O Que o Espelho Diz - A Rainh...

By MeewyWu

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Capa Atual: Foto de Alice Alinari, instagram: alice_alinari A Rainha da Beleza: O que o Espelho Diz. Bethany... More

Epígrafe
Prólogo
II - Um fantasma no Palácio
III - O Conselho Real
IV - Informação Vazada
V - Palácio de Verão e Vidro
VI - Chuva de Cristais
VII - Vidro Embaçado
VIII - Protetora de Paris
IX - Cavaleiro de Prata
X - Teia de Veludo Vermelho
XI - Carvão e Metal
XII - Ilusões Refletidas
XIII - Prismas
XIV - Retinta
XV - Sonhos de Marfim
XVI - Espadas de Madeira
XVII - Floresta de Esmeraldas
XVIII - Penas Prateadas
XIX - Corpos e Fantasmas
XX - Rios de Sangue
XXI - Palácio de Ferro
XXII - Cartas à Morte
XXIII - A espada vermelha
XXIV - Claro como Cristal
XXV - Coroa de Ossos
XXVI - Sapatos Brilhantes
XXVII - Segredo Americano
XXVIII - Posição Política
XXIX - Arte da Guerra
XXX - O Que o Espelho Diz
Epílogo
O Que o Espelho Diz - Por Meewy Wu
AESTHETICS

I - Alianças Diferentes

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By MeewyWu

Manhã após o aniversário de Isabel Venezza.

A noite passou como um flash confuso e escuro. Não havia muitas lâmpadas que funcionassem no hospital, e mesmo as que haviam eram usadas o mínimo possível para poupar despesas.

Cameron me explicou como na teoria, aquilo fazia sentido – todos deveriam dormir aquele horário. Mas a noite era fria, então todos acabavam dormindo durante o dia – à noite, as pessoas gritavam de dor, acordando umas as outras. Tremiam de frio, sem conseguir perder a consciência do ar gelado entrando pelas janelas quebradas e percorrendo os corredores.

Durante a noite, Elizabeth me falará longe do noivo, as pessoas também morriam.

Mas depois de toda a noite, havia um novo dia, e quando o sol nasceu brilhante no horizonte, pratos de comida quente foram servidos para os pacientes, que alimentados e aquecidos dormiam iluminados pela luz do sol.

O céu sequer havia perdido os tons de laranja e lilás, quando um grupo de jovens entrou. Os estudantes de medicina, amigos de Cameron, voluntários ali por nada além da vontade de salvar vidas. Observei eles se dispersarem entre os quartos, correndo de um lado para o outro tentando atender o máximo de pessoas possíveis – estavam fazendo algo real. Algo muito mais palpável do que qualquer um no palácio fazia por aquelas pessoas.

-Senhorita – uma menina com um tapa olho puxou da saia do meu vestido, manchando de sangue a saia perfeita feita por Tina – Estão esperando você.

-Quem está me esperando? – me sentei nas minhas pernas para observa-la. Ela estava tremendo, mas pegou minha mão e seguiu me puxando. – Está com frio?

Ela negou, corajosa como toda a criança que havia sofrido o bastante para não esperar nada mais do que um prato de comida como demonstração de generosidade. – Um homem grande. Muitos homens grandes. E carros grandes também.

Eu sabia que eles viriam por mim. Surpreendia-me que Fox não os tivesse mandado antes. Talvez nem sequer tivesse adivinhado onde eu estava antes para manda-los.

A menina me puxou até a entrada, onde junto com os casacos dos estudantes o meu casaco da noite anterior repousava. Não era o mais quente, mas mesmo assim o enrolei em volta da garotinha antes de sair – Fique longe das janelas.

Ela assentiu, sorrindo como quem havia ganhado o mundo, e correu para longe enquanto eu começava a tremer abrindo a porta o mais devagar possível. Nem todo o tempo do mundo me prepararia para o outro lado daquela porta.

