Mais uma chance - Degustação

By adrianaramosbrasil

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Isabela e André se amam desde a infância, mas uma decisão muda o rumo de suas vidas, afastando-os. "Precisam... More

Capítulo 3
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 30
Esclarecimentos

Capítulo 1

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By adrianaramosbrasil

Primeiro vou apresentar os personagens conforme vão aparecendo. Bela e André 

Lolita 

— Já chega Isabela! Pode parar — eu sinto a fotografia desaparecer da minha mão —, eu não quero mais saber dessa choradeira.

Ela joga a foto dentro da gaveta e vai até o aparelho de som desligando a música INeed you now de Lady Antebellum que tocava sem parar. Ela toma meu rosto entre suas mãos, passa a mão tentando enxugar as minhas lágrimas.

— Para já com isso! — sua voz abrandou-se, assim como seu olhar antes duro agora com afeto. — Chega de sofrer por um cara que nesse momento deve estar curtindo a vida em algum lugar cheio de mulheres sem ao menos se lembrar que você existe. Isa, você costumava ser a garota mais legal do mundo até resolver colocar outra vida no lugar da sua. Onde foi parar aquela Isabela que conheci? Alegre, cheia de vida e sonhos?

— Esse é exatamente o problema Loli, toda a minha alegria e sonhos se resumiam a ele. A Isabela que você conheceu não existe mais.

— Existe sim, e está em algum lugar aí dentro dessa pessoa deprimente que estou vendo.

Lolita é uma grande amiga que fiz em Milão quando fui morar lá há alguns anos com a minha família, ela é brasileira e seu pai era um jogador de futebol que encerrou a carreira e se tornou empresário e fixou residência na Europa. Ficamos amigas na escola, e desde então estamos sempre juntas. Ela veio para o Brasil em férias, e resolveu do nada que vai para mesma faculdade que eu. Seus pais a apoiaram. Na verdade eu sabia que ela tinha medo de que eu entrasse em depressão e fizesse uma besteira, como aconteceu com a tia dela que não aguentou o fim do casamento e cometeu suicídio, mas eu não tenho tendência e nem pensamento suicida.

— Vamos, vou te ajudar com as malas — Loli fala no mesmo momento em que abre as portas do guarda-roupas.

— Acho que teremos que ir às compras, você não tem um vestido descente aqui? — Ela joga minhas roupas no chão formando uma grande pilha, pelo jeito nenhuma servia.

— Defina descente.

— Bonita, jovial, sexy.

Sempre me considerei bonita e uma pessoa que sabia se vestir. André sempre dizia o quanto eu era linda, desejável e deixava claro que não gostava de me ver com certos tipos de roupas. Tenho 1,71 de altura, cabelos castanhos avermelhados, olhos castanhos claros, um rosto angelical e um corpo atraente.

— Você precisa de mais roupas de praia.

— Loli, não sei se será uma boa ideia irmos para Angra, você sequer conhece o dono da casa... — Ela levanta o dedo indicando que eu me calasse.

— Nem vem com desculpa, Isabela eu te conheço. Já disse que é do amigo de uma amiga, ele é um ricaço que os pais não estão nem aí sobre onde e nem o que ele está fazendo, liberou a casa e talvez nem apareça por lá, e eu não vou deixar você aqui sofrendo e chorando. — Ela coloca a mão na testa e faz voz de choro enquanto bate no meio do peito com a outra mão de forma exageradamente dramática.

— Credo Lolita, deixa de ser ridícula.

— Você vai, e vai se divertir — Lolita olha para as minhas roupas fazendo um gesto de desdém com a mão —, nem precisa levar muita coisa, pode deixar comigo, estou indo às compras enquanto você termina, pode ir dando adeus à essa fossa que você entrou, em duas horas o motorista vem te buscar ok? Esteja pronta. — Ela sai sem deixar que eu dissesse mais nada.

Lolita não chegou a conhecer o André, várias vezes tentei apresentar os dois, mas nunca deu certo, ela sabia tudo sobre nós, até achava bonitinho e tudo, mas não queria nada parecido para ela, ainda mais depois de me ver quebrada como eu estou agora. E pelo cara que me jurou amor.

