O Que o Espelho Diz - A Rainh...

By MeewyWu

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Capa Atual: Foto de Alice Alinari, instagram: alice_alinari A Rainha da Beleza: O que o Espelho Diz. Bethany... More

Epígrafe
Prólogo
I - Alianças Diferentes
II - Um fantasma no Palácio
III - O Conselho Real
IV - Informação Vazada
V - Palácio de Verão e Vidro
VI - Chuva de Cristais
VII - Vidro Embaçado
IX - Cavaleiro de Prata
X - Teia de Veludo Vermelho
XI - Carvão e Metal
XII - Ilusões Refletidas
XIII - Prismas
XIV - Retinta
XV - Sonhos de Marfim
XVI - Espadas de Madeira
XVII - Floresta de Esmeraldas
XVIII - Penas Prateadas
XIX - Corpos e Fantasmas
XX - Rios de Sangue
XXI - Palácio de Ferro
XXII - Cartas à Morte
XXIII - A espada vermelha
XXIV - Claro como Cristal
XXV - Coroa de Ossos
XXVI - Sapatos Brilhantes
XXVII - Segredo Americano
XXVIII - Posição Política
XXIX - Arte da Guerra
XXX - O Que o Espelho Diz
Epílogo
O Que o Espelho Diz - Por Meewy Wu
AESTHETICS

VIII - Protetora de Paris

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By MeewyWu

-Anunciando, Fox Louis Parish. Rei da Grande Paris, e soberano de todas as terras da Eurásia.

Se o Petit Palace era um mundo de ouro, o Palácio de Versalhes era feito de espelhos. Tina havia me contado que o baile seria em uma sala restaurada especialmente para o baile de Lamarque Paris, quando o povo o escolheu como seu regente. O salão era inteiro um grande espelho, as paredes se estendiam, alongadas até o teto em forma de cúpula, centenas de faixas espelhadas alternando com as paredes cor de marfim, e, do centro do salão descia o mais lindo dos lustres que eu veria. Até mesmo o piso tinha um aspecto meio reflexivo, agarrando as cores dos vestidos longos.

No topo da escadaria, Fox foi ovacionado por mais de cinco minutos antes de descer para enfim receber as reverências e as batidas em suas costas e os abraços.

-Não entendo por que ele está tão inquieto – falou Tina ao meu lado, com a testa franzida – Estão filmando isto, ele deveria parecer feliz!

Respirei fundo, observando ela com o canto do olho sem falar nada. Cada dia mais, eu sentia o quanto tudo aquilo a deixava desesperada. Ela precisava que Fox fosse feliz, em uma vida que ela soube muito cedo quão dolorosa poderia ser. Eu sabia que não era uma razão para ficar irritada, mas cada minuto ela me deixava mais perto de um ataque de nervos – Pois agora, a perfeição que ela precisava para se sentir bem consigo mesma, se estendia a mim.

E parecia que tanto quanto Fox, o precipício em minha frente se tornará escuro demais para me preocupar em manter a magia que a consciência de Tina precisava.

-Estranho, Annie não está aqui – falei, olhando sobre os ombros para mudar o assunto, e aproveitei Napho e Nisha passando logo atrás de nós – Algum de vocês viu Annie?

-Não desde a nomeação – Napho deu os ombros, sorrindo galanteador para uma das irmãs mais velhas de Isabel, do outro lado do salão.

-Pare com isso – grunhiu Tina, arregalando os olhos – Não deveria sequer cogitar entrar nos assuntos das filhas de Louise Venezza, embaixador.

-Posso entrar em coisas muito mais interessantes do que nos assuntos delas, Senhorita Versalhes – ele deu os ombros, dando uma piscadela para elas. – E flertar com elas é a única forma de conseguir as respostas que quero.

-Respostas sobre Livie? – perguntei, e ele assentiu de mau gosto – Duvido que alguém como Livie fosse falar mais do que a educação exige com aquelas duas.

