Sabem quando acordam com aquela horrível sensação de o vosso próprio corpo pesar uma tonelada? Quando querem respirar pela nariz mas este está entupido e têm de respirar pela boca? Quando gastam mais lenços numa hora do que no resto do ano?
Bem esse é o resultado de ontem ter andado à chuva com Harry!
Hoje de manhã acordei e fartei-me de respirar, quando as enfermeiras vieram tirar-me sangue para fazer as análises perceberam que eu estava demasiado constipada e começaram a fazer perguntas e dar-me sermões sobre andar à chuva.
Até a enfermeira simpática, mas percebi que elas apenas o faziam para o meu bem e ignorei o sentimento de irritação que crescia em mim a cada palavra dita por elas.
Por volta das dez horas Harry entrou pelo meu quarto a dentro e bem, só dei pela sua presença mesmo porque assim que a porta abriu ele espirrou. Comecei a rir-me e senti-me minimamente feliz porque afinal não era a única a sentir-me assim tão mal.
Harry: Bom dia- disse com uma voz um pouco estranha
Eu: Bom dia- respondi espirrando
Harry: Só temos más ideias- riu um pouco
Eu: Parece que sim
Harry: Sempre almoçamos em minha casa?
Eu: Sim, mas antes tenho que fazer algo e ainda demora um bocadinho- disse meio corada
Harry: Eu percebo, vai lá à casa de banho tratar desses assuntos femininos
Mesmo que não fosse a isso que me estava a referir corei completamente e ao mesmo tempo comecei a rir da naturalidade com que ele encarava o assunto. Sim, porque realmente não é nada demais!
Eu: Estava a falar de uma sessão de tratamentos que a enfermeira simpática me obrigou a fazer mas tudo bem- encolhi os ombros
Harry: Vais fazer mais uma?- perguntou feliz
Eu: Não tenho outra saida- resmunguei
Harry: Vai correr bem, vais ver. Como costumam ser?
Eu: Secantes! Passo no minuto uma hora sentada numa sala enquanto tenho fios ligados a mim e não tenho nada para fazer
Harry: Achas que dá para eu te fazer companhia? Isto se quiseres- disse rapidamente
Eu: Hazz durante essa hora vai fazer algo melhor do que estar enfiado num hospital- mandei
Harry: E se isso for o melhor que tenho para fazer?
Eu: Oh, então sou a tua última opção, hum?- perguntei um pouco desiludida
Harry: O quê?- perguntou surpreendido- Não era isso que eu queria dizer, lamento se soou assim. Eu queria dizer que estar contigo era a minha melhor opção e escolha! Não interessa se vamos estar enfiados numa sala durante uma hora, eu quero estar lá para te apoiar, porque é isso que os amigos fazem, Rose
Sorri-lhe enquanto assentia e acabei por me levantar da cama. Dei-lhe um pequeno abraço e peguei na sua mão, puxando-o para fora do quarto. Pareciamos uma sinfonia de espirros porque não muito depois de um espirrar o outro também o fazia.
À medida que caminhava pelo corredor, ainda de mãos dadas com o Harry, algumas pessoas iam ficando a olhar, sobretudo médicos e enfermeiras, mas eu ia ignorando e caminhava até à sala onde já sabia que a enfermeira estaria.
Ela tinha dito que ia apenas preparar as coisas e depois já me ia chamar mas visto que tenho companhia, por hoje, posso ir mais cedo e acabar com isto mais depressa. Normalmente fugiria daqui a sete pés e iria tentar arranjar todas as desculpas para me escapar desta tortura mas hoje vai ser diferente.
"Tenho de acreditar que sim!"
Entramos na pequena sala e já estava tudo pronto, ao que parece a enfermeira ia chamar-me e como vim aqui ter apenas lhe reduzi o trabalho.
Enfermeira: Bem, sabes o que tens de fazer Rose- disse num tom maternal
Sorri-lhe e acabei por me sentar. Estiquei o braço direito e ela fez o resto. Odiava a sensação de agulhas espetadas em mim e ainda mais quando algumas deixavam uma nódoa negra mas não havia nada que eu pudesse fazer, era isto que me estava a fazer viver e, bem lá no fundo, tenho esperanças de que com estas poucas sessões consiga superar tudo.