Em duas horas estou pronta para ir ao aeroporto onde encontrarei com a Loquita da minha amiga. Lolita sempre foi contra eu entrar em um relacionamento sério aos 17 anos, ainda mais com o cara que foi o meu primeiro beijo, para ela namoro é uma palavra que não existe, ela não quer compromisso, e aos 19 anos já foi para cama com tantos garotos que nem lembra, suas histórias me fazem ir do horror às risadas, ela quer curtir. Hoje somos duas garotas de 19 anos, universitárias e solteiras, sem contar o fato de sermos lindas, palavras dela, claro.

— Em que está pensando? Nem precisa responder, já sei — diz colocando o meu cabelo atrás da minha orelha. — Ele não te merece, deixou uma garota linda, inteligente e meiga com uma desculpa mais esfarrapada.

— Eu vou superar, eu sei que talvez nunca esqueça, mas eu vou superar. Só está muito recente. Preciso de tempo para isso.

— É, e vai ser logo, pode apostar, vai ter muitos gatos para te ajudar nessa missão, e tequila também. — Ela soca o ar como gesto de vitória.

Enquanto o avião segue para o Rio de Janeiro, eu me lembro das palavras do André no fatídico dia que fez meu mundo desmoronar.

— Bela, não é você, sou eu! — Típica frase ridícula que não deve ser dita a ninguém. Ele fez uma pausa, respirou fundo como que se fosse sofrido para ele, passou a mão no cabelo.

— Estamos juntos já faz tanto tempo que... — eu interrompi sem um pingo de orgulho próprio com minha voz embargada pelas lágrimas:

— Dois anos para você se tornou muito tempo? — Ele me olha de cenho franzido. — Me lembro quando costumava dizer que me amaria até o infinito e mais além.

— Dois anos? — ele balançou a cabeça em negativa. — Muito mais do que isso, para mim foram sete anos. Foi lindo eu curti cada momento, eu te amei e muito, Bela, e ainda amo. Você foi a melhor parte de minha vida, mas eu preciso viver mais, somos muito novos para ficarmos presos em um relacionamento como o nosso sem viver outras experiências. Preciso que você entenda que eu não quero te trair, não sou assim, você sabe que eu odeio traição, mas está difícil... Pensa daqui a alguns anos quando olharmos para trás e vermos tudo que não vivemos. Eu não quero te magoar...

— Mais? — gritei com ele me levantando. — Você acha que pode doer mais do que já está doendo? Eu não vou saber me acostumar sem você, eu não existo sem você, não estraga tudo André! — Me aproximei, tomei o seu rosto em minhas mãos sem me importar em suplicar. — Eu preciso de você — as lágrimas caiam em forma de cascata —, eu preciso de você.

Ele segurou suavemente nos meus pulsos, livrando seu rosto do meu toque. Fugindo do meu olhar, suspirou fundo e balançou a cabeça. Saiu sem falar mais nada, e eu fiquei lá sentada no chão chorando durante horas, pensando que era o fim da minha vida, meu peito doía de uma maneira inexplicável, indescritível, meu coração idiota não queria entender que era o fim.

Nosso namoro estava meio diferente depois que André foi para a faculdade há um ano atrás. Nos víamos pouco, ele sempre tinha que estudar, que fazer trabalhos e eu entendia, a faculdade também me tomava tempo. Do nada ele resolveu que seria melhor terminar, eu pensei que ele estava gostando de outra, mas ele me garantiu que não, que me amava, o problema é que ele queria várias. Ele me procurava sempre, dizia que sentia minha falta, e eu acabava cedendo pois também sentia sua falta, um pouco dele era melhor do que nada. Hoje vejo que pensar assim foi meu erro. Ele não queria namorar, ter compromisso, ser fiel e ter apenas uma mulher, e ficamos nessa durante esses últimos três meses. Sempre quando a saudade era muita nos encontrávamos, o que acontecia com frequência. Vivíamos com saudade um do outro.

Três semanas atrás André chegou em minha casa me chamou para sair e eu louca de saudades fui com ele. Seguimos para Santos, ele havia comprado um barco e queria fazer a estreia da suíte principal comigo, foi então que a minha ficha caiu, que abri meus olhos para a besteira que eu estava fazendo com minha vida. Eu agora era apenas uma ficante, um rolo, a que ele queria dividir momentos importantes, a garota que ele queria conversar, a principal foda dele, a que ele nutria um sentimento além de sexo, mas era só, e eu não queria isso. Não queria ser a primeira a transar com ele na suíte do seu iate, eu queria ser a única, não aceitaria menos que isso a partir daquele momento. Eu percebi que precisava me valorizar. Seria tudo ou nada.

