O Que o Espelho Diz - A Rainh...

By MeewyWu

79.6K 8.7K 3.1K

Capa Atual: Foto de Alice Alinari, instagram: alice_alinari A Rainha da Beleza: O que o Espelho Diz. Bethany... More

Epígrafe
Prólogo
I - Alianças Diferentes
II - Um fantasma no Palácio
III - O Conselho Real
IV - Informação Vazada
V - Palácio de Verão e Vidro
VI - Chuva de Cristais
VIII - Protetora de Paris
IX - Cavaleiro de Prata
X - Teia de Veludo Vermelho
XI - Carvão e Metal
XII - Ilusões Refletidas
XIII - Prismas
XIV - Retinta
XV - Sonhos de Marfim
XVI - Espadas de Madeira
XVII - Floresta de Esmeraldas
XVIII - Penas Prateadas
XIX - Corpos e Fantasmas
XX - Rios de Sangue
XXI - Palácio de Ferro
XXII - Cartas à Morte
XXIII - A espada vermelha
XXIV - Claro como Cristal
XXV - Coroa de Ossos
XXVI - Sapatos Brilhantes
XXVII - Segredo Americano
XXVIII - Posição Política
XXIX - Arte da Guerra
XXX - O Que o Espelho Diz
Epílogo
O Que o Espelho Diz - Por Meewy Wu
AESTHETICS

VII - Vidro Embaçado

3K 307 46
By MeewyWu

Aniversário do Príncipe Fox
Metade de Janeiro

Perguntei-me quantas cidades deveriam estar em chamas, enquanto Fox apagava as velas de seu bolo de aniversário de vinte e um anos. O aniversário do príncipe herdeiro, o futuro rei, deveria ser o estopim para uma noite de terror.

Todos ainda estavam sorrindo e batendo palmas, quando percebi que Fox olhava para mim. Eu havia perdido algo da cerimônia, pensei algo do que Veronicca repetira mil vezes.

Primeiro Tina entraria, e então eu viria com Alicia e Isabel atrás de mim – minhas damas. Só então, Fox entraria e por fim, algum tempo mais tarde, a Rainha Lenna, para felicitar o filho. Abraços seriam dados, sorrisos forjados, e antes que as conversas se estendessem o bolo seria trazido para a mesa principal, e após todos cantarem parabéns, Fox apagaria as velas e... Oh, é claro que eu esquecerá esta parte. E então, nós nos beijávamos.

Engoli em seco, me virando para ele, estrategicamente calçada por Tina, sem um centímetro sob meus pés, para que ele extraordinariamente tivesse de baixar o rosto para me beijar. Embora, não possa dizer que era a posição incomum que deixava aquele beijo tão desconfortável.

Alguém riu na multidão.

Tentei lembrar, quanto tempo era razoável para um casal se beijar, e me perguntei se o tempo já havia acabado, quando ele enfim se afastou de mim. Havia mais saliva do que qualquer beijo que eu já dera, e havia uma sensação incomoda de vergonha, não por estar sendo observada – nem mesmo pela mentira. Aquilo apenas parecia errado e de certa forma, sujo.

-Um brinde ao príncipe – Falou Tina, erguendo sua taça animadamente. Então, todos começaram a brindar a Fox, a mim, ao noivado, ao reino e a coroação, até não se saber ao certo por que estavam brindando, e todos estarem girando levemente bêbados pelo salão.

-Não parece feliz, futura princesa – Eliott Martins se moverá em sua cadeira de rodas até o local onde eu estava sentada, na mesa principal – Eu até a convidaria para dançar, porém...

-Ao menos assim não preciso recusar – dei um sorriso constrangido, olhando em volta – Veio com Veronicca?

Ele ficou um pouco corado, mas sorriu – Não, Ruby insistiu que eu viesse. Ela está feliz por não estar mais na torre.

-Eu sou que ela ficou no lugar da... – olhei pelo salão, até encontrar Annie. Ele assentiu quando voltei a olhar para ele – Por que ela?

-Ela tinha menos de dois anos, quando a mãe morreu. Com meu trabalho, seria difícil cuidar de uma criança pequena e eu não poderia larga-lo e condenar minha filha a viver uma vida miserável – ela deu os ombros, sorrindo para a menina que abanava na multidão – Quando a princesa fez a oferta, foi quase impossível de recusar.