-É inacreditável como são tão parecidas com Isabel – falou Nisha, bebendo um pouquinho de champanhe – E ao mesmo tempo como são incontavelmente mais desprezíveis! Eu poderia arrancar os cabelos delas fio por fio...

-Por favor, me convide se for fazê-lo – Suspirei, olhando para Napho outra vez – Você precisa deixa-la ir e ficar longe das irmãs de Isabel. Todas as garotas solteiras no salão estão olhando para você, chame alguma para dançar.

-Bethany! – Tina exclamou em voz baixa – Ninguém deve dançar até que Fox tire você para a primeira dança.

Girei a cabeça para ela, tentando não torcer o rosto – É mesmo necessário isto?

-Não só necessário, como ele está vindo para cá – Falou Tina, me puxando para ficar ereta antes das câmeras seguirem Fox andando em minha direção.

-Senhorita – ele estendeu a mão, um convite silencioso e ensaiado. Um convite tão irrecusável quando um envelope dourado. Eu sabia que Tina estava me avaliando, que Fox estava esperando, que as câmeras tinham seus focos em mim. Tudo aquilo me fazia querer mais recusar seu convite, mas aceitei a mão dele, de repente vislumbrando um vulto alaranjado brilhando na multidão. Enquanto Fox colocava sua mão em minha cintura, o rosto dele ganhou um semblante ainda mais preocupado – Está tudo bem?

-Apenas nervosa – dei os ombros, me concentrando nele enquanto a dança começava – Vossa Majestade.

-Por favor, não me chame assim – ele deu um sorriso amarelado, movendo os olhos para os lados – Acho que até o final da noite, vou acabar esquecendo meu próprio nome.

-Deve ser assustador – sorri, girando nos braços dele. Outra vez, um vislumbre alaranjado. Senti-o apertando mais forte minha mão, evitando que eu perdesse o tempo.

- Em algumas semanas será a sua vez. – ele brincou, me fazendo perder uma batida do coração ao lembrar daquilo – Desculpe, não é algo engraçado.

-Não – concordei, mas nós dois sorrimos, enquanto a música acabava e meu pé torcia para o lado – Isis...

E então, o meu corpo foi jogado para trás, nos braços de Fox, enquanto ele me beijava e eu sentia vontade de chorar. Não foi um beijo longo, mas o bastante para eu ver os flashes das câmeras antes de abrir os olhos, enquanto ele ainda me puxava de volta.

-Desculpe – ele falou, muito rápido e muito baixo – Você ia cair, eu...

-Tudo bem – dei um beijo na bochecha dele, sorrindo, antes de olhar sobre o ombro. Uma das senhoras mais velhas da corte, com um cachecol laranja brilhante, havia se sentado perto da mãe de Isabel – Eu deveria ter prestado mais atenção.

-Apresentando, Marie Antoinette Parish, Protetora de Paris e Princesa de toda Eurásia. – foi à vez de Fox quase cair por terra. Ou ao menos, de perder seu equilíbrio interno e engasgar ali, em meio ao salão, quando Annie desceu as escadas vestindo o mais deslumbrante vestido azul.

A contrapartida perfeita do irmão.

As câmeras, em volta de nós, rapidamente correram para ela, mais rápidas do que Fox, os guardas ou Lenna. Tina, que segundos antes estava em êxtase com o beijo, parecia apavorada com o que acabara de acontecer.

Os jornalistas estavam em êxtase, com mais e mais perguntas, que me fariam gaguejar e suar, mas Annie tinha nascido pronta para aquilo. Mesmo nunca tendo vivido a vida de princesa, de fato, ela era uma princesa, e apenas ergueu a mão e esperou que todos se calassem antes de responder.

