Amor e Outras Guerras

By maricarign

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No ano de 1852, na Inglaterra vitoriana, Helene White enfrenta a dura realidade da vida após a perda de seus... More

Dedicatória
Capítulo 1: A Casa dos Taylor
Capítulo 2: O Segredo da Floresta
Capítulo 3: Mistérios de Dover
Capítulo 4: O Baile dos Taylor
Capítulo 5: A Surpresa
Capítulo 6: O Que Houve com os Homens?
Capítulo 7: Todo Mundo Tem Segredos
Capítulo 8: Laços Desfeitos
Capítulo 9: As Últimas Gotas de Esperança
Capítulo 10: Há Um Brilho Em Tudo
Capítulo 11: Não Acredite Nessa Falsa Esperança
Capítulo 12: A Guerra Ainda Não Está Perdida
Capítulo 13: Na Luta Por Uma Justa Sobrevivência
Capítulo 14: Só o Amor Fica Eterno
Capítulo 15: A Um Minuto da Fuga
Capítulo 16: Me Faz Sorrir De Novo
Capítulo 17: Focos de Ação do Amor e do Ódio
Capítulo 18: Ai Daqueles que se Amaram
Capítulo 19: Nós estrangulamos nossos próprios Corações
Capítulo 20: Acima de tudo ame
Capítulo 21: O caminho é este
Capítulo 22: Corra na outra direção
Capítulo 23: Por entre o perdão e a coragem
Capítulo 25: Passo a passo
Capítulo 26: O suor, as lágrimas ou o mar
Capítulo 27: Incêndios Selvagens
Capítulo 28: A ti vim encontrar
Capítulo 29: Matar o sonho é matarmo-nos
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 24: Perigoso é a gente se aprisionar

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By maricarign

"Perigoso é a gente se
Aprisionar no que nos
Ensinaram como certo
E nunca mais se libertar,
Correndo o risco de não
Saber mais viver sem um
Manual de instruções."

Martha Madeiros


Sem pensar duas vezes estávamos na carruagem da Srta. Jones em direção à cidade, ela havia pedido para que o cocheiro fosse o mais rápido possível. Então ali estávamos nós, chacoalhando pela estrada de terra, com o coração batendo mais forte do que nunca.

Durante o caminho, Srta. Amélia acabou me contando um pouco sofre a influência que sua família possuía em Dover. De acordo com ela, como eram donos de muitas terras na região, os guardas poderiam ser mais tolerantes conosco. — Bem, ao menos é o que espero — concluiu, assim que chegamos à porta do posto de polícia.

Desci da carruagem ainda tensa, minhas mãos se encontravam geladas e, eu possuía plena certeza que Srta. Jones estava tão nervosa quanto eu. Infelizmente o tempo estava contra nós, nem sequer conseguimos bolar um plano, entramos no posto somente com a nossa coragem e esperança. Salvaríamos Isabelle a qualquer custo.

O lugar se encontrava em uma esquina próximo à rua principal, alguns homens da guarda estavam do lado de fora conversando animados, porém, assim que subimos o primeiro degrau, todos se calaram. Aparentemente era um absurdo duas moças estarem ali, mas isso não nos abateu.

Logo que passamos pela porta senti meu estômago embrulhar, um cheiro forte de suor e mofo estava por toda a parte. As paredes possuíam um painel de madeira gasta, e o piso já havia visto dias melhores, de fato não era um ambiente convidativo. Tudo o que havia no cômodo eram algumas cadeiras e uma mesa antiga, onde um jovem arrumava alguns papéis distraído.

— Com licença, — Srta. Jones disse com uma voz inocente, acenando com suas mãos delicadas cobertas pela luva de renda — gostaríamos de uma informação.

— Pois não? — O rapaz respondeu entediado, porém, assim que notou que se tratava de duas mulheres, logo arregalou os olhos. — O que posso fazer pelas Senhoritas?

