QUANDO COLOCO OS PÉS NO CHÃO SINTO QUE ME FALTA APOIO
Tonj Kroos| Madrid, Espanha ─ 01 de Dezembro, 2018.
Entrei no vestiário, exatamente no momento em que os meninos se preparavam para saírem para o aquecimento. Sérgio foi o primeiro a me notar, e parou o gesto de amarrar suas chuteiras.
─ Tudo bem, Kroos? ─ Questionou. Não tinha como estar, eu realmente queria jogar. O fato de Solari ter me deixado de fora, mesmo quando eu insisti que podia jogar, que queria jogar, havia me deixado realmente chateado.
─ Bom jogo. ─ Foi o que consegui dizer por mim. Asensio se aproximou, vestindo a camiseta. ─ Suave?
─ Você falando suave é que deixa tudo tenso. ─ Respondeu e riu: ─ Vai estar na arquibancada?
─ No banco é que não posso estar.
─ Foi mal, cara. O Solari acha melhor você não jogar dessa vez ─ Varane se aproximou falando, o francês sempre se esforçava demais. Merecia mais confiança. ─, e a gente meio que concorda. Você jogou praticamente todos os jogos até aqui. Tire um tempo.
─ Que gentil da sua parte, francês. Muito obrigado. ─ Virei as costas pronto para sair.
─ Sem deboche, Kroos. ─ Sérgio barrou minha passagem e travei o maxilar, me repreendendo: ─ Todo mundo sabe que você está puto. É um direito seu.
─ Se sabem não deviam gastar seu tempo com palavras de conforto, já que elas não funcionam.
─ A amizade faz isso, Kroos. A amizade.
─ Eu sei, é claro que sei. ─ E realmente sabia, mas não tinha que gostar. Bati no ombro do capitão em sinal de paz. ─ Bom jogo.
E sai.
Não tentei esconder de ninguém o fato de estar chateado com a decisão do professor. Mas era ele quem tomava essas decisões, a gente só acatava as ordens. Era o melhor para a equipe. Não para mim, que precisava ocupar minha mente.
Quando parei o carro na frente do café, nem sabia ao certo se seria possível entrar e sair sem fazer alarde. O jogo já havia acabado fazia umas duas horas, e o final foi 2×0 para o Real Madrid, em cima do Valencia. Gol do Vasquez e do Bale. Tinha sido um jogo bonito de se ver. O valência lutou até o final, o que tinha tornado um jogo bonito para se querer ganhar. Foi tentador assistir da arquibancada. Algumas vezes eu queria pular lá de cima e resolver as jogadas.
Mas só queria mesmo.
Coloquei a touca e sai tô carro implorando para que ninguém me reconhecesse no caminho até a porta. Asensio tinha me dado o endereço do café, com a desculpa de que se eu não comprasse a torta para Leon e Amelie, ele próprio apareceria na minha casa novamente. E eu o estava evitando.
Um sino tocou a cima da minha cabeça assim que passei pela porta. O encarei por alguns segundos, logo entrando no ambiente. O local estava vazio. Cogitei a idéia de ser engano o local estar aberto, mas logo a figura de um homem apareceu, vindo dos fundos.
─ Desculpa, senhor... ─ Chamei por ele, e o homem pareceu me notar só agora. Ele carregava algumas caixas e as pousou no balcão para poder olhar para mim.
─ Estamos fechados, rapaz.
─ Eu meio que já tinha notado. ─ Comentei sem jeito: ─ Silencioso demais.
─ Então pode se retirar. ─ Desdém era notável. Eu ri, ainda tentando soar tranquilo. ─ É algum investidor?
─ Sou consumidor. ─ Não era uma mentira. ─ Meu amigo já comprou aqui antes e me disse que só fechava as seis.
─ Hojes os outros funcionários saíram mais cedo.
─ Todo mundo merece um descanso.
─ Não quando é para assistir um jogo idiota. ─ Ele bufou, em seguida abriu uma das caixas, tirando alguns panfletos de dentro. ─ Você precisa de que mesmo, rapaz?
─ Eu não quero atrapalhar, não mesmo. Mas minha filha amou uns biscoitos de gengibres que meu amigo trouxe daqui.
─ Entendo.
─ Ela vem passar o dia comigo amanhã, então achei que seria justo. ─ Ele riu, e eu percebi as rugas em sua testa. Era um senhor que provavelmente já tinha abraçado a casa dos 50. ─ Realmente preciso dos biscoitos, senhor.
