As Damas de (Des)Honra

By jaque_dsb

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"Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a vingança nos separe." A vida de Susan nunca tin... More

CAPÍTULO 2 - Susan
CAPÍTULO 3 - Susan
CAPÍTULO 4 - Susan
CAPÍTULO 5 - Liam
CAPÍTULO 6 - Susan
CAPÍTULO 7 - Liam
CAPÍTULO 8 - Susan
CAPÍTULO 9 - Susan
CAPÍTULO 10 - Susan
CAPÍTULO 11 - Susan

CAPÍTULO 1 - Susan

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By jaque_dsb

"O mundo está acabando

Você já pensou

Que nós poderíamos ser tão próximos, como irmãos

O futuro está no ar

Eu posso senti-lo em todo lugar

Soprando com o vento da mudança ..."

Wind Of Change - Scorpions

Poderia ser pior? Claro que poderia! Mesmo assim já é cansativo por si só levar a vida que eu tenho. Tudo isso por uma simples tragédia do destino que tinha nome, sobrenome e endereço: Susany Pellegrini, ou Susy para amigos e familiares, moradora perpétua da cidade da moda, Florença. Alguns dizem que tudo não passa de uma noção de inferioridade juvenil à beleza da minha irmã caçula por 10 minutos, porém eu continuo afirmando e mostrando que temos a mesma cara, até porque somos, supostamente, gêmeas. Ou seja, como eu me sentiria inferior, já que Susany é a minha imagem e semelhança? Quando olho para o espelho, eu a vejo refletida e assim vice-versa. O diferente é que ela gosta de andar arrumada e maquiada, eu não. Prefiro mil vezes minhas confortáveis roupas de casa, isto é, aquelas rasgadas, furadas, destruídas e folgadas. Contudo, é com esses e outros desaforos engolidos todo santo dia que levo minha vida monótona e maçante, tendo minha amada irmã como meu próprio purgatório pessoal.

Eu estudo em uma das melhores escolas de ensino médio de Florença, junto com Susy, mas, diferente dela, eu não tenho amigos que possam escutar meus lamentos rotineiros, minhas confissões. Enquanto minha irmã reluz em um dos melhores momentos da sua vida, eu afundo como uma pedra dentro de um poço que, mesmo sabendo que o fundo se aproxima, continua caindo. No auge dos meus 17 anos, ainda estou no último ano do colegial, contando os minutos para que esse inferno termine sem causar mais danos ao meu judiado psicológico.

Dizer que essa hierarquização escolar é injusta seria um baita eufemismo. É aquele típico clichê que estamos acostumados: enquanto os mais populares, porém menos esforçados, alcançam as glorias de uma vida tão benevolente assim, pessoas como eu precisam sobreviver com o bullying desses populares. No meu caso, da minha própria irmã e sua cambada de ignorantes, formada por Ada Grassi e Lucile Donati, as mesmas Gretchen Weiners e Karen Smith da Regina George.

O único que escapa dessa infeliz realidade é meu amado Derek Rossetti. Lindo, popular, a bola de ouro do time de futebol da escola. Eu tenho plena certeza que ele tem um amor encubado por mim, até porque é o único que não me trata com desprezo. O seu sorriso parece resplandecer, que deixa meu coração alegre toda vez. Eu não importaria se ele me desse a mão para que fugíssemos dessa terrível escuridão social. E é vivendo essa bolha que me encontro nesse exato momento, sentada em uma das mesas do refeitório, imaginando o nome dos nossos filhos, enquanto vejo nós dois vestidos de branco na Basílica de Santa Croce.

- Você é a baita de uma piranha, Susan! - Ada, uma daquelas supostas amigas da minha irmã, se aproxima e grita no meu ouvido, na medida que chama a atenção das pessoas ao meu lado para nós duas. - Você seduziu o meu pai, sua grande baranga rodada! E agora ele quer o divórcio para viver um grande conto de fadas ao seu lado. - Diz de forma irônica.

Eu realmente não sabia o que dizer ou pensar. Por um momento, cheguei a cogitar a ideia de que existia outra Susan na escola a quem essa louca estava se referindo. Como se EU fosse capaz de seduzir alguém que não fosse o meu cachorro Smigool, que, aliás, não se mostrava nem um pouco seduzido por meus atributos inexistentes.

- E agora o que? Vai dar uma de inocente para cima de mim? - Ela apontou a unha brilhante vermelho escarlate no meu rosto. - Eu pensei que fosse uma grande mentira! Todos da escola sabem que você não passa de uma rata molhada e acuada, mas quando Susy me mostrou as fotos e me contou seus planos, nunca senti tanto desprezo por uma qualquer feito você. - Ada cuspiu as palavras na minha cara.

Eu não tinha a mínima noção do que ela estava falando. Não sabia sobre fotos, não sabia sobre planos. Olhando por cima do ombro de Ada, eu pude ver Susy em pé cobrindo um pequeno sorriso enquanto observava nós duas com aquele ar de satisfação tão bem conhecido por mim. Então soube, era mais um dos seus planos, só que dessa vez o problema envolvia uma suposta amante, no caso eu.

