Vitória voltou pra casa Earp depois de conseguir consolar Nicole.
— Eai? Descobriu o que aconteceu? — Perguntou Waverly quando abriu a porta.
— Essa garota ta aqui mesmo. — Disse Willa revirando os olhos enquanto tomava o café da manhã.
— Waverly Earp eu preciso conversar com você.
Ela me chamou pelo nome inteiro, fodeu. Pensou Waverly.
— Ahn, tá.
— Qualquer coisa estarei no meu quarto. — Disse Wynonna que estava comendo junto com Willa.
As duas meninas assentiram e subiram até o quarto da mais nova e Vitória trancou a porta e virou de braços cruzados para Waverly.
— Me fala por que você quer sempre deixar bem claro que é hétero e gosta de garotos?
— Eu não quero deixar claro que eu gosto de garotos.
— O que? Você literalmente gritou ''Eu gosto de garotos''. — Disse a última frase tentando imitar a voz de Waverly.
— Porque você colocou a ideia que talvez eu não goste de garotos na cabeça e agora não desiste. Você fez eu beijar uma garota!
— Qual o problema nisso porra?
— É uma garota.
— Qual o problema nisso porra? — Repetiu revirando os olhos.
— Eu sou hétero.
— Quero que você responda as perguntas que eu vou fazer com sinceridade.
— Manda.
Vitória puxou Waverly na cama e ambas se sentaram, viradas uma pra outra.
— O que sentiu quando beijou Pedro? — Disse se referindo ao primeiro beijo de Waverly.
— Foi estranho, não senti nada além de nojo, ficava toda hora pensando que tinha uma língua na minha boca.
— Primeiro beijo, vamos considerar isso normal. E Tyler?
— Não senti nada demais, acho que ele não sabia beijar.
— Todas as meninas que o beijaram acham que ele beija bem, até a ex dele admite isso. E eu sei disso porque também beijei ele. E Ryan?
— Nada demais, ele até se empolgou e eu tive que fugir antes que desse merda.
— Leonardo?
— Também nada...
— Champ?
— Arghh, ele pode ter pegada como dizem, mas não quero nem saber mais desse cara.
— Ok, e a Nicole, o que sentiu?
Waverly parou um tempo pra pensar. Se distraiu lembrando do coração acelerado, arrepios, corpo quente e... A vontade de nunca a largar.
— Eu...
— Sinceridade.
— Tá, eu posso ter sentido alguma coisa.
— Alguma coisa tipo?
— Alguma coisa.
— Coração acelerado, vontade de beijá-la pelo resto da vida?
Waverly ficou totalmente sem falas.
— Waves, me ajuda a te ajudar, eu sou sua amiga a quanto tempo?
— A mais de dez anos.
— Por que não confia em mim? — Focou seus olhos tristes nos olhos confusos de Waverly.
— Eu...— Desviou o olhar, estava se sentindo intimidada.
— Me conta o que aconteceu. — Pegou na mão de Waverly passando conforto a ela. — Eu estou aqui por você, pode contar comigo, eu sempre vou estar aqui pra te apoiar e te ajudar. Mas você precisa confiar em mim.
Durante longos segundos as duas ficaram em silêncio, Vitória respeitando o espaço de Waverly.
— Eu... Tá, Vitória... — Disse pausadamente a olhando novamente. — Eu senti meu coração acelerado... Eu senti vontade de continuar a beijando, não senti vontade de parar nunca. E quando veio aquela falta de ar pela primeira vez eu não me senti feliz por isso, pelo contrário, mesmo caindo a fixa do que eu tinha acabo de fazer, eu senti vontade de a beijar novamente.
— Waves, por que ainda acha que gosta de garotos?
Waverly sentiu uma lágrima sair pelo seu olho.
— Lembra da Camila?
— Sim o que tem ela?
— Lembra quando ela se assumiu lésbica e sofreu bullying?
— Lembro sim.
— Eu fui pesquisar, vários casais homossexuais agredidos por estarem de mãos dadas, várias famílias expulsando seus filhos de casa após se assumirem. E nos melhores casos, religiosos orando para que um possível demônio saia do corpo dos LGBT's. — Waverly diz deixando agora várias lágrimas saírem.
Vitória acompanha a garota no choro, ela a abraça.
— É por isso Vick, é por isso que eu fico afirmando que sou hétero, eu não quero ser lésbica, eu não quero. — Chorou em seu ombro.
— Ah Waves... — Acariciou os cabelos da garota em seu ombro enquanto chorava também. — Era por isso?
— Sim... Eu tenho medo da minha tia não me aceitar, eu tenho medo de sofrer o que a Camila sofreu, eu tenho medo do mundo Vick. É por isso que eu tento gostar de meninos, é por isso que eu não queria saber se eu gostava de meninas.
Vitória a tirou do abraço para olhá-la nos olhos, ambas estavam com os olhos vermelhos de choro.
— Você não tem ideia... Do quanto eu te entendo.
— Entende? Você parece ser tão corajosa, se assumiu bissexual pra todo mundo, inclusive para sua família, beijou minha irmã na minha frente.
— Pensa que não tive um diálogo interno antes disso? Quantas noites eu tive que passar chorando até chegar nessa decisão?
— Como que decidiu se aceitar e contar pra seus pais?
— Waverly, a vida não é fácil, e pela nossa própria felicidade, temos que tomar decisões difíceis. Por quanto tempo eu teria que viver me escondendo? Por quanto tempo eu teria que viver fingindo ser alguém que eu não era? Isso custava minha felicidade, eu só queria ser feliz.
— Mas o mundo é totalmente preconceituoso.
