Mystical (l.s)

By larrylaw

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Considerações Iniciais (necessárias para a leitura da fic)
⊱ PRÓLOGO ⊰
⊱ CAPÍTULO I ⊰
⊱ CAPÍTULO II ⊰
⊱ CAPÍTULO III ⊰
⊱ CAPÍTULO IV ⊰
⊱ CAPÍTULO V ⊰
⊱ CAPÍTULO VI ⊰
⊱ CAPÍTULO VII ⊰
⊱ CAPÍTULO VIII ⊰
⊱ BOOK TRAILER ⊰
⊱ CAPÍTULO IX ⊰
⊱ CAPÍTULO X ⊰
⊱ CAPÍTULO XI ⊰
⊱ CAPÍTULO XII ⊰
⊱ CAPÍTULO XIII ⊰
⊱ Q&A ⊰
⊱ CAPÍTULO XIV ⊰
⊱ CAPÍTULO XV ⊰
⊱ CAPÍTULO XVII ⊰
⊱ CAPÍTULO XVIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XIX ⊰
⊱ CAPÍTULO XX ⊰
⊱ EXPOSED ⊰
⊱ CAPÍTULO XXI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIV ⊰
⊱ CAPÍTULO XXV ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXVIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXIX ⊰
⊱ CAPÍTULO XXX ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXI ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXIII ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXIV ⊰
⊱ CAPÍTULO XXXV ⊰

⊱ CAPÍTULO XVI ⊰

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By larrylaw

N/A: Alguém aí ama capítulos longos?

Obrigada por lerem! Não se esqueçam dos votos e comentários ♡



♘♔♗

Episódio: The French Boy

– Soldado – disse Luke, ou melhor, Louis, a Stanley, com impaciência. – Não compreendi sequer uma palavra de seu relato. Respire entre as frases ou não me incomode mais com balbucios inúteis.

Louis sequer desviou seus olhos do relatório enquanto Stanley falava. Estava cada vez mais frustrado. Tudo o que ele fazia era ler sobre Harry Edward Styles: "hoje ele vestiu um fraque florido", "beijou um de seus empregados no jardim", "conversou sozinho durante a madrugada toda" ,"pintou a unha de rosa". HarryHarryHarry. Tantas informações ali e nada útil. Todos tinham um ponto fraco, mas o jovem Styles aparentemente levava uma vida tão desinteressante que nada sobre si era relevante o suficiente para que fosse usado contra ele.

Stanley respirou fundo uma vez, antes de recomeçar sua narrativa. Não só se encontrava ofegante pela corrida, mas também pelo medo da reação de seu comandante ao que precisava lhe contar – é verdade que não lhes era permitido investir contra um escocês, afinal Caim atacou Abel, seu próprio irmão, o que atraiu a ira de Deus sobre si, motivo pelo qual não podiam invadir Fell's Church e arrancar Harry Styles a força de lá enquanto Des estivesse na propriedade. De toda sorte, havia permissão expressa para o uso de violência entre escoceses quando para fins disciplinares, desde que o violentado estivesse sob hierarquia do violentador, afinal o próprio Deus puniu seu povo no deserto com pragas e pestes quando estes se rebelaram contra Ele.

Certo. Às vezes, o Código de Conduta do Exército Escocês não fazia sentido para Stanley Lucas, mas seu Rei, Charles Stuart, o próprio representante de Deus na Terra, sempre possuía uma passagem bíblica para justificar as normas impostas, então não poderiam estar menos que absolutamente corretas.

– Eu vi Harry Styles na floresta.

Isso foi o suficiente. Definitivamente ele tinha a completa atenção de Louis agora, que finalmente erguera os olhos para seu soldado, piscando as írises muito azuis algumas vezes antes de se pronunciar.

– Com as mortes de Anne e Daniel Styles, estou certo de que Des está ciente que a causa escocesa vive e deduziu nossas intenções para com Styles. Dessa forma, não vejo chance alguma de que Desmond permita que o garoto deixe a segurança de Fell's Church. Não não me venha com mentiras estapafúrdias, homem!

A voz de Louis era um tanto quanto aguda, do tipo bela, mas era suficientemente capaz de fazer qualquer um de seus homens clamar por misericórdia quando vinha acompanhada de raiva congelante emanando dos olhos extremamente azuis.

