Mystical (l.s)

By larrylaw

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Considerações Iniciais (necessárias para a leitura da fic)
⊱ PRÓLOGO ⊰
⊱ CAPÍTULO I ⊰
⊱ CAPÍTULO II ⊰
⊱ CAPÍTULO III ⊰
⊱ CAPÍTULO IV ⊰
⊱ CAPÍTULO V ⊰
⊱ CAPÍTULO VI ⊰
⊱ CAPÍTULO VII ⊰
⊱ CAPÍTULO VIII ⊰
⊱ BOOK TRAILER ⊰
⊱ CAPÍTULO IX ⊰
⊱ CAPÍTULO X ⊰
⊱ CAPÍTULO XI ⊰
⊱ CAPÍTULO XII ⊰
⊱ CAPÍTULO XIII ⊰
⊱ Q&A ⊰
⊱ CAPÍTULO XIV ⊰
⊱ CAPÍTULO XV ⊰
⊱ CAPÍTULO XVI ⊰
⊱ CAPÍTULO XVII ⊰
⊱ CAPÍTULO XVIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XIX ⊰
⊱ CAPÍTULO XX ⊰
⊱ EXPOSED ⊰
⊱ CAPÍTULO XXI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIV ⊰
⊱ CAPÍTULO XXV ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIX ⊰
⊱ CAPÍTULO XXX ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXIV ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXV ⊰

⊱ CAPÍTULO XXXI ⊰

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By larrylaw

N/A: Obrigada por lerem! Não se esqueçam dos votos e comentários ♡



♘♔♗

Episódio: Blood and Tears

Com seu caderno de volta, Louis já não precisava mais do jogo de perguntas de Harry e isso se tornou nítido naquela mesma madrugada quando, ao entrar em crise, Tomlinon se valeu do objeto para retornar à realidade e sequer olhou para o solo, na extrema esquerda da tenda, onde Styles repousava e o fitava atentamente.

Assim, quando a manhã chegou, o cacheado não ficou surpreso ao despertar e flagrar o comandante jogando xadrez completamente sozinho uma vez mais.

Em verdade, Louis estava arduamente tentando provar que, assim como não precisava do jogo de perguntas de Harry, ele tampouco precisava do próprio Harry, o qual, por sua vez, teve certeza disso quando o homem da faixa negra o ignorou completamente durante a manhã daquele dia de viagem.

Completamente!

Ora, se havia alguém que deveria ignorar alguém entre ambos, esse alguém era Styles. Tomlinson simplesmente não tinha esse direito. E o que o comandante queria dele, afinal? Que se sentisse mal pelo que havia feito? Que se desculpasse? Bem, o cacheado não faria nenhum dos dois. De fato, após a noite passada, ele era capaz de admitir (internamente) que errara ao pintar o comandante como vilão, mas ainda assim, este era alguém que fizera muito mal para si – Louis era o assassino de seus pais e, perante tal argumento, o homem sempre estaria errado e Harry sempre estaria certo.

Nãoera como se ele se importasse com o modo com que o outro se sentia, de qualquerforma – era apenas desconfortável para ele que o silêncio reinasse novamente enquanto o exército escocês prosseguia viagem, pois além de entediante, fazia com que Styles não tivesse alternativa que não pensar sobre seus próprios problemas. Em sua mente, ele continuava a estar mais próximo, a cada dia, da morte; isto porque, ainda que agora soubesse que Charles Stuart o queria para fins de usá-lo e não para fins de matá-lo, não era difícil deduzir o que aconteceria consigo quando incapaz de demonstrar poderes místicos que ele obviamente não tinha.

Céus, o que de tão relevante fizera nos últimos dias que o distraiu da única coisa que deveria importar – encontrar um meio de recuperar sua liberdade?