-Você é um bom pai – falei pensativa – Não acho que muitos fariam isso. Ficar tão longe pra proteger sua filha.

Ele riu – O meu, com certeza, não o fez. – a expressão dele se tornou sombria – For expulso do exército, e se recusou a ficar longe de nós para procurar por outro trabalho. Com o tempo, as dividas e a miséria o tornou tão violento que quando minha mãe foi aceita pelo palácio, nos mudamos para cá e nunca olhamos para trás.

Franzi a testa – Nunca mais o viu?

-Não. Soube que ele morreu há alguns anos, mas tão pouco fui ao enterro – ele suspirou – Prefiro acreditar que meu pai morreu servindo ao rei, como o homem que eu me lembro de quando ainda era menino.

-Não sabia que sua mãe trabalhava aqui – comentei, tentando não parecer muito intrometida – Deve ser bom, ter alguém por perto.

-A maioria das vezes, quando ela não está insistindo que eu deveria casar outra vez – ele brincou, pegando um doce de cima da mesa – Não conte para Veronicca que estou comendo isto – ele cochichou, enfiando o doce inteiro na boca e continuou – Trouxe a mãe de Ruby para dentro dessa vida, e ela morreu por isto. Não seria capaz de fazer o mesmo com outra mulher, ama-la e força-la a arriscar sua vida casando com um homem com meu trabalho. – ele pegou outro doce – E sou incapaz de largar este trabalho, sem antes garantir que nunca falte nada para minha Ruby.

Olhei para o chão, piscando, tentando não sorrir enquanto Veronicca se aproximava. Perguntei-me se ele era incapaz de perceber, que não colocaria em risco alguém, se esse alguém já estava sob o risco mesmo sem ele. Mas não era da minha conta, me colocar na historia deles.

-Você realmente acredita que eu não estou vendo que está comendo doces, soldado Martins? – Ela perguntou, parando do outro lado da mesa e puxando a bandeja para longe dele.

-Você, tem seus deveres Veronicca, e eu tenho os meus – ele sorriu divertidamente – Como garantir que tudo que a futura rainha consuma esteja completamente seguro.

-É claro – ela revirou os olhos, e olhou para mim – Não ouse conspirar contra ordens medicas Bethany.

-Longe de mim fazer tal coisa – ergui as mãos, em sinal de inocência. Ela estreitou os olhos, e então se afastou, deixando que eu e Martins ríssemos.

-Esta mulher é tão... Mandona – ele resmungou, olhando para a bandeja de doce – Bethany?

-Mil perdões, mas eu não vou me arriscar à fúria dela – falei, afastando mais ainda a bandeja.

-O príncipe está vindo – ele falou, e de relance vi Fox realmente se aproximando. Minha expressão, não deve ter sido das mais felizes, por ele comentou – Por algum tempo, realmente acreditei que vocês estivessem se apaixonando...

-Nunca foi sobre paixão, foi? – era uma pergunta retórica – Sempre foi sobre as aparências.

-Ou sobe o dever – ele complementou, de repente um pouco distante também – Tudo neste palácio é.

E enquanto Fox desviava, e meu coração sentia-se aliviado por mais cinco minutos sem fingir, deixe que Eliott Martins observasse Veronicca sem me intrometer. O dever, pensei – o dele e o dela. O soldado do rei, a assistente da rainha.

O dever – o dele e o meu. O futuro rei. A futura rainha.

O dever – A América e a Eurásia. Qual era o meu?

Inicio de Março

Louise Venezza não era alta como seus filhos. Era uma mulher pequena, mas imponente como se acreditasse ser a própria rainha. Não, não uma rainha – Uma Imperatriz. Uma pequena mulher, capaz de fazer todos em sua volta se sentirem minúsculos diante a seus olhos furiosos e ao poder que possuía.

A família estava calculadamente posicionada, em uma formação quase militar de tão simétrica. A sua esquerda, estava Teodore Venezza. Não em seu papel de irmão mais velho, mas sim de primogênito. De comandante de todos os exércitos em terra. Havia bolsas sob seus olhos cansados, e uma escuridão na Iris castanho esverdeada deles.