– Eu juro em nome do Santíssimo que o vi há pouco, senhor! – assegurou Stanley. – Eu estava caçando próximo à entrada de Aberdeen e e-eu sei que suas ordens foram para que ficássemos longe da estrada, m-mas –

Louis levantou-se de seu leito em uma velocidade que beirava o sobrenatural.

Seus músculos magros e definidos eram perfeitamente proporcionais à sua altura, de modo que seus movimentos eram firmes e certeiros e até os soldados escoceses que o desprezavam por sua descendência estrangeira não eram capazes de negar que seu atual comandante era o melhor em combate – Louis era imbatível, uma máquina mortal. As histórias eram no sentido de que a sorte sempre o beijava quando ele movia seu braço, então, quando Stanley deu por si, o frio da lâmina da espada do comandante já se encontrava escorada em sua clavícula.

– Me dê um único motivo para não o decapitar agora, soldado. Seja convincente.

– Nossas armadilhas não conseguem capturar nada nessas redondezas, senhor! São as bruxas! Elas não nos querem aqui senhor, querem vingança pelo massacre que a Escócia promoveu e estão alertando os animais a respeito de nossas armadilhas para que morramos de fome. Estou, inclusive, certo de que uma delas avisou Harry Styles quanto a minha presença na florestaa. Ele não me viu! Mas correu como se soubesse que algo se escondia na escuridão, espreitando.

– Eu disse para ser convincente – Louis soltou entredentes, não queria perder um soldado, considerando que já tinha poucos homens consigo; contudo, não toleraria o pecado original: a desobediência. – Nós, exército de Deus, matamos bruxas porque mortos não podem mais pecar. Vivos pecam. Você pecou.

– Me perdoe, comandante! Me perdoe! Como eu poderia sequer imaginar que ele se atreveria a contrariar Desmond meramente para salvar um gato das armadilhas de caça?

A raiva gelada que transbordava do olhar de Louis e consumia o oxigênio entre ambos foi contida por um lampejo de compreensão e um grande sorriso rasgou sua face que até então carregava aquela típica expressão monótona. Stanley soltou o ar pela boca em alívio, mas, a seguir, juntou suas pestanas em confusão pela reação inesperada de seu comandante.

– Você foi visto?

– N-não, n-não! – assegurou Stanley de forma entrecortada, pois respirava com dificuldade tendo ainda a sensação fria da lâmina da espada contra sua pele. – Tentei trazê-lo ao senhor, mas Styles foi mais rápido e eu fui obrigado a retroceder mediante a presença de Des, assim como manda nossa Lei.

Louis acenou em afirmativa, embainhando novamente sua espada.

– Você é um homem sortudo, soldado? – perguntou ele após alguns instantes de reflexão, retirando uma moeda de um dos compartimentos de seu traje negro.

– Gosto de pensar que sou, senhor.

– Tiremos a prova real, então – Louis rodou a moeda entre os nós de seus dedos. – Se der cara, você morre em razão de sua desobediência; se der coroa, você vive por ter me dado o calcanhar de Aquiles de Harry Styles.

Antes que o soldado pudesse lhe responder, a moeda foi lançada ao ar. Stanley prendeu a respiração até que:

– Aproveite sua segunda chance fazendo algo útil: traga-me um coelho ferido – tinha dado coroa.

Em verdade, Stanley não compreendera a ordem de seu comandante, mas não abusaria de sua sorte o questionando a respeito. Entre diversos "sim, senhor", o reverenciou em despedida.

– Não há necessidade de ferir nenhum – Louis foi categórico. – Há muitos coelhos com a pata amputada pela região.

Stanley concordou, apalpando a pata de coelho que tinha consigo pendurada no próprio cinto. Nunca foi tão grato à sua sorte quanto naquele dia.

-x-

Desmond adoeceu naquela manhã.

Fell's Church encontrava-se em um grande frenesi de empregados que corriam para lá e para cá sem saber que atitude tomar, pois seu senhorio se recusava a deixar a propriedade e seguir para o hospital – ele estava ciente de que a ausência de sua presença em Fell's Church deixaria Harry suscetível a ataques, então não desejava tirar a prova real.

Dessa forma, o cacheado logo ficou ciente da situação do enfermo, pois uma vez que Desmond encontrava-se debilitado, a autorização de Styles se fazia necessária para que um dos empregados utilizasse uma das carruagens para chegar até o hospital em New Cambridge e, através do suborno e com um pouco de sorte, fizesse com que um dos curandeiros deixasse seu posto imediatamente para examinar o proprietário de Fell's Church.