Repentinamente, ele flagrou-se olhando freneticamente para todas as direções possíveis e a paisagem sempre igual que passava diante de suas vistas fez parecer que estavam andando em círculos por horas, motivo pelo qual sua mente e seu estômago embrulharam em dado momento – o cacheado sentiu-se claustrofóbico ali, como se as copas das árvores de grande porte que reinavam em Aberdeen fossem as grades de uma enorme gaiola se fechando sobre ele.

Foi então, só então, que Harry soube que apelaria.

Já fazia algum tempo desde a última vez que Harry orara, pois ele descobrira prematuramente que fazia o tipo que somente compreendia o catolicismo na parte condizente ao vinho e ao pecado; contudo, aquele lhe pareceu um bom momento para retomar a prática. Por óbvio, nada de diferente ocorreu perante sua repentina oração e ele teve a absoluta certeza que nunca seria capaz de crer na existência de um ser divino que não responde.

Então, a ideia de pedir ajuda de sua mãe reluziu em sua mente, mas ele estava ciente de que Anne ainda deveria se encontrar adormecida, pois, tal qual como Gemma, a mulher falecera durante a noite e, naquele momento, a luz solar ainda prevalecia; assim, o cacheado não viu outra alternativa que não pedir aos fantasmas de Aberdeen que eventualmente faleceram durante o dia para que o ajudassem na criação de uma nova rota de fuga. Quando, porém, nada de diferente ocorreu novamente, Harry apenas pensou o quanto gostaria que Anne aparecesse para ele uma vez mais antes que tudo aquilo terminasse.

Em verdade, até o momento da morte de seus pais, Styles vivia como se pudesse controlar o próprio destino – bastava estalar um de seus dedos para conseguir o que quisesse e da forma que desejasse, superando facilmente qualquer problema fútil que ousasse se abater sobre sua rotina ainda mais fútil; contudo, embora ele nunca tenha de fato descido de sua torre de privilégios, fora recentemente empurrado de lá e, com a queda, aprendera que talvez não fosse tão divertido assim ser o foco das atenções de um grupo de homens. Diante do exposto, ele só gostaria de correr para o colo de sua mamãe naquele momento e se lamentar sobre o quanto a realidade era cruel – o problema é que, uma dessas crueldades da realidade era, inclusive, o fato de que todos estão por sua própria conta.

Foi somente quando entardeceu que Harry constatou que sua prece fora de fato ouvida por alguém: o exército escocês se encontrava atravessando um estreito vale cercado por colinas e um enorme tronco tombado os encurralou de pronto – estavam impedidos de prosseguir pela sua presença e retroceder não era uma opção para Louis, considerando que o trajeto até a Escócia já levaria o dobro do inicialmente acertado.

Entenda, a queda de uma árvore não era um evento a ser considerado atípico no ambiente em que se encontravam, mas, naquele caso, ante o fato de que a cavidade de sua raiz era perceptível a uns bons metros de distância dali, o tronco parecia ter sido arrancado do solo e arremessado no caminho dos escoceses. Assim, aquilo manifestamente não era natural, motivo pelo qual cada um dos soldados se agitou – o burburinho foi ainda mais intenso que quando Harry fizera com que os cavalos da tropa debandassem e muitos foram os olhares direcionados ao seu torso, para fins de certificação de que a pedra da lua ali permanecia, de modo a lhe bloquear qualquer capacidade mística.

– Retirem o tronco do caminho – foi a ordem de Louis, que tinha uma expressão intrigada, mas nunca intimidade.

Eis que a maioria dos soldados lhe obedeceu prontamente, mas houve quem permaneceu imóvel, olhando na direção de Styles fixamente, como se, a qualquer momento, o jovem fosse invocar fogo, ar, água e terra contra eles. Foram estes soldados que obrigaram Louis a descer do cavalo para proferir ameaças, já que qualquer de suas ordens parecia funcionar melhor quando sob intimidação.

Foi durante um alvoroço de desentendimentos entre soldados e comandante que Harry flagrou a figura de uma jovem caminhando lentamente em sua direção e ele não precisou de muito esforço intelectual para concluir que se tratava do fantasma que atendera à sua súplica – além de ela vir da direção da raiz da árvore arrancada, nenhum dos homens aparentava vê-la quando esta passou rente a todos, nem mesmo quando ela retirou o molho com apenas duas chaves que jazia dependurado no cinto de Louis.

