O Que o Espelho Diz - A Rainh...

By MeewyWu

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Capa Atual: Foto de Alice Alinari, instagram: alice_alinari A Rainha da Beleza: O que o Espelho Diz. Bethany... More

Epígrafe
Prólogo
I - Alianças Diferentes
II - Um fantasma no Palácio
III - O Conselho Real
IV - Informação Vazada
V - Palácio de Verão e Vidro
VI - Chuva de Cristais
VII - Vidro Embaçado
VIII - Protetora de Paris
IX - Cavaleiro de Prata
X - Teia de Veludo Vermelho
XI - Carvão e Metal
XII - Ilusões Refletidas
XIII - Prismas
XIV - Retinta
XV - Sonhos de Marfim
XVI - Espadas de Madeira
XVII - Floresta de Esmeraldas
XVIII - Penas Prateadas
XIX - Corpos e Fantasmas
XX - Rios de Sangue
XXI - Palácio de Ferro
XXII - Cartas à Morte
XXIV - Claro como Cristal
XXV - Coroa de Ossos
XXVI - Sapatos Brilhantes
XXVII - Segredo Americano
XXVIII - Posição Política
XXIX - Arte da Guerra
XXX - O Que o Espelho Diz
Epílogo
O Que o Espelho Diz - Por Meewy Wu
AESTHETICS

XXIII - A espada vermelha

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By MeewyWu

Tina saiu apressada do salão, enquanto todos ainda se levantavam um pouco atordoados. Assim que saí do círculo das mesas, Annie surgiu ao meu lado, passando o braço pelos meus ombros, sem me abraçar de verdade, mas dando a entender que era aquela sua intenção, e me impedindo de seguir o resto da multidão para fora do salão – Você foi corajosa.

Alguns passos de nós, James Bordeaux bufou.

-Algo a falar a sua futura rainha, pai? - perguntou Dylan, chegando por trás de James e encostando os quadris na mesa – Parece engasgado em palavras.

-Futura rainha – grunhiu James, irado, olhando para mim – Não acredito em uma palavra que saiu da boca desta menina.

-Tio... – Annie o advertiu.

-Impressionante, Duque James, já que não parecia estar prestando atenção em uma única palavra do que eu disse – grunhi, esquecendo que ainda estava presa no braço de Annie – Me lembre do motivo de sua presença em Versalhes?

-Eu represento a casa de Bordeaux! – ele exclamou, enchendo o peito.

-Dylan pode representar a casa dos Bordeaux – Até Dylan parecia surpreso me encarando - Você representa apenas a si mesmo.

-Talvez, mas meu filho só se preocupa com os interesses da única mulher que foi burra o bastante para ocupar a cama dele por mais de uma noite – ele estava ficando vermelho, e então murmurou – Com sorte, logo iremos nos livrar todos dela.

-Como ousa? – Dylan puxou o pai pelo colarinho, e o duque prontamente socou o rosto do filho, que se afastou acertando o quadril com força na mesa.

-Dylan! – exclamou Annie, me soltando e correndo até o primo, que esfregava o rosto. O duque tinha uma expressão de desgosto.

-Garoto fraco – grunhiu o Duque, olhando para o próprio punho.

-Faça um favor a todos James – suspirei, tentando colocar toda minha irritação para fora junto ao ar – e cale a boca, antes que perca a chance de participar do casamento.

-Bethany! – Tina havia retornado a sala e, ao lado de Fox, se aproximava de nosso grupo bem a tempo de escutar.

-Você está supondo que ainda é a noiva – James deu um risinho. – Garota burra.

-O que está acontecendo aqui? – exigiu Fox, olhando para nós quatro – Estão todos olhando para vocês!

Ao dizer isso, as poucas pessoas que ainda estavam na sala se apressaram em se retirar.

-Está tudo bem – falou Dylan, se afastando com delicadeza de Annie – Meu pai só está sendo a versão mais sincera de si mesmo.

-Controle-se tio – Fox falou, colocando uma mão no ombro de James parte para conte-lo, parte para acalma-lo – Volte para seu lugar, vamos recomeçar em alguns minutos.

-Você e meu filho compartilham o gosto por mulheres que irão colocar suas cabeças em bandejas, sobrinhos – James murmurou, erguendo as mãos em rendição e se afastando. Fox fechou os olhos, respirando fundo.