-A maioria de você me viu nos últimos anos crescer como uma musa – falou ela, na metade da escadaria, sorrindo – Eu nunca quis ser rainha, e minha presença atrapalharia o caminho já difícil de meu irmão. Então, eu recuei e vi o castelo de forma que ele não poderia, para ajuda-lo na sua jornada sobre aquele trono. Foi um desejo egoísta, por privacidade e liberdade, que me prendeu mais do que eu imaginava...

Ela olhou pela multidão, até encontrar Nisha, e com os olhos cheios de lágrimas ela continuou – Eu fui egoísta, e quase perdi a pessoa por quem me apaixonei, por só ser capaz de olhar para meus próprios segredos e para minha própria dor. Eu quero pedir desculpas a minha família, por não ser parte desta família há tanto tempo. E eu quero pedir desculpas a Nisha – ela atravessou os repórteres, andando pela multidão que se abria enquanto Nisha se encolhia mais vermelha do que parecia possível que sua pele deixasse transparecer – Por ter sido infantil e egoísta. Por não saber separar minhas emoções da minha razão. Por não ser capaz de dizer o quanto te amava e afirmar que isto é tudo que importa. E, eu acho que com isto eu quero dizer: Você acha que um dia irá me perdoar?

O salão inteiro exclamou, surpreso. A princesa da Eurásia, pedia perdão a uma garota negra. A resposta de Nisha foi atirar em Annie, a abraçando com força antes de se beijarem. Era difícil de ver, com tantas câmeras, mas ao se afastarem, eu sabia que Annie murmurava algo com a testa colada a de Nisha.

E de novo, e de novo, a mesma coisa até que eu consegui entender. Ela ainda estava pedindo desculpas. Lenna cruzou a multidão até as duas, abraçando a filha e afirmando que era bom saber que sua família estava unida outra vez, antes de Annie declarar.

-Está é a noite de Fox. Temos um novo rei, e é a isto que devemos celebrar! – ela sorriu, pegando uma taça e erguendo ao teto – Vida longa ao rei!

Mas quando olhei, sorrindo para Fox, ele ainda parecia espantado. Tina o olhava com tanta raiva, que talvez tenha mandado sinais mentais para que ele voltasse a si, mas o sorriso em seu rosto era duro quando ele enfim parecia ter acordado.

Afastei-me, enquanto ele voltava a cumprimentar pessoas, e Annie levava Nisha para dançar, abrindo espaço para os outros casais no salão. 

Dylan partiu pouco depois de o sol nascer. Desta vez, porém, Isabel não estava sozinha para se despedir. Fox, Cameron e Teodore Venezza formavam junto a ele um quarteto de mosqueteiros falando os últimos detalhes sobre o campo de batalha, enquanto eu ficava ali, por Isabel, para a hora que inevitavelmente ela iria perdê-lo.

Ele se reaproximou de nos novamente, despedindo-se de mim e se virando para ela – Como você esta?

-Minha cabeça dói como um inferno, Bordeaux – ela grunhiu, fazendo uma careta e então, com um suspiro, olhando para os pés dele ao falar – Não vá.

A dor no rosto de Dylan era como ser um homem morrendo. A única coisa que ele não daria a ela. Mas ele ainda sorriu, quando colocou o cabelo de Isabel atrás da orelha – Achei que havia desistido de me persuadir.

-Não importa – ela passou o braço pelo meu, apertando com força – Não tem sentido vê-lo partir outra vez... Não tem por que eu me forçar a isto.

-Isabel! – gritou Dylan, mas ela apenas me puxou para dentro, até os guardas fecharem a porta atrás de nós.

-Eu preciso me sentar – ela arfou, xingando em italiano e abraçando a própria barriga até estar no chão, em posição fetal.

-O que... – olhei em volta, para os dois guardas na porta assustados.

-Eu não sei Bethany, mas é como se minha cabeça chacoalhasse e eu já não soubesse como ficar em pé e onde fica o chão – ela pressionou os lábios – Acho que vou vomitar...

-Contou a Dylan sobre isto? – perguntei, enquanto chegava à cadeira e ela balançava a cabeça.

