Christian Charles:
Ela escapou. Simplesmente... passou pela porta e fugiu. Escuto quando Mário diz: Oi. Quem é você?
Que droga ele pensa que está fazendo?
— Mário, o que você está fazendo aqui? — cerro os punhos. Que merda!
— O que tá rolando? Sente fetiche por empregadas? — solta uma risada. — Ela deixou cair isso aqui.
Ele me entrega minha chave. Como ela consegui pegá-la sem que eu... Ah. Lembro que eu a deixei na jaqueta. Porcaria!
— Vamos. Me convida pra participar também!
— Não é nada disso que você está pensando, imbecil. — digo rápido. Depois acrescento: — E mesmo se fosse, eu não te convidaria.
— Se isso não é o que estou pensando, o que é, então?
Suspirei.
— Você não respondeu minha pergunta! — vociferei.
— É sexta-feira, cara! Quero dizer, acho que já é sábado. São... — consultou seu celular. — Duas e vinte. Vim te chamar para saírmos, beber um pouco. Mas parece que você tá bastante ocupado. — ergueu uma sobrancelha.
— Depois te conto melhor o que significa tudo isto — fiz um gesto com a cabeça para que ele me seguisse. — Vou procurá-la. Vigie eles para mim. — apontei para os quatro no chão. Por que será que ele não se surpreendeu?
— Quem são? — perguntou, enrugando a testa. — São aliados do Rodrigo? — o tom de sua voz, que antes estava divertido, ficou bastante irritado.
— Acha que eles têm cara de mafiosos? — franzo a testa.
— Não. — responde sorrindo.
Quando eu estava prestes a colocar o último pé para fora, ele pergunta:
— Tá me achando com cara de babá? Eu vim aqui te chamar pra curtir a noite de sexta, quero dizer, sábado, é noite de sábado ou manhã de sábado? Não importa. E você quer que eu cuide deles?
— Quero! — ameacei.
Ele os observou bem.
— Por que deu um tiro de raspão em cada um?
— Vai se foder com suas perguntas! Não ferre com tudo, tá legal? Ou eu mato você. — ele pareceu não acreditar. — Estou falando sério. Muito sério. — lancei meu último olhar de aviso para ele e o notei tenso.
Liguei a lanterna do celular para que fosse melhor de encontrá-la e comecei a correr. Ela já devia estar longe, mas não tanto.
Observei bem o caminho e vi que ela deixou um rastro por entre os matos pequenos que cresciam, além dos galhos das árvores quebrados no chão.
Se ela pensou em me enganar, seguiu para a direita ou a esquerda. O que é uma puta de uma péssima de ideia. Porque no lado direito tem um lago, e no outro... Ah, não. Espero que ela tenha ido para o lago ou seguido em linha reta.
Decido ir para o lugar mais perigoso que talvez ela tenha ido, torcendo para ela não estar lá.
Vou me aproximando, passando pelos troncos, até que encontro o buraco que divide um caminho do outro, ele não é muito estreito, e tem uns vinte metros de tamanho na horizontal.
Clareio dentro dele e a vejo desacordada. Puta que pariu! Por que ela tinha que vir logo para esse maldito lado? Eu não me lembrava de que o buraco era meio profundo também.
Fico pensando em uma maneira de tirá-la, mas estanco de repente. Meu intuito, desde o começo, foi me vingar. E lá estava ela. Quem sabe já estivesse morta. Eu não precisaria mais lidar com tudo isso, podia deixá-la lá. Minha vingança se cumpriu. Ela correu até aqui, poderia ter ido para qualquer lado, mas veio por este.
Mas e se eu a tirasse de lá e a mesma ainda estivesse viva? O que eu ia fazer? Continuar com o plano até matá-la?
Não. Ela não.
Que merda é essa que tô pensando? Já estava ficando maluco com a ideia de deixá-la ali para morrer. Então, agindo por impulso, volto para o meio do caminho. Eu sabia que tinha deixado uma corda pendurada em algum galho por ali.
Acho ela, e volto correndo para onde Violeta estava. Amarro a corda na árvore que supus ser a mais resistente dali e a seguro com as duas mãos, descendo. Quando meus pés encontram o chão, salto para cima dela, levando instintivamente minha mão até sua testa.
