ALGUNS DIAS DEPOIS.
Eliza
Eu suspirei mais uma vez tentando focar meu reflexo no espelho. Era só mais um daqueles dias que me sentia enfadada e se não fosse pelo fato de ser o casamento de Helena eu apenas desistiria de ir e passaria o dia na cama, não estava me sentindo muito bem e tudo o que queria era que o dia acabasse e eu pudesse retornar e descansar.
— Querida me ajuda com a gravata. — Christophe pediu saindo do closet e vindo em minha direção.
Não conseguia fazer nada sem minha ajuda. Pensei me levantando do banquinho da penteadeira e logo em seguida me arrependendo profundamente. Primeiro o quarto girou e depois escureceu.
— Eliza...
Foi a última coisa que ouvi.
Quando voltei a abrir os olhos tive consciência que não estava em meu quarto e o bipe dos aparelhos me convenceram que o ambiente familiar era um quarto de hospital. Chris estava sentado logo ao lado em uma poltrona e seu olhar perdido se focou em mim assim que meus olhos se abriram.
— O que aconteceu? — Sussurrei estranhando minha garganta seca — Há quanto tempo eu estou aqui?
— Você desmaiou. Viemos pela manhã e já é noite. — Chris explicou apoiando os braços na cama.
— Eu estou bem? — Perguntei com medo — nós estamos?
— Sim. — Chris sorriu e começou a mexer no meu cabelo — aparentemente, embora sua anemia esteja altíssima e por isso tenha desmaiado. Joseph que que fique de observação essa noite, mas amanhã podemos voltar. — Ele explicou.
Suspirei um pouco mais relaxada. Era só anemia, isso explicava o cansaço, a fraqueza e o desmaio.
— Nós perdemos o casamento da Helena. — Choraminguei.
— Ela entendeu perfeitamente.
— E Will?
— Está com a Anne. Eu não quis avisar seus tios, achei que iria preocupá-los atoa.
Assenti. Ele tinha razão.
— Você deveria descansar agora. — Ele continuou subindo na cama e me abraçando.
Eu encostei a cabeça em seu peito e me concentrei nas batidas do seu coração.
— Você também deveria descansar. — Sussurrei.
— Hum rum...
No dia seguinte Anne e Calebe trouxeram Will e David para me ver e para minha alegria meu sobrinho estava bem, ele sempre fora próximo de David então era e se esperar que ele não fosse sentir tanta a minha falta. Pela tarde para minha surpresa fora Helena que aparecera.
— Você deveria está em sua lua de mel.
Ela sorriu.
— Eu irei. Quando você estiver melhor e tiver alta.
Revirei os olhos.
— Me desculpe por ter faltado a seu casamento.
Helena meneou a cabeça.
— Não se preocupe com isso.
Nós conversamos ainda por um tempo até que Charles veio buscá-la e eu constatei com alegria que Helena realmente estava feliz, e isso curiosamente me agradou.
— Já estamos prontos para ir, Joseph. — Chris avisou quando o viu entrar no quarto provavelmente para dá alta.
Olhar que Joseph nos soltou não era nada parecido com um de um médico que viera apenas dá alta a seu paciente.
— Joseph, o que aconteceu? — Christophe perguntou apreensivo.
Mas eu não precisava ouvir a resposta. Eu conhecia aquele olhar, e se Henrique estivesse aqui também conheceria. Era familiar para minha família. foi assim que ele me fitou quando meu pai morreu, minha mãe e todos os outros que partiram...
— Na verdade majestade aconteceu um imprevisto...
Foi assim que ele me fitou quando meu pai morreu.
— Nós não contávamos com isso...
Minha mãe, e todos os outros que...
— Mas os novos exames nos mostraram que a broncopneumonia da rainha voltou...
Partiram.
As mãos de Christophe que até então estavam em meus ombros penderam e se corpo caiu sem forças na poltrona. Eu fiquei bem ali sem entender bem como palavras poderiam destruir... Ela não podia ter voltado, tínhamos tomado todo o cuidado, tínhamos feito tudo certo, não tínhamos...
— Mas... — Chris começou, mas se interrompeu. Não tinha forças.
— Eu sinto muito, mas nós precisamos começar com os medicamentos o mais rápido possível, ou ela pode se espalhar.
Eu sabia. Tinha acontecido uma vez quando era criança, mesmo com os medicamentos ela tinha virado pneumonia e tomado proporções enormes.
— Infelizmente seu sistema está imune aos medicamentos que usamos da última vez que teve uma recaída, os medicamentos desse processo são mais... Mais agressivo para os bebês...
Mais...
— Mais o quanto? — Chris conseguiu perguntar com a voz embargada.
Joseph desviou o olhar. Parecia lutar contra o que iria dizer.