– Isso não será necessário – disse Harry ao empregado solicitante de sua autorização, já começando a escrever um bilhete para Liam. – Eu conheço alguém. Chame o mensageiro.

Seus olhos verdes irritados e com grandes olheiras eram um lembrete fiel de que Harry havia se libertado da necessidade de aceitação de Desmond, mas isso não significava necessariamente que Styles deixaria o homem definhar em seu leito enquanto o observava inerte – se você possui meios de ajudar alguém que precisa, simplesmente ajude.

-x-

Harry andava de um lado a outro em seus aposentos.

O cacheado recebera há pouco a informação de que Liam chegara a Fell's Church e, em verdade, gostaria de estar presente enquanto Desmond era examinado e se assegurar de que o homem ficaria bem, mas seu ego não permitiu que o fizesse. Dessa forma, ele apenas aguardava, inquieto, a chegada de Liam em seus aposentos com notícias, pois sabia que o curandeiro não deixaria a mansão sem antes cumprimentá-lo.

Ele sorriu ao pensar sobre Payne.

Liam seguira para Fell's Church tão de imediato que aproveitou a companhia do próprio mensageiro enviado, largando seus afazeres no instante em que leu que Harry precisava de sua ajuda. De fato, Liam era uma alma preciosa, daquelas não muito valorizadas pelas pessoas em um mundo injusto e Styles se sentiu péssimo ao constatar que ainda não havia respondido a carta que o amigo enviara – aparentemente, nem mesmo ele valorizava o curandeiro como este merecia.

Quando ouviu as suaves batidas na porta, sabia que, quando aberta, revelaria bonitos olhos castanhos e cabelos cor de areia levemente desgrenhados pela quantidade de vezes que o curandeiro se despenteava ao se deparar com um caso difícil, sem que ao menos percebesse que o fazia.

Se perguntou se algo mudara em Liam desde a última vista.

Eles ainda não haviam se encontrado naquele dia, considerando que o amigo seguiu para os aposentos de Desmond assim que pisou o solo de Fell's Church: uma vez ciente da situação do enfermo, seu lado profissional emergiu e o passional, que desejava saber como estaria Harry, podia aguardar. Não havia como esperar nenhuma atitude que não fosse nobre de Liam James Payne, afinal.

Harry proferiu um mero "entre", mas não antes de esconder no bolso de seu fraque perolado a carta do amigo que até então encontrava-se jogada sobre sua penteadeira, ainda aguardando resposta sua.

Quando a portinhola amarela finalmente foi aberta, Harry estava incerto se deveria ou não abraçar o amigo. Eles estavam bem? Liam estaria chateado pela ausência de correspondência?

Então, quando deu por si, braços já o cercavam em um abraço apertado o suficiente para relembrar Styles do dom natural do curandeiro de transformar qualquer situação que fosse em um momento confortável.

– Harry! – sussurrou Liam, o som de sua voz abafado considerando que seu rosto fora mergulhado sem hesitação nos cachos do outro.

Demorou alguns segundos para que Styles se lembrasse de como se movia os braços, mas ele correspondeu o abraço do amigo com igual firmeza.

– Liam – a voz de Harry falhou uma vez e o curandeiro o afastou pelos ombros para olhar em seus olhos.

– Você está preocupado – era uma afirmação, não uma indagação.

– Ele está...

– Resfriado – Liam informou suavemente, embora seu tom fosse sério.

Styles sentiu uma pontada de culpa pelo estado de Desmond, afinal este provavelmente não estaria resfriado se Harry não o tivesse exposto à tempestade com seu passeio tenebroso em Aberdeen, na noite anterior. Tendo em vista que um mero resfriado poderia ser mortal naquele século, o cacheado já se sentia uma pessoa terrível antes mesmo do meio-dia.

– E-ele vai ficar bem, certo? Não vai... Você sabe –

– Não, Harry, por Deus! Você fez bem em me chamar de pronto – ele retirou um papel dobrado de dentro do bolso interno de seu fraque branco. – Apenas se certifique de que esse chá será servido a ele duas vezes ao dia, de agora em diante e até que ele sare. Achei prudente listar os ingredientes e o modo de preparo para que tudo seja meticulosamente observado, pois trata-se de uma receita um tanto quanto forte, criada originalmente para o tratamento de pneumonia. Talvez a febre se agrave muito antes de melhorar, mas asseguro que seu tio se recuperará e que o tratamento será breve.