O único homem da família. O único com aquele reflexo verde nos olhos.

A direita de Louise, duas das irmãs de Isabel, altas e angulosas, com rostos e cinturas finas. A direita de Teodore, a que mais parecia com Isabel tinha a mesma postura rígida do irmão – Era mais nova que o resto deles, sem dúvidas. Aquela, pensei, era a garota a qual se referiam como a herdeira das frotas de navios. A futura capitã da marinha italiana.

E então, por fim, a mais nova das crianças de Louise Venezza, parada em frente à mãe. Longos cabelos com ondas castanhas escorrendo até a cintura, alta demais para sua idade – eu sabia que ela sequer chegava aos dez anos. Mesmo a expressão sonolenta não escondia que ela também possuía aquele ar nobre que todos carregavam.

-É uma imensa honra, receber a senhora e sua família em Versalhes, Lady Venezza – Fox beijou a mão dela, com seu mais encantador sorriso principesco e em seguida, passou para as mãos das duas filhas mais velhas – Dakota, Juliet. Encantadoras como sempre.

-A honra é inteira nossa, meu príncipe – ela maneou a cabeça com leveza, imperceptível a uma grande distância. Perguntei-me se aquela pequena mulher, alguma vez, já teria se curvado a alguém, mas duvidei disto no mesmo segundo da minha dúvida.

Segui atrás de Fox, cumprimentando a mãe de Isabel enquanto ele passava a Teodore.

-É um grande prazer em conhecê-la – sorri um pouco desconfortável. Eu sabia que não deveria apertar mãos com ela, mas era aterrorizante estar ali, parada sem nada o que fazer enquanto ela me analisava silenciosamente.

-Minha futura rainha – ela colocou a mão no ombro da filha mais nova, parada entre nós – Será uma honra servi-la, senhorita...

-Bethany – Isabel havia se desvinculado de Dylan, parando ao meu lado – Mas tenho certeza que já sabia disto, mamãe.

Com um suspiro pesaroso, a mulher olhou para a filha, da mesma forma que Isabel fizera comigo tantas vezes. Como se fosse um grande esforço, e eu devesse me sentir grata pelo seu desprezo – Sempre inconveniente Isabel.

-Como está sua saúde? – Isabel apenas sorriu, olhando para Dylan que se aproximava despreocupadamente – Creio que já conheça meu marido, Dylan Bordeaux?

-Sentimos muito, por não ter enviado um convite para o casamento senhora – Dylan sorriu, beijando a mão dela – Espero que não se ofenda.

-E eu, meu jovem, espero que seu pai não mantenha esperanças de qualquer ganho sobre este casamento – Ela torceu a boca, olhando para as mãos entrelaçadas dos dois – Pois se for assim, creio que ele acabará muito desapontado.

-Tenho certeza que mesmo na Itália deve ser conhecido, como eu considero adorável cada oportunidade de desapontar meu querido pai – Dylan conta atacou de forma relaxada, enquanto a mulher se voltava novamente para mim e Isabel.

-Ao menos ela é mais bonita do que você – foi tudo que eu ouvi, antes de Louise Venezza parar em minha frente e segurar minhas mãos – Meu querido Teodore me contou sua história. É triste, uma garota não ter uma mãe para guia-la e protegê-la do mundo.

-Tive o melhor que pude esperar da vida – garanti, sorrindo para ela da forma mais desconfortável possível – E se não fosse assim, a rainha Lenna foi uma mãe para mim. Para todas nós.

Ela fez uma cara amarga, quando sorri para Isabel.

-Deixe-me apresenta-la as minhas irmãs Bethany – Isabel falou, me puxando para o lado e deixando a mãe com Dylan, que tão pouco pareceu preocupado com a companhia. Isabel se aproximou do meu ouvido – O exercito sem duvidas o preparou para ela.

Ri, enquanto parava em frente às duas garotas mais velhas.

-Bethany, está são minhas irmãs mais velhas, Dakota e Juliet – Isabel falou muito formalmente – Dakota é a filha mais velha. Ela cuidará da fortuna da família e da economia de toda há Itália um dia. Quando éramos pequenas, Dakota era capaz de fazer qualquer calculo de cabeça.

