Simply Happens [H.S]

By gabriela231d

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Ela, uma menina ofuscada pelo próprio medo de se mostrar as pessoas. Sendo muito difícil conseguir desifrar... More

1°- Capítulo.
2°- capítulo.
3°- capítulo.
4°- capítulo
5° - capítulo
6°- capítulo
7°- capítulo
8°- capítulo
9°- capítulo
10°- capítulo
11°- capítulo.
12°- capítulo
14°- capítulo.
13°- capítulo.
15°- capítulo.
16°- capítulo
17°- capítulo.
18°- capítulo.
19- capítulo.
20°- capítulo.
21°- capítulo.
22°- capítulo.
23°- capítulo.
24°- capítulo.
25°- capítulo.
26°- capítulo.
27°- capítulo.
28°- capítulo.
29°- capítulo.
30°- capítulo.
31°- capítulo.
32°- capítulo.
33°- capítulo.
34°- capítulo.
35°- capítulo.
36°- capítulo.
37°- capítulo.
38°- capítulo.
39°- capítulo.
40°- capítulo
41°- capítulo.
42°- capítulo.
43°- capítulo.
44°- capítulo.
45°- capítulo.
46°- capítulo.
47°- capítulo.
48°- capítulo
49°- capítulo.
50°- capítulo.
51°- capítulo.
52°- capítulo.
53°- capítulo.
54°- capítulo.
55°- capítulo.
56°- capítulo.
57°- capítulo.
58°- capítulo.
59°- capítulo.
60°- capítulo.
61°- capítulo.
62°- capítulo.
63°- capítulo.
64°- capítulo.
65°- capítulo.
66°- capítulo.
67°- capítulo.
68°- capítulo.
69°- capítulo.
70°- capítulo.
72°- capítulo.
73°- capítulo.
74°- capítulo.
75°- capítulo.
76°- capítulo.
77°- capítulo.
78°- capítulo.
79°- capítulo
Fim.
Agradecimentos e recadinhos.
Epílogo.
Wedding And Party ( capítulo bônus)

71°- capítulo.

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By gabriela231d

- Então... Como se sente nessa segunda consulta? Menos nervosa?

- Um pouco... Ainda me sinto patética por estar precisando disso para ser honesta, mas acho que com o tempo vou me acostumar.

- Você não tem que se acostumar, querida, tem que aceitar. Para isso dar certo, precisa saber que tudo depende de você. A aceitação de como você é, e de tudo que aconteceu ou acontece na sua vida. Você precisa se conhecer e, principalmente se aceitar, do jeitinho que é. - Dra. Collins sorriu amavelmente, com seu olhar atencioso sobre mim.

Os portas retratos ainda se destacavam em sua estante, com diferentes rostos que pareciam ser importantes para ela, os quadros exóticos também mantiveram seus lugares nas paredes da sala, como na última vez que estive aqui, e a janela estava entreaberta, deixando o ar fresco adentrar a sala. Ainda não me sentia completamente confortável aqui, mas já era um pouquinho mais familiar do que a primeira vez.

A imagem da mulher modesta, sentada em uma cadeira giratória, com um caderno sobre o colo e uma caneta entre os dedos já não era tão intimidante como a primeira vez.

Mesmo que isso mudasse toda a vez em que ela colocava os olhos em mim e me encarava tão intensamente que me fazia suspeitar que ela já soubesse o que eu iria dizer antes mesmo que dissesse. Ela era de fato perfeita para o cargo que exercia, pois de uma forma ou outra, sentia que só poderia dizer a verdade.

- Eu sei. E eu estou tentando, eu juro.

- Sei disso, querida. - sorriu. - Estou mesmo contente em tê-la de volta aqui. Fico feliz em ver que não mudou de ideia e que pensamentos negativos não te fizeram desistir. Esse é um grande passo, tão corajoso quanto ter a iniciativa de buscar ajuda. Sinta-se orgulhosa.

- Estou me sentindo, acredite.

- Ok. Então podemos começar agora. Como tem sido essas últimas semanas? Como tem se sentindo?

- Hm... Eu não sei muito bem... Não acho que teve muita mudança.