Harry agradeceu com a voz expressando tanto alívio que podia sentir os olhos do amigo o examinando cautelosamente – nesse momento, se deu conta de que Liam não sabia de nada a respeito da vida de Harry desde que este chegara a Fell's Church. Não sabia sobre as regras da casa, sobre os segredos, os fantasmas, ou a floresta, Deus, ele sequer sabia que Desmond não era seu tio de verdade. Dessa forma, não era como se Payne pudesse compreender os motivos pelos quais Harry se sentia responsável pelo estado de saúde debilitado daquele homem.

Em verdade, Styles queria contar-lhe sobre tudo. Faria bem dividir toda aquela merda com alguém, mas ele simplesmente não achava que saberia conduzir aquela conversa sem que o outro pensasse que ele perdera a sanidade.

– Bem, preciso retornar ao hospital agora, pois os pacientes precisam de meus cuidados – Liam se pronunciou. – Eu voltarei para checar o quadro do Sr. Styles. De toda sorte, não hesite em me contatar caso julgue necessário.

Geralmente, quando alguém diz algo como "caso seja necessário, me chame", você não pode ter certeza de que é sincero – na maioria das vezes, trata-se de mera cordialidade. Contudo, no caso de Liam, Harry sabia que o curandeiro viria por ele, bastava que o chamasse. Esse sentimento, definitivamente, o trazia de volta a um território sólido de segurança e a dias em que a sua vida era mais simples.

O curandeiro despediu-se sem proferir perguntas, cobranças ou julgamentos. Seu olhar dizia claramente a Harry: "ei amigo, eu vejo você, portanto sei que algo lhe incomoda e gostaria que compartilhasse comigo; de toda sorte, eu respeito sua privacidade acima de tudo."

O ser humano poderia evoluir anos-luz apenas observando Liam James Payne e aprendendo com ele.

– Fique ao lado de seu tio, Harry. A vida pode ser curta – foram as últimas palavras do curandeiro antes que uma das carruagens de Fell's Church, a qual Harry disponibilizara para levar o curandeiro de volta ao hospital, partisse.

Dada a atual situação de Desmond, a frase não soou aleatória para Styles, mas o fato de que Liam não olhara em seus olhos enquanto falava lhe causou certo estranhamento.

-x-

O anoitecer se aproximava.

Certo, Harry realmente se sentia culpado por Desmond ter de permanecer em repouso pelos próximos dias, mas não o suficiente para deixar de aproveitar a oportunidade de vasculhar a ala sul da propriedade em busca de respostas.

A ala em comento, possuía poucos cômodos, todos vazios. Em verdade, apenas um estava ocupado: o escritório de Desmond. Dessa forma, não foi difícil deduzir qual dos cômodos o homem desejava esconder de Styles através da estúpida regra imposta.

O proprietário de Fell's Church raramente deixava aquele local – supostamente trabalhava em seu negócio de venda e locação de imóveis ingleses com exasperado empenho. Nas poucas vezes que o homem saía do escritório, realizava as refeições com Harry. Diante do exposto, não haveriam chances de bisbilhotar o local caso Desmond não estivesse acamado.

Harry respirou fundo com a mão pousada sobre o ouro da maçaneta fria. Antes de girá-la, no entanto, ele talvez estivesse tendo uma crise moral.

Por um lado, ele se lembrou do quanto se sentiu violado na noite anterior, quando Nicholas se aproveitou de sua ausência temporária para invadir sua privacidade – não era muito diferente do que ele estava prestes a realizar com Desmond. Por outro lado, uma das razões para Harry se mudar definitivamente para Fell's Church foi a esperança de que o "tio" pudesse ajudá-lo a desvendar os mistérios que rondavam a morte de seus pais, visando manter a si próprio em segurança – nada daquilo mudara e, embora tivesse finalmente aceitado a morte de Anne e Daniel Styles, a história só poderia ter um fim se as reticências impostas pelo segredo dos Styles fossem substituídas pelo ponto final da verdade. Conclusão: Harry devia respeito a Desmond como ser humano, mas o homem lhe devia a paz de um desfecho.