— Creio que precisarei tratar o assunto com algum superior, sem sombra de dúvidas ocorreu um terrível engano esta manhã. Gostaria de resolver antes da hora do chá, sim? — Amélia abriu um sorriso meigo, e eu notei sua estratégia. Os homens costumavam pensar que nós mulheres não passávamos de um objeto frágil e fútil. Então, qual seria o problema de usar esta crença absurda para obter alguma vantagem?

— Ora Senhoritas, não creio que importunar meus superiores com assuntos supérfluos seja necessário, — O jovem riu, voltando a prestar atenção em seus papéis — proteger o país ocupa muito do nosso tempo. Qual seria o engano cometido?

Srta. Amélia, já a beira de um colapso nervoso, apontou o dedo bem diante do rosto do rapaz, esquecendo completamente os bons modos que nos eram impostos. — Escute bem, vocês bárbaros invadiram uma propriedade, levaram minha amiga a força. Eu exijo que a soltem imediatamente!

— Desculpe Senhorita, não tenho permissão para tal coisa. — O rapaz se ajeitou, continuando a arrumar os papéis soltos sobre a mesa. — Sou apenas um ajudante, porém, não acho que o comandante irá atender ao seu pedido de qualquer modo.

— Veremos. — Amélia segurou firme seu vestido, e virou de forma brusca, ignorando qualquer regra a ser seguida por ali. Tudo o que pude fazer foi segui-la, afinal, eu queria salvar Isabelle tanto quanto ela.

Entramos em uma espécie de corredor mal iluminado, demos a volta até encontrar uma porta com os escritos "General Graham" pintado sobre a madeira antiga. Srta. Jones abriu a porta sem um pingo de vergonha, assustando o homem velho por trás de uma escrivaninha. — Que absurdo é esse? A Senhorita não aprendeu a ter modos?

— Meu nome é Amélia Jones, sou filha de Adam Jones. — ela ergueu o queixo, engolindo qualquer sinal de tristeza e desespero que pudesse ter por dentro. — Creio que o conheça.

— Srta. Jones, é claro! — O velho se levantou imediatamente, ajeitando o uniforme amarrotado e puxando uma cadeira para que nos sentássemos. — Seu pai tem sido de grande utilidade para nossa investigação.

— Me desculpe, investigação? — Questionei, abrindo a boca pela primeira vez, e me arrependendo logo em seguida. Esqueci completamente que estava usando meu velho uniforme, e tudo o que recebi em resposta foi um olhar severo do General para que eu me calasse.

— Srta. Jones, o que posso fazer por você? — Perguntou, como se estivesse disposto a destruir meio mundo por ela.

— Creio que houve um engano General, — Amélia começou a falar, usando seu tom de voz meigo e delicado outra vez — estive visitando os Taylor esta manhã, sabe? E pude presenciar quando detiveram uma jovem inocente.

— Entendo. — O general respondeu, fechando a cara imediatamente quando percebeu o assunto. — Escute Senhorita, essa investigação está ocorrendo há meses. Fizemos buscas por toda a região a fim de encontrar a arma do crime, e sinto informar que não há nada de inocente naquela jovem.

— O que quer dizer? — Questionou, sem disfarçar sua confusão diante de como o General parecia tratar o assunto como algo terrivelmente grave.

— Posso confiar na Senhorita, certo? — Amélia assentiu com a cabeça, vidrada em suas palavras. — Faz alguns meses que houve um assassinato na casa dos Taylor, não tenho certeza se acompanhou o ocorrido. Contudo, como não sabíamos se seria uma investida dos Franceses para um novo ataque, continuamos e investigação.

— Compreendo, porém, o que esse incidente tem a ver com minha amiga? Eu tenho certeza que Isabelle não tem nada a ver com isso! — Insistiu, ignorando a risada irônica que o homem deixou escapar.

— A faca usada para assassinar Dylan, funcionário fiel da família, estava envolta em um lenço feminino. — Concluiu, juntando as mãos sobre a escrivaninha. Amélia abriu a boca, tão espantada quanto eu com o rumo daquela conversa.