— Me leva para casa — disse sem descer do carro, estávamos no porto de Santos.

— Bela...

— Quero ir embora André.

— Ainda nem entramos... quero te mostrar como é maravilhoso lá den...

— E não iremos entrar nesse barco! — gritei segurando as minhas lágrimas que insistiam em querer cair dos meus olhos – Eu não quero isso, eu não vou mais aceitar que você me use e depois me descarte.

— Mas que conversa é essa Isabela não estou te usando, eu...

— Agora, André.

— Bela, você aceitou vir até aqui comigo, temos uma boa relação, está tão bom assim pra quê isso agora?

— Tudo bem — falei tentando abrir a porta —, se você não quer me levar eu pego um táxi. — Ele ligou o carro, virou para mim com o semblante sério:

— Se você não for comigo sabe que tem um monte de garotas querendo não sabe? E eu não vou ficar correndo atrás de você Isabela.

Idiota.

Imaturo.

Convencido.

— Eu não acredito, vai dar de vítima agora? Eu até tentei jogar o seu jogo, mas eu não sou esse tipo de garota que transa sem compromisso, apesar de amar você, preciso me amar mais e ser melhor do que isso. Agora me leva para casa e traz quem você quiser, eu não ligo. Eu não quero conhecer essa droga de barco, iate seja lá o que for. Chega!

Voltamos o caminho todo sem trocar uma palavra sequer, o som estava tão alto tocando um rock internacional que não conseguia nem pensar. Ele corria tanto que tinha que me segurar no banco com medo de voar pela janela apesar do cinto, mas não disse nada até chegarmos em minha casa. Quando ia descer do carro André me segurou pelo braço, seus olhos castanhos claros me queimando.

— Você vai se arrepender por isso. — Soltei-me de suas mãos.

— Vou me arrepender se continuar com isso. Eu não quero apenas o que você tem a me oferecer, eu quero mais.

— Infelizmente o que você quer agora eu não posso te dar. — Vejo pesar em seus olhos, o que quase me fez fraquejar.

— Você não quer, é diferente e eu já entendi isso, agora basta você entender e me deixar em paz. Não me procure mais André, definitivamente acabou.

— Chegamos. — A voz da Lolita desperta-me dos meus devaneios.

Ligo para minha mãe avisando que já íamos pegar o barco que nos levará para Angra, minha mãe como sempre, tenta me deixar informada. Antes eu até gostava, mas agora não quero mais isso para mim, está sendo nocivo.

— Filha, você acredita que o André foi para o Caribe com uns amigos da faculdade? Laura está revoltada com a atitude dele com você...

— Mãe — interrompo antes dela concluir —, por favor não quero que me fale do André ok? Isso termina aqui, não quero nem que no nome dele seja citado, não quero saber o que ele faz e nem onde está.

— Filha... tudo bem, você está certa, se divirta.

— Eu vou mamãe, te amo. — Me despedi dela e desliguei o celular.

— Ai amiga, agora fiquei orgulhosa de você — Lolita levanta a mão e eu bato em um comprimento —, nada de André, André já era, passado.

Eu já sabia dessa viagem para o Caribe, fazia quase quatro meses que tínhamos terminado, mas continuávamos "amigos", então ele tinha me dito que ia viajar. Eu tinha esperança que ele fosse perceber que errou e pedir para voltarmos, pensei até que poderíamos fazer a viajem juntos, mas agora...

Chega de André, deixa ele se divertir lá no Caribe, pensei enquanto descia para a casa de praia.

O lugar é muito grande, ainda não tínhamos chegado nela, mas dava para ver que é uma senhora de uma mansão.

— A casa possui nove quartos com suítes, a suíte principal não pode ser ocupada, como vocês foram as primeiras a chegar podem escolher onde ficar. — O homem que carregava nossas malas nos orienta.

— Tem algum quarto para duas pessoas? — Minha amiga pergunta.

— Tem sim.

Na entrada tem um deque lindo com 3 mesas de vime cada uma com aproximadamente 6 cadeiras, e ao lado do deque uma piscina de borda infinita parecia se misturar com o azul do mar. Subimos uma pequena escada e entramos na sala principal.