Dylan abriu a boca, mas Annie colocou a mão no braço dele – Seja lá o que você quer dizer, pare.

-Que seja – ele deu os ombros, se afastando para seu lugar.

Aquela segunda parte da reunião não era aberta para o público, e me perguntei se me tornará muito paranoica ao imaginar que alguém planejará aquela plateia anterior apenas para me desestabilizar, enquanto observava todos tomarem seus lugares na mesa, cadeiras sendo retiradas, colocadas e trocadas de lugar. Nem todos na mesa estavam interessados em comparecer em ambas metades da reunião, aparentemente, e os rostos se embaralharam.

Na curva fechada da mesa, sentei-me ao lado de Fox, entre ele e uma mulher desconhecida, com sotaque forte do norte. Annie estava do outro lado do rei, mas o resto daqueles que conhecidos estavam dispersos, em lugares estratégicos mais próximos as partes da mesa onde se acumulavam os interessados nos aspectos militares, políticos ou econômicos que seguiriam aquela reunião que parecia infinita.

-Chegamos a nossa ultima pauta – tentei não me sentir aliviada demais, enquanto Fox observava a última de suas pilhas de folhas e documentos, confuso e surpreso – A última pauta é sua... Valenttina? 

-Eu gostaria de propor que o casamento fosse transferido – falou Tina, surpreendendo a todos. Nas últimas semanas, ela estava tão animada e convicta a respeito daquele casamento, mas os olhos dela agora eram fundos e sérios – Versalhes não está em condições de abranger um casamento real depois do ataque.

-É tradição que os casamentos reais sejam realizados aqui – contrariou um dos ministros, claramente irritado com o rumo daquela conversa – Todos os países se mobilizaram para mandar representantes para Versalhes, minha princesa, não podemos mudar o local tão em cima da hora.

-Ainda mais quando esse casamento deveria já deveria ter acontecido – uma das duquesas franco-espanholas afirmou – Muitos de nós deveriam estar em casa.

-Sentimos muito por isso, mas ninguém esperava pelos acontecimentos das últimas semanas e dos últimos dias – Fox olhou para mim com cumplicidade – O casamento, mais do que a mim pertence a minha futura esposa. Vamos ouvir o que ela acha sobre isso?

Eu queria acerta-lo com aqueles sapatos de salto fino por baixo da mesa. Estava cansada de falar. Mesmo assim, me virei para Tina – Qual a sua sugestão, Valenttina?

-Tudo que já tínhamos pronto para a festa de noivado foi destruído – ela suspirou – E não há nada definitivamente preparado para o casamento. Não seria difícil pedir que tudo fosse preparado em Paris.

O murmúrio de indignação foi geral pela grande mesa, desaprovação completa – Paris, aparentemente, um palácio inteiro, não era bom o bastante para o casamento.

-Nós temos outras opções? – perguntei, calmamente.

Tina mordeu o lábio inferior, mas alguém comprou a ideia dela.

-Poderiam se casar em Bordeaux – falou Rebecca, sugestivamente – O palácio de Bourse sempre estará com as portas abertas, no que depende de mim, e com todos os convidados que já partiram após o ataque, seria mais do que o bastante para acomodar todos.

-Teríamos toda a força militar de Bordeaux como defesa – ponderou Fox, e então olhou para o tio – É sua oferta também, tio James?

-Será minha honra para a vida toda, meu rei – James forçou um sorriso, olhando cheio de raiva para a ex-esposa.

-Nunca estive em Bordeaux, mas se o palácio de Bourse se comparar as fotos seria uma honra me casar em um lugar tão lindo – respondi, olhando para Tina – Conseguiria prepara-lo, Valenttina?

Ela parecia muito mais aliviada do que condizia com uma mudança de local, ainda mais tão em cima da hora – Será ainda mais belo do que o que planejávamos para Versalhes, minha futura rainha.

-Então, está decidido. Avisaremos a todos no palácio para que se preparem para a viagem o quanto antes. Se não há mais nenhum assunto para ser colocado em pauta, eu proponho o encerramento desta sessão do conselho – Fox se levantou, olhando para todos na mesa. Nem mesmo James parecia disposto a arrumar mais alguma razão para continuar aquela longa tarde, porém antes que Fox voltasse a falar as portas se abriram para Louise Venezza e Teodore logo atrás dela, seguidos por uma dúzia de guardas pessoais.