Havia uma carruagem esperando na porta do hospital quando saí.

Não uma carruagem discreta como aquele que me trouxe de Corripo para Paris – uma carruagem do palácio, branco com bandeiras e um brasão dourado, com seis guardas parados em volta do prédio. A janela do banco de trás se abaixou, e Veronicca nem se deu ao trabalho de olhar para mim ao falar - Se entrar no carro agora, eu não direi nada sobre seu comportamento Bethany. Eu não acreditei nela, mas contrariada entrei no carro sem sequer me despedir de Elizabeth e Cameron.

O ar frio do início da manhã bateu contra meus ombros, aquele vestido não era feito para ser usado ao ar livre. Assim que a porta se fechou atrás de mim, eu quis sair dali - Não estava pronta ainda. Não queria encarar Fox, a Rainha e ainda menos toda a Eurásia. Mas Veronicca cumpriu sua palavra e ficou em silêncio até o carro parar em frente ao palácio onde, as duas pessoas mais inesperadas esperavam por mim.

-Finalmente - Isabel, enrolada em um casaco grosso grunhiu. Ela estava agarrada a Dylan, tremendo sob os saltos finos em seus pés descobertos.

-Você deveria estar a caminho de Berlim há esta hora - Apontei para Dylan, que deu os ombros e me virei para Isabel - E você... Como é possível que esteja acordada?

-Eu precisava garantir que estava em segurança antes de partir - ele deu os ombros, se afastando dela e segurando minhas mãos - Você será uma boa rainha, Bethany.

-Não tente ser um herói, Dylan - falei, recebendo um olhar discordante dele.

-Não adianta falar Bethany, meu estúpido marido já colocou na cabeça todas as burrices heroicas que pretende realizar - Isabel grunhiu, me puxando dele - Agora, podemos entrar? Estou com sono...

-Espere, eu preciso – Dylan deu um passo na nossa direção, mas Isabel se colocou entre nós e o beijou.

-Você precisa pegar um maldito trem, Bordeaux – ela falou enquanto os dois se encaravam – Foi uma decisão sua, lembra-se?

-Mas... – ele começou. Isabel se curvou, sussurrando para Dylan algo que não consegui ouvir, e mesmo claramente contrariado ele a beijou de novo e partiu.

Isabel voltou-se para mim – Passei a noite inteira em claro, Bethany. Então seja gentil e suba comigo em silêncio, antes que alguém apareça para checar sua aparência.

-Aquelas pessoas... – comecei a falei, enquanto ela me puxava com o braço em torno dos meus ombros – Eu tenho que voltar lá. Todas nós. Eles precisam de ajuda.

-Si, si, precisam de ajuda – ela repetiu, subindo as escadas – Não vou ajudar ninguém se estiver dormindo pelos cantos, Bethany. Ninguém. Agora...

Ela parou no topo da escada, olhando para mim – Arrumamos o seu quarto. Bem, Alicia e Valenttina arrumaram o seu quarto. Annie estava ocupada discutindo com Nisha. E Nisha estava ocupada entendendo que estava namorando a princesa. E Livie estava ocupada sentindo dor. E eu estava ocupada bisbilhotando nas suas gavetas. Mas seu quarto está arrumado e seu gato está esperando você. O caminho você conhece.

-Para onde você vai? – perguntei, enquanto ela fazia menção de se virar.

-Vou me mudar para o quarto de Dylan – ela falou, olhando sobre o ombro distraída – Vão levar semanas de reforma e mudanças até lá, mas a  lareira está ligada, o que o torna uma opção melhor do que meu quarto na casa das musas no momento.

-Certo – assenti, enquanto ela se afastava sonolenta.

Ali, do topo da escada, observei o salão, tentando ignorar as duas vozes na minha cabeça.

"Rainha Bethany Parish, Rainha da Grande Paris. Soberana de Toda Eurásia" uma sussurrava, enquanto a outra, no mesmo tom contradizia "Gwendoline Arabella Margareth Johnson, princesa herdeira do império das três Américas.".

