contudo, não usou suas capacidades místicas para assustar os cavalos ela mesma; quando Aurora atendeu seu pedido de ajuda, levou as chaves até ele, contudo, não usou suas capacidades místicas para fazer com que as correntes dele caíssem por terra sozinhas. Por todo exposto, bastava uma singela reflexão para constatar que a interferência fantasmagórica realmente tinha limitações e não era direta.

– De toda sorte, se essa corda fosse retirada de seu corpo, nós dois sabemos que você não tentaria se salvar, mas tentaria salvar outra pessoa – Anne interrompeu seus devaneios e direcionou as vistas verdes idênticas às de Harry para a tenda do comandante.

Styles corou furiosamente e baixou a cabeça de forma que seus cachos cobriram seu rosto para que a mãe não o visse. Em verdade, ela sequer precisou de qualquer habilidade mística para ter certeza de sua afirmação, pois, as habilidades maternas lhe foram suficientes.

Ela arqueou uma de suas sobrancelhas perfeitas em sua direção – ora, se o narcisismo de seu filho somente retrocedia perante pessoas que ele se importava, não era necessário tanto esforço intelectual para concluir o porquê retrocederia perante o comandante.

– Você está decepcionada comigo? – a voz saiu por entre seus cachos. – Por querer ajudá-lo?

Anne sorriu abertamente agora.

– Eu estaria decepcionada caso você não quisesse ajudá-lo, filho.

Harry ergueu a cabeça e voltou a encará-la, catatônico.

Ele matou você.

Anne mordeu o lábio inferior e encarou o solo rochoso da montanha onde ambos se encontravam – parte de morrer era conseguir enxergar verdades que os vivos não enxergavam e torcer para que um dia enxergassem. Bem, ela enxergava cicatrizes no homem da faixa negra diferentes das que seu filho era capaz de ver.

– Sun – ela levantou a cabeça, fitando-o carinhosamente. – Lembra quando saímos para procurar borboletas? Você avistou uma ao longe e ficou contente, gritou a todos que achara uma borboleta, tinha tanta certeza disso... Mas quando nos aproximamos e olhamos com atenção...

– Era uma mariposa – ele concluiu, sorrindo minimamente perante a lembrança, mas não compreendendo o que ela queria lhe dizer através daquela menção. – Desde quando fala através de parábolas?

– Faz parte da coisa de fantasma, você sabe – Anne lhe deu uma piscadela. – Deixa tudo mais misterioso – ela ondulou os dedos das mãos ao lado da cabeça, cedendo falsos ares fantasmagóricos para sua fala (não tão falsos assim, diante do óbvio).

Eis que a moça voltou a deitar a cabeça em seu ombro e o jovem apoiou a cabeça sobre a dela, sentindo o aroma de baunilha provindo dos cabelos de ambos se mesclando na noite.

– O que eles vêem quando olham minha cabeça apoiada na sua? – perguntou ele, se referindo aos poucos soldados ainda despertos para quem os fantasmas aparentemente não se materializavam, verdadeiramente curioso, mas também para mudar de assunto: ele não gostava de não saber sobre algo que outras pessoas sabiam. – Vêem eu escorado no ar ou...?

Eles verão apenas o que querem ver – Anne revelou com a lentidão na voz que seu filho herdara. – Assim são todos os homens vivos.

– Por que não pode simplesmente me dizer o que quer dizer? – proferiu Harry, captando a indireta e pontuando sua frase levemente irritada com um bocejo.

Intervenção mediata – Anne cantarolou. – Para todos os efeitos, você é um garoto inteligente, só muito teimoso. A teimosia é de seu pai, por óbvio, mas a inteligência é minha. Então, sei que você encontrará a resposta que procura.

Styles suspirou – o colo de uma mãe são capazes de fazerem com que você se sinta abrigado mesmo que a realidade ao seu redor seja o mais profundo caos, motivo pelo qual o sono lhe acometeu.

De fato, Harry ficou quieto por tanto tempo que a mãe realmente pensou que seu menino adormecera, contudo, ele tinha algo a mais para expor naquele momento, antes de verdadeiramente fazê-lo.