- É? E por que acha isso?

- Não sei... Eu não sinto que melhorei, porque meus problemas ainda estão aqui, sabe. Tem vezes que os pensamentos negativos me absorvem, as crises surgem e vão ficando cada vez mais cansativas. - suspirei, sentindo como se carregasse o peso do mundo em meus ombros. - Eu ainda tenho dificuldade em me comunicar, e em qualquer coisa que peça mais de mim. Ainda continuo me escondendo. - minha voz soou baixa e desanimada.

- Olha, tudo bem se sentir assim, ok? Esta é recém a sua segunda consulta. Problemas como os seus são difíceis de serem superados mesmo, mas isso não quer dizer que você não consegue. Você consegue, basta querer.

- Eu sei, e eu quero. Quero muito, mas... - engoli em seco, tentando ignorar a vergonha aguda que sentia por falar sobre como me sinto para uma mulher que eu vi somente uma vez na vida. - Mas é difícil, sabe... É exaustivo para mim precisar disso porque parece que nada vai mudar, independente do que eu faça. Parece que os problemas me seguem, que eu estou destinada a ser um fardo e... Eu estou cansada.

Me encolhi ainda mais no pequeno sofá escuro, evitando o olhar incansável da mulher sobre mim.

- Escute, por favor, eu entendo você. Não é a primeira e provavelmente não será a última a entrar aqui desacreditada de que estar aqui irá mudar alguma coisa. Eu sei disso, mas tente confiar em mim. Se abra, deixe-me te conhecer. Prometo dar-lhe resultados mas para isso, você precisa acreditar.

Eu sabia disso, sabia que eu não deveria desistir agora mas eu apenas estava sobrecarregada. Pensei que se eu deixasse isso de lado, tudo de lado eu pudesse melhorar sozinha, tentar algo com menos pressão, mas isso não era verdade. Eu quem mais me pressionava do que qualquer outra pessoa, e se eu realmente quisesse que isso funcionasse, precisava ajudá-la a me ajudar.

O único problema era que hoje não estava sendo um bom dia para mim.

- Posso contar com você, então? - Dra. Collins procurou meus olhos, como sempre, e eu deixei que ela os achasse hoje. Assenti à ela, que sorriu levemente de volta. - Ótimo. Então me deixei saber o que há de errado. Me conte.

- É que, basicamente, - engoli em seco, desviando o olhar para o meu colo. - Meu pai está saindo de casa hoje.

- Hm. E houve algo por trás dessa decisão?

- Hm... Sim. - minhas bochechas arderam em vergonha. - Minha mãe pediu o divórcio, porque... Bem, porque ele fez algo que a magoou. Ela não conseguiu perdoa-lo e agora quer que ele vá embora de casa.

- Entendo. E você não está conseguindo lidar bem com isso, não é?

- Não. Eu sabia que algo assim poderia acontecer, mas mesmo assim não imaginava que seria assim, tão difícil. Eu me preocupo em como as coisas vão ficar agora, com as consequências disso. Ver os dois separados é no mínimo, estranho.

Dra. Collins assentiu, o que eu entendi como um incentivo para continuar falando.

- Eu só estou triste por eles. Meu pai e eu quase não conversamos morando sob o mesmo teto, não consigo imaginar que isso melhore com ele longe.

- E eles já conversaram com você sobre isso?

- Mais ou menos. Foi tudo muito rápido.

- E por que não tenta fazer isso? Sentar e conversar, ouvir os dois lados.

- Você acha que eu deveria?

- Isso não é sobre mim, Bella, é sobre você e sobre o que você quer. Lembre-se, a confiança em você e nos seus atos é a chave disso.

- Eu sei. Eu só não sei se consigo conversar com os dois, juntos. Para falar a verdade, isso nunca aconteceu.

- Não precisa ser com os dois juntos. Mas apenas tente ouvir os dois. Talvez seja a hora de se abrir com eles.

- Eu não sei... Não sei se consigo fazer isso agora.

- Ok, quando se sentir pronta então. Apenas não tente fugir disso, porque ser honesta com seus pais pode ser um grande passo para você.