Ele assentiu, mas demorou para me dar uma resposta.
─ Me ajude com algumas caixas e eu te dou alguns biscoitos que sobraram.
─ Fechado. ─ Amelie ficaria feliz e eu não precisaria ver a cara do Asensio mais um dia na minha casa.
─ Então vamos lá para trás.
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─ Não acredito que eles fizeram isso comigo, logo hoje. ─ Reclamei, talvez pela décima vez enquanto dirigia pelas ruas nem tão movimentadas de Madrid.
─ Tem certeza que não tem problema você ir sozinha pegar aquelas caixas? ─ A voz de Claire soou através do aparelho de som do carro, enquanto mantinhamos uma chamada ativada.
─ Eu tinha até me animado. Deu para notar?
─ Eu podia ter ido com você, Lessye. O Real Madrid ganha com muita frequência. Eu podia comemorar outra Vitória.
─ Do que adiantaria você e eu no Porschen Cakes? ─ Questionei já bem irritada. ─ Eu ponho as caixas no carro e levo para casa. Fica tranquila.
─ Estou me sentindo mau.
─ Péssima hora para zombar de mim, Claire Alana Montgomery. ─ Alertei, ouvi a risada de Aaron se aproximando.
─ Cariño, você bem que podia voltar. ─ Aaron disse me encorajando: ─ Pega as caixas e vem para cá.
─ Não, obrigada. Mas divirtam-se. ─ Estacionei o carro na frente da loja, logo atrás de um Porche Azul marinho. O brilho do carro tintilhava de belo, e foi inevitável não ficar de boca aberta. ─ Acho que Mourinho trocou de carro.
Não, claro que não era o carro de Mourinho, mas a piada saiu assim mesmo. Ninguém riu, inclusive.
─ O que disse? ─ Claire questionou.
─ Nada. Esquece. Divirtam-se, o Real ganhou a final de contas.
─ Sinto muito que não tenha conseguido a camiseta autografada para o Théo.
Eu também lamentava, a final tinha comprado ela as pressas na loja do Clube e tinha planos de tentar alguma assinatura. O que não aconteceu. Não conseguimos sequer chegar perto de nenhum deles, e ainda ganhei uma multa por mau estacionar meu carro.
Uma ova que estava mau estacionado!
─ Vou falar com Izzy sobre isso. Talvez ela me ajude. Até mais. Divirtam-se.
─ Tchau, amiga.
E desliguei. Sai do carro, não me preocupando em pegar minhas coisas. Apenas meu casaco, já que era impossível pisar do lado de fora sem um. Fechei a porta do carro e acionando o alarme, caminhei até o Porschen com as mãos afundadas no bolso.
Assim que entrei me deparei com uma cena, um tanto preocupante e surpreendente. Toni Kroos estava sentado na bancada, comendo um pedaço de torta, enquanto Mourinho estava com a cara enfiada em uma caixa. Logo reconheci o logo de Aunts Designer, e soube que eram meus convites.
─ Ah... oi. ─ Chamei a atenção para mim, e Toni parou o caminho de uma garfada até a boca, olhando para mim. Soltei a porta e ela bateu, soando o sino. ─ Que estranho essa cena.
─ Você está aqui. ─ Kroos disse ainda estático na cadeira. ─ Que estranho você estar aqui.
─ Nem tanto, eu trabalho aqui.
─ Como foi o jogo? ─ Maurinho perguntou. Olhei para Toni, depois para ele. Tudo bem que Maurinho não era o maior fã de esportes da vida, mas não perceber que Toni Kroos estava na frente dele era meio bizarro.
─ O Real ganhou. ─ Falei, Toni desviou o olhar voltando a comer sua torta. ─ O camisa oito nem entrou em campo.
─ Ele fez falta? ─ Maurinho questionou, Toni olhou diretamente para ele.
─ Pergunte a Claire da próxima vez que a ver. ─ Queria ignorar que Toni estava ali, mas a curiosidade não permitia: ─ O que você está fazendo aqui?
─ Comendo. ─ Nem me olhou. ─ Você trabalha aqui a muito tempo?
─ Vem cá, vocês se conhecem? ─ Maurinho veio entre nós.
─ Mais ou menos. ─ Respondi: ─ Trabalho aqui desde o início. Como estão os convites, Mou?