Por fim, a jovem parou ao lado esquerdo de Aquiles e contemplou a imagem de Harry sobre o animal com orbes azuis quase tão transparentes quanto a água: ela possuía duas finas tranças na parte frontal de seus cabelos platinados que iam até os ombros e sua pele, que agora reluzia em morte, era albina – sua provável causa de condenação por bruxaria. No mais, se encontrava completamente sozinha e, no momento em que sorriu para ele com seus dentes pequenos, lhe estendeu as chaves de pronto.

Harry lançou um rápido olhar aos homens, que continuavam a se desentender adiante e, de forma ansiosa, ele abriu os cadeados que prendiam as pesadas correntes em seus membros inferiores e superiores, fazendo com que ambas caíssem por terra. Em seguida, desceu de Aquiles vagarosamente, o qual sequer pareceu notar o alívio de peso sobre si, pois seus grandes orbes negros permaneceram atentos ao seu cavaleiro, à disposição para responder a um eventual chamado.

Uma vez ao lado da loira, ela tomou sua mão direita na sua esquerda e o guiou em um caminhar cauteloso até a base rochosa da colina mais próxima, onde foram capazes de atravessar por uma estreita fresta. Ao chegarem ao outro lado, foram engolidos pelas árvores que voltavam a prevalecer sobre o solo de Aberdeen e, só então, ambos iniciaram uma corrida desenfreada, considerando estarem longe das vistas dos escoceses.

– Sou Aurora – ela se apresentou, olhando para trás rapidamente, uma vez que mantinha-se sempre à frente de Harry e ele preferiu crer que aquilo se dava em decorrência de algum superpoder fantasma, pois se recusava a aceitar que fosse tão descoordenado que uma jovem franzina pudesse naturalmente superar sua velocidade.

– Sou Ha –

– Harry Styles, yeah. Anne Styles só fala sobre você.

– Conhece a minha mãe? – perguntou ele, já ofegante, pois falar e correr definitivamente não faziam um bom conjunto.

– Nah, mas posso ouvi-la as vezes enquanto durmo durante a noite – Aurora expôs.

Eis que Harry se lembrou de que estava na presença de um fantasma do dia, o que era um tanto quanto incomum para ele, já que até então só conhecera seu completo inverso: fantasmas que morreram durante a noite, motivo pelo qual este era o período em que se sentiam mais fortes, podendo assim se materializar no mundo físico para algumas pessoas; durante o dia, porém, eles não eram capazes de se materializar no mundo físico para quem quer que fosse, o que Gemma chamava de "adormecer".

Aurora, por sua vez, pareceu deduzir a confusão do cacheado e acenou em concordância.

– Sabias que a pele humana não é mais capaz de sentir dor após um determinado grau de queimadura?

Styles não sabia, contudo, por saber o básico de ciências da natureza, era uma informação um tanto quanto presumível quando se reflete sobre – após o quarto grau de queimadura, talvez o quinto, os receptores sensoriais da pele devem restar comprometidos pelo fogo e, bem, são eles os responsáveis por enviar estímulos ao tálamo, que produzirá a sensação de dor, a qual objetiva unicamente indicar ao ser humano que há algo errado consigo e que deve ser cessado imediatamente.

– Bem, eu verdadeiramente não sabia, até a madrugada em que cumpri minha pena na fogueira. Fui a última de minhas irmãs a ser executada e, após um determinado grau de queimadura, a dor simplesmente abandonou meu corpo, de modo que morrer não mais soava como o inferno e eu fui capaz de resistir até a chegada do primeiro raio de sol – ela soou orgulhosa. – Sou a única aqui que o fez – e então soou triste.

– É solitário – o cacheado deduziu baixinho e soube que estava certo no momento em que Aurora acenou afirmativamente com a cabeça à frente, sem olhar para si.