-Não, eu só preciso me deitar. Ajude-me a subir para o meu quarto, eu vou ficar bem depois de dormir as horas que preciso.

-Você deveria ir para a enfermaria, ou ao menos esperar que Cameron entre, ele pode... – ela apertou meu braço, me olhando com raiva - Certo, eu ajudo você.

Deveríamos estar na metade das escadas quando ela se afastou de mim, respirando fundo e se apoiando no corrimão da escada, endireitando as costas – Estou bem. Foi só uma tontura.

-Isabel... – reprimi, enquanto ela voltava a subir as escadas sozinha – Você precisa ver um médico!

-É apenas o estresse, Bethany. É demais pra mim, ver este idiota correndo para ter uma espada enfiada no pescoço – ela balançou a cabeça, afastando as lágrimas – Provavelmente estou tendo problemas de pressão, ou meu coração simplesmente está parando de bater.

-Não brinque com isto – grunhi, seguindo ela, até me assegurar que ela chegasse segura ao quarto. Ela pegou o cachorro que dormia no tapete e levou até a própria cama, colocando no lado contrário dela. – É isto que meu marido é, um cachorro. Um animal correndo atrás de um osso dourado e sem se preocupar em manter seus próprios ossos.

Sorri parada na porta, enquanto ela olhava para o animal.

-Saia daqui Bethany – ela desfez com a mão, e eu apenas o fiz, ignorando a terrível sensação de que assim que eu fechará a porta, Isabel começará a chorar.

Bethany estava servindo o café da manhã. A chaleira fumegante, as flores arrumadas sobre a mesa. Olhei para ela, as meias diferentes sumindo na barra da saia desbotada. Ela deveria usar roupas melhores, pensei, mas ela recusará todas as vezes que me oferecia para comprar roupas para ela.

Eu não entendia como alguém podia se preocupar tão pouco com a sua aparência e, ainda sim ser bonita. Não especialmente sensual ou carismática, mas ainda sim bonita.

Era bom ter Bethany ali; era como ter uma irmã mais velha e mais nova ao mesmo tempo.

Os fios emaranhados do meu cabelo caíram no chão quando passei as mãos por eles, suaves como trigo sob o sol no verão. Pisquei.

Não, aquilo estava errado. Meus cabelos eram ruivos, brilhantes como fogo, não... Olhei em volta. Onde estava Bethany? Para onde ela havia ido?

Subi as escadas, tropeçando naquele terceiro degrau que estava sempre um pouco solto. Mamãe estava acariciando Fox, o nome que eu dera para o gato preto dela, olhando para o nada. Eu precisava avisa-la que o café estava servido.

Não, Bethany deveria avisa-la que o café já estava servido.

-Algum problema, Bethany? – perguntou Marian, entediada.

-Não é a Bethany, mamãe – falei, entrando no quarto – Sou eu, Isis.

-Não – ela falou, soltando Fox e pegando um espelho de mão, entregando para mim – Você não é minha Isis.

Não, aquele não era o rosto de Isis. Não era o meu rosto, a menos que eu não fosse Isis.

Isso queria dizer, que eu era Bethany. Não era?

Havia uma toalha de piqueniques estendida na grama, em uma das melhores visões da fonte. Ergui uma sobrancelha, olhando para Fox que deu os ombros.

-Nem me pergunte, isto é tudo ideia de Valenttina – ele falou, tirando o blazer – Se dependesse de mim, comeríamos em uma mesa com cadeiras confortáveis e pratos.

-Tenho certeza que tem alguns pratos na cesta – falei me sentando – Então, este almoço foi ideia dela?

Ele baixou a cabeça, ficando um pouco vermelho – Não. Ela apenas invadiu a minha sala no mesmo momento em que eu terminava de escolher um cardápio completamente sem ervilhas.

