Simply Happens [H.S]

By gabriela231d

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Ela, uma menina ofuscada pelo próprio medo de se mostrar as pessoas. Sendo muito difícil conseguir desifrar... More

1°- Capítulo.
2°- capítulo.
3°- capítulo.
4°- capítulo
5° - capítulo
6°- capítulo
7°- capítulo
8°- capítulo
9°- capítulo
10°- capítulo
11°- capítulo.
12°- capítulo
14°- capítulo.
13°- capítulo.
15°- capítulo.
16°- capítulo
17°- capítulo.
18°- capítulo.
19- capítulo.
20°- capítulo.
21°- capítulo.
22°- capítulo.
23°- capítulo.
24°- capítulo.
25°- capítulo.
26°- capítulo.
27°- capítulo.
28°- capítulo.
29°- capítulo.
30°- capítulo.
31°- capítulo.
32°- capítulo.
33°- capítulo.
34°- capítulo.
35°- capítulo.
36°- capítulo.
37°- capítulo.
38°- capítulo.
39°- capítulo.
40°- capítulo
41°- capítulo.
42°- capítulo.
43°- capítulo.
44°- capítulo.
45°- capítulo.
46°- capítulo.
47°- capítulo.
48°- capítulo
49°- capítulo.
50°- capítulo.
51°- capítulo.
52°- capítulo.
53°- capítulo.
54°- capítulo.
55°- capítulo.
56°- capítulo.
57°- capítulo.
58°- capítulo.
59°- capítulo.
60°- capítulo.
61°- capítulo.
62°- capítulo.
63°- capítulo.
64°- capítulo.
65°- capítulo.
66°- capítulo.
67°- capítulo.
68°- capítulo.
69°- capítulo.
70°- capítulo.
71°- capítulo.
72°- capítulo.
73°- capítulo.
74°- capítulo.
75°- capítulo.
76°- capítulo.
77°- capítulo.
79°- capítulo
Fim.
Agradecimentos e recadinhos.
Epílogo.
Wedding And Party ( capítulo bônus)

78°- capítulo.

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By gabriela231d

Bella Cooper POV

- Então, Bella. - Dra. Collins se ajeitou em sua cadeira, cruzando as pernas e fixando o olhar em mim. - Acredito que seja algo importante que queira me dizer, já que antecedeu nossa consulta para hoje.

- Sim... É importante. Não consegui esperar até semana que vem, desculpe.

Bom, contando que demorei uma semana e meia inteira para finalmente decidir que precisava falar com alguém, e que se não fizesse isso iria acabar me machucando novamente e consequentemente, transformar essa merda em uma maior ainda, acho que aguentei bastante, porém não deixou de ser um grande tortura.

Não teve um dia em que não quis me machucar da pior forma possível. E isso é uma grande merda quando eu deveria estar afastando esses tipos de pensamentos para longe de mim.

Mas acho que devo ficar contente por não ter feito, afinal.

- Não peça desculpas. Está certa em me procurar. Estou aqui para isso. - Ela assegurou. Assenti e relaxei levemente os ombros. - Okay, me diga, o que aconteceu?

- Eu.. Eu não sei por onde começar na verdade. - murmurei.

- Comece pelo começo. Não se intimide comigo.

Tá, vamos lá, Bella. Você só precisa se abrir, e mesmo que isso soe apavorante, ela não irá te julgar.

Repeti, uma ou duas vezes para mim mesma antes de encara-la diretamente. O olhar preso e atento em mim, me fez desistir de continuar a encarando da mesma forma em menos de dez segundos.

- É que... - respirei. - Eu estou farta dessa merd.. coisa. - Dra. Collins sorriu e assentiu, para que eu prosseguisse. Suspirei antes de continuar. - A ansiedade, eu quero dizer. E todas essas inseguranças. Eu estou mesmo esgotada.

- Ok, continue.

- Porque.. Olha, eu realmente não ligo se for apenas comigo, não dou a mínima se apenas eu me machucar, mas a verdade é que eu sei que não é assim. Eu sei que envolve outras pessoas e eu odeio colocá-los nessa situação.

- Acha que machuca as pessoas a sua volta?

- Sim. Eu tenho certeza disso.

- De que forma?

- E-eu não sei... Eu só sei que os magoei algumas vezes, acho que por não saber muito bem o que fazer.. como agir. - me encolhi no pequeno sofá, ligeiramente envergonhada por não saber como explicar à ela.