— Uau! — Olho admirada para o piso de madeira bem polido. A sala tem 3 sofás muito grandes formando um u, uma mesa de centro que mais parece uma cama está muito bem arrumada com alguns livros e objetos variados, no fundo da sala tem um bar com muitas garrafas de diversas bebidas. Subimos as escadas e abri uma porta de madeira, o quarto tem duas camas, um closet, uma TV imensa que toma a parede com revestimento de madeira, ao lado da cama uma porta que dá para uma piscina de tom azul com uma pequena cascata.

Estou literalmente de queixo caído.

— Como uma pessoa em perfeitas qualidades mentais pode ceder uma casa como essa para um bando de jovens, loucos por farra? – Olhei para Lolita que se joga de costas na cama.

— Eu te falei, o amigo da Natália é muito rico, acho que ele nem lembra que tem essa casa. É só mais um dos lugares onde faz as farras ou simplesmente permite que seus amigos façam — disse —, e o melhor: o barco vai ficar por nossa conta!

— Isso é um exagero — deito-me na cama —, mas acho que vou gostar disso. Quero conhecer esse seu amigo.

— Nada disso, a Juliana deixou bem claro que se ele aparecer, é com ela que ele vai ficar, logo ele é território proibido. Pelo que ela fala dele acho que não faz seu tipo, um playboy metido a besta. Vou descer e esperar o resto do povo.

— Eu vou tomar o banheiro. — Paro admirada olhando o revestimento de mármore além de uma bela vista para o mar com uma banheira ao fundo colada à uma parede de vidro ornada com plantas, enquanto estivesse relaxando no banho podia apreciar a vista. — E vou demorar — grito já colocando a banheira para encher.

Não sei quanto tempo fiquei olhando o mar através do vidro, a água estava em uma temperatura ótima, não resisto a deixar meus pensamentos vagarem para o meu passado e no quanto eu e ele gostávamos de ficar agarradinhos na banheira.

Quando nos conhecemos eu tinha apenas 10 anos de idade e ele 12, mas já se achava desde daquela época, sempre foi seguro de si e de uma beleza única, não passou pela fase de garoto com espinha na cara, sempre foi lindo, pele perfeita, sorriso cativante e seus olhos, olhos incríveis de um mel límpido, quase verdes.

Lembro bem o dia que nos vimos pela primeira vez, estávamos em um almoço de domingo, meu pai tinha reencontrado um velho amigo de faculdade e juntos decidiram iniciar uma sociedade. Na verdade, meu pai tinha os sonhos, as ideias, a garra pelo trabalho e o Ricardo Myoheiner o dinheiro, a fusão perfeita para o sucesso.

Eu estava no jardim da casa dos Myoheiner, uma mansão que tinha o jardim mais perfeito do mundo, e eu achava que estava dentro de um filme que tinha visto com a minha mãe, O Jardim Secreto, onde as flores faziam o seu papel de deixar o lugar encantadoramente perfeito, me transportei para outro mundo ao andar em meio às roseiras, cheirando e falando com as flores. Eu criei também o cenário de um castelo onde eu era a princesa. Estava em um momento mágico, em um monólogo com uma linda rosa tentando decidir em qual dos dois cenários eu me encaixaria melhor. Estava admirada com a mistura de cores, quando um garoto lindo apareceu em minha frente assustando-me. Gritei levando a mão ao peito, e deixei a rosa cair no gramado.

— Oi, você é Isabela? Mandaram eu procurar por você.

— Quase me matou de susto. — Ele deu uma gargalhada gostosa.

— Me chamo André, posso de chamar de Bela? — perguntou enquanto seguíamos por um caminho que ele me indicava.

— Bela? Claro que não, se minha mãe quisesse que eu fosse chamada assim teria colocado meu nome de Bela, e não Isabela.

— Eu gosto de Bela, acho um bom apelido, você é tão bonita que merece ser chamada assim, parece uma princesa — ele pegou minha mão e saiu me puxando —, agora deixa de ser chata e venha que vou te mostrar o que é diversão Fada Bela — disse meu nome com uma certa implicância, e eu gostei.

André passou a me chamar assim, o nome saia de seus lábios tão doce, eu passei a nutrir um sentimento que na minha inocência infantil eu não sabia definir o que era. Contava os dias e as horas para encontrar com ele, e cada dia mais isso se tornava urgente, sua opinião era tudo para mim. André me ajudava na escola, estudávamos no mesmo colégio, e estávamos sempre juntos. Eu sonhava com ele e o admirava mais do que tudo.

