Mystical (l.s)

By larrylaw

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Considerações Iniciais (necessárias para a leitura da fic)
⊱ PRÓLOGO ⊰
⊱ CAPÍTULO I ⊰
⊱ CAPÍTULO II ⊰
⊱ CAPÍTULO III ⊰
⊱ CAPÍTULO IV ⊰
⊱ CAPÍTULO V ⊰
⊱ CAPÍTULO VI ⊰
⊱ CAPÍTULO VII ⊰
⊱ CAPÍTULO VIII ⊰
⊱ BOOK TRAILER ⊰
⊱ CAPÍTULO IX ⊰
⊱ CAPÍTULO X ⊰
⊱ CAPÍTULO XI ⊰
⊱ CAPÍTULO XII ⊰
⊱ CAPÍTULO XIII ⊰
⊱ Q&A ⊰
⊱ CAPÍTULO XIV ⊰
⊱ CAPÍTULO XV ⊰
⊱ CAPÍTULO XVI ⊰
⊱ CAPÍTULO XVII ⊰
⊱ CAPÍTULO XVIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XIX ⊰
⊱ CAPÍTULO XX ⊰
⊱ EXPOSED ⊰
⊱ CAPÍTULO XXI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXV ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIX ⊰
⊱ CAPÍTULO XXX ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXIV ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXV ⊰

⊱ CAPÍTULO XXIV ⊰

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By larrylaw

N/A: Obrigada por lerem! Não se esqueçam dos votos e comentários ♡



♘♔♗

Episódio: The French Girls

Em verdade, Harry era um garoto de imaginação muito fértil.

Talvez se tratasse de um dom natural que com ele nasceu, talvez fosse um aspecto moldado em seu ser pelos seus muitos livros de fantasia que consumiu desde que aprendera a ler – ele nunca saberia ao certo. Contudo, Styles não precisou divagar muito para concluir o fundamento da crença escocesa que o apontava como bruxo: ora, ele era descendente de Anne, uma mulher acusada e condenada pela prática de bruxaria, o que necessariamente significava que ele também incidia no mesmo delito, quase como se a condição bruxa fosse uma herança.

– V-você acha que eu sou um... Bruxo?

De fato, não era comum que homens fossem acusados por tal prática criminosa, sendo as mulheres os principais alvos da Igreja Católica, uma vez considerando a premissa básica que imperava naquele século: mulheres eram portais do pecado através da sensualidade, razão de corrupção para os homens. De toda sorte, não era de todo impossível que indivíduos do sexo masculino fossem considerados bruxos, apenas se fazia necessário uma prova mais robusta neste caso, o que de fato eles tinham contra Harry.

Veja bem, Anne sabia que, uma vez deixando Desmond e Fell's Church, não teria mais a proteção que o Código de Conduta Escocês lhe cedia ao definir que escoceses jamais poderiam investir contra os seus, então, ao fazê-lo, mudou-se para Londres e trocou seu nome, objetivando não ser encontrada pela Igreja Católica Escocesa caso esta decidisse perseguir seus fugitivos. Não há como negar que Anne Styles era uma mulher deveras astuta, mas o que ela nunca soube é que Charles Stuart facilitou sua fuga com Desmond, pois um dia antes desta, uma profecia revelou ao homem a queda do Reino Escocês e o filho do ventre dela como a única chance de liberdade da Escócia. Assim, o destronado permitiu-lhe escapar de sua execução pública, apenas para que a moça consumasse o próprio destino de casar-se e reproduzir; no entanto, nunca a perdera de vista, nem mesmo quando a profecia se concretizou parcialmente e o exército escocês caiu frente à Inglaterra, pois 1/3 de seus homens tinha como objetivo militar exclusivo monitorar os Styles durante toda a minoridade de Harry, aguardado o momento propício para sequestra-lo. Bem, aquele era o tão esperado momento propício, diga-se de passagem.

Em síntese, restava comprovado de forma incontroversa que o cacheado era descendente da bruxa e, portanto, bruxo também e isto não só em decorrência de seu nome completo ser objeto da profecia escocesa mais relevante da história, mas também porque o rosto do garoto remetia perfeitamente ao belo rosto de sua ascendente.