Eis que correram por aproximadamente dez minutos antes que o som de galopes se fizesse presente – as frestas entre as colinas eram estreitas demais para que a carroça que levava os pertences de todos os soldados pudesse atravessá-las, então, no momento em que o exército escocês deu pela falta de Harry, Louis teve que soltá-la de Aquiles antes de partir com seu cavalo em perseguição, cedendo ao perseguido uma pequena vantagem de tempo; ainda assim, Styles tinha pouca resistência física e era lento, enquanto os cavalos eram animais resistentes e velozes, não sendo em vão o título de melhor meio de transporte da época.

Bem, tendo em vista que o cacheado só ouvia galopes de um dos cavalos, ele deduziu corretamente que o grupo havia se separado para procurá-lo e, considerando que havia apenas dois cavaleiros que atualmente possuíam montaria, não dispôs de muito esforço intelectual para concluir que a figura em seu encalço somente poderia ser Louis ou Dougal e ele realmente desejou que se tratasse da última alternativa, pois a primeira se tratava de um homem que declaradamente se equiparava a si em inteligência e, em alguns aspectos, até mesmo o superava.

– Oops! – Aurora exclamou.

Eis que sua guia paralisou o corpo abruptamente, parando imediatamente de correr, então Styles a ultrapassou e em seguida sentiu o próprio corpo ser puxado para trás, pois a mulher ainda segurava sua mão direita com firmeza, motivo pelo qual o cacheado se virou na direção dela – o que ele viu foi... inenarrável.

Havia uma fenda luminosa aberta sobre o tronco de Aurora, exatamente no centro de seu ser – aquilo brilhava tão intensamente que pontinhos vermelhos dançaram nas retinas de Harry conforme aquela fenda ia progressivamente aumentando de tamanho.

– Minha missão... O que me prendia aqui... Era ajudar você! – exclamou mais para si que para ele. – Obrigada, Harry!

Naquele momento, a fenda luminosa já se expandira tanto que tomou por completo o ser de Aurora, sendo necessário que Styles soltasse as mãos de ambos e se valesse de sua destra para tampar as próprias vistas, pois fitá-la era como fitar o próprio sol.

– De... Nada?!

Eis que houve uma explosão de luz e então Aurora simplesmente não se encontrava mais diante de si.

O cacheado respirou fundo uma vez. Ele irrefutavelmente detestava esses momentos de sua vida que pareciam escritos por um autor deveras cruel – aquela cena fora linda e simultaneamente assustadora

Em verdade, ele nunca antes pensara que poderia ser a missão de um fantasma, ou seja, o motivo pelo qual um espírito se encontrava preso ao plano terrestre, dia após dia, incapaz de alcançar a paz; contudo, se um dia vislumbrasse tal possibilidade, jamais pensaria que poderia envolver o fantasma de alguém que sequer conhecera em vida.

De toda a sorte, era realmente um péssimo momento para refletir sobre suas recentes descobertas acerca da morte, pois o som de galopes parecia cada vez mais próximo dele.

-x-

Uma vez sem Aurora, Harry não possuía mais um guia para conduzi-lo Aberdeen afora, motivo pelo qual escolheu seguir a direção mais óbvia: em frente.

Corria o máximo que podia e, por tal razão, empregou muita cautela em desviar dos obstáculos que encontrava sobre o solo da floresta, objetivando não tropeçar. Assim, não passou despercebido por Styles o momento em que o terreno abaixo de suas botas douradas começou a mudar – de tomado por folhas, tornou-se gradativamente lamacento. Houve, ainda, um cheiro um tanto quanto desagradável no ar que invadiu suas narinas repentinamente e o deixou enjoado, contudo, desviar daquela rota não era uma opção para o cacheado, já que teria que retroceder alguns metros para tanto, o que poderia fazê-lo topar com o cavaleiro negro que o perseguia.