- Não faço ideia do que você está falando, Ada. Não dormi com seu pai! - Digo em um tom tranquilo e controlado, ao mesmo tempo que me levanto do banco do refeitório para tentar acalmar a situação. - Eu nunca cheguei sequer a conhecer o seu pai, como poderia ter me envolvido com ele?

- É tudo mentira! Você acha que eu vou cair nesse papinho de garotinha tímida?! Quem não te conhece que te compre. Agora você não passa de uma puta que destruiu minha família. - Comentou de maneira exasperada, pegando minha bandeja e jogando-a para fora da mesa com tudo. O barulho do metal se chocando ao chão era o único som do refeitório, se duvidar da escola inteira. Todos prestavam atenção na nossa conversa agora, até alguns professores. Quando o assunto era fofoca quente, recém saída do inferninho mais próximo, nem mesmo o mais puro dos homens escapava da notícia bombástica. Vida ingrata!

- Eu não tenho culpa de nada, Ada. Você está totalmente equivocada. Pergunte ao seu pai e ele pode desmentir essa história toda.

- Desmentir essa história toda? - Ela abriu sua bolsa de grife, pegou fotos e as atirou em cima de mim. - Desmente essas fotos agora, Susan.

Nas fotos, uma garota de lingerie beijava um homem, que eu supus ser o pai dela, calorosamente em um quarto de motel barato. Não precisava ser um gênio para saber que a garota nas imagens não era eu e, sim, Susany. Dei um sorriso de escárnio.

- Você diz ser amiga da minha irmã, mas não consegue diferenciar nós duas em umas simples fotos? - Levantei a sobrancelha de modo irônico.

- E você continua achando que eu vou cair nesse seu papinho? Como ousa difamar a imagem da sua irmã assim, que sempre só quis seu bem?

- Nunca pensei que você fosse capaz de uma coisa dessas, Susan. Destruir uma família e ainda colocar a culpa em mim? - Susy finge uma inocência que não possui, aproximando-se de nós duas e secando uma suposta lágrima imaginária. - Eu só quero o seu bem, irmãzinha.

Chegava a ser hilário toda a situação. Eu já sou expert nesse tipo de coisa, mas, mesmo assim, continuo impressionada com a capacidade de Susany para tentar estragar minha sutil existência. Contudo, vulgo dizer que agora ela pegou bem pesado com a história. Será possível que ninguém conseguia ver a verdadeira faceta daquela cobra que eu chamo de irmã?

- Eu poderia estragar tudo isso que você chama de cara, - Ada começou - mas para sua sorte, eu tenho dignidade, até com pessoas do seu tipo.

Nesse momento, Ada pegou um copo de suco de uva da garota antes sentada ao meu lado e jogou o conteúdo em cima de mim, arrancando sorrisos de todo o refeitório e, infelizmente, do meu amado Derek também.

- Vamos embora daqui, antes que eu mude de ideia e acabe com essa rata imunda!

Ada, Susy e Lucile me deram as costas e rumaram para fora do prédio, enquanto eu seguia estagnada no mesmo local. E, como passe de mágica, todo o refeitório começou a repetir as ultimas palavras de Ada, me chamando de rata imunda. Eu só queria desaparecer como sempre acontecia nesse tipo de situação. Sentia-me tão inferior, tão humilhada, olhando para todos aqueles rostos sorrindo, me acusando por algo que eu nunca faria nem nessa vida, nem na outra. O pior foi ver, dentre todas as pessoas, o próprio Derek se divertindo com toda a situação na sua roda de amigos.

Com lágrimas nos olhos, peguei a mochila do chão e rumei para fora da escola, para fora da vida de toda aquela gente.

Na medida que pedalava desesperada com minha bicicleta entre as ruas da cidade para os braços do meu melhor amigo, também conhecido como meu pai, as lágrimas nublavam minha visão e senti a tão familiar sensação de ser seguida. Obviamente, eu achava que tudo não passava de neurose da minha cabeça, visto que, como papai sempre comenta, "é apenas instinto ou sexto sentido feminino".

Ignorei essa sensação e continuei o tão conhecido caminho para a prisão de casa, que nada mais era do que uma grande fortaleza protegida com vigias, cerca elétrica e cachorros treinados para ataque. De fato, nunca entendi essa necessidade absurda de proteção do meu pai, até porque ele não passava de um simples químico que produzia fórmulas de perfume para grandes empresas, nem como ele conseguia tanto dinheiro com esse simples trabalho, mas o que os olhos não veem o coração não sente. É bem provável que ele manteve uma conta bancária recheada durante os anos, então meu pai poderia gastar seu dinheiro como quisesse.

Enquanto o segurança liberava minha entrada, já era possível escutar os berros da minha mãe, brigando por alguma trapalhada que Smigool teria feito. A querida Rita era uma bela mulher na casa dos quarenta anos com corpinho de trinta. A vaidade era seu segundo nome. Só por esse claro episódio, já dava para perceber qual era a filha favorita dela. Eu era a preferida de papai, mamãe preferia Susany. Deve ser a lei universal de quase toda a família que tem dois filhos.

