DIA 3
"A terceira vantagem de não se apaixonar e a que lhe manterá no controle: VOCÊ NÃO IRÁ INTERROMPER OS ESTUDOS PARA NAMORAR ."
Contava os minutos para o tempo passar. Estava na sala de casa olhando fixamente para o relógio na parede na tentativa que aquele meu ato fizesse com que as horas passassem mais rápido.
Papai chegaria dentro de meia hora e me levaria às sete horas da noite até a casa de Austin. Já havia separado o material necessário dentro da minha bolsa.
Dessa vez havia trocado a simples mochila que utilizara em sala de aula e enfiado o caderno e livros dentro de uma bolsa de ombro que havia recebido no meu aniversário de vovó Chloe.
— Seja você mesma. — Mamãe repetiu pela décima vez. — Ele gostara de você do jeito que é.
— Mãe! — Chamei a sua atenção. — Eu só estou indo o ajudar em química.
Mamãe sorriu de um jeito divertido e piscou para mim.
— Convenhamos que o seu coração está com expectativas, por mínimas que elas sejam. — Opinou.
— Claro que não. — Mentiu.
Mamãe tinha total razão. Meu coração apaixonado estava nas nuvens. Eu estava sonhando acordada desde que acordara pela manhã. Desde que Austin almoçou comigo pelo segundo dia consecutivo.
No caso de hoje, eu já não me incomodara tanto com os olhares curiosos. Nem com o fato de dois dos seus amigos terem se sentado conosco porque queriam falar sobre basquete.
Foi um tanto estranho aquela recepção calorosa de Mark e John, como se já me conhecessem e fizessem parte da minha vida a tempos.
Quando papai chegou, com um pouco de pressa para assistir um filme que passaria na televisão, recebi um olhar acusador quando lembrei-o que teria que me levar até a casa de Austin.
— Sua mãe não pode levá-la? — Insistiu mais uma vez.
— Ela está em seu momento de inspiração, sabe que não podemos retirá-la de seus livros. — Respondi como se fosse óbvio.
Era óbvio. Papai sabia o quão importante eram esses momentos e entendia que tínhamos que deixá-la em paz nesses momentos. Afinal mamãe vivia disso.
Cheguei dez minutos atrasada na casa de Austin. Quem me recebeu na verdade fora uma senhora muito educada e sorridente chamada Lena.
— Boa noite senhorita, entre por favor. — Pediu, dando espaço para que eu adentrasse sua casa.
Papai havia me feito prometer que caso alguma coisa acontecesse eu ligaria o mais rápido possível ou até mesmo chamaria a polícia.
Ri de seu desespero em algo tão natural, principalmente por ele conhecer os pais de Austin mesmo que de vista.
— Austin está a esperando na sala. — Mostrou, guiando-me até um cômodo enorme e aberto.
Austin estava sentado em uma mesa e haviam alguns livros distribuídos sobre ela, assim como seu caderno e alguns lápis.
— Oi. — Saudei, sentando-me ao seu lado.
— Que bom que chegou. — Sorriu, desligando a televisão que até então estava ligada.
— Me atrasei um pouco por conta do meu pai. — Expliquei.
Retirei o meu material e os coloquei na mesa. Olhei atenta para ele que parecia estar um pouco distraído pelo celular.
— Seria interessante deixá-lo de lado agora, para que você consiga entender melhor. — Sugeri e o vi colocá-lo em modo silencioso.
A medida que eu iniciava uma introdução do assunto que estávamos tendo em sala de aula e explicando os termos mais importantes da matéria, Austin fazia algumas caretas e expressões estranhas.
O problema que esse estranho era algo bom. Algo fofo que fazia meu coração acelerar. Apesar de nunca ter beijado alguém, naquele momento minha boca estava se enchendo de saliva e a vontade estava aumentando cada vez mais.
Juntar nossos lábios passaria a ser uma necessidade. Por isso resolvi não olhá-lo mais nos olhos.
— Gostei do seu cabelo assim. — Opinou.
Ele deveria estar prestando atenção no que eu estava dizendo e não no meu cabelo. Provavelmente Austin havia notado meu cabelo por mamãe ter feito uma trança, para tentar amenizar a confusão e bagunça que estava.
Provavelmente eu estava precisando de uma hidratação, apenas para conter a armação.
Sorri com seu comentário e voltei ao foco principal que era ensinar química.
— Acho que por hoje você já aprendeu bastante coisa. — Afirmei. — Vou deixar essa lista para você fazer e treinar o que aprendeu hoje. — Mostrei.
Enquanto esperava o tempo passar em casa, criei uma lista com dez questões para que ele desenvolvesse e estudasse. Eram questões fáceis e para iniciantes com o básico.
Austin encarou a folha de papel que eu havia lhe dado e rapidamente passou os olhos correndo pelas linhas.
— Pode me entregar na segunda-feira. — Falei. — Terá o final de semana inteiro para fazer.
Ele balançou a cabeça em concordância.
— Fiz um lanche para vocês. — Lena adentrou a sala e depositou no outro lado da mesa dois pães e dois copos do que parecia-me ser achocolatado.
— Obrigada. — Agradeci sentindo minhas bochechas arderem.
Austin e eu trocamos de lugar e fomos lanchar. Ambos em silêncio. Aquilo com certeza seria estranho e eu teria que me acostumar com pelo menos algumas situações parecidas nas quintas-feiras.
Enquanto comia o sanduíche com queijo quente que ela havia preparado, enviei uma mensagem para papai pedindo para que me buscasse.
— Seus pais não estão em casa? — Perguntei curiosa.
— Eles foram viajar para Amsterdã. — Respondeu. — Pela empresa.
— E você fica sozinho? — Achava tudo aquilo muito estranho.
Não sei se meus pais me deixariam o tempo todo sozinha em casa.
— Lena mora aqui conosco. — Contou. — Ela cuida de mim.
Sorri com a maneira que soou a forma como disse aquela frase. Retirei os pratos da mesa e recebi um comentário de reprovação por estar retirando as coisas da mesa e as levando para a cozinha.
— Não era necessário. — Lena falou. — Eu sou paga para isso. — Falou de uma forma gentil.
— Não me importo em ajudá-la. — Expliquei. — Sempre faço isso em casa.
Austin veio para a cozinha me avisar que papai estava me esperando na porta de sua casa. Sorri envergonhada com a ideia de papai ter ido até ali apenas para conhecê-lo.
Guardei todos os meus materiais dentro da mochila e ele me acompanhou até a porta.
— Até amanhã, e obrigado por estar me ajudando. — Agradeceu, retirando de seu bolso cinquenta dólares e me entregando.
— Obrigada. — Agradeci pelo valor.
Papai acenou se despedindo do garoto e adentramos seu carro.