As Damas de (Des)Honra

By jaque_dsb

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"Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a vingança nos separe." A vida de Susan nunca tin... More

CAPÍTULO 1 - Susan
CAPÍTULO 3 - Susan
CAPÍTULO 4 - Susan
CAPÍTULO 5 - Liam
CAPÍTULO 6 - Susan
CAPÍTULO 7 - Liam
CAPÍTULO 8 - Susan
CAPÍTULO 9 - Susan
CAPÍTULO 10 - Susan
CAPÍTULO 11 - Susan

CAPÍTULO 2 - Susan

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By jaque_dsb

"É assim mesmo que vai ser?

É assim que a gente vai dizer 'adeus'?

Devia ter percebido quando você apareceu

Que você ia me fazer chorar

Me parte o coração ver você por aí

Porque eu sei que você está vivendo uma mentira

Mas tudo bem, amor, porque com o tempo você vai ver

Que tudo que vai, que vai, que vai

Acaba voltando ..."

What Goes Around Comes Around - Justin Timberlake

Concentrada nos meus devaneios, assistia, de forma superficial, meu pai se sujando com o restante do nosso sorvete. Pelo menos o momento serviu para descontrair e esquecer as intrigas que nos cercam.

Nunca entendi o real motivo do ódio de Susy por mim. Somos irmãs! Sangue do mesmo sangue, dividimos o mesmo útero. Éramos amigas ainda pequenas e compartilhavamos da ligação única que existia entre gêmeos, mas, pelo visto, eu não fui boa o suficiente para que ela mantivesse essa relação comigo. De uma hora para outra, magicamente, Susy decidiu como meta de vida infernizar o restante da minha. Cheguei a pensar que tudo não passava de um transtorno de bipolaridade, porém, quando esse comportamento raivoso dela se perpetuou comigo, entendi que minha própria irmã me odiava.

Para completar o enredo dramático, Susany cresceu ainda mais e passou a desejar o corpo perfeito enquanto eu preferia a companhia dos meus livros de química. Desenvolvi meu primeiro creme de pele aos 12 anos de forma totalmente sustentável, a partir de folhas e flores da avelã. Eu sou meio que considerada a super cientista da escola pelos meus, não tão queridos assim, professores. Claro que meu pai ficou orgulhoso, até mesmo porque eu estava seguindo sua área, já minha mãe achava tudo perda de tempo e passou a influenciar Susy na carreira de modelo.

Foi nesses desencontros da vida que Susy ficou linda e esbelta. Uma loira com poderosos olhos verdes e grandes atributos naturais a frente e atrás. 1,70 de pura gostosura, aos contrários dos meus 1,70 de pura comilança. Durante esse tempo, meio que reneguei alguns cuidados da beleza e fiquei parecendo a própria Helga G. Pataki. Mas eu estou feliz comigo mesma, então não me incomodo com o que os outros falam, certo? Errado! Não poderia estar mais errada.

Meu inferno pessoal começou quando Susany percebeu que me humilhar só em casa já não era mais suficiente. Então vieram os xingamentos, as ofensas, a violência na escola, e os outros estudantes, como grande parte é "Maria vai com as outras", também perceberam o quão "maravilhoso" era me ofender. E, como já dizia as doutrinas populares da vida, nada é tão ruim que não possa ser piorado. Susy decidiu se juntar com a dupla imbatível de cadelas de raça ruim, o Timão e Pumba adolescentes, que, infelizmente, já tivemos o desprazer de conhecer: Ada e Lucile.

A pior delas, depois de Susany claro, é a Lucile. Pelo nome já temos uma bela noção do caráter da pessoa, não duvidaria que esse seja derivado de Lúcifer. A cidadã foi capaz de tirar uma foto minha no banho, depois da educação física, e publicar no jornal da escola. Pelo menos, ela levou uma suspensão de duas semanas, o que prova que, de pouquinho em pouquinho, os humilhados estão sendo exaltados. Já Ada é considerada a Anastasia Tremaine de Cinderela: uma nojenta de marca maior no primeiro filme, mas, relativamente, uma pessoa boa no segundo. Eu acho que ela é a única que não apoiava completamente os meus maus-tratos diários, mas também não fazia nada que acabasse com o bullying. E agora mesmo que Ada não fará nada, já que, ao que tudo indica, eu dormi com o pai dela.

E sobrevivendo desse jeito que, alguns dias atrás, tive a brilhante ideia de fazer uma viagem de 5 anos para o Brasil. Há cinco meses atrás, vasculhando entre as coisas do meu pai, encontrei um folheto escondido na gaveta sobre um projeto de inclusão para alunos do exterior cursarem o ensino superior em São Paulo. Dentre os cursos ministrados, acabei encontrado um que se enquadrava na temática química e cosméticos. Então, juntei o útil ao agradável, fiz todas as etapas online e, duas semanas atrás, acabei sendo convocada.