Assenti, sabendo que ela estava certa. Tenho carregado o peso disso sozinha por muito tempo, tenho me escondido e sofrido sozinha desde sempre, e não acho que seria certo continuar assim. Apenas o fato dessa separação, e da mágoa que ainda sinto pelo meu pai ter fodido tudo me fazem hesitar um pouco de fazer isso agora. Estamos todos muito despreparados.

- Você falou sobre crises, isso tem acontecido muito com você ultimamente? - Dra. Collins chamou minha atenção de volta para a consulta. Ela escrevia em seu caderno enquanto esperava minha resposta.

- Oh, sim. Hm... Não lembro se cheguei a falar sobre isso na primeira consulta, mas às vezes tenho crises de pânico, algumas crises existenciais e todos esses tipos de coisas que minha cabeça gosta de fazer comigo. Menosprezar, e etc.

- Hm.. E isso aconteceu muito nessas últimas semanas?

- Poucas vezes, menores do que antes mas sim, aconteceu.

- E algo tem que acontecer para que isso surgir?

- Não exatamente... Eu.. Eu acho que apenas quando estou lembrando de algumas coisas, eu começo a pensar no que eu poderia ter feito de diferente, ou no quanto estranha eu fui, então tudo começa a acontecer. As crises de pânico são mais quando eu estou nervosa, ansiosa com algo, quando por exemplo eu tenho que atender alguém no meu trabalho, ou simplesmente comprar algo sozinha.

Dra. Collins assentiu, escrevendo alguma coisa no seu caderninho. Não iria dizer, mas seu silêncio estava me deixando nervosa. Gostava quando ela estava falando, e me lembrando que eu tinha solução.

- Hm... Isso pode mudar, não é? Eu posso fazer algo para que isso pare? - perguntei, deixando meu nervosismo transparecer mais que o pretendido.

Ela ergueu o olhar para mim no mesmo momento, encarando-me firmemente sem dizer uma palavra, e aumentando o medo em mim com isso.

- Escute, Bella, nada é impossível de ser revertido, se existir força de vontade. Como eu disse, é um processo de passos lentos mesmo, e eu garanto que você irá passar por mais crises assim durante isso, mas também garanto que um dia isso se tornará raro. Levará algum tempo, mas continuaremos lutando aqui para mudar isso, então sim, se você quiser, isso pode parar.

Respirei fundo, enquanto assentia, entendendo tudo que ela disse. Dra. Collins sorriu, parecendo saber o efeito das suas palavras em mim.

- E bom, para ser mais clara, você também precisa fazer aquilo que combinamos na primeira consulta. Lembra?

- Oh, sim. E eu estou. Como você pode ver, meus cabelos mudaram um pouco. - ela sorriu, assentindo. - Isso me tirou bastante coragem.

- Eu vejo. E é assim mesmo. Continue assim, Bella. Confie em você como confia em quem ama.

Sorri, assentindo e agradecendo-a.
Dra. Collins me acompanhou até a porta assim que a consulta terminou, como na primeira vez. Apertou minha mão, e sorriu para mim depois de dizer que estará me esperando para a próxima consulta.

Assim que eu saí do edifício, caminhei duas quadras para pegar um ônibus, e ir para o meu trabalho. Faltava quinze minutos para à uma da tarde quando eu cheguei em frente ao Coffee Break, rezando para que meu atraso tenha sido irrelevante. Quando entrei, senti-me agradecida por não estar muito cheio, e fiz meu caminho até o balcão, onde somente Courtney estava.

- Desculpa pelo atraso, Courtney. Não queria ter demorado tanto tempo. - pedi, assim que dei a volta no balcão e cheguei perto dela.

- Não esquenta, Cooper. - assegurou.

Courtney não virou a cabeça para mim exatamente, pois estava atendendo um senhor que aparentemente comprava dois copos de café. Após o senhor pagar e ir embora, ela se virou para mim, e apoiou-se com os cotovelos no balcão, suspirando prolongadamente e fechando os olhos.

- Estou exausta. - murmurou, soando de fato.

- Onde está o Adam? - perguntei e em seguida peguei meu avental e touca nas prateleiras abaixo. Não queria prende-la por mais tempo.