Patética, como sempre.

- De quem está se referindo exatamente, Bella? - Dra. Collins apurou os ouvidos. Engoli em seco e encarei minhas mãos no meu colo.

- Do meu.. ahm.. ex namorado, Harry. - Ainda é estranho pensar que alguém como eu, fodida desse jeito teve algum ex namorado. - Mas eu sei que minha família também sofre com isso. Todos que me tem por perto na verdade.

- Então, você acha que é algo em que eles tem dificuldade em lidar?

- É, eu acho. - respondi baixinho.

- E o que te faz ter essa impressão?

- Não é uma impressão. Eu sei que sou. Eu sei o quanto é difícil lidar comigo e eu realmente entendo isso. Tem vezes que eu... Eu penso que se não existisse poderia ser tudo melhor. Eles estariam melhor.

É verdade. Sinto como se tivesse uma voz gritando nos meus ouvidos, todos os dias, dizendo que não preciso estar aqui, que não há motivos. E eu realmente acredito nisso. Por que deveria continuar aqui, afinal?

- Bella, você tem noção do que acabou de dizer? - a encarei, meu rosto esquentando como o inferno. Não respondi. - Não é com pensamentos suicidas que vamos resolver isso.

- Desculpa. - pedi, envergonhada.

- Olha, eu entendo você, querida. Entendo mesmo. Mas quero que você também entenda que isso não é a solução de nada. Isso não fará bem para ninguém, sabe porquê? - neguei, realmente querendo saber. - Porque não acredito que sua família ficaria feliz com isso, sua prima, amigos, ou Harry. - engoli em seco. - Em toda minha vida, nunca conheci uma família que não tenha ficado devastada em perder um parente, por suicídio. Muitas vezes, isso acaba com as pessoas mais do que perder por uma doença, ou um acidente. Porque é proposital, e o sentimento de insuficiência que as pessoas ficam, muitas vezes as destroem. Então, não pense que eles não sentiram isso, que não sentiram sua falta. Perder alguém por essa causa, especificamente, é uma dor imparável.

- Desculpa.

Não fazia ideia do que dizer, além disso. Talvez seja por isso que minhas bochechas estavam fervendo e que minha visão estava embasada.

- Apenas tente não pensar mais nisso, afastar esses pensamentos sempre que puder. - assenti, cabisbaixa. -  Muitas vezes, é apenas uma impressão.

- Impressão? - ergui o olhar.

- Sim. Esse sentimento de insuficiência é só mais um efeito colateral da mente. Para você tudo pode aparentar estar errado, um caos, mas isso pode ser apenas uma impressão, o sentimento de culpa enevoando sua mente e te deixando confusa.

- Então.. você quer dizer que eu estou... Tipo, pirando? - franzi o cenho. Dra. Collins sorriu e balançou a cabeça.

- Não, querida. O que quero dizer é que essas coisas atrapalham mesmo você, mas podem ser apenas uma impressão. Como por exemplo, quando você está na frente de muitas pessoas, e tem que falar sobre um assunto, e parece que elas estão te julgando e criticando de mil e uma formas. Isso te faz sentir desconfortável, faz com que você passe por crises, por exemplo, mas na realidade, pode ser apenas uma impressão. Elas não estão te criticando, ou te achando estranha, como você costuma dizer. Você pensa isso de si mesma, e automaticamente, acha que todos pensam da mesma forma. Mas não é verdade.

- Não?

- Não. - assegurou, firmemente.

Mordi o lábio, curvando os ombros e suspirando.

- Queria que isso parasse logo. Quer dizer, o que eu faço?

- Continue se tratando. Sendo forte. Já disse isso, Bella, mas faço questão de repetir. - ela se inclinou levemente em minha direção. - Tudo depende do que você deseja. Tudo está aí, na sua cabeça. Basta querer.

- Eu quero. Quero muito.

- Eu sei, eu sei. E estamos aqui para isso. Apenas aguente firme. - sorriu, expondo toda sua sinceridade. 

A humildade e sinceridade era tão explícita nela. Se expandia, era tão transparente e isso de alguma forma me dava todo o conforto que eu precisava para me abrir. Me lembrava como eu me sentia com Harry, e como eu sentia que poderia dizer tudo que eu quisesse, por mais mórbido que fosse.