-Você, era pequena Isabel – a mulher falou, com um sorrisinho maldoso – E pouco mudou, desde então.

-Ela também gosta de colar goma de mascar no cabelo dos outros – Isabel comentou levianamente, apontando para a outra irmã – E está é Juliet. Ela será responsável, um dia, por administrar a casa e a família, como nossa mãe faz hoje. Belos sapatos, irmã.

Julie sorriu, olhando rapidamente sobre o ombro de Isabel. Para Dylan – Pelo marido, irmã.

– E ele fica ainda melhor quando não está usando todas aquelas roupas. - Isabel sorriu, olhando sobre o ombro – Irmãs, esta é Bethany. Sua futura rainha.

-A garota que roubou o príncipe das mãos de nossa irmã – Falou Dakota, divertida – É um imenso prazer conhecê-la.

-O prazer é meu – sorri, me sentindo um pouco obrigada a defender Isabel naquele momento – Mas eu não seria a futura rainha, se Isabel e Dylan não tivessem se apaixonado. Não tenho crédito sobre isso.

-Qual o maior crédito, além de nascer linda? – perguntou Juliet, com um sorriso ensaiado, porém deslumbrante.

-Você é adorável – Dakota deu uma piscadela para mim – Tenho certeza que vamos nos divertir muito juntas.

-Tenho certeza que sim – sorri, seguindo Isabel até Teodore – Olá Teodore.

-Minha futura rainha – ele curvou a cabeça, e sorriu para Isabel – Irmã.

-Boa noite, irmão – ela sorriu, parecendo segurar um sorriso ao olhar para o lado de Teodore – Sabrine.

-Isabel – a outra curvou a cabeça e se virou para mim – Senhorita Bethany. Sabrine Venezza, prazer em conhecê-la.

-É um prazer conhecer você, Sabrine – respondi surpresa ao ver que ela estendia a mão para mim – O que está achando de Versalhes?

-É muito diferente do que estou acostumada, Venezza é muito mais quente e rígida – ela falou, olhando em volta – Aqui é tudo tão brilhante. Transparente. Imagino que Paris deva ser ainda mais deslumbrante.

Sorri – Paris dificilmente se equipara a Versalhes, mas ficaremos felizes em recebê-la um dia.

-Me diga, per favore, que trouxeram seus cavalos – Isabel olhou para Teodore, que simplesmente deu os ombros.

-Isso você terá que descobrir amanhã quando... – Teodore foi cortado, quando a irmã mais nova apareceu entre nós. Ele sorriu – O que foi Marie?

-Você é minha irmã? – perguntou a menina, olhando para Isabel com uma expressão confusa – Minha irmã Isabella?

Isabel riu de um jeito que até então eu só a vira sorrir para Dylan, com os olhos brilhando como estrelas – Meu nome é Isabel – ela corrigiu, torcendo quase imperceptivelmente o lábio inferior – E sim, eu sou sua irmã.

E, inesperadamente, a menina envolveu a cintura de Isabel com os braços, a abraçando sem se importar com a oposição da imensa saia rodada.

Do outro lado do salão, o resto do grupo já havia se reunido, e deste grupo Louise Venezza virou-se para se deparar com aquela cena. –Marie, venha para cá. Eu já disse para não ficar andando por ai.

-Tenho certeza que devem ter tido uma viagem cansativa, posso pedir que levem o jantar em seus quartos se quiserem – falou Fox para Lady Venezza, enquanto o resto de nós se aproximava – Ou podem se juntar a nós na sala de música, se preferirem.

-Outra noite, talvez, vossa alteza – Louise sorriu cansadamente, apertando os ombros da caçula – Preciso colocar Marie para dormir e, sinto dizer, estou cansada o bastante para dispensar o jantar.

-Um pouco de vinho e música seria ótimo – Teodore sorriu, olhando para as irmãs. – O que irão fazer?

-Dormir – Dakota falou, como se qualquer outra coisa fosse inconcebível.

-Alguma comida seria bom, estou faminta – Juliet deu os ombros.

-Iremos providenciar isso. Dylan, pode acompanhar nossas convidadas até seus quartos?- pediu Fox, recebendo um olhar feio de Isabel que passou o braço pelo cotovelo de Dylan – Algum criado pode fazer isto, Fox. Eu quero dançar com meu marido.