– Eu posso salvá-lo – ele disse do topo do cabelo de Anne. – As pessoas não precisam morrer – e com "pessoas", ele se referia a Tomlinson e a si próprio.

Anne murmurou um ruído em concordância apenas quanto à segunda parte, pois ela não achava que seu filho podia salvar o homem da faixa negra, mas bem sabia que ele tentaria. Com a vida pós-morte, a mulher aprendera muito, inclusive que todos os seres vivos estão perdidos, mas o que diferencia os bons dos maus é que alguns deles querem encontrar o caminho de casa: Louis William Tomlinson era um desses "alguns". Já Harry, bem, Harry foi daquelas crianças que, ao encontrar qualquer animal ferido, o conduzia para casa e então se apegava, o que fazia com que ele chorasse ao constatar que seu carinho não era suficiente para curá-los.

Na segunda noite com a ausência de Tomlinson, Styles finalmente ouviu o comandante ser mencionado.

– Sirva-me mais vinho – ordenou Dougal a um dos soldados, batendo sua caneca sobre o próprio joelho.

– E por que eu faria isso? – o homem que Harry não reconhecia por nome e que tampouco possuía qualquer característica física marcante para se destacar entre tantos outros rostos escoceses, rebateu, olhando da fogueira à sua frente, para Dougal ao seu lado, e emitindo uma gargalhada carregada.

O careca sorriu embriagado, coçando a longa barba.

– Porque, na qualidade de mais velho entre os presentes, pela autoridade do nosso Código, assumirei a patente de comandante quando o estrangeiro morrer – foi sua resposta, pontuada com uma escarrada no chão.

E então os dois emitiam gargalhadas igualmente carregadas, com o primeiro oferecendo a própria caneca com vinho ao segundo.

"Quando". Não "se", não "caso", ou "por hipótese de". "Quando". A expressão satisfeita no rosto de Dougal ao falar como se a morte de Tomlinson fosse certa, fez com que Styles quisesse vomitar.

Naquela mesma noite, Harry viu sua mãe novamente – ela piscou para ele, confidente, como se soubesse muito mais do que ele sabia, mas nada disse.

Foi durante o terceiro dia de ausência de Tomlinson que o desespero de fato veio: Harry estava com os olhos presos à tenda do comandante novamente quando algo finalmente foi capaz de tirar seus orbes verdes de onde repousavam – um bonito cavalo veio trotando ao longe, contornando a tenda do comandante por trás, e então parou à entrada desta, sentando-se sobre as patas flexionadas, como se esperasse por algo. Seu pelo negro brilhante e crina bem cuidada o faziam um animal belo, embora os ares de morte demonstrassem manifestamente que ele não era um dos cavalos que os soldados perderam e sim o cavalo que Louis perdera: Aquiles.

Não demandou muito esforço intelectual para que Styles deduzisse corretamente o que o animal esperava: não era por algo, era por alguém. E por quem mais um leal cavalo esperaria se não pelo seu cavaleiro?

Eis que o cacheado entrou em pânico: ele sentiu a ânsia em sua garganta, a engolindo de volta e quando deu por si, estava repetidamente forçando os próprios punhos contra as cordas que os prendiam, na intenção de soltar-se: tudo que conseguiu, no entanto, foi ferir a pele sob ela.

– Eu posso salvá-lo – Harry disse, o tom de voz um tanto quanto afetado pela confusão de sentimentos que levava consigo. – Ele não precisa morrer! – complementou, não sabendo exatamente com quem falava.

No entanto, naquele exato momento, um movimento repentino na tenda do comandante se fez presente, apenas exatamente como uma resposta a suas lamúrias – ele esperava ver um uniforme de couro negro, uma faixa de mesmo tecido e uma expressão de poucos amigos deixando aquele rasgo, mas tudo que viu foi um kilt, uma barba suja e uma expressão exausta: Stanley Lucas.

Harry prendeu a respiração: teria ele vindo anunciar a morte do homem da faixa negra aos demais?

De toda sorte, o homem não se direcionou ao acampamento – Stan se direcionou a ele. 