Me lembro de uma vez, um domingo, em que saímos para andar um pouco, porque Mary não conseguia parar com suas piadinhas na frente dos meus pais. Harry segurava minha mão do mesmo jeito carinhoso e protetor de sempre. Meus dedos pareciam se encaixar perfeitamente nos dedos longos dele. A sensação era e continua sendo inexplicável.

Nunca pensei que algo tão pequeno, poderia me trazer tanto.

Andamos por quase trinta e cinco minutos, enquanto Harry chutava as pedrinhas da rua e sorria da sua própria piada, que eu com certeza estava rindo como uma doida, provavelmente por não fazer sentido algum. Algo me dizia que o sorriso largo e de covinhas dele era mais por minha causa, do que por qualquer outra coisa.

Em alguma parte daqueles trinta e cinco minutos, nos sentamos no meio fio da calçada, em frente a uma casa enorme, depois de comprar refrigerante e jujubas na lojinha da esquina. Parei de me importar se poderíamos ou não sentar ali, assim que ele beijou minha bochecha e pediu para mim relaxar. Seu sorriso era lindo demais para mim tentar contrária-lo.

Passamos conversando, comendo jujubas, e tomando refrigerante. Harry lembrava de quando Anne dizia que não podia tomar refrigerante e comer doces ao mesmo tempo, e como ela levava isso a sério até hoje. Segundo ele, os programas preferidos dela, depois de programas culinários, era sobre experimentos científicos e reações químicas. E a essa altura, meu estômago já doía de tanto que eu estava rindo.

A última coisa que lembro depois disso, foi de nós dois rindo enquanto corríamos assim que dona da casa nos escorraçou de lá, quando pegou Harry mexendo em seu jardim, arrancando uma das tulipas brancas para me dar. A sensação de perigo e adrenalina me fez rir tanto que tive que sentar no asfalto, no final da rua para me recompor. Eu nunca me senti mais livre e bem em toda minha vida.

Agora, enquanto atravesso o jardim da minha casa, com as memórias ainda frescas em minha cabeça, apenas consigo me sentir mais idiota. Me sinto mal, por ter falado com ele daquela forma, e por mais uma vez, ter estragado tudo.

Se eu realmente não me importasse com o fato de que ele estar indo embora nessa semana, talvez pudesse respirar melhor do que estou agora. Tudo está denso demais.

Fecho a porta, assim que entro, e caminho até às escadas, pronta para tomar um banho e ir para o trabalho. Mary está no sofá, assistindo Gray's Anatomy quando eu passo. Desisto quando penso em falar com ela, porque sinceramente, não quero ficar falando sozinha como em todas as vezes que eu tentei essa semana, e tenho coisas mais importantes para fazer. Chorar no banho é uma delas.

- Ei!

Penso que ouvi errado, e com certeza deve ser a voz muito parecida de alguma mulher da série com a de Mary, porque não tem ninguém além de mim para ela dirigir a palavra.

- Bella, espera.

Paro no terceiro degrau da escada e me viro para encara-la. Estou surpresa mas tenho certeza que minha aparência cansada não deixa transparecer tanto.

Ela me encara, parecendo receosa, por alguns longos segundos. Franzo o cenho.

- Fala logo, Mary. Eu preciso trabalhar.

- Nossa, você tá ranzinza.

Eu ri, sarcástica.

- Tá. - revirei os olhos e voltei a subir as escadas.

- Ei, espera. Eu estou falando com você.

Quando me virei novamente, Mary estava de pé, se aproximando da escada. A expressão indignada dela, por eu ter dado as costas á ela, me fez querer rir.

- Você está brincando, não é?

- O quê? O que eu fiz, Isabella?

- Você realmente é inacreditável, Mary. - respirei, balançando a cabeça.

Mary abriu a boca, ficando boqueaberta, como em todas as vezes que ela está indignada.

- Eu sou inacreditável? Sério mesmo?

- É, Mary.

- Você pode fazer o favor de me explicar?

- Mary, não é como se você não se lembrasse que me ignorou a semana inteira, agindo como se tivesse alguma razão.

Ela franziu o cenho, e eu continuei.

- Olha, eu cansei de tentar te entender, okay?

- Ah, olha quem falando.

- Mary, você realmente quer começar mais uma briga? Porque se for assim, eu sinceramente prefiro ficar mais uma semana sem falar com você.