- Na sala do Steve, com ele e o novato.

Deixei a touca sobre o balcão, enquanto colocava o avental e amarrava-o em minha cintura, encarando Courtney confusa.

- Novato? Pensei que eu fosse a única novata aqui.

- Você já está a quase três meses aqui. - balancei os ombros, como se dissesse que não tem nada a ver. Ela revirou os olhos, desta vez mais afetuosamente do que quando nos conhecemos, e endireitou a postura, tirando seu avental. - Steve contratou um carinha aí, porque quer dar uma de bom noivo e aliviar pro Adam. Bem, estava sendo puxado mesmo pra ele, mesmo com a nossa ajuda.

- Oh, sim.

Era verdade. Adam não trocava de turno como Courtney e eu. Ele ficava direto, mesmo que eu particularmente brigava para deixar o trabalho mais pesado comigo. É merecido ter mais ajuda.

- Isso é ótimo. Adam merece um descanso mesmo. - Courtney assentiu, jogando seu avental de qualquer jeito na prateleira, junto a touca. Ela sempre fazia isso. - Você já o conheceu então?

- Yeah. Ele é aquele tipo de cara todo certinho e engomadinho. - ela fez uma careta, e eu revirei os olhos, divertidamente. - Dá até para dizer que combina com você.

Desta vez, foi eu quem fiz uma careta. Courtney abriu um meio sorriso, colocando as mãos nos quadris e mexendo os ombros sugestivamente pra mim.

- Você está andando muito com o Adam. 

- Só estou dizendo...- dei risada da sua expressão de falsa inocência enquanto colocava a touca e amarrava-a.

- Se eu não te conhecesse, diria que é você quem está de olho nele. Afinal, como ele se chama?

- Will. William Harris para ser mais exato. - a porta atrás de Courtney se abriu e Adam saiu de lá, sorrindo para mim. Ele se pôs ao lado dela, e cruzou os braços. - E sim, ela está de olho nele porque ele é um gato.

- Ah mas nem fudendo. - Courtney soltou uma risada forçada.

- Viu, ela adora se fazer de difícil. - Adam estava se divertindo com isso e o sorriso perverso em seus lábios provavam isso. Ele adorava pegar no pé dela.

Os dois viviam como gato e rato mas a amizade era sincera e verdadeira entre eles. Não dava para negar.

- Olha, eu vou embora porque a minha hora já deu, tá legal? - Courtney pegou sua bolsa, e pôs a alça sobre o ombro, encarando Adam e eu em seguida. - Fui!

- Não se preocupe, eu peguei o número dele pra você. - Adam provocou, enquanto ela dava a volta no balcão e caminhava até a saída, mostrando-lhe o dedo do meio sem se importar com as poucas pessoas na cafeteria. Assim que ela saiu, Adam e eu rimos juntos. - Ah, ela odeia quando eu faço isso. - riu de novo, e me encarou em seguida, tocando meu cabelo com as pontas dos dedos. - Eu já disse que amei esse cabelo?

- Acho que só umas dez vezes. - rimos. - E então quer dizer que vamos ter mais ajuda?

- É, Steve estava todo preocupado comigo por estar trabalhando muito. Então decidimos contratar mais alguém.

- E cadê ele?

- Já foi. Steve acertou tudo com ele, e ele começa amanhã, no turno da manhã. Sim, com a Courtney. - sorriu.

- Fez isso de propósito, não fez?

- O quê? Não. Ele quem pediu para ficar no turno da manhã. - deu de ombros e eu semicerrei os olhos.- É sério, Bella. - ele riu, e eu ri junto.

- Tá, tudo bem. Hm.. Como está o movimento hoje?

Dei alguns passos até chegar perto o suficiente de um espelhinho pendurado na parede, ajeitando minha touca para que não fique torta. Tentei me concentrar somente em esconder meu cabelo dentro da touca, mas as olheiras leves mas ainda sim perceptíveis abaixo dos meus olhos ganharam minha atenção por alguns segundos.

Isso me fez lembrar que não tenho tido uma noite boa de sono há muito tempo. Mesmo.

