II - Onde Eu Quero Estar |hia...

By annestengel

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[Parte II de "Quem Eu Quero Encontrar"] Vincent Woodham é um aclamado escritor de 28 anos. Ante a publicação... More

PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07

CAPÍTULO 02

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By annestengel

Houve um silêncio, quase como se todo o restaurante tivesse ouvido o que eu dissera e parado para prestar atenção no resto. Era só minha impressão, no entanto. Depois de passar da nossa bolha, onde meus três amigos se encontravam estupefatos, o mundo seguia tranquilamente num murmúrio de conversas noturnas e sonolentas. René foi primeiro a sair de seu estado de choque e balbuciar:

— Você chamou a polícia?

— Não desapareceu desse jeito, seu idiota — eu falei, batendo a caneca na mesa e fazendo Percy sobressaltar-se. Percebi, no entanto, que o jeito mórbido que eu havia anunciado realmente fazia parecer que um crime havia sido cometido.

— Meu Deus, meu coração quase parou! — Ash se largou para trás na cadeira, cobrindo o peito com as duas mãos enquanto apertava os olhos. — Você não pode falar essas coisas ambíguas, Vince, eu já estava imaginando um drama romântico se desenrolando.

— Você imagina coisas demais. Surpreende-me que eu seja o escritor neste grupo — retruquei. Ash abriu os olhos.

— Sério? Você acha que tenho potencial? — antes que ele continuasse com seu jeito animado incentivado pelo álcool, Percy acertou-o no braço fazendo-o se calar.

— Vamos focar no que é importante? O que você quis dizer com "desapareceu", Vince? — ele subitamente parecia sóbrio, apesar do seu rosto ainda estar avermelhado. Algo em sua postura me fez pensar, de repente, "Percy realmente é o mais velho entre nós".

— Isso não é importante — murmurei, mas agora não ia me livrar da atenção deles tão facilmente.

— É importante para mim, então fale, por favor — Percy insistiu e voltei a encará-lo. Por que ele estava tão curioso a respeito dela? Por que ele sabia tanto sobre ela? — O que você quis dizer com "desapareceu"?

Suspirei.

— O que você acha que quis dizer? Eu não sei onde ela está. Ela estava ali, na editora, então as coisas deram errado e ela se foi. Depois da demissão dela, nunca mais apareceu, nunca mais atendeu ao telefone, nunca mais respondeu e-mails. Eu não sei como dizer isso melhor do que "ela desapareceu" — expliquei, irritado. Era frustrante falar daquilo. Era irritante falar daquilo. Por que estávamos trazendo-a a tona quando estávamos num clima tão bom? Quando falávamos sobre a vida deles e das coisas interessantes que andavam fazendo? Como que acabamos nela? Cocei a nuca, querendo pedir a conta e ir embora.

— Você foi até a casa dela? E se algo sério aconteceu? — Ash perguntou, depois de um silêncio longo e um tanto constrangedor.

— O que eu tenho a ver com isso, Ash? — rebati. — Eu fiz minhas tentativas de entrar em contato com ela e ela claramente não quer ser encontrada. Não quer falar comigo, não quer me responder. Se quisesse, já teria feito. Então eu cansei e não vou tentar mais nada — cruzei os braços, me sentindo uma criança teimosa.

— O que houve para ela se demitir? Quando fomos ao evento da empresa, em que anunciariam que ela cuidaria do seu livro, lembro que ela parecia bem — Percy comentou, esfregando o queixo.

Seus olhos magoados retornaram à minha mente. O jeito que suas sobrancelhas franziam e seus olhos castanhos exploravam meu rosto enquanto seu rosto corava com a raiva; aquilo tudo ainda estava vívido como se fosse um filme em minha mente. Eu havia visto aquela cena apenas uma vez, mais do que o suficiente para não esquecer. Seus passos rápidos e suas costas enquanto empurrava a carta contra o peito de Broadbent. Seu último olhar carregado de rancor, lançado em minha direção enquanto saía pelo prédio, a última vez que eu vira Lora Preston.

Mesmo depois que os dias e semanas passaram, depois que o livro foi finalizado, depois que a nova estagiária contratada às pressas foi atolada de trabalho, eu ainda não entendia por que a minha atitude tinha sido um gatilho tão grande para sua raiva. Pensar naquilo me incomodava, então eu havia guardado Lora e sua demissão no canto da minha mente. Eu havia a ajudado, havia resolvido a questão para ela. A escória do Broadbent ia provavelmente a deixar em paz depois que eu o ameacei, como ele havia concordado em fazer. Ele sabia o suficiente de status e da responsabilidade da empresa em seus ombros para arriscar não seguir o que havia sido falado entre nós naquele corredor repleto de espectadores. Eu até me submetera a fazer uma cena, mas para Lora aquilo fora ultrajante. Eu não conseguia entender a cabeça dela e havia desistido há muito tempo. Se ela queria ser ingrata, o problema era dela. Se ela queria se demitir e fugir, o problema era dela. A vida simplesmente seguia seu rumo, da forma de sempre, e ela estar ali não fazia diferença nenhuma.