Entenda, Harry não podia continuar a lutar no escuro, então saber a identidade e motivação dos inimigos de sua família era sua melhor chance de llibertar sua mãe bem como de defender a si mesmo em um possível ataque futuro – Styles era um amante da vida e agora, mais do que nunca, ele sobreviveria a qualquer custo, pois o fato de ele ainda respirar significaria sempre que os esforços e sacrifícios de Anne e Daniel para manter os Styles vivos não haviam sido completamente em vão. Eis que a frase "ás vezes, a maior justiça para o nome daqueles que perdemos é vivermos uma vida extraordinária", de Zayn Malik, finalmente pareceu-lhe coerente.

E então... Passos.

Harry se afastou o mais rápido que pôde da porta e fingiu casualidade ao se deparar com um dos empregados que ele desconhecia o nome (eles eram muitos, afinal).

– Sr. Harry, está perdido?

– Na verdade, huh, eu pensei que poderia encontrar meu tio em seu escritório.

– O Sr. Desmond ainda se encontra incapacitado de voltar às atribuições de rotina – o empregado expôs, desconfiado.

– Bem, achei que ele não daria ouvidos a ordens médicas e já estaria de volta aos negócios.

O empregado sorriu e Harry sentiu-se aliviado, agradecendo intimamente por seu próprio dom de manipulação ser de primeira linha qualitativa.

– Com toda certeza a especialidade do Sr. Desmond é a teimosia, mas ele encontra-se realmente afetado pelo seu estado de saúde.

Harry tinha ciência de que o homem piorara, afinal ele fez questão de acompanhar Dermot no preparo do chá receitado para se certificar de que tudo sairia nos conformes e, embora tenha ordenado ao chefe de cozinha que não revelasse isso ao enfermo, estava decidido a acompanhar o preparo do chá até que Desmond se recuperasse completamente. De toda sorte, durante o preparo da segunda dose de chá do dia, Dermot lhe confidenciara, preocupado, que a febre de seu senhorio se agravara após ingerir a respectiva primeira dose; Harry, por sua vez, concluiu que tudo seguia conforme deveria, pois Liam o alertara que o estado de saúde de Desmond pioraria antes de finalmente melhorar, mas que seria um tratamento breve.

– Bem – continuou o empregado, – procurava pelo senhor pois há um homem na sala de estar que deseja vê-lo.

Harry, confuso, acompanhou o empregado à sala, concluindo precipitadamente que Liam retornara para checar o quadro de saúde de Desmond, conforme alinharam naquela manhã.

A visita se encontrava de costas e encarava os jardins por uma das quatro janelas que ocupavam a parede da sala de estar do teto ao chão. Tudo que Harry podia ver eram costas esguias e cabelos escuros: não era Liam – mas era quase.

– Zayn? Algo de errado com meus negócios? – esse foi o primeiro pensamento de Harry ao reconhecer o advogado e ele se censurou mentalmente pela falta de cordialidade ao receber o moreno de forma tão rude.

O homem virou-se para fitá-lo e tinha um sorriso inseguro em seu rosto.

– Olá, Styles.

– O Liam já foi – esse foi o segundo pensamento de Harry ao notar que o advogado carregava o maior buquê de rosas vermelhas que ele já vira em toda a sua existência.

– Liam? – Zayn juntou as sobrancelhas grossas. – N-não. Não, Harry! Eu vim conversar com você; contudo, não diz respeito a negócios, razão pela qual peço desculpas por não lhe avisar previamente que viria.

Styles se permitiu analisar Zayn dos pés à cabeça. O advogado vestia um terno preto bonito, bem cortado, aparentemente feito sob medida por um alfaiate respeitável; tinha os longos cabelos negros escovados para o lado com alguns fios rebeldes caindo sobre seu rosto de uma forma incrivelmente ordenada; já a barba, perfeitamente desenhada, aparentava ter sido feita recentemente e o aroma de seu perfume era perceptível mesmo à distância.

Sim, ele estava absolutamente deslumbrante, dessa forma, o olhar de insegurança e nervosismo em seu rosto não lhe parecia apropriado.

– Bem, não há razão para desculpas. Um amigo de longa data da família é sempre bem-vindo – tranquilizou Harry. – Aceita algo? Chá? Vinh –

– Podemos conversar em um lugar reservado? – Malik o cortou, nervoso.

– C-claro – disse Harry, um tanto quanto confuso. – Vamos ao jardim, notei seu interesse por ele e é algo que compartilhamos.