O cacheado fez uma verdadeira análise corporal do soldado, enquanto este se aproximava: ombros curvados, olheiras profundas e uma expressão abatida. Ao estar próximo o suficiente, o homem agachou sobre os próprios joelhos e, sem dizer nada ou fitar os olhos de Styles, começou um processo lento de desfazer os nós que prendiam os pulsos dele.

– Ele morreu? – silêncio. – Ele morreu?! – silêncio.

Uma vez com as mãos soltas, a primeira reação do cacheado foi segurar os pulsos alheios, o que fez com que o soldado finalmente o olhasse nos olhos – orbes castanhos cansados.

– Você pode ajudá-lo? – ele se pronunciou pela primeira vez e sua voz era rouca.

Naquele momento, Harry sabia que Stan se referia a ajudar Louis de uma forma mística, se valendo de poderes sobrenaturais, e isso, ele não podia. Contudo, ele realmente poderia ajudar o homem de uma maneira científica, então acenou positivamente com a cabeça ao soldado.

Stanley permaneceu em silêncio por alguns instantes mais, nitidamente enfrentando uma luta interna dentro de si: de um lado, a desconfiança que tinha de Harry; do outro, um sentimento que Styles foi incapaz de reconhecer, mas que venceu o primeiro.

Stan levou a mão até o torço do cacheado e, com um só puxão, arrebentou o fino cordão que prendia a pedra da lua ao pescoço dele.

– Ajude-o – pediu. – Eu não me importo com o que vai fazer com os demais depois, apenas permita que ele viva – complementou e seus olhos baixaram para o cordão em suas mãos, antes de o homem enfiá-lo em seu próprio bolso.

Harry examinou os olhos alheios e notou, naquele momento, que Stan e Louis tinham um passado e que, o primeiro, nunca o superara. Ele sentiu-se grato por isso e acenou uma vez mais para o soldado, em concordância.

Stanley então o levantou pelo braço e, com um aperto frouxo, começou a conduzi-lo para a tenda.

– Não toque em mim – Styles sussurrou entredentes, com o toque alheio lhe trazendo péssimas lembranças: ele sempre se sentia vulnerável, exceto quando o toque era de Louis, pois este o fazia se sentir poderoso perante os demais.

– Isso precisa ser verossímil – Stanley respondeu, ainda mais baixo. – Existem olhos em todos os lugares, ainda que você não veja.

Harry engoliu em seco enquanto continuava andando, lançando um discreto olhar ao acampamento, onde todos os homens aparentemente dormiam.

– Naquele dia – Stan sentiu necessidade de se explicar, – eu não ia machucá-lo de verdade – o cacheado direcionou seus olhos em fendas apertadas ao que falava, sabendo exatamente qual dia que ele se referia, pois não achava que poderia se esquecer, inclusive. – Eu só ia assistir.

Bem, Harry possuía um "isso deveria supostamente ajudar você?" na ponta de sua língua, mas este ali permaneceu, pois finalmente haviam adentrado a tenda e a imagem de Louis preencheu toda a sua mente: o homem se encontrava sobre seu leito e parecia ainda menor com seu corpo sob uma colina de cobertores. Seus orbes azuis bonitos, embora vazios, estavam inquietos abaixo das pálpebras fechadas; os lábios róseos, embora finos, estavam brancos agora; já os fios de seu cabelo sedoso, embora irregular, restavam colados em sua face ensopada pelo seu suor.

Foi somente naquele momento que Styles admitiu, ainda que internamente, que Tomlinson era um homem realmente bonito; isso porque, uma vez que sua beleza fora tomada pela enfermidade, sua ausência era perceptível sem maiores dificuldades, considerando a falta da faixa que lhe cobria o rosto – o cacheado quis gritar para que devolvessem a faixa negra dele, afinal, ele ficaria muito furioso quando acordasse e soubesse que a tiraram dele.

Por óbvio, ele iria acordar.

Imediatamente, Harry desvencilhou-se de Stan e sentou-se sobre o leito, ao lado do corpo do comandante e, com gentileza, levou a própria mão à bochecha alheia: a pele sempre gelada dele quase queimou a de Styles, em razão da febre, o que era preocupante.