— Houve umas complicações com o chefe. Assédio e tudo mais. Não foi a primeira vez que o babaca fez isso com uma estagiária, mas foi a primeira vez que alguém rebateu de frente como ela. O pessoal ainda parece um pouco abalado e há bastante fofoquinha sobre ela. A estagiária nova já está totalmente alerta e com o pé atrás, mas ele finalmente parece ter aquietado um pouco — contei, rapidamente. Eu não queria falar sobre aquilo, não queria entrar em detalhes, não queria lembrar das coisas que aconteceram. Não era o momento pra isso.

— Ela parece alguém incrível — Ash comentou, bem baixo, como para si mesmo.

— Considerando o jeito que ela destruiu Vincent naquela noite, não esperaria menos — Percy soltou um risinho e eu fechei a cara.

— Ela não me destruiu em nenhum momento, está bem? — retruquei irritado, torcendo para que nem René nem Ash quisessem mais descrições da noite em que vi Lora pela primeira vez. Apressei-me em encerrar o assunto para que não me atormentassem mais: — De qualquer forma, ela não quer ser encontrada. Pelo menos, não por mim. Eu fiz tudo o que pude e não obtive retorno, então obviamente eu já desisti de encontra-la. Ela é uma mulher adulta que faz suas próprias escolhas e preza por elas, então eu não me preocupo mais com isso e desisti há tempos de ir atrás dela. Fim da história.

Eles não responderam ou insistiram dessa vez. Acho que entenderam que eu estava saturado daquele tópico. Ficaram em silêncio um tempo e eu recostei de volta na cadeira, pensando em tudo aquilo. Não era mais importante, não era mais da minha conta. Eu estava bem, como havia visto no espelho mais cedo.

A única coisa era o incômodo no fundo da minha mente. Mas ele estava acomodado, e eu continuaria a fingir que ele não existia.

Todos eles tomaram táxis pra casa, incluindo Percy. Ele perguntou se queria dividir a corrida, já que morávamos próximos, mas eu disse que estava bem e que ia andar um pouco para refrescar a cabeça. Ninguém contesta as vontades esquisitas de um escritor quando você diz que quer pensar, mesmo que elas sejam vagar sozinho numa noite meio fria. Ele, provavelmente exausto e sentindo-se vencido, não insistiu, apenas entrou silenciosamente no táxi e partiu. René e Ash me desejaram boa sorte com o livro novo, o estilista avisando que na semana seguinte viajaria para Gana, mas voltaria em breve. Esperava estar presente para o lançamento. Agradeci e lhe desejei boa viagem.

A noite estava bem fria para a época, mas era bom. Era bom porque enquanto eu me apertava no casaco fino que eu vestia e seguia pelas ruas já começando a ser cobertas por uma névoa fina, eu me distraía xingando a temperatura e observando a condensação da minha respiração.

Não queria ter pensado em Lora, não queria ter falado sobre aquilo no jantar. Os três eram meus amigos mais próximos e eu sabia que poderia conversar com eles quando quisesse sobre isso. Só que eu não queria. Eu queria simplesmente deixar aquele pensamento no fundo da minha mente, até esquecer sobre ela e parar de me importar. Eu nem me importava, na verdade. Não me importava nem um pouco com seus olhos castanhos e seu sorriso brincalhão, seu jeito de alfinetar tudo que eu fazia e sua atitude firme.

— O senhor está procurando alguém? — ouvi ao meu lado, a voz sobressaltando-me por ser totalmente inesperada. Virei-me e percebi que havia parado, provavelmente há um bom tempo, no cruzamento. Olhando ao redor, senti meu estômago afundar ao perceber onde meus passos errôneos e meu estúpido cérebro embebedado haviam me levado.

A senhora que falava comigo estava voltando do passeio noturno com seu cachorro, um poodle com uma tremedeira suspeita. Ela batia na altura do meu peito, um pouco encurvada, e seus cabelos grisalhos eram lisos e presos em alguns grampos. Ela estava bem agasalhada, numa combinação esquisita que apenas senhoras de idade parecem ser capazes de fazer, e sorria gentil para mim.

— Ah, não... eu... só estou passeando — respondi, dando um sorriso sem graça para ela.