- Calmo. Acho que é porque hoje está mais abafado do que normalmente.

A voz de Adam me fez parar de encarar meu rosto repleto de marcas de como tem sido os últimos dias, e me fez terminar de ajeitar minha touca, rapidamente. Limpei a garganta, e suspirei baixinho antes de me virar, forçando um sorriso à Adam.

- Legal. Acho que vou atender as mesas hoje, assim você descansa um pouco. - propus.

- Não precisa fazer isso, eu gosto de atender as mesas. Você sabe atender as pessoas muito bem aqui, no balcão.

- Mas Adam...-

- Nada disso. Não tenta dar uma de Steve pra cima de mim. - fez cara feia, e eu dei risada, assentindo e suspirando em derrota. - Além do mais, você quem parece abatida aqui, não eu.

- Pareço? - Adam assentiu, com o olhar preocupado e eu imediatamente desviei o olhar, envergonhada.

- Quer me dizer o que foi?

- Não é nada demais. Só não consegui dormir muito bem. - encolhi os ombros, e observei uma mulher se aproximar do balcão.

Digitalizei o preço de dois Milkshakes e agradeci-a assim que ela pagou pelo os mesmos, sem dar qualquer sorriso ou gesto educado. Uma das coisas que aprendi a lidar; a falta de educação de algumas pessoas.

Sobraram somente quatro pessoas na cafeteria, com a saída da mulher sem educação e eu não pude resistir em agradecer a isso. Quando olhei para o lado, Adam ainda me encarava de um jeito estranho, sem falar qualquer palavra.

- Adam, o que foi?

- Não era hoje que você tinha sua segunda consulta?

Sim, cheguei a contar à Adam sobre as consultas, mesmo não desejando ter feito. Minha cabeça no dia estava tão enevoada, que eu precisava por algo para fora, e enquanto eu conversava com ele sobre como me sentia esgotada, a história das consultas e dos meus problemas praticamente pularam da minha boca sem a minha permissão.

Adam por outro lado não fez nada mais do que segurar minha mão assim que desabafei com ele e sorrir para mim, sem palavras falsas e desonestas. Mas foi o suficiente para mim. No entanto eu não esperava que ele iria tocar nesse assunto agora, como eu pedi para ele fazê-lo.

- Sim, mas o que isso tem a ver agora?

- Só estou perguntando. Pensei que pudesse ser por isso que está abatida assim.

- Não. Eu estou bem. A consulta não tem nada a ver com minha falta de sono.

- E o que tem então? O Harry? - franziu o cenho. Algo em sua íris azuis me diziam que ele esperava que eu concordasse.

- Não. Não desta vez. - suspirei, e apoiei meus antebraços sobre o balcão. - Acho que meu pai tem conseguido fazer isso melhor que ele.

- Você quer dizer o babaca que traiu sua mãe.

- Ele ainda é meu pai, Adam.

- Eu sei, mas isso não faz dele menos babaca.

- É, eu sei. - murmurei, brincando com meus dedos. - Ele está saindo de casa hoje.

- Oh, meu Deus. Eu sinto muito. - Adam se aproximou de mim, e afagou meu ombro, carinhosamente. - Como soube disso?

- Minha mãe falou ontem, na hora da janta. - Bem, foi basicamente só isso que ela falou mesmo, no jantar inteiro, antes de se levar e ir para o quarto. O único som existente antes disso era apenas o tilintar dos talheres e era uma verdadeira tortura, por isso não consegui condenar Mary por ter saído da mesa e ido para o quarto, no meio do jantar.

O único problema real nisso foi ter que conta-la mais tarde sobre o divórcio. Ela ficou mais do que chateada, por isso tive que ligar para o Michael e pedir para ele cuidar dela ontem, porque sabia que somente ele conseguia acalma-la.

- Nossa. Eu nem sei o que dizer, Bella. - Adam parecia perdido no que dizer, e isso para alguém como ele só me mostrava o quanto isso era difícil, realmente.

- Você não precisa se preocupar, Adam. Sério. Eu vou ficar bem. Só está muito recente ainda.