-Se juntará a nós, Sabrine? – perguntei, ignorando a discussão deles.

A garota olhou para a mãe – Posso?

-Já é tarde, Sabrine – Louise Venezza falou, duramente.

-Eu insisto – sorri para a mulher – Nunca é tarde em Versalhes.

-Como eu posso negar, um pedido da minha futura rainha – Louise deu um sorriso controverso – Vamos meninas. Vamos encontrar nossos quartos.

Um criado assustado subiu correndo as escadas em frente a elas, gaguejando instruções enquanto o resto de nós evitava ir, ao seguir para o salão.

-Você sabe que não posso fazer isto! – a voz de Fox parecia friamente calma do outro lado da porta enquanto eu batia – Entre, por favor. Se pudesse, você acha que eu realmente já não teria impedido esta insanidade?

-Pediu para me chamar? – Abri a porta apenas o bastante para passar por ela, encontrando Fox, sentado atrás de uma escrivaninha, e Isabel, parada no meio da sala com os braços cruzados.

-Não me venha com suas malditas desculpas Fox, você sabe que elas nunca funcionaram comigo e não é agora que isto vai mudar - ela finalmente olhou para mim – Fui eu quem mandou chama-la, Bethany. Talvez você possa colocar razão neste inútil presunçoso incapaz de honrar a coroa que está prestes a receber.

-Isabel... – A voz dele ganhou um tom de alerta, mais fria, sem tirar os olhos dela - Não se esqueça de que está falando com seu futuro rei.

-Não sou eu quem parece estar esquecendo-se disso - ela marchou em direção à mesa, colocando as duas mãos no encosto de uma das duas cadeiras perfeitamente posicionadas no lado oposto de Fox - Mas afinal, você tem uma rainha para validar seu valor, não é mesmo?

-Futura rainha - Fox a corrigiu, olhando de relance para mim, engolindo em seco - Não coloque Bethany nisto. Você sequer deveria tê-la chamado aqui. Muito menos feito isto em meu nome.

-Ela merece saber quem é o homem com quem está prestes a se casar! - Isabel exclamou, batendo na mesa ao se inclinar para frente - E eu não falava de Bethany. Estou falando da sua mãe, aquela que sempre escondeu você atrás da própria saia, vostra altezza.

-Se sua mãe não lhe ama, Isabel, isto não lhe dá o direito de atacar a minha! - ele gritou, batendo na mesa ao se levantar. Mesmo Isabel parecia tão chocada quanto eu, antes dele continuar – Dylan é um homem adulto, capaz de fazer as próprias escolhas. Você sabia delas antes de casar com ele.

-É uma pena que você não tenha as mesmas qualidades - ela engoliu em seco – Não tem um dia que eu não vou agradecer por não ser eu a casar com você – ela deu as costas, batendo a porta ao sair antes que ele sequer conseguisse responde-la.

Parada, no meio do escritório, fiquei olhando dele para a porta por algum tempo até que ele respirasse fundo e amassasse uma folha de papel.

-Arruinado - ele murmurou para si mesmo, pegando uma nova folha. Sentei-me em frente a ele, recebendo um ar surpreso ao levantar a cabeça para olhar para mim. Ele estava tão dentro dos próprios pensamentos que me perguntei se lembrava de que eu estava ali.

-Precisava dizer aquilo? – tentei ser gentil ao perguntar. Não obtive sucesso, mas não consegui me sentir mal a respeito daquilo. Ele tão pouco havia sido gentil com Isabel.

-Ela precisava dizer tudo que disse? - ele contra atacou, encarando a folha em branco e passando as duas mãos pelo cabelo, se levantando - Eu deveria me desculpar com ela.

-Deveria - concordei, me recostando na cadeira - E deveria falar com Dylan.

-Bethany... - era quase uma suplica. Ele estava cansado daquele assunto, sem dúvidas. Ele sentou-se novamente.

-Deve haver uma forma de deixar ambos felizes - falei, sinalizando a porta onde Isabel saíra - Por que Berlim?