Mary ficou quieta, respirando fortemente como se estivesse se acalmando. Apenas fiz menção em subir, mas ela me parou abruptamente. A encarei, realmente querendo que ela dê uma trégua desta vez.

- Você vai ficar me olhando, ou..-

- Aí, por favor, Isabella. Calma. - Mary passou as mãos nos cabelos, colocando-os atrás da orelha e suspirando.

Eu claramente conseguia ver ela engolindo seu orgulho.

Mary cruzou os braços e encarou os próprios pés.

- Me desculpa.

Tenho certeza que se ela dissesse mais baixo, seria como uma leitura labial. Continuei a encarando, sem qualquer reação.

- Você não vai dizer nada? Eu pedi desculpas.

- Eu ouvi, Mary.

- Tá, então fala alguma coisa.

- Eu não sei o que você quer que eu diga.

- Acho que é óbvio, não é? - ela franziu o cenho, suspirando logo em seguida. - Vai logo, Bella. Me perdoa. Você sabe que isso é tortura pra mim.

- A parte de pedir desculpas, ou não falar comigo?

- As duas. Você é a pessoa mais importante da minha vida. E eu não queria dizer aquilo. Não quero brigar com você, principalmente por causa de homem. Lembra quando prometemos que jamais brigariamos por causa disso?

- Lembro. - murmurei. - Mas não brigamos por causa disso, brigamos porque você simplesmente não quis se abrir comigo.

- Você não está na posição de reclamar. Faz isso comigo sempre. E eu nem reclamo.

Mordi o lábio, tentando segurar a risada mas falhando miseravelmente. Mary me acompanhou. Ela franziu cenho, formando um beicinho fofo, enquanto eu a encarava, e eu revirei os olhos antes de descer os degraus, indo abraça-la.

De alguma forma, isso me reconstruiu um pouquinho. Eu estava em pedaços.

- Senti sua falta. - ela murmurou, me apertando mais um pouquinho.

- Também senti sua falta.

Quando Mary finalmente me soltou, sorri pra ela, e limpei a garganta, me proibindo de ao menos marejar os olhos.

- Tá legal, agora fala o que tá acontecendo. - ela mandou, assim que se afastou.

- O quê?

- Ah, não vem não, Isabella. Você tá acabada a semana inteira, e não é só sobre nossa briga. - Mary se jogou no sofá e bateu com a mão no lugar vazio ao seu lado. - Senta e me conta.

- Eu tenho trabalho, Mary.

- Recém vai ser onze horas, Isabella. Você tem que estar lá só à uma hora.

A encarei, por alguns segundos e arqueei a sombrancelha, cruzando os braços.

- Okay, eu conto, mas só se você me falar primeiro o que está acontecendo com você e o Mike.

Mary me fuzilou com o olhar e eu dei de ombros. Ela bufou.

- Foda-se, tá legal. Senta aí.

Sorri, vitoriosa e Mary revirou os olhos. Ela pausou a série, assim que me sentei ao seu lado e dobrei as pernas em cima do sofá. Suspirou, assim que me encarou e me viu aguardando. Desviou o olhar para suas unhas, e começou a cutuca-las, tirando o esmalte azul escuro delas.

- É complicado, Bella.

Revirei os olhos.

- Complicado como, Mary?

- Prova do seu próprio veneno agora, prova.

Eu acabei rindo.

- Cala boca e explica.

Ela mordeu o lábio e suspirou.

- Tá... Dês do último verão, o Michael vem tentado me convencer de ir fazer faculdade em Manchester, junto com ele. - ela começou. - Sabe, ele disse que poderíamos ficar na casa da tia dele, que mora lá, ou simplesmente alugar um apartamento, como se fosse fácil. - ela revirou os olhos. - Eu poderia começar a faculdade de moda, e fazer algum estágio se tivesse sorte, enquanto ele arrumaria algum trabalho temporário, até acabar a faculdade também.

- Hm..Okay... Não consegui ver problema nenhum até agora. - disse, realmente sem entender. Mary revirou os olhos.

- Você não entende, Bella.

- O quê?

Mary fechou os olhos, como se estivesse com dificuldade de explicar. Franzi o cenho, esperando algo que fizesse sentido. Ela me encarou, frustada.

- Eu sei que parece algo maravilhoso, e talvez... Realmente seja, mas... Eu não sei se estou preparara, Bella. Sabe, é muita pressão.