Caminharam em silêncio para o exterior da casa, o que causou ainda mais estranhamento em Harry. Ele lançava olhares de esguelha em direção ao advogado e notou que a mão que segurava o buquê tremia.

Sentaram em um dos bancos de mármore que cercavam o chafariz no centro do labirinto da propriedade. O sol estava quase se pondo no horizonte e os últimos raios tingiam o céu com tantas cores quanto uma aquarela – Harry sentiu saudades de pintar. Ele era muito bom nisso, mas ainda não tivera oportunidade de usufruir do estúdio de pintura de Fell's Church diante de tanto drama envolvendo Desmond, Gemma e Nicholas em sua curta estada na propriedade.

– São para você – Zayn dissera, enfiando o buquê de flores praticamente no rosto do cacheado.

Harry não conseguiu fingir agradecimento, então apenas sorriu forçadamente para o moreno. Levar presentes ao anfitrião quando em visita à sua morada era um costume geral segundo as normas de etiqueta e cordialidade inglesas do século, mas Harry preferia muito mais as garrafas de vinho ao invés das flores. Nunca flores.

Então Styles esperou que Malik falasse.

E esperou.

E esperou mais um pouco.

– Certo, Zayn. Disse que veio para conversar? – seu tom era gentil, mas ele realmente tinha um escritório para invadir naquele exato momento.

O moreno pigarreou.

– Bem, sim – respirou fundo e Harry o olhou com expectativa para incentivá-lo a prosseguir. – Eu, huh, estou interessado em propor casamento a alguém. Contudo, admito que não sou alguém com facilidade em iniciar um cortejo, então eu –

A cabeça do cacheado se iluminou com a lembrança dos olhares Ziam que flagrara enquanto esteve no hospital, então, ele entendeu tudo: Zayn desejava sua ajuda para iniciar seus cortejos a Liam. Era estranho constatar que alguém tão belo sofria com insegurança, mas, no fim das contas, baixa autoestima é mais sobre como você se enxerga do que sobre como os outros o fazem.

– Zayn! – ele interrompeu – Fique tranquilo quanto a isso. Lhe asseguro que é recíproco.

O moreno sorriu timidamente e coçou a própria nuca.

– Ah Harry, que bom, fico feliz que você e eu possamos pular os cortejos e seguir direto ao objetivo deles.

O cacheado arregalou tanto seus olhos que as esmeraldas poderiam cair de sua face e rolar pelo jardim para nunca mais serem encontradas. Ele procurou qualquer vestígio de brincadeira no rosto do moreno e, quando não encontrou, ele começou a rir. Na verdade, gargalhou.

– Qual é a maldita graça, Harry? – Malik pareceu ofendido. – Sei que nos falamos pela primeira vez apenas no hospital e as circunstâncias não foram das melhores, mas trabalho para a sua família desde que deixei a faculdade, ou seja, há um ano. Estou certo que poderíamos aprender a nos apaixonar um pelo outro.

Harry tinha três certezas consigo: a primeira era que ele nunca conseguiria amar alguém no sentido romântico. A segunda era que esse sentimento era possível para algumas outras pessoas, mas Zayn tinha errado o endereço. A terceira era que definitivamente ninguém pode aprender a se apaixonar por outro alguém, não de verdade.

– Você alguma vez já esteve apaixonado, Zayn? – ele perguntou, finalmente conseguindo controlar o riso, mas seus lábios carmesins ainda abrigavam vestígios dele.

Os olhos do advogado, surpreendentemente, se anuviaram e pareceram voar para longe.

– Já, mas foi há muito tempo.

Harry estava surpreso com a resposta, mas se manteve meramente fitando-o, em silêncio, incentivando-o a continuar.

– Quando eu tinha onze anos, fui enviado pela minha família ao Reino da França, para concluir meus estudos. A grade da Academia Francesa era vantajosa, pois ali eu poderia concluir a faculdade de Direito aos dezenove anos e iniciar minha carreira muito antes que os estudantes ingleses e, claro, começar a lucrar antes deles também – fez uma longa pausa. – O pai dele era o responsável pelos estábulos da Academia, em Paris, mas ele sonhava em ser advogado e constantemente escapava dos cavalos para espiar as escadas da faculdade com seus olhos azuis brilhantes enquanto os estudantes de Direito transitavam por lá. Seu nome era Louis William Tomlinson, e não, eu nunca me esqueceria, porque ele ficava tão furioso quando erravam a pronúncia e... Louis era mais baixo que eu, sabe? Mas era um ano mais velho e tinha um ótimo soco de direita: afirmo tranquilamente, porque o vi brigando inúmeras vezes. E-ele era do tipo que não conseguia ver alguma injustiça sem se erguer contra e costumava me dizer sempre: "ei, Zayn, se alguém agir contra a justiça e eu permitir que aja, a injustiça também será minha". Eu só... tinha essa razoável certeza de que Louis seria um ótimo advogado, porque ele tinha um chamado para tal, ao contrário de mim.