-Em alguns momentos, sinto que passei a vida inteira forçando Dylan a ter o que queria tomado dele simplesmente por sermos filhos de quem somos – ele balançou a cabeça, com um sorriso triste – Tirei dele a atenção do pai. James queria uma filha, para que pudesse casar-nos. Neguei a ele por anos, a esperança ao coração desta italiana maldita. Tudo por um título – ele endireitou os ombros – Um título que eu sequer possuía. E a primeira coisa que Isabel espera que eu faça, assim que tiver o poder, é tirar dele a única coisa que ele realmente escolheu. A chance de lutar e ganhar seu próprio reconhecimento no campo de batalha. Não posso fazer isto com ele.

-Ele a escolheu – foi tudo que consegui falar, mas ele não parecia estar prestando atenção, perdido em pensamentos – Deixe-me falar com ele. Não posso receber algo pior do que um não, e tanto você quando Isabel sobreviveram a isto.

-Odeio Isabel Venezza - ele falou, pegando minha mão sobre a mesa - Odeio vocês duas por terem razão. Eu preciso de uma rainha para me validar.

-Futura Rainha - o corrigi, sentindo as borboletas queimando em meu estomago.

-Por pouco tempo - ele sorriu, olhando para todos os papeis em volta - E então, metade disto será trabalho seu.

-Fox, você não precisa de ninguém para validar sua existência. Mas precisa descobrir quem você é e como fará parte desta história - afastei a mão da dele, com o peito pesado de repente - E quando decidir isto, é que se tornará um rei. Não por uma nomeação, ou por termos anéis em nossos dedos ou quando coroas forem colocadas em nossas cabeças.

-Então, você deve ter descoberto isto há muito tempo – ele sorriu – É mais uma rainha do que eu, um dia, serei um rei.

-Ainda estou tentando descobrir – dei os ombros – Não saber as regras ajuda, eu imagino.

-Nem sei como minha mãe consegue lidar com tudo isto sozinha. – ele suspirou, e então sorriu para mim – Bethany.

-Fox, eu não consigo... Ah, Bethany. Você estava aqui o tempo inteiro? - Tina abriu a porta bruscamente, e então levou a mão ao peito, arfando - Eu procurei você por todo lugar!

-Fox mandou... Quero dizer, na verdade Isabel mandou me chamar aqui - falei, e ela se virou para Fox.

-Estavam falando sobre Dylan outra vez? - ela ergueu uma sobrancelha - Ela é incapaz de entender que não há nada que possamos fazer?

-Bethany se ofereceu para falar com Dylan, talvez... - Fox começou a explicar, mas Tina o cortou arregalando os olhos em minha direção.

-Você não irá se meter entre estes dois - ela apertou minhas mãos - Não é problema seu Bethany. Não é problema nosso! Isabel está apenas fazendo birra.

Dei um passo para trás - Ela está assustada, você também não estaria?

-Estou assustada todos os dias da minha vida, e nem por isso fico amarrando as pessoas para que não vivam as suas - ela bufou, se virando para Fox - Preciso das autorizações amanhã de manhã. E você - ela apontou para mim - Temos coisas para decidir.

-Coisas para decidir... - pensei por um minuto, pegando a prancheta que ela me estendia e folheando as incontáveis páginas de cores, flores e desenhos. Suspirei - O que você decidir, está bom para mim Tina. - me afastei, deixando ela e Fox dentro da sala, respirando fundo e me afastando, distraída demais para notar até esbarrar em alguém.

Ambas caímos no chão.

Ela começou a rir, mas a luz do sol refletiu no mesmo momento em uma armadura e me cegou até que uma mão em minha frente me ajudasse a levantar. Era como olhar para um espelho - como olhar para um fantasma.

Ela tinha o mesmo tom de pele que o meu. Os mesmos cabelos loiros e ondulados. Enquanto meus olhos se readaptavam a luz, o nariz dela ganhava um contorno mais definido e o azul pálido de seus olhos apareciam. Não, não tão parecidas, pensei. Os lábios dela eram mais finos, e ela precisava de saltos muito altos para alcançar minha altura.

-Mil desculpas - ela pediu, sorrindo constrangida - É minha culpa.

-Quem é você? - perguntei, desconfiada, dando um passo para trás. Aquilo seria outro dos esquemas de Napho? Um jogo de quem fosse que ele dizia saber a verdade?