- O que você quer dizer?

- Ir pra outra cidade, morar junto com ele, e sabe, tudo isso. Eu não sei se estou pronta. Parece que foi ontem que eu repúdiava esse tipo de coisa, e agora eu me vejo prestes a faze-las. É.. é sufocante. - ela respirou fundo, como se o ar estivesse realmente difícil de respirar.

Eu estava começando a entender. Desde sempre Mary tem dificuldade em se relacionar por muito tempo. A palavra compromisso parecia de alguma forma apavorante para ela. E eu realmente entendo agora. É sobre medo. Medo de se machucar, ser iludido e todas as coisas que geralmente acontecem.

É totalmente aceitável.

- Então... você está com medo?

- O quê? - ela me encarou, como se eu tivesse dito algo imbecil. - Eu não estou não. Eu só... Merda, não. Não estou com medo.

Eu ri, mais da situação do qualquer coisa. O olhar que ele me lançou me fez parar imediatamente. Limpei a garganta.

- Tá, tudo bem. Se você não está com medo, o que é então?

- Eu sei lá, Isabella. Eu só não me sinto pronta. Parece cedo demais morar com ele, e essa merda toda.

- Hm... Você não quer então?

- O quê? Eu.. eu... Foda-se, não sei. - Mary bufou, tirando o cabelo do rosto. - Olha, eu amo o Mike, muito mesmo mas, será que ele não está apressando muito as coisas?

- Eu acho que ele só quer te ter por perto, Mary. Sabe, é uma oportunidade ótima, e vocês vão poder estar juntos. - falei, sinceramente. - Você aguentaria muito tempo longe dele?

- Muito tempo quanto?

- Sei lá, eu não sei quanto tempo dura uma faculdade de artes plásticas.

- Com certeza mais tempo que eu possa aguentar. - Mary se encolheu como uma bolinha. - Eu já estou morrendo só nesses dias e você nem se atreve a rir disso. - Mary apontou o dedo pra mim, antes mesmo que eu entendesse o que ela disse.

Revirei os olhos e tirei o dedo dela do meu rosto.

- Bom, o que vai fazer então?

- Não faço a mínima ideia. - ela murmurou, abraçando a almofada contra o peito. - O que você acha que devo fazer?

- Ah, Mary. Eu não sei... Você já conversou com ele?

- Sobre isso?

- É.

- Não exatamente. A gente tem brigado muito. - ela murmurou.

- Então conversa com ele. Ele não pode adivinhar nada. Olha, você só não pode fazer algo que não queira. Mas se é o que você quer, então não tenha medo de viver. Michael te ama e sei que só vai querer o seu bem.

Mary ficou em silêncio. Parecendo pensativa. Deixei que ela pensasse um pouco e peguei o controle da tv na mesinha, passando pelos canais, mais para passar o tempo do que por qualquer outra coisa.

- Você acha que eu deveria falar com ele? - ouvi ela perguntar, soando indecisa. Suspirei e dei de ombros.

- Acho que conversar é sempre a melhor coisa.

Mary murmurou alguma coisa incoerente, se afundando no sofá. Deixei no canal de esportes, para ver as rodadas dos jogos da semana, o que ocasionou em mais um murmúrio de Mary, desta vez em desgosto.

- Sério mesmo, Isabella? Quem deixou você tirar da minha série? Ainda mais para por essa merda. Troca isso.

Mary se inclinou para tirar o controle das minhas mãos, mas a afastei e mandei um olhar, que a fez emburrar a cara imediatamente, porém também a fez desistir. Coloquei o controle de volta a mesinha e me ajeitei no sofá.

De acordo com a tabela, Manchester United ganhou de 3×2 do Paris Saint-Germain, nessa semana. Com isso, tinha quatro vitórias e duas derrotas ao todo. Podia melhorar, mas comparado ao Celta de Vigo, que perdeu cinco das seis partidas, estava muito bem.

- Tá legal, Bella. Não vamos ficar vendo essa porcaria, se não cumprir o que disse.

A encarei, ligeiramente confusa, mas entendi rapidamente do que ela estava falando. Era claro que ela não esqueceria do que eu disse, como eu confesso que desejava. O real problema é que a conheço bem o suficiente para saber que ela não ficará nada contente, principalmente com o fato de eu estar fazendo simplesmente nada sobre isso. Mas afinal, o que eu deveria fazer, sabendo que é o melhor para ele?