─ Estão ótimos. Preparada para mais uma temporada?
─ Semana de ano novo é muito incrível. Claire já está louca por causa de Barcelona. Todo ano ela fica.
─ Vocês vão a Barcelona? ─ Toni perguntou.
Não me perguntem o porquê, mas a cena da noite anterior no bar estava rodando em minha cabeça. Eu fui tão idiota falando aquelas baboseiras. Balancei a cabeça, me sentindo burra por beber e abrir a boca.
─ Coloquei as caixas no meu carro, deixo na sua casa amanhã, querida. ─ Maurinho dobrou o avental, colocando em cima do balcão. ─ Deixei apenas os convites para você.
─ Muito obrigada. Acho que foi maldoso trazerem tudo hoje, já que não tinha planos de me preocupar com isso.
─ Todo ano você arrasa, Alessandra. Esse ano não vai ser diferente. Eu tenho que ir, filha. Até mais. E até mais, jogador.
─ Até mais e é Lessye, não Alessandra.
Eu sorri. Então ele sabia quem Toni era. Mourinho passou por mim deixando um beijo em minha testa, e então saiu deixando Toni e eu lá.
─ Eu só vou terminar de comer e já estou indo.
─ Estou surpresa. ─ Sentei na cadeira vazia ao seu lado, deixando uma cadeira entre nós. ─ Como chegou aqui?
─ Asensio me indicou.
─ Marco Asensio nunca esteve aqui.
─ Ele me trouxe sacolas daqui na semana passada. Então sim, ele veio.
─ Eu me lembraria de ter atendido Marco Asensio.
─ Você por um acaso é a única funcionária daqui?
─ Não. Além de Maurinho, eu e Claire também trabalhamos aqui. As vezes nossos amigos também ajudam nos finais de semanas, mas nenhum deles manteria a boca fechada sobre Marco Asensio.
─ Que sutil a forma como você deu muita importância para o Marco, porém quando me viu disse que eu parecia um atendente do Starbucks. ─ Lembrar da cena me fez rir.
─ Feri o ego do jogador?
─ Se ele tiver um ego, você feriu. ─ O tom não foi nada gentil, o que só deixou o clima pesado. ─ Sempre fala assim com os jogadores que esbarram o seu caminho?
─ Claro, porque eu sempre esbarro com vários jogadores quando venho ao meu trabalho após uma Vitória incrível do time madrileño.
─ Debocha mesmo, você parece ser expert.
─ Ok. Não sou a melhor pessoa para fazer essa pergunta, mas eu quero fazer, então... tudo bem?
─ Sem álcool, sem resposta.
─ Para a sua sorte, eu tenho muito tempo. ─ levantei indo para os fundos e voltei com uma garrafa de vinho, fazendo o alemão sorrir. ─ Tempo e vinho. E aí, alemão... topa?
─ Com certeza.
─ Álcool abre a sua boca? ─ Perguntei pegando as taças.
─ A minha eu não sei, mas a sua com certeza.
─ Ah vamos esquecer, por favor. ─ Implorei, e ele riu, se juntando a mim.
─ Seu chefe não se importa de você beber aqui?
─ Minha chefe é mulher. E não, ela não se importa.
Enchi as taças me sentando novamente em meu lugar, e pensei que talvez não tenha sido tão ruim ser chamada até aqui. Toni era bonito, eu tinha que admitir. Mesmo que nunca tivesse parado para avaliar esse fato, eu podia dizer com clareza que sim. Estar aqui agora, vivenciando um clichê momentâneo como o de novamente beber com o alemão era muito irrealista.
E eu não sei o que era real mais.
─ Eu não sei seu nome.
─ Lessye, Lessye Anamarie.
─ Aquele senhor te chamou de Alessandra.
─ Isso não é da sua conta, não acha?
─ Um brinde a você ser tão ignorante. ─ Ergueu sua taça, e eu ri brindando.
─ Um brinde a algo que você já me ensinou em apenas dois encontros.
Encontro.... isso definitivamente não era um encontro.
Não mesmo.
✳✳✳
Boa noite, olha quem surgiu no fim de semana com capítulo atrasado de terça-feira.
Na maior cara de pau, inclusive.
Olha a felicidade da merengue que tem mais um mundial na conta para comemorar. Parabéns, equipe. Eu amo vocês.
❤🌻
Até o próximo.
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