-Vossa majestade – a mulher se curvou, com o rosto inexpressivo – Se a reunião ainda não foi dada por encerrada, tem algo que eu gostaria de discutir.

-É como se ela estivesse com o ouvido grudado na porta, apenas esperando... – Até mesmo m dos amigos de James olhou irritado para ele, temendo enfurecer aquela mulher em luto. Ele se calou.

-Viemos até aqui pedir que minha mãe e minhas irmãs mais velhas tenham permissão para se ausentarem das atividades do casamento real para levarem o corpo de Marie para casa – falou Teodore calmamente – Eu e Sabrine ficaremos para representar nossa família durante o tempo que for necessário para que o casamento seja realizado após os últimos ocorridos.

Fox assentiu – Lady Venezza, compartilho seu pesar, e mesmo que sua ausência faça falta nesse momento de nosso reino, nada poderia se comparar ao vazio de uma mãe que perdeu a filha – ele deu um olhar sério para ela – Se deseja se ausentar, tem minha permissão, e desejo que faça uma viagem segura com suas filhas para casa.

-Obrigada meu rei – Louise olhou para ele com a mesma seriedade – Mas desejo também partir com a espada de meu marido.

Uma cadeira se arrastou para trás, enquanto Mikenna Emillon se levantava – Não isso outra vez.

-Rebecca, controle sua esposa. – James grunhiu claramente entretido por trás da expressão entediada.

-Sim, já que não foi capaz de fazer isso com seu filho – concordou Louise, irritada. -Uma pena, é que minha filha tenha precisado quase morrer para ver o erro que foi casar com você.

-Como você ousa Louise? – Todos se viraram para onde Rebecca Bordeaux até então se mantiveram em silêncio.

A matriarca italiana deu um sorriso amargo – Não se faça de boa mãe, Rebecca, todos sabemos que quer tanto quando James colocar seu filho incompetente no trono.

-Ao menos eu criei meu próprio filho – Rebecca contra atacou. Do outro lado da mesa, James parecia estar se divertindo mais do que nunca, bem no meio da discussão.

-E que belo trabalho você fez, não é mesmo? – bufou Louise – Incapaz de se manter no exército, incapaz de defender sua própria esposa. Se acha que vou deixar a espada do meu marido para os filhos desse casamento ridículo. Ela é um direito de...

-Seus direito de viúva, sim todos sabem – Mikenna grunhiu ainda em pé – Quem sabe quantas vezes todos ouviram isso nas últimas semanas. E agora está se aproveitando se sua filha ferida para toma-la das mãos dela? Para enterrar a espada, quando todos sabem que é a última coisa que seu marido gostaria?

-Se você soubesse o que meu marido queria Mikenna, talvez tivesse conseguido levar ele para sua cama trinta anos atrás – Louise argumentou maldosamente, o rosto ganhando um tom avermelhado – Isabel não fez nada para merecer aquela espada e eu irei leva-la para casa, para junto ao tumulo de meu marido em Vene...

-A espada de minha esposa não irá a lugar nenhum! – grunhiu Dylan, batendo com força na mesa – A não ser que deseje ganhar ela em um duelo.

-Minha filha não está em condições de duelar – foi à resposta de Louise.

-Não por isso, como marido eu ficaria mais do que feliz de tomar o lugar dela – Dylan de um sorriso petulante – A menos que esteja com medo, senhora.

-Vai deixar esse garoto falar assim comigo? – Louise se virou tão bruscamente, que embasbacada demorei a entender que ela não falava com os pais de Dylan ou com Fox, mas comigo.

Pisquei, enquanto todos pareciam também notar, virando-se para mim. Engoli em seco, olhando para Dylan que parecia igualmente surpreso. Era de mim que ela queria uma resposta, era a mim que ela encarava com aqueles olhos furiosos que faziam todos quererem se encolher.

-Eu não estou ciente de todos os ocorridos das últimas semanas – afirmei, me levantando e respirando fundo. – Mas Isabel e Dylan são caros para mim e para o rei, e eu não vou priva-la da espada que ela caiu segurando enquanto bravamente protegia Versalhes – algo agridoce brincou na minha língua – Porém, se Dylan como marido está disposto a enfrentar a fúria da esposa, apostando tal item em um duelo, tenho certeza que todos ficaríamos entretidos em assistir.