Nenhuma das duas parecia real.

Nenhuma das duas parecia uma pessoa que eu gostaria de ser.

Nós quase parecíamos nós de novo.

O cabelo de Apolo tinha crescido no último mês. Quase chegava a linha do queixo. Seu braço estava quase bom, e em breve ele teria de cortar e voltar a seus velhos afazeres de guarda. Mas por enquanto, nós éramos nós de novo. Ele estava com aqueles óculos ridicularmente pequenos, e seu suéter azul sobre uma camisa azul, e seus sapatos bem engraxados, sentado no chão do terceiro andar ao meu lado.

Parecia mais uma vez jovem, sonhador e despreocupado, como um dia fora. Um garoto sonhando com aventuras de livros, não o homem que tinha aprendido a suportar todas as formas de dor.

Eu, não tinha uma aparência tão boa. A saia batia acima dos meus joelhos, deixando minhas meias compridas completamente diferentes a mostra acima das pantufas cor de rosa, combinando com meu suéter. Eu havia até mesmo voltado ao velho par de trancinhas que costumava usar antigamente.

Era difícil como ambos havíamos nos reencontrado nas últimas semanas naquela cena tão antiga para nós – Sentados no chão da biblioteca, em um silêncio confortável na companhia de nossos próprios livros. Os dele, agora de estratégia militar. Os meus, de história de diplomacia.

Não havia conversa para preencher o espaço, mas nós éramos pessoas diferentes agora. Havia coisas que simplesmente precisavam ser conversadas.

Soltei o diário, estendendo as pernas e olhando para ele com curiosidade – Realmente gosta dela?

-Está mesmo me perguntando isso? – ele riu – Você me conhece Bethany, eu não sou o tipo de homem que brinca com o coração de uma garota. Ainda mais uma garota como Alicia.

-Eu sei, é só que esse lugar... O palácio – ergui as mãos, mostrando tudo em volta – Ele muda as pessoas.

-Ele não te mudou – ele argumentou.

-Você sabe que é mentira – suspirei, abraçando minhas pernas – Eu nem sei mais quem eu sou.

-Você é a mesma Bethany que eu conheci em Corippo. Esconde-se por trás de livros, sombras e roupas estranhas por que não se acha bonita o suficiente para brilhar. Tem medo de ser repreendida por não prestar atenção em nada, quando na verdade só está prestando atenção nas coisas que não devia, e por isso sempre sabe o que os outros querem esconder.

-Você beijou um garoto – falei, rindo, com a lembrança na minha mente de repente.

-Era um maldito desafio – ele se defendeu.

-Isso não muda o fato de que você beijou um garoto – dei os ombros, me jogando para trás nas almofadas.

-Eu fiquei com tanta raiva de você naquele dia – falou ele, me olhando de cima – Por estar ali, por ter visto aquilo. Achei que ia entender tudo errado e contar para minha mãe, e ela nem daria tempo de eu me explicar. Mas quando eu cheguei em casa você estava fazendo bolinhos.

-Foi bom? – perguntei, me virando para ele, que fez uma careta – O que?

-Foi – ele falou, por fim – Eu não sei se o beijo foi bom, mas a sensação que veio depois. De ser aceito pelo grupo, de ser corajoso o suficiente, homem o suficiente para não hesitar, não duvidar de mim. Parecia tão importante, fazer parte daquele grupinho, e deixar eles orgulhosos.

-Muitas coisas pareciam importantes... – falei, puxando as pernas de novo e abraçando elas – Coisas que são tão comuns aqui. Quase cotidianas.

-Já beijou uma garota Bethany? – perguntou ele, puxando uma mecha do meu cabelo. Sem conseguir falar, eu concordei – E foi bom?

Fiz uma careta, virando de barriga para baixo e pensando por um minuto – Melhor do que da última vez que tive que beijar Fox!