— Eu sei Waves, muitas pessoas não estão evoluídas, esses pais colocam a religião acima do amor que possuem pelos filhos. São totalmente hipócritas, dizem para amar o próximo mas fazem ao contrário. Mas me diz, vale a pena viver sendo alguém que você não é?
— Vick...
— Essas pessoas não vão viver por você Waves, essas pessoas não estão com você em seus piores momentos, essas pessoas nunca sentiram as dores que você sentiu ou vai sentir. Essas pessoas não estão no seu corpo, você precisa ser você mesma para ser feliz, ou vai chegar um momento que tudo que está guardado aí... — Aponta para o lugar onde fica o coração. — Vai querer sair, vai te sufocando aos poucos.
— ''Pare de se odiar por aquilo que você não é, e comece a se amar por aquilo que você é.''
— Não é tão fácil. — Disse Waves abaixando a cabeça.
— Eu não disse que era... Eu apenas quero que você seja feliz. — Vitória a puxou para outro abraço. — Eu sempre estarei ao seu lado para te apoiar e te ajudar.
— Eu tenho medo.
— ''O amor nunca deve significar viver com medo.''
Elas ficaram alguns longos segundos de silêncio, enquanto ambas se confortavam naquele abraço.
— Vick? — Waves se desfez do abraço e abaixou a cabeça.
— Oi?
— Você... Você acha que minha tia ia me aceitar se eu falasse que talvez estou gostando de uma garota?
— Eu não posso te falar que ela vai te aceitar Waverly, ela parece te amar muito, mas... Como eu disse algumas pessoas colocam o preconceito acima do amor. Não posso te iludir aqui dizendo que ela vai aceitar, mas você pode tentar...
— Se ela não me aceitar o que eu faço?
— Você tem eu e meus pais, você tem a Wynonna, você tem a Nicole, e você tem você mesma, um dia você vai olhar pra trás e verá que todas essas suas lágrimas se transformaram em lágrimas de felicidade, por ter superado tudo isso, e eu sei que você vai conseguir, porque você é forte Waves, você é uma guerreira.
As palavras de Vitória soaram a semana inteira na cabeça das duas garotas, na escola ainda andavam juntas no recreio, porém não estava tendo diálogo e risadas como sempre teve, somente um silencio constrangedor, ambas se negando a conversar sobre o que ouve naquela noite.
No sábado, uma semana após o beijo, Nicole recebe uma mensagem.
Número desconhecido (14:33): Sentiu minha falta?
Nicole Haught (14:33): Não sei por que ainda pergunto mas... O que você quer?
Número desconhecido (14:33): Fiquei sabendo que beijou uma garota, foi bom?
Nicole Haught (14:34): Oi?
Número desconhecido (14:34): Não finja que não sabe do que eu estou falando.
Nicole Haught (14:35): Eu não sei do que você está falando.
Número desconhecido (14:35): Sei que você beijou Waverly Earp.
Nicole Haught (14:35): O que? Como você sabe?
Número desconhecido (14:35): Então é verdade.
Nicole Haught (14:36): Você é um psicopata, macumbeiro, mágico, leitor de mente, que porra você é?
Número desconhecido (14:36): Tenho meus contatos.
Nicole Haught (14:36): Contatos?
Número desconhecido (14:37): Você não deveria confiar em qualquer um que aparece na sua vida Nicole...
Nicole Haught (14:37): Oi?
Número desconhecido (14:37): Boa tarde Haught.
''Você não deveria confiar em qualquer um que aparece na sua vida Nicole...'' O que significava isso? Só havia três pessoas que sabem do beijo, a própria Waverly, Wynonna Earp e... Vitória?
E se ela tivesse armado esse beijo só pra me ferrar? Ou ela contou pra alguém sem querer. E se Vitória for o número desconhecido?
Vitória tinha passado o número dela para Nicole, a ruiva rapidamente pesquisou a garota em seus contatos e lhe mandou uma mensagem.
Nick (14:39): Oi.
Vick (14:40): Eai Nick, qual é a boa?
Nick (14:40): Contou pra alguém sobre... Aquela noite?
Vick (14:40): Sobre você beijar a Waves?
Nick (14:40): Isso.
Vick (14:41): Por que raios eu contaria pra alguém?
Nick (14:41): Não sei...
Nick (14:41): Alguém me mandou uma mensagem dizendo que eu gosto de garotas — Nicole mentiu, embora fosse meio verdade. — e tem poucas pessoas que sabem disso.
Vick (14:42): Achou que fosse eu? Sei que me conhece a uma semana mas não sou tão baixa a esse ponto.
Nicole pensou por um momento. É verdade, Vitória só esteve na cidade por dois dias e o número tinha lhe mandado mensagem como se tivesse a seguindo a mais tempo. Mas quem seria?
Vick (14:43): Me manda o número?
Nick (14:44): (Anexo número)
Vick (14:46): Ahn? Esse é o número da irmã do João Paulo.
Nick (14:46): Oi? Não faz sentido. Eu não passei meu número pro JP muito menos pra irmã dele. E como existe uma chance dela saber que gosto de meninas? Ou que ela beijou Waverly Earp.
Vick (14:46): Pior que eu não faço a mínima ideia... Se quiser que eu pergunte, ou melhor dê uma bronca nessa garota...
Nick (14:46): Não! Relaxa Vick, vou resolver isso aqui.
Vick (14:46): Ok então, eu acho.
Ela estava decidida, ia abordar a garota na escola e perguntar o porquê dela estar a perseguindo.
Pronto galeris, agora vocês sabem o porque da Waves ser assim. Podem parar de ficar com raiva dela. bjs.