-É meu direito de viúva... – Louise começou a falar enquanto eu voltava a sentar-me, porém atrás dela Teodore a cortou com um brilho nos olhos.

-É o bastante mãe. – o tom dele era calmo, mas todos pareciam surpresos pela interrupção – Sua futura rainha deu a palavra dela e você deve ouvi-la. Partirá com minhas irmãs, sem a espada.

Ele olhou para mim, curioso e agradecido, e então deu um passo para trás para que a mãe se levantasse – Pois assim seja. Majestades.

Com um leve curvar de corpo, uma ofensa a qualquer reverência, ela saiu tão tempestuosamente quanto entrará, com o filho em seu encalço. O silêncio do salão era constrangedor, como se ninguém soubesse muito bem como reagir a toda aquela cena.

Fox pigarreou – Se não houver mais nenhuma interrupção, eu declaro a reunião do conselho encerrada.

-Alguém tentou me matar, Keller. Alguém sequestrou a futura rainha, tentando sequestrar a princesa Valenttina. Alguém planejou um ataque ao palácio. – Dylan grunhiu dentro da sala, irritado – Então sinto muito se estou roubando seu tempo, mas preciso que vá até Paris e rastreie essas malditas cartas para que eu possa resolver coisas mais importantes, já que meu primo parece incapaz de estabelecer suas prioridades.

-Sim senhor – Apolo respondeu do lado de dentro, saindo em seguida e me encarando – Minha futura rainha.

-Vai a Paris? – perguntei, erguendo uma sobrancelha.

-Apenas por alguns dias – ele suspirou, olhando para o corredor – Voltarei antes de partilhem para Bordeaux. Eu não vou pedir que me espere voltar, se quiser falar com Alicia sobre...

Ele deixou a frase morrer entre nós. Assenti, tentando sorrir – Tome cuidado.

Com um aceno de cabeça, ela se afastou, uma expressão preocupada no rosto. Dentro da sala, Dylan grunhiu alto o bastante para se ouvir do lado de fora, e o som de algo se quebrando seguiu de um xingamento.

-Espero que tenha um bom motivo para mandar Apolo para longe da esposa, Dylan – falei empurrando a porta e observando os cacos de um copo ao lado da mesa dele – Achei que tinha dito que iria dormir.

-Vossa majestade seu futuro marido deu uma melhor função ao meu tempo – ele falou, alinhando algumas folhas – De todo modo, Isabel deve sair da enfermaria logo. É melhor dar algum tempo a ela se instalar no quarto, então talvez finalmente permitam que eu veja minha esposa.

-Então, está se escondendo até a tempestade acabar? – ergui uma sobrancelha, pegando uma folha com um recorte de um dos artigos de jornais. Engoli em seco, soltando no lugar.

-Eu não estou... – ele esticou a mão para onde antes deveria estar o copo agora quebrado, e balançou a cabeça – Infernos, talvez eu esteja. Não... Não sei o que fazer. Não sei como ela está, ninguém me diz nada. Meu dever é saber coisas, Bethany, e estou preso aqui com fofocas da corte enquanto alguém bem pode ter arrancado a perna de minha esposa e todos nós nos tornamos alvos.

-Talvez devesse deixar isso de lado – apoiei as mãos na cadeira em frente a ele – Cuidar dos assuntos mais importantes, de Isabel...

-Fox não vai me dar sossego até que eu garanta que esses artigos parem – ele suspirou, balançando a cabeça.

-Conseguiu algo? – ergui uma sobrancelha, enquanto ele se levantava e pegava dois copos em um pequeno armário, enchendo de bebida âmbar e me entregando um.

-Sem dúvidas, quem fez isso sabe que estou investigando – ele virou o copo todo de uma vez só – Não houve uma única matéria desde que voltei a Versalhes.

-Mais um bom motivo para deixar isso de lado, então – tentei sorrir, sentindo meu coração apertar.

Ele estreitou os olhos – Sabe de alguma coisa, Bethany?

-Eu sei que Fox tem a tendência a se preocupar demais com algumas coisas – engoli em seco, olhando para o chão – E que existem outras pessoas que precisam de você.

-Você tem razão – ele assentiu, olhando para o copo vazio contra a luz – Eu deveria impedir que minha esposa mande alguma empregada para a guilhotina. Vamos?