Havia um filete de sangue na mesma. Sacudi ela e a chamei. Verifiquei sua pulsação e parecia normal, porém ela não acordava.
— Que porra! — xinguei alto.
Coloquei ela em um dos meus ombros e subi com a mão livre, que não foi nada fácil.
Quando eu já estava a caminho com ela ainda apagada em meus braços, liguei para Mário.
— Mário, como está tudo aí?
— Tudo maravilhoso — respondeu. Quando percebeu que eu estava puto demais para suas gracinhas, decidiu falar, realmente sério:
— Eu não sei o que você pretendia dando tiros de raspão nessas pessoas. O sangramento foi muito — fez uma pausa. — Elas morreram.
— Você só pode estar brincando!
— Não. Não tô. Coloquei os corpos no porta-malas do meu carro. Posso me livrar deles, se quiser. Quer uma foto?
Uma gargalhada alta escapa da minha boca, por essa eu não esperava.
— Qual é a graça? — Mário pergunta.
— Nada. Livre-se deles, mas não agora. Preciso de sua ajuda como médico. Chame outros para a minha casa, peça para trazerem todo tipo de equipamentos que puderem.
— O que aconteceu?
— Ela caiu. Acho que bateu a cabeça.
— Ela quem? Ah, a garota vestida de empregada pela qual você tem fetiche. Entendi, mas não consigo acreditar! — exclamou. — Você, Christian Charles, está salvando uma pessoa, e não a matando! Olha, acho que foi você quem bateu a cabeça.
— Vá se foder! — ele ia falar mais alguma coisa, mas desliguei.
Talvez eu tenha mesmo batido a cabeça.
Quando cheguei, havia outros carros parados pertos do de Mário. Cogitei a ideia de ir ver os filhos da mãe amigos de Violeta pela última vez, mas deixei pra lá essa ideia.
— Rápido — surgiu Mário dizendo, estava com um jaleco branco e um estetoscópio ao redor do pescoço.
Muito profissional o infeliz. — Já tá tudo preparado... no seu quarto. Espero que não se importe.
— Me importo! — fiz uma cara feia.
Subimos e eu a deitei na cama que eles mesmos trouxeram, deixei os outros se aproximarem e saí de perto.
— Espera... Você arrombou a porta do meu quarto? — olhei para a fechadura e a vi destruida.
— É — deu de ombros. — Tava tudo trancado aqui.
Suspirei.
— Disse que ela bateu a cabeça? — pergunta Mário.
— Você tá com problema de Alzheimer?!
— Não. É que tô meio chapado. — me olhou, esperando que eu achasse alguma graça naquilo. — É brincadeira! Você tá muito estressado.
— ele colocou as luvas.
— De onde você tirou essa princesa? — ele perguntou. Não sei por que, mas não gostei disso.
— Um orfanato.
— Eu lembro que alguns meses atrás você me falou de um plano maluco de vingança. Era esse?
— É.
Contando com Mário, tinha sete médicos ao todo. Acho que era suficiente. Eles viram alguma coisa que não vi e trocaram olhares sugestivos.
— Charles, o que você fez com os peitos dela? — Mário perguntou espantado.
— Como é que é? — dois deles ficaram na minha frente. Protestei irritado. — Saiam da frente, caralho! Vocês não são transparentes! — vi Mário tirar um garfo de dentro do seu sutiã.
— Mas que diabos! Eu não fiz nada! — gritei e fiquei pensando como aquele garfo foi parar ali. Lembrei de suas mãos vermelhas e a porta destrancada. Então foi com isso que ela conseguiu. — Você não vai acreditar, mas ela destrancou uma porta com isso.
Mesmo com a máscara, pude ver ele que sorriu.
— Princesa esperta. O garfo causou um pequeno ferimento. Já coloquei um curativo.
Depois de um tempo (o suficiente para me deixar maluco e impaciente) eles terminam.
— O que ela tem?
— A queda afetou o cérebro dela. Está em coma.
Demorei alguns segundos para processar o que ele disse. Coma?!
— E por quanto tempo ela vai ficar assim? — pergunto.
Nós dois a olhamos ao mesmo tempo.
— Não há como saber. Talvez ela acorde. O estado dela é grave.
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Capítulo revisado. ✔