Nesse momento, lembrei que papai ainda se encontrava ao meu lado e me censurei mentalmente por ignorá-lo.

- Pai, vou dormir um pouco e descansar a mente. - Falei, levantado da cadeira da bancada.

- Tudo bem, querida. Ainda tenho trabalho para terminar. Vejo você depois que acordar. - Ele se ergueu e guardou o resto de sorvete na geladeira.

Acenei sorrindo e segui em direção à escadaria de casa.

Encontrava-me numa bela encruzilhada: abandonar tudo na Itália e tentar uma vida no Brasil ou continuar por aqui e apaziguar todos os meus empecilhos, com papai ao meu lado. A resposta parece meio óbvia, mas eu não quero deixar o meu melhor amigo. Além do mais, tenho plena certeza que ele não apoiaria minha viagem. Papai sempre prezou muito a segurança da família e estar fora de sua vista seria uma falta bem grave. Eu acho completamente exagerado todo esse cuidado.

Subindo para o calor familiar do meu quarto, continuo divagando em pensamentos. Quando abri a porta, vi que Smigool estava confortavelmente deitado na minha grande cama de casal, quietinho demais para o meu gosto.

- Por que eu estou com a sensação de que você andou fazendo merda? - Falei, alisando sua cabeça escura e branca.

Smigool era um São Bernardo enorme e peludo que comia mais do que eu mesma. Na maioria das vezes, realmente acho que ele fica possuído por alguma entidade do além, já que não é fisicamente possível um cachorro fazer tanta bagunça assim. Desde que me recordo, ele faz parte da família, mas diferente dos outros cães de guarda, Smigool era dócil. Dócil e atentado. Uma combinação um tanto interessante.

Vasculhando entre as coisas do quarto, descobri a causa da sua quietude suspeita: os adoráveis vestidos de luxo de Susany se encontravam mastigados debaixo da minha cama. Eu deveria gritar e brigar com meu querido cachorrão, porém minha deusa interior estava celebrando e dizendo: "Viu, Susan?! Smigool teve coragem para fazer o que você sempre sonhou em destruir"

- Bom garoto! - Falei sorrindo. Ele apenas sacudiu a cauda e mostrou sua grande língua babada, como se dissesse: "Eu sei, humana!"

Deitei ao seu lado na espaçosa cama, porém, antes mesmo de descansar os olhos e me entregar nos braços de Morfeu, meu celular tocou. Praguejando, atendi sem ver o identificador de chamada.

- Alô? - Bocejei.

- Pelo amor de Deus, Susan! Não é hora de dormir - Susy praticamente berrou ao telefone. - Onde você se enfiou, pequena rata? Preciso te contar uma novidade bombástica.

Eu não sabia se ficava chocada por sua ousadia em me xingar tão abertamente ou por ela estar me telefonando. Susany nunca ligava, nem mandava mensagem. Nunca! Só podia ser carma. Com certeza, na minha vida passada, eu fui uma pessoa tenebrosa que assassinava cachorros e dava os restos para pombos comerem. Agora Deus está me culpando por fazer a desentendida. Suspirei e sentei na cama.

- Susany, eu estou em casa. - Massageei a têmpora que mostrava sinais de uma futura dor de cabeça. - O que você quer agora? Completar o estrago depois dessa manhã horrorosa?

- A culpa foi sua! Ninguém mandou dormir com o pai da Ada. - Comentou ironicamente.

- Eu sei e você também sabe que a pessoa nas fotos não era eu. - Levantei o tom de voz. - Era você, Susany! - Acusei. - Como teve coragem de dormir com um cara que tem a idade para ser nosso pai? Como pode fazer isso com sua amiga? Você tem noção de que ele poderia estar na cadeia agora? Você é menor de idade, sua retardada!

- Querida, esqueceu que fazemos 18 anos daqui há dois dias? Fora que eu não te liguei para que me desse lição de moralidade, Susan. - Susy se mostrava irritada no celular. - Telefonei apenas para dizer que o Derek quer encontrar você em trinta minutos na quadra de esportes. Esteja lá. - Ela desligou sem que eu tivesse tempo para expressar nada.

Espera um minutinho aí! Derek? O meu Derek? A razão dos meus pensamentos libidinosos?

Sem nem pensar duas vezes, levantei apressadamente da cama, como se ela estivesse em chamas, e corri para o armário, com o intuito de achar uma roupa mais apropriada para a ocasião. Optei por um jeans azul colado e uma regata preta, os quais modelavam minha silhueta inexistente e combinavam com a cor esbranquiçada da minha pele. Soltei meus longos cabelos loiros e tentei fazer com que eles se comportassem por agora.