Diante do exposto, Louis piscou, ainda com seu corpo sobre o de Harry, entediado.

– A gestação é um ato sagrado e o parto purifica a mulher. Você, desde que nasceu, está com a posse dos poderes profanos de Anne Styles – respondeu-lhe, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Harry piscou duas vezes em resposta, aturdido.

Ele encarou o homem acima de si de forma incrédula, desejando identificar qualquer traço de brincadeira contida em sua expressão facial, mas não havia nada além de certeza naquele rosto desprovido momentaneamente de sua costumeira faixa negra.

A constatação veio de forma lenta, mas intensa: a família Styles havia sido assassinada em prol de... Absolutamente nada. Todo o terror que o cacheado enfrentara nos últimos meses, incluindo seu recente sequestro, haviam sido motivados por uma mentira – uma das mais absurdas, diga-se de passagem.

Quando Harry deu por si, ele estava gargalhando, e, simultaneamente, também chorava. Era oficial: ele estava surtando. Assim, Styles levou ambas as mãos à testa e puxou seus cachos com tanta força que era como se realmente objetivasse arrancá-los de seu couro cabeludo.

Louis o encarou com desdém momentaneamente.

Em seguida, levantou-se em um ato de cima do mais novo, embainhando a espada quando já em pé. Por fim, retornou à tarefa de acorrentá-lo, não encontrando resistência por parte de Harry dessa vez e, ao notar que o cacheado ainda se encontrava em meio a uma crise, arqueou uma de suas sobrancelhas que ornamentavam seus olhos azuis.

– Poupe-me de suas encenações, sorcier. Não é como se você não tivesse plena ciência e controle de suas habilidades sobrenaturais: você provocou uma tempestade no primeiro embate contra meus homens, afinal.

Pronto. Finalmente fora revelado ao de olhos verdes o que ele havia feito para assustar aqueles soldados na noite em que a carruagem dos Styles capotou: absolutamente nada. De fato, não era comum que chovesse durante noites primaveris, já que a umidade do ar da Grã-Bretanha era densa durante a respectiva estação do ano; portanto, quando a inesperada tempestade veio e coincidiu com o momento em que sua família era rendida, o exército escocês verdadeiramente creu que tudo se tratava de um feito místico – um feito místico de Harry.

– Acredite, estrangeiro, se eu tivesse algum poder sobrenatural, vocês todos seriam homens mortos agora – respondeu-lhe, apertando os olhos com os punhos fechados.

– Você não pode – o homem lhe deu as costas, retornando ao leito e ali sentando-se. – Ao menos não com essa belezinha em seu pescoço – apontou com seus dedos pequenos na direção do colar colocado em Harry.

Styles retirou as mãos de seus olhos lentamente e fitou o colar em si próprio entre risadinhas e lágrimas – tanta coisa havia ocorrido desde que este tocou seu torso pela primeira vez que a pedra parecera um tanto quanto desimportante para ele. No entanto, uma vez sabendo o que sabia e prestando a devida atenção àquela superfície translúcida que refletia diferentes tons de verde e azul, identificou tratar-se de uma pedra da lua, deduzindo sem grandes dificuldades o motivo de terem a colocado em seu pescoço: as superstições atribuíam àquelas pedras a mágica capacidade de inibir poderes bruxos.

Harry estudara as histórias, então sabia a verdade por trás do mito acerca das pedras da lua: décadas atrás, um poderoso rei foi abandonado pela sua rainha, a qual se apaixonou por um mero camponês e com ele fugiu. Entenda, era vergonhoso demais ao monarca comunicar ao seu povo essa verdade, pois esta macularia a honra e a virilidade real. Dessa forma, como justificativa para a ausência da querida rainha, ele recorreu à única coisa que sabia ser capaz de arruinar a imagem dela para com seus súditos: alegou que ela era bruxa e que, ao descobrir seu pecado, executou-a. De fato, a desculpa foi aceita sem questionamentos durante algum tempo, mas logo começou-se a especular por qual motivo o rei não havia descoberto os poderes místicos da ex-esposa durante a longa vida conjugal que partilharam. Este, a título de improviso, atribuiu à pedra da aliança de casamento deles – uma pedra da lua – o fantástico poder de censurar o uso de poderes místicos, fato acolhido por aceitação geral.