Naquele exato momento, uma agitação maior ocorreu abaixo das pálpebras bronzeadas de Louis, como se ele sentisse a presença em sua cama de alguma forma e, então, o comandante abriu os olhos lentamente, encontrando um rosto de traços belos, embora fortes, que sorria minimamente para si tão genuinamente que exibia uma covinha em sua bochecha e o vento que provinha do rasgo da tenda movimentava os cachos de sua cabeça, coroando-o com a pouca luz de Aberdeen.

Louis analisou a imagem atentamente, pois desejava ter certeza de que a figura diante de si era o que ele pensava ser. De toda sorte, quanto mais Harry sentia os orbes azuis curiosos sobre si, mais abertamente ele sorria, adorando a atenção em si depositada, o que o tornava ainda mais belo perante os olhos de Tomlinson, então este teve a confirmação que precisava.

– Você é um anjo – ele afirmou com adoração em sua voz e finalmente sorriu também. – Eu morri?

Styles esforçou-se para não rir, mas quase falhou, pois depois de ouvir tantos "demônio" para se referir a si, aquilo era verdadeiramente alguma coisa.

– Seu estado de saúde deve ser realmente grave, Luke Stuart.

O cacheado soube exatamente quando o outro o reconheceu, não porque um lampejo de compreensão foi identificável nos olhos nebulosos, mas porque, a pele alheia agora pálida, adquiriu tons de escarlate e o homem abaixou a cabeça como se quisesse se esconder.

Sorcier – ele constatou. – O que faz aqui?

Harry mordeu o interior da bochecha antes de responder, reprimindo uma gargalhada persistente.

– Eu tenho uma dívida para pagar – expôs com seriedade em seus traços, embora seu olhar contivesse diversão. – No mais, sou eu que vou matar você, então a pneumonia terá que procurar outra vítima.

Louis voltou a fitá-lo e ergueu uma sobrancelha em chiste: ele se lembrava. Quando impediu Harry de comer o fruto envenenado em Aberdeen, o cacheado lhe disse que pagaria aquela dívida e então o mataria – bem, a dívida tinha juros, afinal, Tomlinson salvara a vida de Styles no pântano também.

Eis que Styles levantou-se do leito prontamente, arregaçando as mangas do traje que vestia enquanto pensava em tudo que poderia ser feito para banir a enfermidade daquela tenda.

– Hoje não é um bom dia para morrer, comandante – disse com firmeza.

♘♔♗



Mystical ainda tem leitores?...

Bom, aos que não desistiram da fic, eu só queria pedir perdão por demorar tanto para voltar. Vocês me conhecem e sabem que sou muito pontual com atts, mas esse ano foi de entrega de TCC na minha faculdade, então mesmo eu querendo muito, não havia tempo para escrever Mystical. Felizmente essa etapa exuastiva da minha vida acadêmica foi vencida com sucesso (mais sucesso do que eu realmente esperava haha). 

Esse é meu presente de natal para quem me pediu via twitter, não nos veremos mais esse ano em decorrência das festas, mas a partir de 2020, as atts voltam a ser todo sábado. Então, feliz natal, parabéns para o Tomlinboo e feliz ano novo, meus mystics <3.

Queria dizer para vocês se prepararem, mas realmente é impossível estar preparado para o que está por vir...

Beijinhos no coração,

Bê.

Continue Reading

You'll Also Like

771K 20.7K 95
Pura putaria, se você não tem uma vida romântica é só se iludir junto comigo 😘
55.6K 7.3K 29
A vida de Harry muda depois que sua tia se viu obrigada a o escrever em uma atividade extra curricular aos 6 anos de idade. Olhando as opções ela esc...
1.1M 61.7K 153
Nós dois não tem medo de nada Pique boladão, que se foda o mundão, hoje é eu e você Nóis foi do hotel baratinho pra 100K no mês Nóis já foi amante lo...
164K 17.8K 57
Carlos não imaginava que seu maior pesadelo estava prestes a começar após ficar solteiro e finalmente começar a aproveitar a vida em todas as baladas...