Dez minutos depois, estava dentro do carro que me levaria a escola mais uma vez naquele dia. Não suaria de forma alguma andando de bicicleta e chegando para conversar com Derek no meu estado deplorável de bagunçada e catinguenta. O motorista de casa parou em frente aos portões do colégio e eu sai do carro mais nervosa que a Hermione quando viu um trasgo no banheiro em Hogwarts.

Derek iria se declarar. Eu sentia no interior do meu ser que meu momento de ser notada tinha acabado de chegar. Nós engataremos um relacionamento sério e lutaremos contra o bullying na escola. Seremos Yin e Yang, Melman e Glória, Jasmine e Aladdin. O casal ícone que todos sentirão inveja. Moraremos em uma casinha modesta no interior da cidade; nossas filhas serão trigêmeas e terão nomes de cidades: Nairóbi, Tokyo e Estocolmo.

Apressando o passo para chegar a tempo na quadra, finalmente reparei no escuro e silêncio do local. Chegando próximo da instalação, consegui distinguir duas vozes tão bem conhecidas por mim.

- Derek, não podemos fazer isso aqui. Alguém pode nos encontrar. - Aproximei-me da entrada principal do ginásio e pude ver Susy nos braços do meu querido amado.

- Não há ninguém aqui, estamos sozinhos. - Ele beijava loucamente o pescoço da minha irmã, enquanto segurava sua cintura, na tentativa de colar ainda mais seus corpos já unidos.

- Mas Derek, não posso trair minha irmã desse jeito. Todo mundo sabe o quanto eu tenho apego por ela. - Susy afastava, inutilmente, Derek de si. Ela poderia vencer o Óscar, o Globo de Ouro, o Troféu Domingão na categoria de irmã mais falsa da rede globo ou do século XXI. Sua atuação ganharia a da Maria do Bairro.

- Do que está falando, Susany? O que a situação de nós dois tem a ver com sua irmã?

- Não se faça de dissimulado, querido. Todo mundo da escola sabe que Susan é louca por você.

Derek gargalhou, como se fosse a melhor piada que já escutara.

- E você acha que eu não sei?! Ela é uma completa louca! - Sacudiu a cabeça. - Realmente acha que eu gosto de uma baranga feito ela, que não sabe o que são roupas e vive como uma mendiga por aí? - Continuou sorrindo. - Faça mil favores, Susy.

Era como se uma faca tivesse sido enterrada várias vezes no meu coração, e Susy e Derek brindassem com o sangue escorrido como em uma celebração. O grande amor da minha vida não passava de mais um carrasco para o meu sofrimento.

- Eu te amo, Susany. Só você. - Derek falou em alto e bom som.

Debulhando-me em lágrimas, pude ver o exato momento em que os lábios dos dois se encontraram. Não poderia existir sofrimento maior para uma adolescente boba que vê seu crush beijando outra, ainda mais a outra sendo a própria irmã. 

Durante o beijo, Susy abriu os olhos e mirou exatamente a entrada do ginásio, onde eu me encontrava. Era como se ela dissesse: "Veja Susan, eu vou sempre ser a melhor, você nunca chegará aos meus pés."

Sem mais prolongar essa dor, corri no intuito de encontrar a saída daquele purgatório. E como cenário de uma peça do destino, um raio cruzou o céu, no momento que uma chuva torrencial caia sob minha cabeça. São Pedro só poderia estar zoando minha cara mais uma vez. Infelizmente, tanta água não foi capaz de limpar tudo o que passei e apagar minha despedaçada existência. Mais clichê que isso, só mudando de história.

Susany tinha mostrado ser, outra vez, a causadora majoritária da minha amargura, o monstro e assassina dos meus pesadelos, o impasse para minha felicidade. Minha própria irmã...

Enquanto seguia chorando para casa pela segunda vez no dia, percebi que não podia mais aguentar tamanho martírio. Seria melhor para todos que eu realmente me mudasse e construísse uma vida nova longe de tanta angustia. Meu pai ficaria devastado? Provavelmente! Mas é como dizem: o tempo cura tudo.

Fora que, com o final do semestre e como minhas notas foram impecáveis nas últimas provas, posso facilmente conseguir meu tão esperado diploma do ensino médio, sem precisar tocar um pé naquela escola. E, por sorte do acaso também, poderei viajar apenas com o passaporte, já que minha maioridade estava chegando.

Seguindo essa linha de raciocínio, passei pelos portões de casa e corri para o meu quarto outra vez. Pegando o notebook, entrei no site da companhia área e comprei as passagens com destino ao Brasil para daqui há dois dias. E enquanto esperava a confirmação de pagamento, chorei uma ultima vez por causa de Susany.

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