Assim, Styles soube, naquele mesmo instante, que não tinha chance alguma de provar que era apenas um rapaz comum – não há argumentos plausíveis contra fanatismo religioso, porque não há lógica por trás dele para que possa ser desconstituída. As pessoas simplesmente acreditam e matam em nome dessa crença.

Em síntese, Harry estava fodido – realmente fodido, não no sentido prazeroso da palavra.

-x-

No momento em que o comandante tornou a se deitar em seu leito, o cacheado sequer se deu ao trabalho de se arrastar para seu lado como fizera na noite anterior quando o medo de sua própria sorte lhe afligiu, afinal esta seria terrível de qualquer forma, então ele simplesmente se contentou em fitar o teto da tenda com suas esmeraldas desnorteadas que logo se perderam completamente no que lágrimas espessas lhe transbordaram.

Styles simplesmente não entendia o porquê de aquilo estar acontecendo consigo.

Uma vez desconhecendo a profecia que o colocava como última chance de liberdade da Escócia, ele acreditava que Charles Stuart o sequestrara em prol de uma nova Santa Inquisição e que o executaria em praça pública quando colocasse as mãos nele. Isso, é claro, não fazia sentido em sua mente, porque por mais que soubesse o quanto o cristianismo pregava ódio aos considerados bruxos, na qualidade de um rei destronado, o qual perdeu poder, riqueza, liberdade e sobreviveu ao massacre do próprio exército apenas para ver seu povo e sua terra perderem a identidade, o cacheado imaginava que sua única preocupação seria recuperar o trono.

Harry chorou baixinho durante toda a noite – ele sentia medo do que fariam com ele quando chegassem à Escócia, medo da dor e sempre da morte. Em verdade, não era como se Louis não ouvisse os soluços alheios sufocados, mas ele tinha para si que, embora Styles parecesse como um ser humano, ele não o era.

Bem, como se tivessem combinado entre si, no momento em que o pranto do de olhos verdes cessou, embalando-o em um sono supérfluo, os suspiros do de olhos azuis assumiram seu lugar.

Harry acordou assustado e observou encolhido em si próprio o surto de Louis se repetindo de forma muito semelhante à noite anterior: os suspiros evoluíram para uma respiração intensa e acelerada e de repente o homem já se debatia de forma frenética em seu leito, ainda inconsciente. Quando olhos vidrados finalmente se abriram, não pareciam tão azuis como Styles sabia que eram, pois a ira os obscurecia totalmente. Houve, por fim, socos no ar e gritos agonizantes que pareciam rasgar o homem de dentro para fora.

De fato, aquela cena diante de si era mais um dos terrores que o cacheado contemplou durante aquela viagem, mas este ao menos cessou de forma breve, novamente se esvaindo no momento em que Louis alcançou seu caderno de capa de couro negro e leu seu conteúdo.

Não passou despercebido a Harry que o homem escrevia algo ali todas as noites e deixava o objeto estrategicamente posicionado ao lado de seu leito, ao seu alcance, como se soubesse que os pesadelos o levariam àquele estado e como se se tratasse de algo que ocorria constantemente.

-x-

Fazia quase um dia completo que Harry e Louis não trocavam farpas entre si e, note que, nos últimos dias, a regra era que se provocassem até que um terminasse sobre o corpo alheio, então isso realmente significava alguma coisa.

É que, veja bem, após a noite anterior, Harry Styles não estava sendo tão... Harry Styles.

O bruxo se encontrava extremamente calado e inerte, parecendo não ter resposta ácida alguma ou qualquer plano de fuga em mente. Céus, nem mesmo a costumeira jura silenciosa de que lutaria pela própria vida se encontrava flamejando em seus olhos verdes!

Dessa forma, o cacheado não impôs resistência alguma ao comandante naquele dia de viagem: permitiu-se ser arrastado para Aquiles e, após avançarem durante todo o efêmero reinado do sol, permitiu-se ser arrastado de volta ao acampamento quando a lua assumiu o grande trono.

