Chego tão atrasado no ônibus que é ridículo. Só me sobra lugar no primeiro banco, sozinho, longe da bagunça do fundão. Como se eu estivesse de castigo.
Lá do fundo do ônibus, Suárez me fuzila com o olhar. Coutinho me olha sorrindo, como se o meu atraso fosse só por conta dele. Se ele soubesse... Sem se importar com o caos que implantou em minha vida, Arthur aparentemente está cochilando, a cabeça encostada na janela e os olhos fechados ouvindo música.
Tomo meu lugar, sozinho nas poltronas da frente, e tento focar no jogo que está prestes a acontecer. Meu foco não dura quinze segundos. Me sinto culpado por ter "traído" Suárez duas vezes na mesma noite. Primeiro indo pra cama com Coutinho, sem ele junto, como sempre prometi que jamais faria. Depois, o beijo e o toque com Arthur, e todo o meu desejo que está além do que posso conter.
Respiro fundo. Olho para trás e Luis ainda está de olho em mim. Ele ajeita o pau por cima do calção, ainda olhando nos meus olhos. É uma provocação comum, só que aqui falta o sorriso desafiador que sempre vem junto dela. Estamos ambos sérios, medindo nossas forças. Percebendo que ninguém está reparando, ele aperta mais o calção, deixando evidente sua ereção. "Pra mim?", eu sibilo. Só então ele sorri. Minha culpa triplica, potencializada pelo desejo.
Eu deveria ter pensado melhor e não ter feito nada. Ou então, eu deveria agir de uma vez e acabar logo com isso.
São muitas coisas a se administrar aqui. Se eu não enlouquecer antes, quem sabe eu possa. Quem sabe eu consiga.