Quando, repentinamente, sua perna afundou na lama até a altura do tornozelo, Harry se deu conta de que se encontrava diante de um pântano – um grande lago de lama fedorenta se estendia diante dele, sendo quebrado apenas pela superfície estreita de rochas aqui e acolá, visivelmente tomadas por lodo em decorrência da umidade do terreno.

A lama na qual seu pé afundara era pegajosa e absurdamente pesada, de modo que se fez necessário um impulso absurdo para desentalar-se e Styles apenas se libertou após jogar todo o peso de seu corpo para trás por mais de uma vez. Ressalta-se que no momento em que finalmente aquela superfície liberou seu membro inferior, a sucção que a lama reproduziu foi notória e ele pensou que, caso a altura fosse maior, poderia facilmente arrastar um ser humano para o fundo com tal força que o impossibilitaria de retornar, causando um afogamento.

Diante de tal pensamento, o cacheado engoliu em seco antes de pular para a primeira rocha visando atravessar o pântano – se fosse tão semelhante com lagos de água quanto parecia, a tendência era que ficasse ainda mais profundo por sua extensão.

Entenda que, o aspecto racional de Harry realmente pugnou para que ele retrocedesse naquele momento, pois era manifesto que Styles era desastrado, desengonçado e que possuía dois pés esquerdos; no mais, arguiu também que Louis talvez fosse mais misericordioso caso ele se entregasse por legítima vontade. Entretanto, seu instinto impugnou atestando que não era como se o risco diante de si fosse menor do que o risco de chegar à Escócia, pois ambos eram mortais; no mais, alegou também que, em todas as suas tentativas de fuga, nunca chegara tão perto da liberdade quanto atualmente se encontrava.

Motivado pelos últimos argumentos, o cacheado aprendeu que ser corajoso se tornava mais fácil quando não havia outra escolha.

Assim, ele pulou para primeira rocha e seu pouso foi perfeito, mas ao repetir o gesto para a segunda rocha, se desequilibrou – seu corpo inclinou-se levemente e seus braços tatearam o ar de ambos os lados, como se ele fosse uma ave em meio a um voo atrapalhado, conseguindo por fim retomar sua estabilidade e voltando a avançar em seguida.

Na sétima rocha, porém, o salto de sua bota dourada falhou no que ele pisou, pois a superfície de lodo era escorregadia por si só e, desta forma, Harry afundou até ambos os tornozelos na lama.

Ele amaldiçoou seus sapatos prediletos, mas logo sua mente conheceu preocupações maiores que a de encontrar adjetivos pejorativos adequados para eles – de fato, a superfície era substancialmente consistente, de modo que o processo de afundar seria deveras moroso; contudo, a primeira reação de Styles foi a de se mover freneticamente em busca de impulso para novamente libertar-se e então retornar à rocha, ato que só o fez afundar de imediato até a altura dos joelhos. 

Eis que verdadeiramente entrou em pânico e, ao tentar libertar seus membros inferiores uma vez mais, o cacheado se desequilibrou para trás e caiu sentado sobre a lama fedorenta, a qual imediatamente cobriu-lhe a cintura em decorrência de seus movimentos frenéticos e então sua força não era mais suficiente para lutar contra a força com que o pântano o puxava para o fundo.

Era isso: Harry iria morrer.

Em verdade, ele gostaria que sua história pudesse se encerrar assim: consigo optando corajosamente pela morte imediata, mas livre, do que pela postergada, mas precedida pela perda de sua liberdade – apenas exatamente como um mártir de seus livros de história ou um herói de seus livros fantásticos; isso porque, desta forma, a tragédia ao menos soaria poética. De toda sorte, sua covardia sempre o faria temer o encontro com a morte de modo a adiá-lo o quanto fosse possível, ainda que isso implicasse a trair momentaneamente a si mesmo.

Diante do exposto, chamou instintivamente pelo homem que correspondia a um misto de perigo e segurança para si:

– Luke! – sua voz rouca ecoou por todo o pântano, como se fosse estourar sua garganta. – Luke!