— O senhor não estava aqui na semana passada também? Andando perto do prédio e olhando para ele? — ela apontou para onde meus pés estavam virados, o prédio baixo e discreto do outro lado da rua. — Me desculpe, não quero ser intrometida, mas como te vi alguns dias por aqui, gostaria de saber se poderia ajudar com algo.

Era embaraçoso, para mim, saber que eu havia sido visto. Eu não tinha me dado conta de que tinha passado tantas vezes na frente do prédio de Lora a ponto de ter sido notado. Antes era só um passeio casual, tentando checar se ela estaria por ali e se estaria bem, para que conversássemos e ela parasse com sua raiva ridícula dirigida a mim. Depois, era como um hábito doentio, na esperança de ter algum ou qualquer vislumbre dela e tirar a preocupação da minha cabeça, confirmando que ela estava muitíssimo bem e não havia nada de errado. Finalmente, parece que se tornara uma ação quase inconsciente, onde eu, perdido em pensamentos, tomara o caminho de sua casa sem nem perceber.

A senhora ainda aguardava uma resposta, então pigarreei e abracei um pouco mais meu próprio corpo, sentindo o ar frio.

— A senhora conhece todos os moradores daí? — perguntei, surpreendendo a mim mesmo enquanto tentava não parecer muito interessado. Não havia conversado com ninguém sobre Lora, nem pedido informações, mas já que havia sido descoberto, poderia aproveitar essa chance e descobrir se ela pelo menos estava viva lá dentro.

— Conheço sim, moro aqui há vinte e sete anos. Quem o senhor procura?

Hesitei, olhando. Eu nem sabia qual andar Lora morava. Essa senhora a conheceria por nome? Seria muito estranho descrevê-la fisicamente, como se eu não soubesse mais nada sobre ela além de sua aparência? Optei pela primeira opção, para não parecer um perseguidor ou um maníaco.

— Ouvi dizer que é aqui que Lora Preston mora — tentei fazer parecer que eu sabia casualmente daquela informação, fingindo que eu não sabia daquilo e que essa senhora não havia me visto nas outras vezes que eu passara por ali.

O sorriso dela pareceu congelar um pouco em seu rosto, como se estivesse surpresa de ter que dar uma notícia que não estava planejando. Minha mente imediatamente saltou para conclusões trágicas. Talvez essa senhora estivesse esperando que eu perguntasse sobre a tia Wanda do quinto andar, ou o Sr. Roger do fim do corredor no segundo andar, mas não sobre a garota Lora, cuja vida acabara de forma inesperada e infeliz. Pensei em Lora sofrendo, em Lora sozinha, em diversas Loras que minha mente de repente passou a fantasiar e construir, fazendo meu coração se apertar por não ter vindo antes, não ter perguntado antes.

— Não sabia que o senhor era conhecido da Srta. Preston... — ela falou e eu tentei me preparar psicologicamente. Ela sorriu amarelo, trocando a guia do cachorro de mão. — Talvez não fossem tão próximos para ela ter te contado, senão não precisaria ter perdido seu tempo vindo até aqui tantas vezes. Ela se mudou.

— O quê? — perguntei, como se não tivesse ouvido claramente suas palavras. Meu coração já tinha se aliviado sabendo que nenhuma tragédia tinha acontecido, mas ainda assim eu não esperava aquilo. A senhora continuou sem jeito.

— Já faz um bom tempo, na verdade. Ela simplesmente chegou um dia, empacotou tudo e foi embora. Mal se despediu. Não tenho ideia para onde ela tenha ido.

Fiquei em silêncio, observando o prédio mais uma vez. Todos aqueles dias que eu passara na frente dele e ela nem mesmo estava ali.

O cachorro da senhora soltou um ganido de sofrimento, continuando a tremer, e ela se desculpou e pediu licença, dizendo que precisava entrar. Agradeci a informação sobre Lora e lhe desejei uma boa noite, vendo-a entrar e cumprimentar o porteiro. Continuei parado por mais um tempo, assimilando a informação.

Lora realmente se fora. Sem deixar rastros, sem dar notícias. Ela desaparecera dali. O incômodo que estava na minha cabeça parecera ter desaparecido também, agora que eu sabia o que tinha acontecido.

Oproblema é que, no lugar dele, um grande vazio se instalara.

- - - - - - - Continua... - - - - - - -


Nota da autora: E aqui estamos com o segundo capítulo! E aí, vocês acham que o Vincent se livrou de vez de pensar sobre a Lora agora que descobriu que ela não está mais ali?
Digam-me o que acharam deste capítulo, estou curiosa!

Logo teremos uma interação bem interessante, então fiquem de olho nas atualizações e aguardem o próximo capítulo ~
Obrigada por lerem e acompanharem, até a próxima!
Beijos,
Anne

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