- O problema é que eu não consigo não me preocupar. Eu sei que ele é teu pai, mas se eu bater só um pouquinho nele, não iria te fazer sentir melhor? - acabei rindo, antes de me virar para ele e pousar minhas mãos sobre seus ombros.

- Acredite, se isso fosse me fazer bem, eu não seria mais eu mesma. - bati de leve em seus ombros antes de solta-lo. - Só preciso de um tempo. Um tempo e bastante trabalho.

- Foi isso que a doutora lá falou pra você fazer?

- Não, mas ela disse para mim confiar nas minhas decisões, então vou fazer isso. A conversa com meu pai pode ser adiada, até eu conseguir olhar na cara dele de novo.

- Então, tá. Mas se você quiser, eu conheço um carinha que faria você esquecer disso em dois tempos.

- Adam, eu já disse.. -

- Espera, deixa eu terminar. - suspirei, cruzando os braços e aguardando. - O nome dele é Sr. Vodka e ele é tiro em queda. - sorriu.

- Eu não bebo.

- Ainda. - Eu franzi o cenho. - Não querendo ser o amigo que leva para o mal caminho, mas podemos ir no pub da esquina assim que fecharmos a cafeteria. Acho que como hoje está calmo, posso convencer o Steve a fechar mais cedo. O que me diz uh?

- Você realmente não é uma companhia aconselhável.

Adam riu, e deu de ombros.

- Se isso for te fazer bem como eu acho que vai, aceito ser um mau amigo hoje.

                              ***

- Tinha me esquecido o quanto isso é forte, céus. - murmurei, assim que o líquido incolor desceu queimando minha garganta, mais uma vez.

- Não era você que não bebia? - Adam virou o rosto para mim, suspeitoso. Encolhi os ombros.

O braço de Steve mantinha-se ao redor da cintura dele, mantendo-o perto dele, mesmo ambos estando sentados em cadeiras um ao lado do outro. Essa necessidade de proximidade me lembrava o Harry e a forma como de um jeito ou outro, ele estava sempre me tocando e querendo estar perto de mim. Sempre.

Depois de quatro copos de vodka pura, minha cabeça já não parecia funcionar da mesma forma. Estava tudo lento, lento demais, a forma como as palavras saiam dos meus lábios até como a música de fundo soava nos meus ouvidos. E não era uma coisa ruim, porque se sentir anestesiado, como eu me sentia era no mínimo bem-vindo.

O bar não estava cheio, e isso fazia eu me sentir um pouquinho mais confortável, mesmo que com o álcool em minhas veias tenha feito tudo isso ficar em segundo plano para mim. Me sinto em qualquer lugar agora, menos aqui, com Adam e Steve, após um dia normal de trabalho, faltando pouco para chegar às dez horas da noite.

Minha mãe já está acostumada com meus horários, mas apenas tenho que me preocupar em não ficar mais bêbada do provavelmente já estou até sairmos daqui, mesmo que algo me faça acreditar que ela nem sequer se preocupa se estou em casa ou não, se estou bêbada ou não, ou com qualquer porcaria que acontecesse comigo agora. Ela provavelmente deve estar chorando, por causa dele.

Eu provavelmente não deveria estar pensando assim, mas parece que o álcool explora o meu lado mais crítico.

Estar em um bar qualquer, quarta-feira à noite com meus patrões-amigos nunca me passou pela cabeça antes. E se eu não estivesse bêbada agora estaria fazendo uma careta só com a idéia, mas invés disso me encontro rindo sozinha.

- Qual a graça, Bella? - ouvi Steve perguntar, com sua voz grave e sóbria. Entre os três ele foi o único que não bebeu, e me encontro aliviada por isso. Saber que um de nós não estaria bêbado me fez beber com um pouquinho menos de culpa.

- Você não está vendo, Ste? Ela está bêbada. Bêbados riem sem motivos. Você deveria experimentar. - Adam inclinou a cabeça para trás, engolindo o álcool do seu copo rapidamente, após sorrir sugestivo para o seu noivo.

- Você sabe que eu não bebo, Adam. Não sem motivos.

- Bem, ela tem motivos. - Adam piscou o olho para mim, e eu abanei a cabeça, terminando o quinto copo.