Não quero fazer o tratamento, mas fico feliz por saber que há quem ainda lute para que eu o faça!
Enfermeira: O menino vai ficar a acompanhar?- perguntou a Harry
Harry: Se puder, sim- respondeu nervoso
Enfermeira: Claro, assim a Rose não fica tão triste como é habitual- já falou demais- Vou buscar-lhe uma cadeira e já lhe trago, sim?
Harry: Deixe estar, eu posso ir
Enfermeira: Não, não, esse é o meu trabalho. Deixe-se estar que eu não demoro- disse a sorrir
Harry: Obrigado então
Eu poderia ter agradecido também mas aquilo estava a doer-me um pouco e se eu falasse ia demonstrá-lo no meu tom de voz. Era como se me estivessem a cortar o braço na zona em que tinha a agulha e me puxassem todo o sangue para fora de mim.
Realmente não sei que tratamento é este, mas é desgastante e doloroso!
Harry: Calma, já passa- disse enquanto me dava um beijo na testa
A enfermeira simpática lá acabou por regressar e entregou uma cadeira ao Harry, disse-nos que voltaria em uma hora e depois dirigiu-se para a saída.
Harry: Espere- pediu- Como é que se chama?
Enfermeira: Hope- disse enquanto nos sorria
Harry: Obrigado por tudo, Hope
Ela acabou por sair e eu sorri com a ironia da situação. Hope depositava mais esperança na minha cura do que eu mesmo. Na verdade, acho que o nome lhe assentava perfeitamente. Ela é uma pessoa cheia de esperanças, até poderia vender alguma que tem em excesso.
Harry: Isso dói?- perguntou enquanto me agarrava nas mãos
Eu: Um pouco- decidi não mentir
Harry: Durante todo o tempo?
Eu: É diferente de sessão para sessão- encolhi os ombros
Harry: Numa escala de 0 a 10, quanto está a doer agora?
Hum, então deixem ver.... Provavelmente se lhe disser a verdade vou assustá-lo demasiado mas se não disser ele vai perceber na mesma que estou a mentir porque a dor é demasiada para eu aguentar calada, então mais vale assumir já.
Eu: Provavelmente seria um 8 ou um 9- forcei um sorriso
Harry: Posso fazer alguma coisa para ajudar?- perguntou preocupado
Eu: Estares aqui já é muito- sorri
Ficamos um pouco em silêncio, até que me surgiu uma dúvida e eu não era capaz de a deixar para mais tarde...
Eu: Harold?
Harry: Está a doer?- perguntou preocupado
Eu: Sim, mas não é isso- sorri um pouco
Harry: Então?
Eu: Foste tu que os pagaste, não fostes?- perguntei desviando o olhar para a parede branca
Harry: Talvez
Eu: Preciso de uma resposta concreta
Harry: O Justin tinha dito que iria pagar-te os tratamentos então eu disse que o fazia mas ele não deixou então acabamos por o fazer os dois- fez-me olhar para ele- És nossa amiga, Rose! És demasiado importante para que te percamos e além disso dinheiro não é um problema para nós
Eu: Mas o dinheiro é vosso! Não deveriam gastá-lo com uma rapariga que mal conhecem e já chamam de amiga- reclamei
Harry: Não vais gastar a tua energia a discutir algo que eu ganharei no final, pois não?- reclamei em murmurios mas acabei por concordar com ele- Agora descansa, daqui a pouco vamos comer
Ele meteu a sua cadeira mesmo ao lado de onde eu estava sentada, que era uma espécie de cadeira/ maca, e puxou-me para que deitasse a cabeça no seu colo enquanto continuava com o braço ligado às máquinas.
De vez em quando sentia uma pontada mais forte no braço mas ignorava e fazia um esforço para não deixar nenhum gemido de dor sair, não queria preocupar o Harry com isso neste momento.
Hiiii :)
Como estão?
Quem quer dedicação?
P.S: 25 comentários :)