Entenda, não era como se Louis sentisse falta de Harry o desafiando a cada segundo das 24h que o dia tem, era apenas estranho tê-lo não o fazendo. Contudo, considerando tudo o que ocorrera nos últimos dias, ele não ousava subestimar o cacheado – de fato acreditara que Styles seria inofensivo uma vez bloqueando seus poderes místicos e, embora nunca fosse admitir, se surpreendera com sua coragem. Por outro lado, Harry, que acreditara que Tomlinson era um ignorante, jamais admitiria que se surpreendera com sua inteligência. Então estavam, em algum aspecto, quites.

De toda sorte, o muito desconfiado comandante decidiu que daquele dia em diante não tiraria seus orbes azuis do cacheado, pois não era como se uma criatura maligna pudesse estar inibida por se encontrar sofrendo – para ele era muito mais crível que o comportamento estranho do cacheado se devesse ao fato de querer confundi-lo e então surpreendê-lo com uma nova tentativa de fuga.

Diante do exposto, após armar sua tenda, Louis precisava alimentar Aquiles como de costume, mas não ousou permitir que Harry ficasse sozinho por aqueles meros instantes, optando então por levá-lo consigo e deixando-o aos pés de uma das árvores em que subira para coletar frutos. O cavalo estava amarrado junto à árvore mais próxima e o comandante tentava confiar que o animal o avisaria caso Styles aprontasse alguma de suas tramoias, afinal seu melhor amigo era a combinação perfeita de inteligência e lealdade. Todavia, quando retornou com alimento suficiente para três, tranquilizou-se ao notar que o mais jovem permanecera exatamente do mesmo modo que o mais velho o havia visto pela última vez: as longas pernas dobradas junto ao peito e o tronco dele recostado sobre o tronco da árvore, observando tudo ao redor, quietinho.

Isso porque, repentinamente, tudo fazia sentido ao redor do cacheado: o medo e luxúria alheia encoberta por desprezo da maioria, cada "filho do demônio", "pecador" e "filho do mal" direcionados a ele e até mesmo a forma desumana que o tratavam, como se ele não fosse digno de comer, sentir frio ou dor – todos acreditavam que ele era algo proibido, algo pecaminoso e não humano.

Suas esmeraldas ameaçaram perder-se novamente em prantos, mas eis que algo em sua visão periférica atraiu totalmente sua atenção: Louis vinha ao longe se valendo da barra de couro negro de seu traje como se uma cesta fosse, trazendo em sua dobra inúmeros frutos. Entenda que Harry se sentia faminto, afinal, mesmo que nenhum daqueles homens acreditasse, ele ainda era um ser humano como qualquer outro.

O comandante se ajoelhou em frente ao cacheado e Aquiles se encontrava posicionado entre ambos, à direita do primeiro e à esquerda do segundo.

Eis que Louis começou a dividir a comida para os três igualmente – verdadeiramente igualmente. Se colocasse um pêssego no montinho sobre o solo à sua frente, Aquiles e Harry teriam então um pêssego no montinho que correspondia a cada um. Se colocasse uma maçã para si, então Aquiles e Harry teriam também uma maçã para eles. E ele permaneceu assim perante as bananas, as amoras e as uvas, com seus olhos azuis refletindo inocência infantil uma vez mais. Apenas quando chegou a vez do abacate, o comandante deixou dois no montinho de Aquiles e nenhum para si próprio, pois sua careta desgostosa dizia o quanto aquela fruta lhe desagradava.

Styles ergueu uma sobrancelha para a cena diante de si, mas nada disse.

E então, tendo terminado a distribuição extremamente justa, o homem começou a comer de seu próprio montinho em silêncio, o que foi uma deixa para que o cacheado e o cavalo também o fizessem.

De fato, era difícil para Harry se alimentar com aquelas pesadas correntes balançando em seus braços, mas, ainda assim, ele comia com mais elegância e delicadeza que Louis, que o fazia como um bárbaro, quase como se sentisse com raiva da comida também. Em verdade, observando Aquiles e Tomlinson mastigando, ele não se sentia capaz de afirmar com certeza quem era o cavalo e quem era o humano à sua frente.