Não poderia dizer que não estava me sentindo culpada por isso, por estar bebendo como se isso fosse mudar algo. Eu sei que não iria, mas queria ser imprudente, nem que seja uma vez na vida.

- E você? Qual seus motivos, Adam?

- Eu sou amigo dela, Ste. Não deixaria ela fazer isso sozinha. Além do mais, eu quem tive a ideia. Qual é?

- Ainda não concordo com isso. - Steve murmurou. Ele era o único que não estava muito certo em vir, mas Adam fez o favor de convence-lo, seja lá como.

Tinha consciência da pequena discussão deles, mas minha mente estava longe de qualquer forma. O álcool pareceu cooperar para que eu me tornasse mais patética ainda, e que os pensamentos que eu evitava a maioria do tempo, surgisse, e me absorvesse.

            *** Flash back on ***

- Quando fez essas?

Meus dedos passeavam pela pele delicada do seu peitoral, contornando as andorinhas tatuadas no mesmo. Assisti perfeitamente ele estremecendo com meus toques sutis e tímidos, de novo.

- Quando tinha dezesseis anos, eu acho. A cara da minha mãe quando viu foi a melhor coisa. - seu peito vibrou com sua risada, e eu não deixei de sorrir.

Queria evitar o fato de eu estar praticamente em cima dele, com ele sem camisa, em cima da minha cama, porque isso faria minha vergonha ser menos clara, no entanto, o sorriso pequeno e satisfeito em seus lábios dizia-me que eu não estava tendo muito sucesso.

- Por quê está tão interessada em minhas tatuagens agora, Bella? Ou só queria me ver sem camisa mesmo?

- Para. - me movi para sair de cima dele, envergonhada e quase arrependida por ter pedido isso à ele, mesmo que eu quisesse muito. Consegui saber muito sobre suas tatuagens, e isso só conseguiu torna-lo mais especial.

Harry no entanto não deixou que eu me movesse nem cinco centímetros sequer do seu corpo, antes de me puxar de volta e pressionar a palma da mão atrás do meu pescoço para me aproximar do seu rosto. Frente a frente dele, meus olhos exploravam seu rosto, extremidade por extremidade mas sempre acabavam voltando para o mesmo lugar, os lábios.

- Sério, por que queria saber?

Seu tom era baixo e rouco, e senti-me arrepiar somente com isso.

- Eu... Eu não sei. Apenas queria. Sempre quis.

- É?

- Sim..

O polegar de Harry passeou pela minha bochecha, e seus dedos colocaram uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha em seguida, antes dele juntar nossos lábios delicadamente, deixando-me saborear seus lábios cheios com toda calma possível.

Isso foi, até nossas respirações acelerarem.
 
              *** Flash back off ***

O sorriso em meus lábios foi inevitável, mas juntei todas as minhas forças, mesmo estando bêbada para não tocar meus lábios aqui, na frente de Adam e Steve. Sentia-me leve, mas ao mesmo tempo vazia, como se estivesse faltando algo. É claro que faltava, faltava ele. Eu sabia disso.

Eu não sabia porque, mas tudo sempre acabava nele. Estar chateada com meu pai, e com a droga do divórcio não estava sendo tão importante mais, assim que essas memórias inundaram minha cabeça.

Harry sempre ocupava todos os espaços. Ele sempre estava lá, para me lembra de algo ou do quanto eu o amo. Gostaria de saber o que ele diria se soubesse o que estou fazendo agora.

- Preciso tomar um ar. - murmurei, tirando forças para me levantar da cadeira. Ambos me olharam no mesmo segundo, parando o que quer que estavam fazendo.

- Ei, está tudo bem? - Steve perguntou, soando preocupado. Adam apesar de bêbado, também me olhava assim.

- Sim... Só preciso de um pouco de ar.

- Ok. E o que acham da gente ir agora? Já passamos bastante tempo aqui. - Steve propôs, praticamente implorando. Ele claramente não gostava disso.

- Tá, tá. Tudo bem, estraga prazeres. - Adam murmurou bêbado e me olhou em seguida. - Você está bem mesmo? Por que eu juro que você tem quatro olhos agora.