- Chegou cedo em casa hoje, Susan! - Nossa querida Dona Rita parou o que estava fazendo com Smigool e se escorou no batente da porta da entrada principal. - O que você vai inventar dessa vez para acusar a Susy?

Não disse? Era renegada por minha singular mãe. Susy sempre seria a perfeita, enquanto eu era o patinho feio.

Subi o lance da escada principal da mansão Pellegrini, enxugando as lágrimas restantes do meu rosto já inchado, tentando passar despercebida. Claro que falhei miseravelmente.

- Chorando de novo? - Mamãe segurou meu rosto duramente, chegando a trazer dor. - Quantas vezes isso já aconteceu essa semana? Você não cansa, Susan?

- Sinto muito se sou uma mera mortal humana que chora. - Comentei, entrando em casa, encerrando o assunto, e dando as costas a ela.

Segui para o escritório, sabendo que encontraria o grande senhor Lorenzo digitando alguma coisa incansavelmente no computador enquanto falava com Bitello ao telefone, seu melhor amigo e sócio. Apenas entrei na sala e papai parou o que eu já sabia que estava fazendo. Ele me encarou de cima a baixo: olhos inchados, roupas amassadas e totalmente descabelada. Então, meu pai soube que algo estava errado ao quadrado.

- Bitello, resolvemos esse problema depois. A Susan está aqui. - E desligou o telefone, sem dar tempo para seu amigo responder qualquer coisa. Antes de mais nada, seus braços fortes me rodearam. Meu pai, mesmo na faixa dos quarenta e cinco anos, ainda era um homem atraente. Ele sempre foi muito preocupado com seu porte físico.

As lágrimas, que eu pensei não existirem mais, voltaram a nascer do além, molhando o terno escuro novinho. Papai começou a passar a mão delicadamente por minhas madeixas loiras, sua herança genética.

- Ela roubou seu uniforme enquanto você estava no banho por causa da educação física? - Acenei negativamente com a cabeça em seu peito. - Ela pôs vários sapos na sua mochila mais uma vez? - Continuei negando.

- Ela fez todo mundo pensar que eu dormi com o pai de uma das amigas dela! - Solucei em seus braços.

- Como é que é? - Papai levantou meu rosto. - E alguém acreditou em tamanha mentira?

- Só a escola inteira. Numa hora desses eu já sou a garota mais piranha de toda Itália. - Sorri com a ironia da situação. Só fui beijada pela primeira vez aos 15 anos de idade e ainda de forma acidental.

Veja bem, se atualmente eu me considero feia, imagina aos 15 anos! Óculos de grau, aparelho, espinhas. Claro que perder a BV é o sonho de toda adolescente normal, mas como eu me desqualifico da categoria normal, isso nunca sequer passou pela cabeça. Porém aconteceu! Mesmo eu, na minha feiura, fui beijada. Isso mesmo! Fui beijada, não beijei.

Veja bem mais uma vez, estava eu, plena de costas, fazendo um dos projetos escolares obrigatórios quando Nick Vitale (vale ressaltar gato, forte, porte atlético, popular) simplesmente me pegou em seus braços e tacou um baita beijão nos meus lábios. Sociedade, imagina meu choque e o dele ao perceber que eu não era a Susy. E nessa época eu meio que poderia ser considerada o queijo de "Diário de um Banana", então, infelizmente, o caro dono do meu primeiro beijo ficou com o toque do queijo por muito tempo até mudar de escolar. Carma? Provavelmente!

Mas voltando aos dias atuais, papai simplesmente sacudiu a cabeça e disse:

- E quem era a garota nas fotos? - Perguntou sugestivamente.

- Foi montagem, pai. Não era eu ou Susy. Não se preocupe com isso! - Mesmo minha irmã sendo uma vadia monumental, não vou prejudicar a frágil relação dela com papai, até porque ele não merece tanto desgosto.

O grande Lorenzo suspirou aliviado.

- Susan, como eu queria que esse pessoal da sua escola realmente conhecesse a pessoa maravilhosa que você é. - Papai tornou a me abraçar. - Eles iriam se arrepender por tudo que te fizeram passar, principalmente sua irmã. Eu já tentei conversar com ela, mas sua mãe sempre a encobre. Parece que quem tem voz e controla tudo é apenas sua mãe nessa casa. Chega a ser contraditório. - Meu pai comentou de forma pensativa, olhando para o nada.

- Por que contraditório? - Chamei sua atenção.

- Nada, florzinha. - Desconversou como sempre fazia. - O que você acha de tomarmos aquele sorvete de creme com passas que nós dois adoramos?

Sorvete de creme com passas era sinônimo de felicidade. Toda vez que acontecia situações como essa, papai trazia um pote para esquecermos todos os problemas da vida dura que nos cercava. Se o.k. era o sempre de Hazel Grace e Augustus, para meu pai e eu o sorvete de creme com passas era nossa eternidade. E na medida em que seguíamos para a enorme cozinha, senti que tudo ficaria bem se ele estivesse sempre ao meu lado.

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