Apesar do desejo silencioso de que o cavaleiro em seu encalço fosse Dougal e não Louis, ele de alguma forma sabia que se tratava do último, quase como se sentisse a presença com que convivera tão intensamente nas últimas semanas por algum tipo de conexão e, de fato, era o comandante que estava a poucos metros dali – Tomlinson rastreara seu prisioneiro com perspicácia através das fundas pegadas deixadas pelo salto alto de seu calçado, mas posteriormente se recusara a seguir a direção por elas indicada, pois é do senso comum que pântanos são terrenos deveras traiçoeiros e até mesmo mortais, então duvidou que o perspicaz Styles ali tivesse adentrado. Ante o exposto, o homem da faixa negra procurava por rastros que apontassem a outros possíveis destinos quando ouviu o chamado, lembrando-se só então de que o cacheado, apesar de declaradamente se equiparar a si em inteligência, ainda era um maldito inglês privilegiado, motivo pelo qual provavelmente nunca teve necessidade de aprender sobre ambientes silvestres para além de seus livros, os quais provavelmente não dispunham sequer o básico sobre o tema.

– Avante! – ordenou para Aquiles, sem nem mesmo hesitar.

O animal o fitou como se indagasse mentalmente se ele perdera a sanidade, mas obedeceu ao comando quando suas rédeas foram agitadas no ar com violência.

O cavaleiro e seu cavalo cortaram o vento em alta velocidade, mas conforme o solo mudava abaixo de ambos, Aquiles ia diminuindo seu ritmo, receoso, emitindo relinchos em protesto por se encontrar ciente de que aquela era uma arriscada empreitada.

– Vamos em frente, garoto – Louis acariciou sua crina extremamente bem cuidada. – Sei o que estamos fazendo.

A lealdade de um animal para com seu humano é uma das conexões sociais verdadeiramente poderosas – inquebrável, passional e quase irracional, motivo pelo qual o cavalo voltou a trotar velozmente.

Bastou apenas mais alguns galopes para que Tomlinson identificasse o contraste da pele pálida de Styles em meio à lama escura e, caralho, a situação não era boa – ele via seu prisioneiro apenas dos ombros para cima e, aparentemente, não por muito tempo, já que este não parava de se mover na falha tentativa de emergir, o que só contribuía para que o pântano o puxasse para o fundo com rapidez. 

Diante do exposto, naquele momento, pensamento algum tomava sua mente além do fato de que precisava salvar o cacheado – entenda, não havia realmente espaço para reflexões acerca de profecias, poderes místicos, Escócia, seu rei, jogos de perguntas e cadernos de capa de couro negro.

Em verdade, o comandante não pôde planejar adequadamente seus atos seguintes – ele precisava ser rápido, motivo pelo qual ordenou à Aquiles que seguisse adiante, pois não havia tempo para que ele mesmo tentasse a sorte nas seis rochas que antecediam o corpo de Harry. O cavalo, sempre obediente, avançou sobre a estabilidade gerada pela consistência da superfície tão rápido quanto esta o permitiu e, ante o fato de que era mais forte que um ser humano, ao afundar superficialmente os cascos na lama, era capaz de gerar impulso por si só para desafundá-los em seguida.

Louis saltou de seu companheiro apenas quando alcançaram Harry, pousando sobre a rocha que outrora derrubara Styles com maestria.

– Fique parado, Aquiles – o cavaleiro ordenou ao seu cavalo, pois conhecia a consistência do terreno e sabia que Styles somente se encontrava afundando naquela velocidade porque não parava de se mover.

Eis que avaliou com atenção o quão horrível era a situação diante de si por um único instante, penteando a franja castanha para trás com dedos nervosos enquanto proferia xingamentos franceses de baixo calão direcionados ao cacheado, o qual, por sua vez, pensou ter compreendido "imbecil" e "babaca" entre eles, mas não poderia ter certeza, pois a força da lama pressionava seu peitoril já submerso e comprimia seus pulmões, tornando o oxigênio em seu corpo rarefeito, de modo a instabilizar sua audição.