Os medicamentos que eu normalmente usava para o tratamento em si já eram prejudicais, se seriam mais agressivos que que isso...
— A chance delas sobrevierem são quase nenhuma...
Quase...
— Mas a sua majestade precisa dos medicamentos, ou colocará sua vida, em risco. Dá última vez já foi realmente difícil...
Então era isso? Eu tinha que escolher?
— Darei um tempo para vocês. — Ele disse seguindo para a porta.
Eu suspirei enxugando as lagrimas... Tudo o que eu queria era começar uma família, isso não era justo, não era justo.
— Eu sinto muito, Chris... Eu sinto muito...
Ele tocou as minhas mãos que começavam a tremer e eu sabia que ele sentia também...
— Vamos dá um jeito nisso... Vamos dá um...
Ele abraçou meu corpo e nós dois desabamos bem ali.
Sentíamos, sentíamos muito.
***
Eu soube no momento em que abri os olhos que era um sonho.
— Pai... — Sorri me aproximando mais dele que estava sentado envolta de uma fogueira — costumávamos fazer isso quando eu era criança. — Disse sentando ao seu lado.
— Eu lembro. — Ele respondeu fitando as chamas enquanto elas se agitavam.
Sentia falta daquilo.
— Pai eu sempre quis perguntar uma coisa. — Sussurrei.
Papai voltou o olhar para mim.
— O senhor disse na carta que se sacrificou para proteger nossa família, para me proteger de você mesmo, mas eu fico pensando que talvez as coisas tivessem funcionado se o senhor não tivesse partido.
Tudo teria sido diferente.
— Talvez todos nós não tivéssemos vivido de forma tão infeliz.
Suspirei desviando o olhar.
— Eu me senti tão mal...
— Entendo... Tudo isso te afetou bastante, não é?
— Sim. — Admiti.
Tinha afetado a todos, mas tinha sido diferente comigo.
— Mas sabe, pai eu sei que o senhor fez o seu melhor para cuidar de mim...
Por um logo tempo eu o tinha culpado por ter me deixado sozinha, mas agora no meio da situação que eu estava... As vezes tínhamos que deixar o que amávamos para que eles ficassem bem. Eu conseguia entende agora.
— Eu posso ver isso agora e eu entendo. Você protegeu a família e disso eu tenho orgulho.
Levantei e fitei seus olhos surpresos.
— Eu retornarei e dessa vez não vou demorar muito. — Disse me levantando e depositando um beijo em seu rosto, como costumava fazer — diga a mamãe e a Thomas que estou com saudades, e pai... O senhor foi mesmo incrível, foi o melhor pai do mundo...
Quando eu abri os olhos Christophe estava do outro lado do quarto observando alguma coisa pela janela, ele estava tão concentrado que nem notou quando levantei e me aproximei. No jardim da clínica as crianças que estavam provavelmente internadas na clínica brincavam e aproveitavam um pouco do sol em a Aksun.
— Por quanto tempo eu dormir? — Perguntei segurando seu braço, encostando a cabeça nele e sorrindo ao ver as crianças se divertindo.
— Algumas horas... Joseph veio, mas não quisemos acordá-la.
Assenti. Não sabia bem como falar aquilo, mas precisava.
— Precisamos conversar, Chris... Eu...
— Não! — Ele me interrompeu se afastando entendo onde eu queria chegar. — Você não vai fazer isso, não posso permitir que faça algo do tipo, Elizabeth!
— E que outra escolha eu tenho? — Exclamei.
— Teremos outros filhos! — Chris disse de uma vez e eu quase caí para trás com a forma fria que ele falava das meninas.
Eram pessoas, e eram nossas.
— O que eu quero dizer é que teremos tempo para ter outros filhos, que você não precisa se sacrificar. — Ele tentou se explicar, mas não estava funcionado — não permitirei que faça isso.
— Chris... Eu sei que é doloroso... — Sussurrei segurando seu rosto.
— Doloroso? Você tem noção do que quer fazer? E quanto a mim? E Will, sua família? Doloroso não chega nem perto de expressar o que sentiremos se você seguir com essa ideia absurda! — Ele disse com a voz embargada — não vou permitir que se destrua dessa forma. — As lagrimas começaram a descer por seu rosto — por favor Eliza não faça isso... Eu estou suplicando.
Eu tentei conter as lagrimas, mas levou mais que alguns segundos para conseguir falar.
— E quanto a elas? Você quer que eu tome esses remédios sem pensar no mal que fará a elas? — Perguntei tentando apelar para o amor que eu sabia que ele sentia pelas meninas. — No sofrimento, na dor que irão sentir.