-Bem, ela não teve o mesmo cuidado – Ri, tirando um prato de sopa de ervilhas embalado em papel filme. Fox olhou boquiaberto para o prato, antes de ambos começarmos a rir.

-Me desculpe por isto – ele sorriu, puxando a sexta – Vejamos, o que mais ela preparou para nós.

-Vossa Majestade! Por que o duque saiu do palácio? – um repórter apareceu, correndo, seguido de pelo menos mais cinco.

-O que tem a dizer sobre a entrevista que ele deu ontem em Paris? – perguntou outro.

-Paris? Não, o duque está em Berlim! – chiou um terceiro repórter.

O primeiro repórter fez uma careta – Não sejam tolos, o Duque está em Bordeaux. Ele foi proibido de ir ao Petit Palace.

-Vossa Majestade, agora que é rei pretende manter a proibição do duque? – Outra perguntou.

Fox fez sinal para os guardas se aproximarem, e como um muro em volta de nós, eles afastaram os jornalistas.

-Por isso eu queria um almoço fechado – ele suspirou, tirando dois sanduiches da cesta e me entregando um – Não que Valenttina entenda isso.

-Ela só quer que sejamos felizes – mordi a ponta do sanduiche, fazendo uma careta – Ou que pareçamos felizes.

-Não preciso parecer feliz, Bethany – ele murmurou – Estou aqui. Sou o rei. Iremos nos casar. Já honrei meu dever, não há como voltar atrás.

Mordi o lábio inferior, olhando para o sanduiche. Era lindo, cheio de folhas e cores. E tinha um gosto horrível, como se tudo fosse borracha imitando tudo para que parecesse mais vivo e realista. Ou talvez aquele gosto fosse apenas na minha boca, já que Fox seguiu comendo o seu.

-Por que o duque foi embora? – perguntei, largando o sanduiche de lado e estendendo as pernas – Ele deveria estar em êxtase por estar em meio a seus círculos de novo.

-Acho que ele se desentendeu com muitas pessoas em pouco tempo. Rebecca, Lady Flora, ele conseguiu chatear até mesmo minha mãe depois que tia Gabrielle se recusou a vir – ele terminou o sanduiche, olhando feio para além dos guardas, para os repórteres – Devem estar tirando belas fotos nossa.

Observei o ângulo em que estávamos com a fonte ao nosso fundo. Sim, tudo perfeitamente planejado.

-Tem algum lugar onde possamos caminhar, sem eles por perto? – perguntei, tentando evitar a careta em meu rosto.

-Se não se importar em tomar o caminho pelo qual viemos e voltar para o palácio, posso pedir algo que não seja cenográfico para podermos almoçar de verdade – ele sugeriu.

Sorri – Isso seria maravilhoso, Majestade.

Fox se ergueu, colocando o blazer em um braço e estendendo a mão para me ajudar a levantar, oferecendo-me o cotovelo durante nossa caminhada.

-Não tive a chance de falar com você, sobre... – engoli em seco, enquanto uma das irmãs de Isabel passava por nós e reverenciava -... Nosso beijo, na festa de nomeação.

-Bethany, sei que as coisas estão confusas entre nós... – ele começou, mas o cortei.

-Sim, estão Fox – assenti – E não sei dizer ainda, como me sinto em relação a você. Sabe que serei sua noiva e sua rainha. Assim como você, vou cumprir o meu dever. Mas só por que não quer parecer feliz, não significa que não queira ser feliz...

-Não preciso ser feliz – ele deu os ombros – Felicidade é supérflua, e arruinou muitos reis ao longo dos milênios. Assim como as aparências e propaganda.

-Foi um bom beijo – falei, por fim, enquanto passávamos pelas portas.

-O melhor nos últimos meses – ele concordou, mas antes que pudesse falar algo for cercado por uma dúzia de homens falando ao mesmo tempo. Ele gritou ordens, mando preparar uma sala e eles correram discutindo juntos. – Sinto muito Bethany, acho que não poderei mais almoçar com você hoje.