Styles realmente se esforçou para não rir. Isso porque ele não queria que ninguém – nem ele mesmo – pensasse que o homem diante de si lhe provocava algum sentimento bom, algo que fizesse com que risse não só por deboche, mas de verdade. Infelizmente, não foi capaz de segurar sua gargalhada para si, mesmo comprimindo os lábios carmesins fortemente em uma linha fina, de modo que o som lhe escapou de forma anasalada.

De toda sorte, o barulho de uma garrava de vinho se espatifando contra uma árvore próxima encobriu o deslize de Harry, rompendo aquele momento.

– Agora você também alimenta essa coisa? – disse um dos soldados que fitava a ambos enquanto colocava-se em pé a poucos metros dali.

Em verdade, Styles reconhecia aquele homem. Não era como se fosse esquecê-lo um dia, ainda que tivesse se esforçado grandemente para não memorizar seu rosto – ele não se esqueceria de nenhum deles, afinal: Murtagh, o narigudo, era o que falava; Dougal, o careca de longa barba grisalha, estava sentado à sua direita; e Stanley, o rechonchudo, à sua esquerda.

O trio, que já fora um quarteto outrora, se encontrava vestido em kilts como sempre faziam após um dia de viagem, a fim de se sentirem confortáveis para dormir; contudo, era nítido que nenhum dos três homens dormira recentemente, pois seus rostos se encontravam um tanto quanto abatidos e deploráveis, com bolsas e olheiras arroxeadas ornamentando seus olhos. Em verdade, até então, os três homens se encontravam debruçados sobre o exemplar de uma bíblia, tentando, de forma milagrosa, aprender a ler para cumprir a penitência imposta pelo comandante e enfim receber autorização para descansar.

– Não seja r-rídiculo, Murtagh – disse Stanley ao amigo, colocando-se sobre os próprios pés ao seu lado e puxando-o levemente pelo cotovelo para que voltasse a se sentar. – Nossa Majestade precisa do feiticeiro vivo, dessa forma, o comandante jamais poderia deixá-lo morrer de fome.

– Esse é o momento em que você parte em defesa de sua paixão reprimida, não é mesmo, Stanley? – Murtagh o fitou enojado, desvencilhando-se de seu toque.

O homem cambaleou um pouquinho para trás, mas recuperou seu equilíbrio agilmente, permanecendo em pé. Então, fechou seus olhos com força e respirou fundo, na tentativa de acalmar-se, mas ao abri-los e fitar as próprias mãos vazias considerando que lançara ao longe a garrafa de vinho que segurava, sua mente registrou o anel de metal enferrujado e encardido em seu dedo anelar esquerdo – Angus, o soldado que Louis executou há duas noites, possuía um idêntico: isso porque ele e Murtagh não eram apenas companheiros na guerra, mas em todos os aspectos da vida.

Eis que o soldado fechou as mãos em punho – a raiva fazia com que ele se tornasse um homem cego. Sentia raiva de Angus por ter partido e o deixado para trás, sentia raiva de si mesmo por ter se acovardado quando Louis apareceu e, principalmente, raiva do comandante por ter executado seu marido em defesa do pudor de um ser que sequer podia ser considerado humano.

Louis, por sua vez, fitou a Murtagh com tédio declarado por alguns segundos e tornou a encarar Harry à sua frente, levando a maçã comida pela metade que segurava aos lábios finos. Nesse momento, Styles tornou a encará-lo também e observou-o arrancar um pedaço da fruta com os dentes e mastigar com brutalidade e rapidez.

– Ele não é digno de substituir Simon Cowell nesta missão! – o grito de Murtagh preencheu o ar noturno de Aberdeen, alcançado a todos os presentes.

A mastigação de Louis desacelerou perceptivelmente e, com isso, o brilho de inocência que faiscava em seu olhar se apagou repentinamente.

– Não seja tolo! – Stanley berrou para o colega. – Ele é o melhor soldado que a Escócia já teve em toda a sua história. Talvez seja o melhor guerreiro de todos os sete reinos.

Murtagh escarrou no solo à frente.

– Como se ele precisasse disso! – gargalhou falsamente. – Todo mundo sabe o que ele fez para hoje estar entre nós.