— E quanto a minha dor? — Ele gritou de forma furiosa, mas pareceu mais uma suplica — me condenando a uma existência sem você. — Continuou se afastando e limpando o rosto — me deixando sozinho, você acha isso justo?
Nada daquilo era justo.
— Você terá elas, Will, minha família a sua. não estará sozinho.
Chris respirou fundo e encarou o chão por um momento.
— Parece que já tomou a sua decisão... — A boca dele se contorceu. Quando ele finalmente olhou pra cima, seus olhos estavam diferentes, mais duros. — Sem nem ao menos se importar com quem vai ficar para trás...
Houve uma pausa enquanto eu repetia as palavras na minha cabeça algumas vezes, analisando-as pra saber seu verdadeiro significado. Eu me importava com ele, Will, Henrique... Todos e Chris sabia disso. Tinha sido cruel da parte dele falar aquilo.
Não se esqueça que o amor mais importante da sua vida sempre será o da sua família. Lembrei do que meu pai costumava dizer.
— Sempre me importo com minha família, mas se tiver que escolher entre salvar a mim e salvar elas eu escolho Melodie, e Natálie.
Duas vidas pelo preço de duas.
Christophe hesitou por um breve momento.
— Não posso assistir isso! — Ele disse e logo em seguida saiu do quarto.
Eu fiquei tonta por alguns segundos, era difícil me concentrar, mas consegui aos poucos mover minhas pernas tremulas até a cama e desabei em choro pela segunda vez naquele dia.
No dia seguinte quando Anne e Helena vieram me ver e lhes contei tudo o que tinha acontecido e minha decisão de prosseguir com a gravidez e não tomar os remédios eu soube pela expressão em seus rostos que elas estavam lutando com sentimentos dentro delas, talvez o mesmo que Chris.
— Eu já tomei minha decisão, e Chris já tentou me impedir... Só quero que saibam que nada do que façam...
— Eliza, não... Não é isso. — Anne falou tocando minha mão — eu sou mãe e faria tudo que estivesse ao meu alcance para proteger meus filhos, é só que... — Sua voz e seu olhar se perderam.
— Eu sei, eu sei Anne e sinto muito.
Ela queria dizer que já havia perdido todos da sua família e que a pessoa que esteve ao lado dela por muito mais tempo que qualquer outro tinha sido eu... Eu entendia.
— Eu vou cuidar delas, das duas. — Sua mão passou para minha barriga — como se fossem minhas.
Eu sabia, e não esperava menos dela.
Helena soluçou chamando nossa atenção, e seu rosto estava banhado.
— Você não precisa ficar aqui Helena, sei que é extremamente doloroso e você se casou ontem deveria...
— Não vou abandonar você pela segunda vez! — Ela disse firme tentando se controlar — não vou abandonar você. — Soou mais uma vez.
— Então eu não posso esperar nenhuma ajuda de vocês duas. — Henrique falou entrando no quarto ao lado de Chris.
Então era isso que ele estava fazendo? Christophe tinha sumido durante toda a noite e agora aparecia com Henrique? Ele com certeza o tinha trazido para tentar me convencer voltar atrás.
— Você não pode estar aqui, a sua saúde...
— Então minha saúde é importante e a sua não? — Henrique rebateu com fúria e magoa na voz.
— Vamos deixar vocês sozinhos. — Anne disse saindo com Helena e Chris que antes me fitou atentamente.
Eu não poderia culpá-lo por ter feito o que fez, estava desesperado, mas eu também estava. Só queria que ele conseguisse me entender, só precisava que ficasse ao meu lado.
— O que você tem na cabeça? — Henrique começou — vamos falar com Joseph, você irar começar o tratamento agora mesmo.
— Por que você está me descriminando dessa forma? Se faria o mesmo por Henrique e Miguel, o mesmo por mim.
Seus olhos ficaram sombrios.
— Isso te dá o direito de tomar uma decisão dessa sem nem ao menos falar conosco?
— Jamais teriam concordado.
— É claro que não! — Ele gritou e eu me descontrolei naquele momento, Henrique também.
— Por favor. — Ele pediu se aproximando e me abraçando — eu protegi você de ver o tio Richard tirar a vida, protegi você de tudo, mas dessa vez eu não posso, não posso protegê-la. Tem que ser você, por favor Liza, eu estou pedindo a você não faça isso.
Eu o abracei com força.
— Me desculpe. — Sussurrei — eu amo você, mas desta vez irei dizer não.
Henrique hesitou, e depois falou lentamente, escolhendo as palavras com cuidado.
— Não consigo ver isso. — Ele me apertou com mais força e então partiu.
Essa foi a ultima vez que Eliza viu Henrique.
Ok, Ok... Talvez vcs queiram me matar, mas eu ainda não terminei...
E não consegui resistir kkkkk