-Está tudo bem – sorri, tirando o braço do cotovelo dele – Seja o rei, Fox.

Ele pegou minha mão a beijando. E por tempo demais, ele ficou apenas segurando ela, me encarando. Involuntariamente, dei um passo para frente. Não sei dizer ao certo, por que ele sorriu antes de me beijar.

Um bom beijo. Aquele era muito mais do que isto. Imaginei se não fosse uma reação primitiva, de seu orgulho de homem. Não me preocupei muito com isso, minhas próprias reações primitivas me fizeram segurar a camisa dele com força o bastante para sentir que um dos botões escapara da sua casa. Arfei, quando a mão dele na minha cintura apertou com mais força. Então, alguém pigarreou, fazendo nos afastarmos com um pulo.

Annie estava descendo as escadas, rindo.

-Boa tarde, irmão – ela sorriu – Bethany.

-Olá, Antoinette – ele retribuiu, fechando o botão e colocando seu blazer. – O que faz aqui?

Ela desfez com a mão – Acabei de almoçar com nossa mãe. Achei que vocês fariam um picnic nos jardins.

-As coisas não saíram como planejado – falei, dando os ombros.

-Deveriam se juntar a nós no salão, passaremos à tarde lá e sem duvidas haverá comida – ela ofereceu com um sorriso.

-Leve Bethany com você, Marie – pediu Fox, gesticulando para mim – Eu tenho uma reunião que requer minha atenção.

-Acredito que sim – ela olhou para baixo, divertida – Bethany, por que não soube para arrumar o cabelo e se junta ao resto de nós?

Corei, fazendo-a sorrir ainda mais divertida, antes de se afastar.

Ao entrar na sala, era como ver uma daquelas lindas pinturas cheias de animais, desenhadas nos livros de historias infantis ou nos cadernos de filosofia. Uma selva, cheia das mais deslumbrantes bestas de toda Eurásia estiradas em uma sala ensolarada do palácio de Versalhes.

Tina e Annie estavam em uma pequena mesa, com um jogo de xadrez em frente a elas. Eram como dois pássaros coloridos e vibrantes. Haviam deixado o jogo em segundo plano, e riam de algo olhando para o grande sofá que Isabel e Nisha compartilhavam. Eu nunca as havia visto tão próximas. Isabel estava com a cabeça no colo de Nisha, com as pernas jogadas sobre o braço do sofá e uma folha erguida em frente ao rosto. Eram duas onças, pensei. Uma negra e uma parda, aninhadas juntas em uma calma alarmante. Os cachos cheios de Nisha lhe davam aquele ar lutador e felino que Isabel dominava desde o dia que eu a conhecia, e ela estava genuinamente rindo com o resto das garotas.

No outro lado do salão, as irmãs mais velhas de Isabel bebiam chá, indiferente a toda aquela confusão. Olhando para elas, eu só conseguia ver duas serpentes, mas Sabrinne, sentada ao piano era sem duvidas uma pequena loba. E a pequena Marie ao seu lado, era um coelhinho saltitante e empolgado. Por fim, havia Camille e Joelle. Camille, com seu vestido verde brilhante, era um pavão – ela era exuberante e chamativa. Era exagerada e alegre, ensolarada. Mas Joelle... Eu não sabia como descrevê-la. Como encaixa-la naquela pintura. Havia algo em ver alguém que se assemelhava a mim, que me assustava. Por que olhando para ela, eu só era capaz de ver uma leoa – O que, retrucava aquela voz irritante na minha cabeça, dizia que eu me via como a Leoa. Mas a descrição parecia errada para ambas. Joelle só estava fingindo ser uma leoa. Eu estava fugindo de ser uma.

-O que estão fazendo? – perguntei, fazendo Isabel sorriu e virar a cabeça para mim à cascata de cabelo castanho escorrendo pelas pernas de Nisha como chocolate derretendo.