Eu ri, balançando a cabeça em divertimento e avisando que estaria lá fora, esperando por eles. Quando o frio da noite me abraçou, tudo pareceu ficar um pouquinho mais claro e menos sufocante. Me encostei no muro atrás de mim, e abracei meus braços, respirando o ar mais limpo da noite.

Apenas fiquei encarando a calçada, perdida e confusa do que realmente estava fazendo. Não me sentia segura, não me sentia bem agora, e me odiaria se acontecesse uma crise agora, comigo bêbada no meio da rua. Por isso, minhas mãos agiram por conta própria e buscaram o meu celular, no bolso da jaqueta. Coloquei o celular contra o ouvido e fechei os olhos, rezando silenciosamente para que ele não esteja dormindo ainda.

                   Ligação on.

- Alô?

Meu corpo estremeceu, ao ouvir a profunda voz rouca dele. Aquela voz que só ele tem e que só se aprofunda quando ele acaba de acordar.

Apenas fiquei em silêncio. Esperando que ele dissesse de novo, só mais uma vez.

- Bella, é você?

Não respondi.

- Está tudo bem?

Balancei a cabeça, negando, mesmo sabendo que ele não conseguia ver e me forcei a não chorar agora. Não agora. Por favor.

- Preciso me preocupar com esse silêncio?

- Me desculpe.

Ele suspirou, e era como se eu pudesse senti-lo contra o meu rosto.

- Não precisa pedir desculpas. Mas me deixou preocupado, não faça isso de novo, ok?

- Não, Harry. Você não entendeu. Eu quero que me desculpe. Por tudo.

- Bella... Por que está fazendo isso agora?

- Eu não sei... Eu só... Só queria ouvir sua voz e me desculpar por ter te magoado. - minhas palavras não saiam completamente claras e minha cabeça literalmente girava enquanto eu falava.  - Eu sinto sua falta, Harry e eu queria ter dito isso quando te vi sábado, mas não podia. Eu não podia.

- Por quê não?

- Porque não. Não posso ser fraca. Eu... Eu não posso.

- Você não está bem, Bella. Onde está? Vou te buscar se não estiver em casa. Preciso só de um minu..-

- Não. Não posso te ver agora. Não assim.

- Assim como? Você não... Você bebeu?

A incredulidade na sua voz me fez rir, e encolher os ombros ao mesmo tempo, como se tivesse sido pega.

- Talvez um pouco. Um pouco muito.

- O que deu em você para fazer isso? Você está sozinha? Onde está?

Ouch.

- Não devia ficar bravo comigo. Você também faz isso.

- E você odeia quando isso acontece, esqueceu? Por que diabos está fazendo isso agora?

- Porque eu precisava, Harry. - exasperei - Porque meu pai fudeu tudo, porque minha recuperação depende só de mim mesma, porque eu não tenho você agora, e porque eu não sei se vou conseguir melhorar a tempo de você não se cansar de me esperar. - suspirei, engolindo o choro. Harry ficou em completo silêncio do outro lado. - Tudo isso não é o suficiente?

- Você sabe que não é verdade.

Sua voz se tornou mais baixa. Mais grave.

- Será? - funguei o nariz, olhando ao redor da rua vazia. - Será que não? Porque eu juro que já não sei de mais nada.

Ouvi seu suspiro quebrado do outro lado, como se ele estivesse tentando achar as palavras. Eu sabia que ele estava me xingando mentalmente agora, por estar fazendo isso.

- Apenas me diga onde você está.

- Olha, eu sei que eu vou me arrepender disso amanhã, porque não era para isso estar acontecendo, então por favor, quando chegar sábado e você for me buscar para o baile, aja naturalmente ok? Por mim. Você é melhor nisso do que eu.

- Bella, por favor.

Quase podia imaginar sua mandíbula marcada, pela forma dura como meu nome soou. Soltei um suspiro profundo, fechando os olhos mais uma vez.

- Estou indo pra casa agora. Boa noite, Harry.

                      Ligação off.

Obrigada por lerem!❤️
Desculpem-me qualquer erro.

Comentem e votem, please.

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