Nosso primeiro beijo aconteceu eu tinha 12 anos e foi uma coisa inocente, apenas um toque de lábios, mas para mim foi arrebatador, meu coração disparou, minhas pernas ficaram bambas e foi como se tivesse acontecendo uma reunião de borboletas e fadas voadoras dentro de mim fazendo-me flutuar, e era assim que eu me sentia toda vez que nos encontrávamos. O ar me faltava, não existia mais ninguém, nenhum som sobressaía ao da sua voz, e nada brilhava mais que seus lindos olhos. Olhos incríveis, eu faria qualquer coisa para ficar olhando de perto aqueles olhos que oscilavam entre o mel e o esverdeado conforme o seu estado de espírito. Lolita uma vez me disse que eu era muito nova para ter sentimentos tão intensos. É como se desde muito novinha eu tivesse um amor quase doentio por ele, visto que tudo girava em torno do André. Hoje percebo que ela tinha razão quando dizia que eu vivia por ele.

Seu sorriso era capaz de me transportar para um mundo de sonhos, onde eu era a causadora de cada um deles, às vezes eu me perguntava quando me acostumaria e deixaria de ter essas reações, e eu já sabia desde cedo qual resposta: nunca. O problema era que eu queria sempre mais beijos e todo seu sorriso e tempo só para mim, assim como tudo que eu tinha era só para ele. Cada pensamento, cada sonho e cada sorriso. Ao longo dos anos tudo que eu fazia era pensando se ele iria gostar ou não, um corte de cabelo, uma roupa nova, até mesmo as músicas que ele gostava eu queria decorar.

Aprendi desde cedo a cozinhar a comida favorita dele. Tocar violão para cantar para ele. E era assim, eu era um planeta e ele o sol, meu mundo girava em torno do meu príncipe André.
Os negócios do meu pai e do Sr.Myoheiner iam de vento em poupa, em 2 anos fomos morar em Milão onde abriram uma filial. Isso quase acabou comigo, sofri muito por perder meus amigos e ficar longe dele. André disse que ficaria à minha espera porque ele sabia que eu seria a mulher da sua vida. Imagina o que isso fez com uma garotinha sonhadora e apaixonada de apenas 13 anos, que sonhava com príncipe encantado?

Não demorou para que me acostumasse a nova vida em Milão, num país com cultura totalmente diferente da minha, fiz novas amizades, levava minha vida normal, mas as palavras dele não saiam de mim: eu vou te esperar.

Passamos a nos encontrar somente nas férias em viagens rápidas, e sempre tínhamos muita gente por perto, mas sempre dávamos um jeito de ficarmos sozinhos, longe dos olhos dos adultos. Nossas brincadeiras foram ficando mais sérias e não eram mais tão inocentes quanto antes. Eu poderia ficar horas beijando aquela boca, sentindo seus braços em torno de mim e eu me vi completamente dele. Minhas descobertas foram todas com ele.

Quatro anos, foi esse tempo que levou para que voltássemos para o Brasil. Minha avó não estava muito bem e meu pai queria ficar perto da família, a construtora estava estruturada e ficaríamos aqui. O meu reencontro com André foi mágico, depois de quatro anos, eu estava uma pilha, eu sonhei com isso todo esse tempo. Apesar de termos nos encontrado esporadicamente esse era o momento especial, era o meu retorno.

Eu estava no jardim da casa da mãe do André. Meu lugar favorito. Os pais dele estavam praticamente separados, o Ricardo viajava muito a trabalho e esse foi um dos motivos da separação, sem mencionar as mulheres. Minha mãe e a mãe dele se tornaram amigas, ela estava sofrendo com a eminente separação, por isso estávamos ali, claro que o meu motivo era outro. Fazia duas semanas que eu estava de volta e nada de nos vermos, ele tinha muitas coisas a fazer, estava na faculdade e isso tomava muito do seu tempo, e eu já pensava que na verdade estava me evitando.

— Eu sabia que ia te encontrar aqui. — Eu estava de costas para ele, fechei os olhos reconhecendo sua voz, meu coração primeiro gelou, depois começou com sua mania de virar bateria de escola de samba. Aproximou-se até encostar o seu corpo no meu, passou uma mão pela minha cintura me fazendo chegar mais perto, me girou em seus braços, sua outra mão em meu pescoço segurando firme e carinhosamente os meus cabelos. Tomou a minha boca em um beijo, sem pedir permissão, e não era preciso, para quê pedir se era tudo que eu mais queria? Nossos lábios se reconhecendo nesse beijo, línguas se saudando, dando boas-vindas ao seu lugar. Foi um beijo urgente cheio de necessidade, saudades, e de promessas. Sua mão alcançou meu rosto, nos separamos em busca do ar.