Segui ele em direção a porta, parando ao perceber um retrato sobre o aparador onde Dylan deixara os copos. – Dylan, essa foto...

-Ah, é da primavera antes de você ter chegado ao palácio. Fizemos uma pequena festa para o aniversário de Camille, apenas a família – ele sorriu, ainda segurando a porta – Bethany?

Engoli em seco, observando a foto. A família real inteira estava ali, quase parecendo uma família normal. A Rainha Lenna, embora ainda usasse uma tiara modesta, vestia calças e uma blusa leve. James Bordeaux, assim como Dylan e Fox, dispensaram os blazers e gravatas, com as camisas de mangas puxadas até os cotovelos e abertas no colarinho. Camille usava um vestido amarelo florido, vibrante entre o vestido cinza claro de Annie e o vestido cor-de-rosa de Valenttina.

Tina parecia estar suando naquele vestido cor-de-rosa de mangas longas, os cabelos longos e loiros presos longe do rosto com presilhas douradas em formato de rosas, que combinavam com os botões do vestido.

Meu lábio inferior tremeu – Esse é o vestido que eu estava usando na noite em que me sequestraram.

Os olhos de Dylan se arregalaram em entendimento – Estavam atrás de Tina.

-Você disse que pegou um vestido emprestado de Annie – Dylan falou, me seguindo pelos corredores apressadamente, carregando o porta-retratos nas mãos.

-Eu peguei... – arfei, dobrando um corredor – É possível que as duas tenham o mesmo vestido?

Dylan riu – Não, mas é possível que as empregadas de Versalhes tenham trocado as roupas durante a lavagem.

-Alicia estava reclamando sobre isso outro dia – parei no meio do corredor, olhando para os caminhos em minha frente – Eu nem sei para onde estou indo.

-Precisamos falar com Fox – ele olhou para o porta retratos, apertando os lábios.

-Tina não falou com Fox – falei, olhando para o corredor que levaria até os quartos, entre eles o de Tina – Ela deve ter notado, quando falei do vestido. Por isso saiu com tanta pressa, por isso parecia tão nervosa...

-Por isso mudou o casamento para Bordeaux – ele gemeu, balançando a cabeça, pegando meu pulso e me puxando – Vamos.

Dylan não se deu ao trabalho de bater na porta antes de entrar no quarto da prima, que estava sentada na penteadeira encarando o próprio reflexo de forma distante. Ela olhos para nós com os olhos arregalados – O que vocês dois...

-Estavam atrás de você – Dylan entregou o porta-retratos para ela – Mas você já sabia disso, não?

Ela se encolheu, balançando a cabeça.

-Por que não disse nada? – perguntei, preocupada enquanto os olhos dela se enchiam de lágrimas – Tina, precisamos colocar pessoas para tomarem conta de você.

-Deveria ao menos ter um guarda na sua porta – suspirou Dylan, balançando a cabeça.

-Eu tentei contar para Fox, mas ele está tão... – ela suspirou, passando as mãos pelos cabelos – Se eu contar a ele acabaremos em estado de emergência como foi em Paris. Todo o casamento vai ser arruinado.

-O casamento? – Dylan arfou, embasbacado – Sua preocupação realmente é o...

-Dylan! – o contive percebendo os efeitos do sono e da bebida no comportamento dele – Tina, o casamento é a última coisa que deveria se preocupar. Estamos falando da sua vida. Da vida de todos aqui, nem sabemos por que queriam você.

-Por que ela é a herdeira da rainha Nathalie, qualquer um que se casasse com ela poderia se declarar rei – Dylan havia parado encostado na porta, longe de nós – É por isso que está tão preocupada em fazer esse casamento perfeito. Por que se todos amarem você e Fox, nunca mais vão esperar que ela reinvindique o trono. Nunca vão apoiar outras pessoas.

-Pare de agir como um maldito bêbado – grunhiu, Tina, a beira de lágrimas – Eu abdiquei. Eu não quero a coroa, é tão errado assim garantir que ninguém tente colocar ela em mim? Querer que Fox e Bethany tenham um reinado duradouro, sem pessoas querendo substituí-los tão desesperadamente para traí-los como foi com minha mãe?

-O que? – pisquei surpresa.