Harry não estava realmente interessado na história, mas ao sentir a admiração de Zayn pelo garoto francês, se sentiu no dever de perguntar.

– E o que aconteceu?

– A família dele decidiu mudar-se para a Escócia em busca de uma vida melhor naquele mesmo ano, pois Paris é um vilarejo em muito dominado por aristocratas e o custo de vida não é viável para aqueles que não o são. E então... Você sabe, a Inglaterra tomou o território escocês e não foi de forma pacífica. Tentei escrever uma carta a ele, para me assegurar que sua família estava a salvo, mas retornou ao remetente após alguns meses porque nenhum Louis Tomlinson foi encontrado – Zayn respirou fundo. – Eu queria avisar a minha versão de onze anos de que se eu deixasse que ele fosse, não o veria outra vez. Eu poderia tê-lo ajudado. Poderia tê-lo pedido em casamento e ele não teria que procurar por uma vida melhor, mas eu não... Me senti preparado. Eu era apenas uma criança estúpida.

– Zayn – disse Harry, em um tom gentil. – Você entende o que você está fazendo aqui, nesse exato momento? Está projetando em mim o garoto francês que precisava de sua ajuda e, portanto, de seu pedido de casamento. Perdi meus pais e admiro sua lealdade para com eles, mas não se sinta na obrigação de cuidar de mim em razão dela.

Zayn assentiu silenciosamente com a cabeça.

– Você está certo de sua negativa, Harry?

O cacheado sorriu carinhosamente para ele antes de responder.

– Ninguém pode aprender a se apaixonar por ninguém, Zayn, imagino que simplesmente... Aconteça. E eu sei que concorda comigo, porque você já está apaixonado por alguém nesse exato momento e não me refiro ao garoto francês.

– Desculpe?

Harry gargalhou até que sua barriga doesse.

– Você é tão cínico – retirou uma lágrima do canto dos olhos verdes assim que conseguiu retomar a palavra.

Zayn sabia que havia sido pego, então mirou o céu que escurecia aos poucos e suspirou.

– Ele é curandeiro, uma das profissões mais complexas que existem, a mais importante e prestigiada. Nunca se interessaria por mim.

Harry fitou a mesma direção que os olhos escuros do outro fitavam: o horizonte.

– Bem, você cometeu dois erros em uma única frase, advogado. Em primeiro lugar, todas as profissões são igualmente importantes, algumas literalmente salvam vidas, mas outras salvam almas. Em segundo lugar, não responda pelos sentimentos de Liam, você não tem esse direito – sem esperar por uma resposta do moreno, Harry entregou-lhe o buquê e a carta enviada por Liam que até então encontrava-se escondida em seu bolso. – Você acertou no buquê amigo, mas errou o endereço.

As mãos do moreno tremiam no que ele leu o remetente.

– E s-se ele me der uma negativa?

Harry o fitou sorridente, já de pé.

– Isso não vai acontecer; mas caso aconteça, não é como se uma negativa fosse a morte, Zayn. Veja bem, você sobreviveu à minha – ofereceu-lhe uma piscadela, afastando-se.

O que ambos não sabiam naquele momento, é que Desmond Stuart os observava da janela de seus aposentos com uma ideia surgindo em sua mente.

♘♔♗



N/A: Sentiram saudades do nosso querido exército escocês? E de Ziam? 

Well well, larries. Se vocês chegaram até aqui, vocês sobreviveram ao assassinato dos Styles, do Ed, ao Nick escroto e à Gemma fantasma-sem-rosto, então mais que merecido que saibam que o próximo capítulo é O Capítulo, se é que me entendem rsrsrs ESPERO QUE ESTEJAM TÃO ANSIOSOS QUANTO EU!

Beijinhos no coração,

Bê.

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