-Não fale isso – Apolo riu – Ele é seu noivo... E o rei.

Desfiz com a mão – Eu sou meu próprio rei!

-E em dois meses será a rainha – e ali estava. Foi ali que aquela tarde maravilhosa de paz e chuva e memórias acabou. Por que em seis semanas, eu seria a rainha. E por mais que eu tentasse, eu não conseguia fugir disso.

O silencio se tornou imprevisivelmente desconfortável por algum tempo. Observamos algumas crianças derrubarem uma pilha de livros, e a biblioteca se tornou triste – Não havia mais Francesca para prezar pelos seus preciosos livros agora, e ninguém parecia muito à vontade em tomar seu lugar.

-Até quando vamos ignorar o quão infeliz você está Bethany? – ele perguntou sem ergue a cabeça do livro em seu colo.

-Você está imaginando coisas – falei, engolindo em seco e me levantando para organizar alguns exemplares desalinhados em uma prateleira – Eu não estou infeliz. Eu não poderia estar mais feliz, Apolo. Na verdade... – joguei a cabeça para trás, olhando para ele – Sim, poderia. Se estivesse ajudando Alicia nos preparativos do casamento.

-Você poderia se preocupar com o seu próprio casamento – ele murmurou, se levantando também e soltando o livro no lugar onde estava. – Precisa de ajuda?

-Não quero que faça esforço à toa – falei, tirando alguns livros da prateleira abaixo e começando a organiza-los por autor, e então por título como Francesca fazia.

-Não posso pedi-la em casamento, Bethany – falou ele, sentando-se em uma cadeira e observando meu trabalho – Não ainda. Não enquanto eu não sou liberado para voltar ao meu posto. Alicia merece se casar com um homem honroso. Não com um que sequer sabe se amanhã voltará a servir o rei ou terá de vender o almoço para pagar pelo jantar.

-Sabe que isso não irá acontecer – grunhi, terminando com os livros e sentando em frente a ela – Você é um dos melhores que eles possuem Apolo. O Capitão Martins mesmo disse isso. E mesmo que não volte para seu cargo, eu...

-Você? – ele ergueu uma sobrancelha, cético – Seria burrice, como rainha, se pedisse nos seus exércitos um homem que não está apto para lutar.

-Seria – concordei. Maldição, ele estava certo – Mas... Não seria burrice, ter um homem que entende do campo de batalha me servindo como consultor de assuntos de guerra.

-Este cargo sequer existe, Bethany – ele chacoteou.

Curvei-me sobre a mesa – Se existisse, seria o bastante para que você fizesse o pedido? – Ele assentiu, e precisei me contar para não gritar de alegria – Então me deixe ver aquele anel outra vez!

Apolo olhou em volta, tirando a pequena caixa que ele carregava para todos os lados do bolso do casaco. Era a cópia perfeita do anel de noivado de sua mãe, Marian. O anel que ele pediria para ela quando ela e Isis o visitassem no ano anterior.

Mas a visita nunca acontecerá. E o luto fez com que Apolo terminasse com Alicia, na dor de acreditar que todos que ele amava seriam tirados dele. Se não fosse o otimismo e a persistência de Alicia, mesmo enquanto enfrentava os próprios demônios forçada a servir na cama do duque James, talvez eles sequer estivessem juntos.

Mas eles haviam passado pela distância quando Apolo partirá para Berlim. Haviam superado o luto e a tortura. Havia quase perdido um ao outro no ataque ao palácio. Eles mereciam, mas do que qualquer um, a felicidade de começar um novo ciclo em suas histórias. Um ciclo de amor e segurança.

-É perfeito – falei, passando os dedos pelos entalhes do anel – Parece realmente antigo...

-O joalheiro deveria querer minha cabeça, de tantas vezes que reclamei que precisava parecer ainda mais antigo – ele bufou – Precisava ficar perfeito. Exatamente como ela é perfeita.