A mastigação de Louis desacelerou mais um pouco, mas Harry não percebeu dessa vez, pois observava atentamente os olhos do comandante – o mais velho era sempre o primeiro a quebrar a conexão de olhares entre ambos, mas não foi o que aconteceu dessa vez, então o mais novo soube que, embora os orbes azuis estivessem direcionados aos seus orbes verdes, a mente de Louis não os acompanhara. O comandante estava distante.

Nesse momento, Dougal se pronunciou pela primeira vez naquela noite. Colocou-se em pé com a expressão fechada e posicionou a mão aberta sobre o peito de Murtagh.

– Não o irrite.

O narigudo fitou o careca de longa barba como se este o tivesse traído meramente por exteriorizar aquela frase.

– Qual é o problema com você? – ele fitou, inclusive, todos os outros homens ao redor. – Qual é o problema com todos vocês?! Vamos fingir então que ele é confiável apenas porque o rei o adotou? Um novo nome nunca será capaz de mudar o fato de que ele não é um de nós!

Quando a mastigação de Louis desacelerou ainda mais, Harry soube que aquilo não acabaria bem para aquele soldado.

– Eu vou te dizer como isso vai funcionar! – Murtagh prosseguiu, fazendo menção de avançar no próprio comandante, mas Dougal e Stanley o impediram. – Quando essa missão acabar e eu estiver afastado de sua hierarquia, vou atrás de quatro vadias francesas, Luke Stuart – pronunciou o nome com tom zombeteiro. – E quando eu as encontrar, você irá se arrepender de ter impedido que fizéssemos com o bruxo o que eu farei com sua família, porque, acredite, meu rosto será algo do qual elas se lembrarão.

Harry se sentiu enojado repentinamente, pois nunca havia ouvido alguém realizar uma ameaça de estupro em público antes e, com flashes do que ocorrera consigo ainda tão vívidos em sua mente, ele sentiu seus olhos lacrimejarem, então um desejo de justiça queimou em seu peito – se estivessem em uma realidade paralela em que ele não estivesse acorrentado e não fosse um aristocrata sem talentos para a guerra, ele desfiguraria o rosto daquele soldado.

– Seu grande imbecil – suspirou Dougal.

De imediato, o careca de longa barba grisalha e o rechonchudo se afastaram do narigudo, pois ambos sabiam o que estava por vir: a raiva de Murtagh podia até ser grande, mas sequer se aproximava da raiva de Louis.

O comandante finalmente engolira o alimento em sua boca e, ainda com os olhos em Harry, aquele sorriso arrepiante rasgou sua face. Eis que se colocou em pé de forma tranquila e vagarosamente soltou o cinto de seu traje, deixando que sua espada caísse por terra. Em verdade, a primeiro momento, Styles não entendera a atitude do homem, mas logo sua própria voz retumbou em sua mente "um homem com uma espada: isso é tudo o que você é." e, quando finalmente se deu conta do que o mais velho faria, este já avançava completamente desarmado contra Murtagh, que ria e desembainhava a espada agilmente.

Harry arregalou seus olhos de imediato – talvez ele precisasse rever a premissa de que Louis era alguém surpreendentemente inteligente, pois um homem que avança contra outrem de igual preparo físico e opta por abandonar sua vantagem apenas para provar seu ponto, é declaradamente burro ou desesperado. Contudo, o comandante não era nenhum dos dois – ele era bom. E sabia disso.

Eis que com apenas um soco no antebraço de Murtagh, este foi desarmado e a luta quedou equilibrada. De fato, o narigudo tentou abaixar para recuperar sua espada no chão, mas o comandante foi mais rápido, agarrando o colarinho do traje dele e erguendo seu corpo nas pontas dos pés – uma vez que era mais baixo que os demais, forçou o homem a olhar para baixo e fitá-lo.

– Repita – disse, entredentes.

O homem gargalhou e entreabriu os lábios para repetir a ameaça à família Tomlinson, mas antes que qualquer som se exteriorizasse, Louis depositou um murro em sua boca.

– Repita! – ordenou, mas antes que o homem o fizesse, Louis acertou-lhe o punho direito uma vez mais.