– Pare de se mexer – Louis proferiu em seu melhor tom entediado.

No entanto, durante as semanas de intensa convivência entre ambos, Harry esteve muito atento à complexidade contidas nas reações daquele homem, então foi capaz de identificar o toque de preocupação contido na voz alheia ainda diante do esforço de Louis em camuflá-lo com tédio, o que, por sua vez, fez com que o cacheado entrasse verdadeiramente em pânico – ora, o comandante era o homem que lidara mais de uma vez com a possibilidade da própria morte sem resquício algum de temor, então sua demonstração de receio naquele momento não podia significar outra coisa que não que a situação em que o de olhos verdes se envolvera já estava perdida.

Em razão de tal raciocínio, Styles passou a se debater ainda mais, lutando com toda a força que restava em seus braços e pernas contra a lama que o puxava para o fundo e o esmagava em seu próprio ser.

– Não me deixe morrer! Por f-favor! N-não me deixe m-morrer! – a frase de Harry iniciou-se em tom lento e grave, mas este subiu três oitavos e, por fim, a frase encerrou-se em tom rápido e agudo, falhando miseravelmente em decorrência do terror que a ideia de morrer causava a ele.

Sorcier! Arrêter de bouger! (Feiticeiro! Pare de se mexer!) – Tomlinson repetiu, tão alarmado que as palavras escorregaram pela sua língua em seu idioma nativo, algo que só acontecia quando ele perdia o controle das próprias emoções. – Argh, isso somente o fará afundar ainda mais depressa! – explicou, forçando o inglês através de seus lábios finos.

E, oh, ficar inerte era difícil – lutar por sua vida é um instinto inerente da natureza humana e integra o estado de autopreservação existente em cada um. Assim, o cacheado teve que dispor de muito esforço mental para não mais se esforçar fisicamente diante da situação que se encontrava, com suas entranhas se revirando quando ele ordenou aos próprios braços e pernas para que cessassem seus movimentos descoordenados.

– Eu não permitirei que morra – Louis o tranquilizou. – Confie em mim.

Uma vez completamente imóvel, o único esforço que Harry manteve naquele momento se resumiu ao de permanecer inspirando e respirando fundo, pois sentia que a obstrução de seu aparelho respiratório logo o faria cair na inconsciência. Assim, concentrado completamente na tarefa de se manter consciente, se distraiu do fato de que sua vida agora dependia exclusivamente do homem que tirou a de seus pais. De toda sorte, assim como ser corajoso, confiar também se tornava mais fácil quando não havia outra escolha.

Eis que Louis procurou pelo segmento da superfície rochosa em que havia menos lodo concentrado e fincou seus pés nele com determinação, abaixando-se em seguida sobre os próprios joelhos e, uma vez que Harry se remexera tanto que se afastara da trilha de rochas, seu plano consistia em puxar o outro para si através das correntes presas aos braços dele; todavia, percebeu tardiamente que não havia sequer sinal dela. Tomlinson piscou aturdido na direção da pedra da lua que ainda se encontrava fielmente presa ao pescoço de Styles e se questionou momentaneamente como diabos seu prisioneiro fora capaz de usar seus poderes místicos para soltar-se.

Já no instante seguinte, movido novamente pelo desespero que pela racionalidade e ciente de que não haveria mais de uma chance para o jovem cujo pescoço logo seria também imerso pelo pântano, o comandante desembainhou sua espada e virou o cabo para o cacheado e a lâmina para si antes de estendê-la na direção alheia de modo que o alcance de seu braço dobrasse de medida.

– Segure-se no cabo, sorcier. Eu vou puxar você – sentenciou.

E Harry não compreendeu o plano de imediato, mas tampouco parecia relevante compreender todos os aspectos da ideia desde que ela fosse suficientemente capaz de salvá-lo.