Meus olhos encheram de lágrimas. No dia que conheci Alicia, ela me dissera que queria alguém cujos olhos brilhassem cada vez que a vissem. Queria alcançar o máximo de sua beleza para ser a mais linda apenas para aquela pessoa.

Ela conseguirá muito mais do que isso. Apolo a amaria mesmo que perdesse toda sua beleza, e eu sabia que os olhos dele ainda brilhariam pela simples ideia dela em sua mente. Era o tipo de amor que as pessoas deveriam procurar para si.

-Bom dia – fechei a caixa rapidamente, escondendo entre a mesa e meu corpo em um instinto que não fazia sentido. Mas muitas coisas não faziam sentido entre mim e Fox.

-Bom dia vossa Alteza – Apolo falou rapidamente, tentando se levantar. Fiz sinal para que seguisse sentado, enquanto Fox observava uma estante e tirava dois livros, seguindo para outra.

-Fox – cumprimentei indiferente, entregando a caixa para Apolo.

-Você sabe onde Valenttina está? Preciso falar com ela antes da reunião do conselho – falou ele, voltando para a mesa onde seguíamos em silêncio e nos observando – Estou atrapalhando alguma coisa?

-Qualquer um que imponha sua presença durante uma conversa privada está, sim, atrapalhando – respondi – Principalmente quando não é uma conversa privada em um corredor.

Ele respirou fundo – Me desculpem. Apenas responda se sabe onde está Valenttina para que eu possa deixa-los a sós.

-Tina saiu para comprar tecidos na cidade – dei os ombros – O que não impede que você fale com ela antes da reunião, tendo em vista que ela foi transferida para amanhã à tarde.

-Como? – ele deu um passo para trás, claramente confuso. – Ninguém me avisou sobre isso!

Enfim me forcei a olhar para ele, com o olhar mais calmo que conseguia manter – Talvez ninguém tenha considerado isso uma prioridade. Agora, por favor, Fox, nós realmente precisamos terminar nossa conversa...

-Entendo – ele deu um aceno de cabeça – Com sua licença.

-Vossa Alteza – Apolo repetiu, enquanto eu revirava os olhos – Vocês me fazem perder as esperanças no casamento. E sequer se casaram ainda.

-Você nunca invadiu o quarto de Alicia e leu o diário dela – dei os ombros, enquanto ele balançava a cabeça – O que?

-Você estava certa Bethany, o palácio realmente mudou você – ele brincou, fazendo uma careta.

Sorri. Nas primeiras semanas, Fox fora inteiro "Bethany, precisamos conversar..." ou "Se você me deixasse explicar...", de forma que precisei criar uma barreira para me proteger. Ainda doía, cada vez que eu precisava olhar para ele - e eu precisava olhar para ele muitas vezes.

Então, ele resolveu abandonar a abordagem pedinte. Isabel disse que Dylan lhe aconselhará a dar tempo ao tempo, e era isso que ele deveria estar fazendo. Esperei que se eu apenas deixasse que toda minha raiva se dissipasse, talvez eu também conseguisse dar tempo para aprender a viver a vida que era imposta para mim.

Mas ele estava sempre ali, forçando a própria presença. E agora, mais do que nunca, enquanto as pessoas me aceitavam como sua futura rainha, Fox parecia temer minha indiferença - Pois com o passar das semanas, ele se tornará um pária em seu próprio palácio.

Meu novo quarto era seis vezes maior do que o anterior. Mas tal como aquele na casa das musas, não tinha janelas nem nenhum lugar que me permitisse ter acesso à luz solar – nenhum ponto onde eu pudesse ser atacada diretamente por uma ameaça no lado exterior do palácio.

Não havia a mesma preocupação a respeito do antigo quarto de Dylan Bordeaux, por essa razão, eu e Romeu passávamos parte das nossas tardes livres com Isabel. Ela parecia consideravelmente entediada com a ausência de Dylan e de suas atividades cotidianas, com a suspensão de todas as aulas e a menor quantidade de festa.