— Tinha certeza que você ia voltar para mim, Bela. — Senti seu abraço apertado, nossos corações batiam em uma só sintonia. Forte, alegre, urgente. Segurou minha mão e me levou a uma pequena fonte que tinha no meio das roseiras.

— Vem, precisamos conversar.

Sentamo-nos em um banco de frente à fonte, o sol estava se pondo formando uma miríade de cores na água que caia dela. Todo o lugar tinha uma beleza única, assim como o homem a minha frente. Eu olhava seu rosto que tinha mudado algumas coisas, estava mais firme com cara de homem, não se assemelhava muito com o garoto que eu me encantei. Seu rosto agora tinha uma barba por fazer que o deixava ainda mais bonito, mas seus olhos tinham o mesmo brilho que me lembrava.

— Eu senti tanto sua falta. — Sua mão acariciava meu rosto, ele sabia o que eu sentia, estava estampado em meu rosto, em meu sorriso e nas lágrimas que agora já desciam sem controle sobre minha face. Eu não sabia me controlar em torno dele, fazia um ano que só nos falávamos  por telefone e agora eu deixava o sentimento explícito. A saudade dando lugar a um sentimento pleno de urgência.

— Eu também. — Beijei novamente seus lábios. — Tive tanto medo que você não me quisesse mais, achei... eu fiquei com medo que você tivesse encontrado outra pessoa que... — Seu dedo nos meus lábios me impediu que terminasse a frase.

— Shiii, nunca. Eu falei que esperaria por você. Ninguém jamais vai ocupar o meu coração, ele é seu desde o dia que te vi bem aqui diante dessa mesma fonte. — Ele sabia usar as palavras certas para me ter em suas mãos. — Uma fada que me encantou e me deixou preso a ela.

— Depois de tanto tempo ainda quer ficar comigo?

— Eu só quero você, Bela, sempre quis, e sempre vou querer. — Nos beijamos outra vez.

Um beijo longo que selava suas palavras dando-me certeza de que ele também sentia o mesmo que eu, e de que esse sempre foi meu lugar. Talvez fossem sentimentos muito intensos para uma pessoa tão jovem, mas essa é a verdade. Eu de fato amo o André desde sempre.

— Você é minha Bela. — Seu polegar circula meus lábios. — Minha Bela — Ele me beija —, minha namorada. — Meu coração não dava trégua dentro do peito.

Ele me olhava com carinho.

— Está ainda mais linda. — Fecho meus olhos sentindo a emoção do momento, de estar outra vez em seus braços.

— Olha pra mim. — Abro os olhos encontrando os ele. — Sou louco por você. — Seus lábios tomam posse dos meus.

Lolita entrou no banheiro feito um furacão me trazendo de volta das lembranças, antes que as lágrimas rompessem.

— Vamos, esse banho não acaba nunca? — Me entra um roupão.

— Já está quase todo mundo lá embaixo, agora vem se vestir que vou te apresentar a turma. Estou doida para eles conhecerem você.

— E o que devo vestir, senhorita? — pergunto usando sarcasmo. Lolita me dá um olhar mortal e se retira sem falar nada.

Olho meu reflexo no espelho e fico satisfeita com o que vejo, coloco uma bermuda bege não muito curta de sarja tipo alfaiataria, uma blusa amarela de malha com alças finas, sandálias rasteiras e saio do quarto antes que a Lolita ou Loquita venha me buscar.

Está uma algazarra só quando desço, uma música latina animada está tocando, gente falando ao mesmo tempo e rindo alto, eu estou descendo as escadas quando Lolita me avista dando um gritinho.

— Ahhh gente, essa é minha amiga Isabela, Isa esses são Rogério, Patrícia, Dante, Lucas, Juliana e Gustavo. Ainda falta o resto do pessoal...

— Não falta mais — fala uma garota e a Lolita corre para abraçar assim que ela entra na sala. — Eu sou Samy, esses são Natália, André o dono da casa e Fernando. — Meus olhos seguem na direção de suas mãos e meu coração na hora para.

Inacreditável, me fala como se respira? O olhar que o André lança para mim é mortal.



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