Murtagh escarrou aos pés do comandante e Harry, que encarava a tudo sem sequer piscar, registrou mentalmente sangue e pedaços de dentes caindo sobre o solo.

– Repita! – o comandante ordenou novamente.

De toda sorte, o homem sequer chegou a moveu seus lábios dessa vez, mas isso não impediu Louis de o esmurrar mais uma vez e então novamente e, bem, Harry perdeu as contas pois quando viu que os pés do homem não se debatiam mais, soube que ele havia perdido a consciência e duvidava que tal condição faria o comandante parar.

Entenda, não era como se Styles não achasse que o mundo seria um lugar melhor sem Murtagh, mas, ainda assim, permanecia sendo alguém completamente sensível à morte.

– Luke! Luke! – gritou Stanley. – Pare ou você irá matá-lo!

Louis se limitou a rosnar e a fitá-lo como quem diz que esta era mesmo a sua intenção, então Stanley calou-se imediatamente no que seus braços despencaram ao lado de seu corpo, impotentes.

Em verdade, Tomlinson parou apenas quando a face de Murtagh restou em carne viva: a pele esfolada e os ossos fraturados. Quase como se tivesse lido os pensamentos de Harry, ele havia literalmente desfigurado o rosto do soldado. Por fim, o comandante soltou o corpo sem vida que segurava sobre solo de Aberdeen e limpou seus olhos, pois o sangue alheio respingara acima da faixa negra.

– Agora ninguém mais se lembrará do seu rosto, soldado – disse, sem remorso algum em sua voz.

Entenda, não era como se ele gostasse de matar pessoas – ele simplesmente era o oposto de Harry e não temia a morte, pois diante dos olhos azuis, esta era algo simplório. Louis lutou na guerra e desvendara exatamente como guerrear: machuque as pessoas antes que estas machuquem você. Assim, ele não poderia arriscar, pois uma vez afastada sua hierarquia, lhe seria proibido avançar contra aquele homem e não haveria meios de garantir que este não cumpriria a promessa de ferir suas garotas francesas. Contudo, ele obviamente repetiu diversas vezes para si mesmo que agira porque estupro era algo inadmissível por si só e seu exército deveria respeitar aquela premissa imposta por ele, não a título de proteger Johannah, Charlotte, Félicité e Doris Tomlinson, afinal aquelas mulheres não significavam nada para Luke Stuart – ao menos não deveriam significar.

Harry finalmente abrira os olhos verdes e, ao encontrar o comandante caminhando até ele, não pôde deixar de examiná-lo dos pés à cabeça. O ódio entre ambos era algo declarado, de forma que não era como se estivesse interessado, mas Louis era uma grande incógnita e Styles curioso demais. Assim, foi um tanto quanto inevitável não se questionar: se a família do homem ainda estava viva, por que este havia sido adotado por Charles Stuart?

Tomlinson apanhou seu cinto que repousava ao chão, vestindo-o e em seguida recolhendo-se à sua tenda. Porém, logo retornou à vista de todos, como quem esqueceu algo realmente importante e puxou Styles pelo braço, levando-o consigo, sempre pisando duro.

Ao fitar o corpo sem vida de Murtagh, o primeiro pensamento de Harry foi que, se aqueles homens continuassem assim, não haveria mais exército do qual precisaria fugir, porque eles mesmos se aniquilariam.

De toda sorte, ainda que desejassem, ninguém naquele acampamento poderia negar o fato de que o tal "Luke" tinha um ótimo soco de direita.

♘♔♗



N/A: Did you miss me?

Acho que a fic nunca ficou tanto tempo sem att, não é mesmo? Peço milhões de desculpas para vocês, pois as provas finais me consumiram; mas, por outro lado, esse capítulo ficou bem grandinho para compensar a todos que sentiram saudades de Mystical (principalmente eu mesma).

Bom, como vocês puderam notar, eu optei por trazer a altura real do Louis para a fic. Logo,  isso significa que ele não será maior que o Harry e tampouco será um anão. Ainda assim, ele será tops aqui e eu espero que não haja quem venha com a insanidade de que ser tops ou bottom tem relação com altura.

Beijinhos no coração,

Bê.

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