-Jim nos mandou uma carta – falou Isabel, animada – Elas comparam um apartamento em Barcelona, mas estão viajando por diversos lugares. Jin quer ir para China na primavera. Quer visitar o tumulo de seus pais e pedir a benção deles antes de... – ela parou, fazendo suspense enquanto todos nos encarávamos – Se declarar para Kali.

Nós estávamos gritando. Infinitamente, como se não fossemos mulheres, mas meninas de doze anos, estávamos todas gritando. As irmãs mais velhas de Isabel nos olharam assustadas, e dois guardas entraram correndo para ver o que estava acontecendo, mas o resto de nós não conseguia parar de sorrir.

-Isso é incrível – Camille vibrou, batendo as mãos – Sabia que Kali gostava dela, mas não imaginei que Jin retribuía.

-Acho que ela nem desconfiava, até Kali ir embora com ela – Falou Tina, com um sorriso maior do que o rosto.

-Achei que Jin gostasse de garotos – Nisha franziu a testa, enquanto Isabel dava os ombros.

-Ela teve alguns casos, com garotos e com garotas. Nada muito sério.

-Até agora – falei, sentando na poltrona mais próxima delas – Posso?

Ela me entregou a folha, e enquanto eu lia não conseguia impedir que as lagrimas em meus olhos crescessem. Elas eram diferentes, as duas, mas de alguma forma se complementavam. Kali, que havia sido forçada a aceitar e sofrer tanto, e aprenderá a agarrar as chances e ser gentil. Jin, que havia endurecido com a perda, que aprenderá a ser suave e firme ao mesmo tempo.

-Não pense que me esqueci de você – Isabel arrancou as folhas das minhas mãos ao se sentar no sofá ao lado – Como foi o encontro com Fox?

-Não foi um encontro – falei, enquanto alguém se apoiava nas costas da minha poltrona – Tina.

-Bethany – ela retribuiu o cumprimento, animadamente.

-Conte logo, Suíça! – grunhiu Isabel, franzindo a testa dolorosamente por um segundo e se reacomodando no sofá.

-Nós almoçamos – dei os ombros, sentindo que estava começando a sorrir – Andamos pelos jardins e fizemos um piquenique, o que acho que foi um almoço, não sei ao certo.

-Por favor, Bethany, os detalhes – gemeu Isabel, empurrando minha perna com a dela – Eu vi vocês dois lá da janela do quarto de Valenttina. Cercados de repórteres.

-O que estava fazendo no meu quarto? – Tina saltou, mas Isabel desfez com a mão.

-Estamos realmente todas aqui para divagarmos sobre nossas vidas amorosas? – perguntei, e ela pensou por alguns segundos.

-Sim! – Ela sorriu, fazendo com que todas gargalhássemos novamente.

-Deve ser triste não ter seu marido por perto, irmãzinha – a irmã de Isabel, que reconheci como Juliet, falou de onde estavam.

-Nem todas podem ter uma relação tão perfeita quanto à de vocês, não é mesmo? – ela falou entre os ombros para as irmãs, que fizeram caretas enquanto todas olhávamos confusas a cena.

-Isabel... – Sabrine a repreendeu, mas também estava sorrindo.

A irmã mais nova tinha andando até o meio de nós, olhando para Isabel – Eu vou ter que me casar?

-Você não tem que fazer nada que não queira, Marie – falou Annie, se aproximando e sentando entre Isabel e Nisha, beijando a bochecha da segunda. – Nem ser alguém que não queira.

A menina se virou para Tina – Você vai casar?

-Não, eu nunca vou casar Marie – Tina sorriu para a menina, com naturalidade – Nunca.

-Por que não? – perguntou ela, mas Sabrine se aproximou antes que Tina, que agora sim parecia surpresa, pudesse responder.

-Chega de perguntas Marie, vamos subir – ela puxou a mais nova para fora da sala.

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