— Ora, encontram um lenço e isso basta como prova para prender uma jovem inocente? — Srta. Jones disse, começando a elevar seu tom de voz.

— Infelizmente suas iniciais estavam bordadas no tecido, conseguimos prendê-la antes que pensasse em fugir. — O general parecia satisfeito com toda a história, como se acabasse de desvendar o crime do século. Logo se levantou e serviu um copo de uísque para si, o que me pareceu um sinal de que estávamos dispensadas.

Isso era ridículo, Isabelle entendia sobre lutas e autodefesa, muito mais do que uma mulher deveria saber. Contudo, acreditar ela que seria capaz de matar uma pessoa, mesmo uma tão ruim quanto Dylan, era bobagem. Não a deixaria ter o fim de sua vida em uma cela qualquer, encontraria minha amiga a qualquer custo.

Pedi licença aos dois, disse que o ambiente estava um pouco abafado e iria sair para pegar um pouco de ar fresco. Srta. Jones me encarou com certa desconfiança, mas logo continuou a enrolar o General, notando minha mentira. Não conseguiria ficar parada, sabendo que Belle estava em algum lugar daquele posto, triste e sozinha.

Segui pelo corredor, o ambiente escuro não era aconchegante, e certamente precisava de uma boa limpeza. Continuei caminhando, até chegar a uma sala com diversas celas. Isabelle precisava estar ali. — Desculpe Senhorita, você não devia estar aqui. — Um homem se levantou rapidamente, me fazendo notar sua mesa encostada na parede.

— Oh, perdoe-me — disse, fazendo o tom de voz mais meigo que pude — creio que esses corredores sejam todos parecidos, estava procurando a saída.

— É só seguir para a outra direção, vire a esquerda no final. — Apontou para o mesmo lugar onde eu havia entrado. Precisaria juntar todos os meus esforços para conseguir ao menos conversar com minha amiga.

— Obrigada, você é muito gentil. — Dei meia volta, pronta para dar o primeiro passo quando uma ideia brilhante me veio a mente. Fingi me desequilibrar e soltei um gemido de dor.

— O que houve? Está tudo bem? — O guarda perguntou, virando-se para me segurar na mesma hora.

— Acho que torci o tornozelo, não deve ser nada demais. — Dei um passo a frente e soltei outro gemido, dessa vez um pouco mais alto. O rapaz se negou a me deixar ir, fazendo-me sentar na única cadeira que havia no ambiente.

— Fique aqui, vou buscar um pano quente e ver se encontro um médico. — Assenti, sem deixar de falar o quanto ele era gentil. Uma vez que tive certeza de que estava sozinha, passei a mão na chave presa à parede e corri para a fileira de celas.

Todas pareciam estar vazias, caminhei pela sala mal iluminada rapidamente, já estava perdendo as esperanças de que haveria sequer alguém por ali, quando ouvi uma voz familiar. — Helene! — Isabelle se agarrou nas barras de ferro, encostando seu rosto vermelho e inchado de tanto chorar entre elas. — O que faz aqui? Pensei que nunca mais a veria!

— Não podemos conversar, precisamos ser rápidas. Tudo bem? — Belle assentiu com a cabeça, enquanto eu remexia o molho de chaves a procura da que se encaixaria perfeitamente. Os passos ecoavam cada vez mais altos e, justo quando pensei que seria pega no flagra, a voz grave do General chegou aos meus ouvidos.

— Srta. Amélia, se não partir agora mesmo precisei chamar o seu pai! — Gritou, parecendo cansado de toda aquela cena. — Harrison, acompanhe essa jovem para a saída.

Pude ouvir os passos se afastarem, ficando mais distantes. Era a minha hora de agir, girei o cadeado, tentando ao máximo ignorar a tremedeira que o nervosismo estava causando. Isabelle me envolveu em um abraço apertado, falando o quanto estava grata por eu estar ali, mas a verdade era que ela ainda não se encontrava em segurança.

— Srta. Jones me trouxe até aqui, estava discutindo com o General até agora a pouco. — Falei, vendo seus olhos começarem a brilhar.