Assim, com um esforço inenarrável, Styles foi capaz de levar ambos os braços trêmulos à superfície lamacenta, que diante dos movimentos o fez afundar até a altura do queixo, mas foi capaz de apanhar firmemente o cabo estendido. Tomlinson, por sua vez, não hesitou em puxá-lo, cumprindo exatamente o que lhe havia dito que faria – e o fez através da lâmina. Outrossim, enquanto a lama liberava o corpo do cacheado gradativamente, a pele das mãos de seu salvador era, também gradativamente, dilacerada pela espada.

No momento em que um líquido espesso começou a deslizar pela lâmina encardida, a atenção de Harry foi imediatamente atraída pelo tom do vermelho que se destacava perante o escuro da paisagem pantanosa – era sangue, em grande quantidade e ele se sentiu enojado de pronto.

O verde dos olhos de Styles fugiram imediatamente do escarlate e buscaram algo capaz de tranquilizá-lo, encontrando de pronto o caminho até o azul dos olhos de Tomlinson: quando ambas as cores se conectaram, nenhum dos dois estava ciente de que tal conexão prevaleceria até que aquilo estivesse terminado.

– V-você não v-vai aguentar – disse o cacheado, com as vistas tornando-se úmidas.

Veja bem, Harry era alguém muito, muito empático. Sempre que lia sobre cenas que envolviam ferimentos, era capaz de senti-los em si mesmo, então, naquele momento, sentiu suas mãos em carne viva, como se fosse ele o homem do outro lado da espada.

– Ficaria surpreso – foi a resposta do comandante, que não ganhou respaldo do cacheado, o qual retomava o compasso da própria respiração quando seus pulmões se expandiram em razão de seu peitoril se encontrar já liberto.

Conforme se aproximavam vagarosamente um do outro, mais sangue jorrava de um e mais lágrimas jorravam do outro e se qualquer terceiro flagrasse aquela cena, afirmaria com relativa certeza de que era Styles quem se feria, pois a expressão facial de Tomlinson nada expressava em momento algum, sendo o ranger de dentes o único indício da dor que o acometia.

Eis que finalmente as mãos ensanguentadas de um alcançaram as mãos lamacentas do outro, fazendo com que a espada fosse embainhada.

– Peguei você, sorcier – o comandante pontuou sua fala com um suspiro de alívio. – Peguei você.

Louis colocou-se de pé sobre a rocha, trazendo o corpo de Harry consigo, mas este lutara tanto contra a lama que seus membros superiores e inferiores se encontravam completamente sem forças, motivo pelo qual suas longas pernas titubearam e cederam no momento em que o peso de seu titular foi completamente depositado sobre elas. De toda sorte, os braços de Louis sustentaram-no pelos cotovelos antes que ele caísse e Styles se agarrou firmemente em seus bíceps.

– Você veio – atestou um incoerente Harry.

Os corpos de ambos se encontravam tão próximos naquele momento ante o fato de que a superfície rochosa era estreita, que a lufada de ar gélido que deixou as narinas do comandante e acariciou a face do cacheado foi a desculpa perfeita para que este fechasse seus olhos por um momento, completamente exausto fisicamente e psicologicamente.

– Você chamou por mim – respondeu um confuso Louis.

Não era para ter soado como uma promessa – como se a consequência natural do chamado de Harry fosse necessariamente a vinda de Louis, – mas soou. Uma promessa gravada com sangue e lágrimas, inclusive.

♘♔♗



N/A: Sejam pacientes, por favor. Não sei se vocês reparam em todos os detalhes que eu acrescento a cada capítulo, mas a relação dos larry está sendo construída, exatamente como eu disse a vocês que seria feito aqui, pois me parece um tanto quanto forçado que duas pessoas passem da total repulsa para o mais profundo amor sem embasamento para isso. De qualquer forma, fiquem cientes de que eu já escrevi o primeiro beijo larry de Mystical hihihi.

Parabéns para a aniversariante da semana zabschreave, minha mystic raiz e pessoa com quem me sinto confortável para expor meus dilemas com a fic. 

Beijinhos no coração,

Bê.

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