-Talvez eu aprenda salsa, no próximo ano – ela falou naquele final de tarde, quando a chuva se acalmará e o sol fraco entrava pelas janelas finas nas laterais da antiga escrivaninha de Dylan, que fora substituída pela penteadeira de Isabel na última semana – Apenas para ter o que fazer, você sabe?

-Vai ter tempo para isso? – perguntei, erguendo uma sobrancelha – Com todas as aulas e você ainda ensina balé para as crianças.

Ela riu, mordendo um morango de uma vasilha ao lado dela na cama – Já acabei minhas aulas Bethany, e aquelas pestinhas... Não posso passar o dia inteiro com elas. Bem, elas ao menos não me deixam ficar entediada.

-Você tem sorte, parece que tudo que eu aprendi na escola e no último ano é completamente inútil para uma rainha – falei, pegando um dos morangos dela e recebendo um tapa na minha mão – Deixe de ser egoísta.

-Seu noivo não parecia muito feliz mais cedo – ela falou, curiosa, balançado os dedos dos pés – Tem algo para me contar?

-Fox só está irritado outra vez. Provavelmente por mais alguma daquelas revistas – dei os ombros, e depois olhei para ela – Alguém também pediu para mudarem a reunião do conselho para amanhã, e aparentemente ele foi o único a não ser avisado.

Ela riu – Eu diria que nosso príncipe de copas está realmente começando a perder a cabeça.

-Príncipe de copas? – ergui uma sobrancelha, e ela em resposta ergueu uma das revistas de fofoca, apontando para o título em italiano – Isso está se espalhando.

-Está sim – ela assentiu – Nunca achei que diria isso, mas Dylan tem sorte de não estar aqui. Seria trabalho dele ter que resolver todos estes problemas do nosso amado futuro rei. – alguém bateu na porta – Pode entrar!

Alicia abriu a porta e fechou rapidamente, com um sorriso maior do que a boca, encostando as costas na parede e deslizando até o chão, falando algo tão baixo que nenhuma de nós conseguiu ouvir.

-Como? – perguntei, me aproximando mais. Ela repetiu, mas ainda sim era inauditível.

-Pela rainha Alicia, fale alto – grunhiu Isabel, fazendo a cama tremer.

-Apolo me pediu em casamento! – ela exclamou, maravilhada e apavorada olhando para nós – E eu... Eu disse sim.

-É claro que você disse sim, vocês estão neste romance faz três anos – Isabel grunhiu, e depois sorriu – Este é um belíssimo anel...

-Eu vou me casar – falou Alicia, superventilando – De verdade. Eu vou me casar com Apolo.

-Isso, aproveite a felicidade até ele ser mandado para Berlim ou qualquer outro... – Dei um empurrão em Isabel, a derrubando da cama para que se cala-se.

-Você está sendo amarga – falei, e depois fiz uma careta – Pelo menos Dylan não leu o seu diário!

Nós três rimos, e quando as duas enfim levantaram do chão nos abraçados e voltamos a nos jogar na cama de Isabel, com Romeu e o cachorro de Dylan entre nossas pernas enquanto Alicia contava detalhadamente o pedido, e Isabel observava o anel da mesma forma que eu fizera tantas vezes.

-Com licença – Tina abriu a porta com cuidado, cheia de sacolas – Eu estava entrando em meu quarto, quando um guarda disse que você pediu que eu viesse para o quarto de Isabel quando chegasse.

-Essa foi uma excelente ideia – falou Isabel para Alicia, sorrindo – Junte-se a nós Valenttina.

Tina arfou, sem fôlego – Ele disse que você havia dado a entender que era uma emergência – ela reclamou, olhando para nós – Isso não parece uma emergência.

-É uma emergência – Alicia se sentou muito reta, fazendo sinal para que Tina sentasse aos pés da cama e pegando as mãos dela – Tina... Daria-me a honra de criar o meu vestido de noiva?

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