— Amélia está aqui? — Isabelle abriu um sorriso emocionado, mas não tínhamos tempo para conversas naquele momento.

— Sim, nem sequer pensou duas vezes. — Seus olhos marejados valiam mais do que qualquer palavra, segurei firme suas mãos, olhando a nossa volta afim de tentar encontrar uma saída segura.

O corredor por onde eu havia entrado não era uma opção, tudo o que nos restou fora a janela apertada ao nosso lado. Precisamos nos espremer o máximo possível para passar no pequeno espaço disponível, então, assim que vi que estávamos do lado de fora, respirei aliviada.

Isabelle não soltou minha mão em nenhum momento e, juntas, começamos a correr para nos salvar. De certo teríamos pouco tempo até que percebessem que uma de suas prisioneiras havia fugido.



Toda a cidade estava em alerta, não precisou de muito tempo até que o boato se espalhasse, fazendo com que cartazes aparecessem em toda esquina com os dizeres:

"ASSASSINA DA FLORESTA A SOLTA, QUALQUER INFORMAÇÃO AVISEM AOS GUARDAS"

— Ora, isso é ridículo! — Exclamei, enquanto permanecíamos escondidas nas margens da floresta densa. — Quem pode acreditar em uma mentira dessa?

— Lene, — Isabelle começou, com os olhos fechados e as mãos cerradas em punhos — eu sou culpada. Eu matei Dylan.

Esperei que começasse a rir, que me dissesse estar brincando, mas nada mais saiu de sua boca. Fiquei a encarando, sentindo todo o sangue do meu corpo parar de circular imediatamente, aquilo não podia ser verdade. Como eu acreditaria que minha melhor amiga, sempre tão sensata, havia cometido um crime como esse?

— Não... — foi só o que consegui falar — você não faria algo assim.

— Ele me atacou primeiro! — Ela gritou, levando as mãos até o rosto ao se lembrar de que precisávamos nos manter escondidas. — Estava cuidando da roupa quando Grace pediu para que eu colhesse algumas flores. Assim que entrei na mata, encontrei Dylan bêbado em plena luz do dia, ele começou a falar um monte, insinuando mil absurdos sobre mim.

— Independente de qualquer ofensa, você não tinha o direito de mata-lo Belle! — Exclamei, sentindo minhas bochechas arderem com o choro.

— Lene, eu não tive escolha! Ele sabia de tudo... — falou, sem esconder todo a culpa e arrependimento que a corroíam — fiquei parada ouvindo ele dizer um monte de mentiras sobre mim, e não me importava com nada daquilo. Contudo, quando disse que sabia sobre meu relacionamento com Amélia, eu não tive outra saída.

E então eu entendi, Isabelle precisou mata-lo para proteger àquela que amava. Não poderia julgá-la, pois eu seria capaz de qualquer coisa para proteger Charles. Como pude ser tão boba? Enquanto minha amiga estava bem diante de mim, enfrentando todo o mal necessário por Amélia, eu decidira partir, e começar uma vida sem aquele que me fez feliz esse tempo todo. Tinha muito o que aprender com Isabelle Thompson, foi o que aprendi naquele exato momento.

— Dylan disse que contaria tudo para o Sr. Jones. — ela estava aos prantos, respirando ofegante em pequenas goladas de ar. — Sabe o que acontece com pessoas como nós, Lene? O pai de Amélia não hesitaria em manda-la para um convento, ou até um sanatório. Eles prezam pela imagem acima de tudo, e eu não estava disposta a ficar assistindo a vida dela acabar.

— Belle, fique tranquila. — A envolvi em um abraço, já sentindo sua tristeza diminuir. — Eu faria o mesmo, você fez o que precisou para protegê-la.

Assim que esclarecemos todo o ocorrido, começamos a planejar o que faríamos. Quer dizer, permanecer naquela cidade não era mais uma opção, e seguir para trabalhar com a amiga de Grace também não serviria, porque Charles estivera certo esse tempo todo, nós ficaríamos juntos.

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