- Você quer mesmo saber? - perguntei, e a encarei em seguida. Mary franziu o cenho, como se fosse óbvia sua resposta.

- Quero.

Suspirei e apoiei o cotovelo nas costas do sofá, apoiando assim, a cabeça em minha mão.

- Harry está indo embora.

Contei, simplesmente assim.

Mary piscou, apurando os ouvidos como se quisesse ter certeza que ouviu certo. Soltou uma risada, sem nenhuma graça e voltou a ficar séria.

- Espera, o quê? Você não está brincando? - neguei com a cabeça. - Mas de que porra você está falando?

- Ele está indo embora, Mary. É isso.

Encolhi os ombros, não sabendo exatamente o que ela queria que eu fizesse. Afinal, ela queria saber o que estava acontecendo, não estava? Isso deveria ser o suficiente.

- E você fala isso na maior naturalidade?

- Como queria que eu dissesse, Mary? - franzi o cenho. - Oh meu Deus, Harry está indo embora, e agora, o que será de mim? Fala sério, isso é patético, não acha?

- Pelo menos é mais coerente do que agir como se não fizesse nenhuma importância. Qual é? Você está bem com isso?

- Não. - suspirei. - Não estou nada bem com isso, se quer saber, mas não importa o que eu sinto, ou como eu esteja. Ele está indo embora, e vai ser melhor assim.

- Melhor? Caralho, Isabella. Melhor pra quem?

Não esperava menos que isso. Indignação era o que Mary mais demostrava se tratando de Harry e eu, na maioria das vezes. Ela costuma dizer que se houvesse um filme, livro ou qualquer outra coisa que contasse meu relacionamento com Harry, as pessoas provavelmente enlouqueceriam por causa de tanta complicações, problemas e poréns. Segundo Mary, ela nunca ficou mais estressada quanto fica comigo e Harry e a nossa relação conturbada.

- Vai, Bella. Me explica. Porque eu realmente não entendo.

Tive que respirar fundo antes de me virar para ela.

- Mary, ele está indo para Nova York, para fazer faculdade em Juilliard! Onde ele pode construir uma carreira, no que ele ama, no que ele sempre sonhou. Um lugar novo, onde ele vai conhecer pessoas novas, e ter novas experiências. Milhões de pessoas desejam ter a mesma oportunidade que ele teve. E agora você me pergunta como eu poderia impedi-lo disso? Como eu poderia ser egoísta a esse ponto? Eu não posso. Mesmo que eu queira que ele fique, eu não posso fazer isso.

Inclinei as costas contra o sofá, e baixei o olhar, me concentrando nos meus próprios dedos. É doloroso, mas dizer todas essas coisas em voz alta, me traz mais certeza de que realmente não há nada a se fazer.

Mary parecia estar sem reação ao meu lado. Suas tentativas de dizer algo sempre acabavam na primeira palavra que saia da sua boca, por isso tive ficar ouvindo as mesmas palavras, durante os segundos seguintes na sua tentativa de formar uma frase coerente. Era possível que ela estivesse entendendo o X da questão.

- Eu... É.. caralho. Tá, eu vou parar de gaguejar agora. - Mary limpou a garganta, se ajeitando no sofá e suspirando em seguida. - Olha, eu não sabia que era um motivo tão... Sério. Mas será que não tem nada mesmo que você possa fazer?

- Eu sinceramente não sei, Mary. A gente nem está se falando e ele vai ir embora amanhã.

- Amanhã?! Já?

- É. - murmurei.

- E por quê vocês não estão se falando? Vocês brigaram?

- Basicamente.

Ainda estou me sentindo mal por conta disso, e honestamente não quero pensar em como ele deve estar se sentindo. Porque ele está indo embora amanhã, eu literalmente disse que não me importava com isso, mesmo sendo uma grande mentira, e ficamos desde então sem trocar uma palavra. Agora temos tão pouco tempo.

Droga! Espera...

- Bella, eu perguntei por quê vocês brigaram. - Mary repetiu, o que não lembro de ter ouvido antes.

Estava ocupada demais entendendo o quanto idiota estava sendo.

- Mary, eu preciso ir tomar banho e sair. Depois nos falamos. Eu prometo.

Falei, me levantando rapidamente e indo em direção à escada, enquanto ouvia Mary me chamando, perguntando inúmeras vezes o que estava acontecendo e o que eu iria fazer. Subi as escadas e entrei no meu quarto, procurando uma muda de roupa limpa.