-Mil perdões. Acho que ainda não fomos apresentadas - ela falou sorridente - Meu nome é Joelle, senhorita. Eu vim com a senhorita Camille.

Pisquei. Certo, sim, Camille havia falado algo sobre ter trazido alguém com ela. - Prazer em conhecê-la Joelle. Eu sou...

-Bethany - ela se apressou, e depois riu nervosa - Desculpe. Todos sabem quem você é. Você ainda é mais bonita pessoalmente.

-Obrigada - respondi, sem realmente pensar a respeito daquilo.

-Você está bem senhorita? - perguntou ela - Parece um pouco pálida...

Balancei a cabeça - Estou bem - garanti - É só que... Você se parece tanto comigo...

O sorriso dela, logo em seguida, era grande demais para suas bochechas suportarem. - Acha mesmo? - ela puxou uma mecha do cabelo - Todos diziam que eu ficaria parecendo à futura rainha se pintasse o cabelo, mas eu estava com medo de ter ficado apenas ridícula. Espero que não se incomode...

-Você fez isso... Para parecer comigo? - aquilo era ainda mais assustador do que todas as outras possibilidades - Por quê?

-Você será a rainha - ela falou, maravilhada - Todas as garotas da Eurásia querem ser como você!

Engasguei. - Tenho certeza que está exagerando!

-Cada uma delas - ela garantiu, olhando para fora - Algo está acontecendo!

Aproximei-me da janela, olhando para a entrada. Sim, algo estava acontecendo. Respirei fundo - Foi um prazer conhecê-la Joelle, mas eu preciso me apressar.

-Aquela é... - ela começou, maravilhada, e me satisfiz em apenas confirmar, antes de correr escada abaixo.

-Sim - foi quase um grito, enquanto eu descia os primeiros degraus.

A Rainha havia chegado.

E ela estava sozinha.

Eu estava na primeira fileira. O vestido que Tina fizera era de um salmão suave, com fitas enroladas de tal forma que, cada vez que eu me movia, pareciam flutuar em volta de mim.

Eu era uma versão mais fraca, suave, de Fox. Sua roupa de coroação, vermelha com a faixa da França cruzando seu peito, cruzaram o salão em direção a Rainha Lenna. A imprensa tinha um lugar nas laterais, mas o salão ainda sim estava lotado de todos os convidados que enchiam o palácio de Versalhes.

E mais chegariam, nas duas semanas que ainda antecipariam o casamento.

Com o cetro em uma mãe e a espada na outra, Fox jurou reger e defender todos os dez países da Eurásia, e pediu auxilio para ser um rei bom e sábio. A Rainha Lenna abriu mão de sua coroa, entregando a ele que por sua vez, colocou em uma almofada de veludo vermelho que foi coberta por uma redoma de vidro.

Com um beijo na testa, ele a dispensou de seu cargo e agradeceu por seus anos de sacrifício.

E então, estava feito. E em um segundo, a Rainha Lenna era apenas Lenna Parish, a mãe do rei. E eu, era Bethany de Paris, a noiva do rei. E Fox, não era mais o príncipe Fox Louis Parish.

E diante nós, estava Fox Louis I, Rei da Grande Paris e Soberano de toda Eurásia.

Um rei não coroado.

Continue Reading

You'll Also Like

Wicked ✓ By Mari

Historical Fiction

67.8K 4.9K 7
Mutilada, abandonada e com sua reputação destruída. Victória Blackwood perdeu tudo. Agora é conhecida apenas como a perversa irmã mais velha da gene...
25.2M 2.4M 126
"Era incrível como ela cabia perfeitamente nos meus braços" Livro 4 // Da Série: Babacas de Terno. Susie Jones é uma mulher encantadora e um pouco t...
Esquecidos By tinna938

Science Fiction

424K 7.8K 4
Depois de alguns anos de uma jornada solitária pela sobrevivência em um apocalipse zumbi, Leslie entra em uma casa repleta de mistério e conhece Scot...
18.5M 1.2M 91
Jess sempre teve tudo o que quis, mas quando Aaron, o sexy badboy chega a escola, ela percebe que, no final das contas não pode ter tudo o que quer...