-Os guardas de meus pais, alguns deles gostavam mais de Francis... Eles... Houve um incidente, uma criança desaparecida – ela balançou a cabeça, confusa – Culparam minha mãe, passaram a vê-la como algum tipo de traidora. Os guardas dela deixaram os rebeldes entrarem no palácio. Eles deixaram matarem ela, para que tio Francis pudesse governar. Foi o que destruiu meu pai, os homens com quem ele treinou, que ele liderava. Ele mesmo executou um por um.

Eu e Dylan trocamos um olhar, ele aparentemente havia ouvido sobre isso tanto quanto eu.

-Eu vou aumentar a segurança nos corredores dos quartos de vocês – falou Dylan, por fim, como se estivesse aceitando algum tipo de derrota – Alicia ficará sozinha enquanto Apolo está em Paris, Bethany foi sequestrada, Isabel está ferida, e você e Annie são membros da família real. Isso terá de ser justificativa o bastante. Mas irá dizer tudo a Fox depois de chegarmos a Bordeaux.

Ela assentiu – Obrigada.

Um estrondo e um par de gritinhos ecoaram perto dali.

-SUL MIO CADAVERE! – gritou uma voz furiosa, nós três nos entreolhamos.

-Essa é a minha esposa – suspirou Dylan, antes de nos apressarmos, dobrando no corredor onde ficavam os outros quartos. Sabrinne Venezza estava do lado de fora, com duas empregadas apavoradas logo atrás dela.

-O que está acontecendo? – perguntei para a irmã mais nova de Isabel, que mordeu o lábio inferior.

-Teodore contou a ela sobre a armadura – ela falou, tensa – Ela não está lidando muito bem...

Teodore estava falando algo em voz baixa do lado de dentro, de modo que não podíamos ouvi-lo.

Sabrinne engoliu as lágrimas - Foi uma péssima hora, o médico havia acabado de sair - ela nos confidenciou - Ele disse que mesmo com fisioterapia, com sorte ela conseguirá mancar sem sentir dor em um ou dois anos.

-Não... - arfei, sentindo o ar sair de meus pulmões de repente. Dylan pareceu petrificado no lugar, a boca entreaberta e os olhos arregalados. Tina soltou um soluço agudo.

-ESCI DALLA MIA STANZA! – gritou Isabel, e mais alto foi atirado – SPORCO TRADITORE!

Teodore saiu bufando, olhando para nosso pequeno grupo, focando em Dylan – Ela é toda sua!

Dylan piscou, retornando a si mesmo, enquanto o irmão mais velho de Isabel se afastava com Sabrinne em seus calcanhares. - Gentileza a dele - Dylan respirou fundo, passando as mãos nos cabelos desengrenhados antes de entrar pela porta aberta.

Antes que eu pudesse fazer alguma objeção, Tina estava me puxando para dentro também.

-Bem, eu estava me perguntando quando você iria aparecer – Isabel estava sentada na cama, o rosto vermelho de raiva da briga com Teodore, coberta até a cintura. Ela virou o rosto para mim – E você – e então olhou para Tina – Você, é uma surpresa Valenttina. A que devo a honra? 

-As pessoas que sequestraram Bethany estavam atrás de mim – Tina falou, fazendo com que eu e Dylan nos virássemos para ela surpresos. Ela deu os ombros.

-Bem, acho que isso qualifica você entre os membros mais miseráveis deste palácio – Isabel suspirou, fazendo uma careta ao se acomodar nos travesseiros, o lábio inferior tremendo. A voz dela falhou quando ela voltou a falar – Deveríamos brindar a isso.

-Você não pode beber – falei para ela, olhando para os remédios na mesa de cabeceira.

-Está soando como Teodore agora, Bethany – ela grunhiu, mas então balançou a cabeça e os olhos encheram de lágrimas - Maledetti rimedi. Eu só queria uma bebida.

-Acho que uma taça não vai piorar nada – suspirou Dylan, fazendo menção de se levantar. Ela agarrou o pulso dele, o impedindo bem a tempo antes dela se desfazer em lágrimas. Surpreso, embriagado e cansado, Dylan fez o melhor que pode para abraça-la enquanto ela soluçava no peito dele.

-Eles deveriam ser minha maldita famiglia – ela disse, enquanto eu puxava Tina comigo para fora do quarto e notava que pendurada sobre a lareira, a espada de ouro vermelho que um dia pertencerá ao General Venezza, ainda estava suja de sangue de dias atrás.


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