Espero sinceramente que Adam não se importe se eu me atrasar algumas horas.

Enquanto pegava uma das minhas calças jeans, aleatoriamente e deixava em cima da cama, junto a t-shirt branca e a camisa xadrez, meu celular vibrou no bolso de trás da minha calça, tocando em seguida. Suspirei impaciente, o pegando e atendendo a chamada de Edwin, um pouco surpresa por ser ele, já que não temos nos falado muito. Sinto por ter que continuar assim, porque não posso perder mais tempo do que eu já perdi.

Ligação on

- Bella! Você não vai acreditar no que eu tenho pra te dizer.

Conhecia o tom animado de Edi, e poderia dizer que esse chegava tão próximo de quando ele ganhava alguma partida.

- Edi, me desculpa mas é que eu preciso muito fazer uma coisa agora. Será que não podemos nos falar mais tarde?

Retirei os all-stars do pés, com a ajuda dos mesmo, enquanto tentava abrir o zíper da minha calça, segurando o celular entre o ombro e a orelha. Foi nesse momento que Mary apareceu na porta do meu quarto, e fez uma careta confusa.

- Que merda você está tentando fazer, Isabella?

- Ah, mas é importante. Eu juro. Você ainda não viu? Não chegou pra você?

- O que? - perguntei confusa.

Mary entrou no quarto e se aproximou de mim. Franziu o cenho e abriu os braços como se esperasse uma resposta, para as milhares de perguntas dela.

- Mary, espera um minuto. - pedi.

Suspirei, e segurei o celular corretamente.

- Fala, Edi.

- Mary está aí? Pergunta pra ela se chegou alguma carta ontem, ou hoje.

Franzi o cenho.

- Carta? - perguntei de volta, e olhei para Mary. - Do que você está falando, Edi?

- Da carta! A carta de inscrição para Oxford. A minha chegou ontem a noite. Pelo amor de Deus, Bella, diz que a sua também chegou.

- Será que dá pra você me explicar que porra está acontecendo? - Mary exigiu, me encarando fixamente.

Pisquei, perplexa. Minha cabeça dava voltas na tentativa de racionar tudo que estava acontecendo.

- Edi, você... Você não está brincando, está?

- Claro que não, Bella. Vê se também chegou pra você.

- Ahm... Tá. Tá bom. Eu.. Eu vou ver, e depois te aviso. Pode ser?

- Tá bom. Mas não se esquece. Até logo.

Ligação off.

Mary franziu o cenho, assim que pus os olhos nela.

- O que foi? Por que tá com essa cara de pastel?

- Mary, chegou alguma carta de Oxford ontem?

Mary oscilou o olhar, parecendo receosa.

- Como você sabe?

Revirei os olhos.

- Sim ou não?

- Tá.. Sim, chegou ontem. Mas era pra contar pra você só na hora do jantar, sua mãe disse.

- Por quê?

- Porque talvez ela quisesse fazer uma surpresa? - disse, como se fosse óbvio.

Eu suspirei, realmente não sabendo como agir.

- Edi te contou?

- Sim, ele também recebeu. - sentei na cama.

- Linguarudo. - ela murmurou. E sentou ao meu lado, quando eu fiquei em silêncio. - Você não gostou?

- O quê? E-eu gostei. É claro que gostei... Eu só... Só estou digerindo ainda. - limpei a garganta. Mary franziu o cenho.

- Qual é? Abre o jogo logo. Você não gostou né?

- Não, Mary. Não é isso. Eu só estou surpresa ainda ok? Não pensei que esse dia chegaria tão cedo. Ou que chegaria. - suspirei.

- Ei, não fica nervosa. Você vai ir bem na entrevista. Eu sei que sim.

Mary empurrou levemente meu ombro com o dela, me fazendo sorrir.

Eu realmente esperava. Quer dizer, está acontecendo tudo tão abruptamente...

- Tá. E o que você ia fazer?

Merda merda merda.

A pergunta de Mary soou como um alerta nos meus ouvidos. Eu não poderia perder tempo com essa notícia agora, ou com qualquer outra coisa que surgisse. Precisa concertar o que fiz.

Agora.

Obrigada por lerem!❤️
Desculpem-me qualquer erro.

Comentem e votem please.

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