— Parabéns! Que vocês sejam felizes!-felicitou a vendedora da loja de vestidos para noivas.
Minha boca comprimiu e um olho olho fechou, eu queria dizer: "então... Na verdade, nada aconteceu!".
— É... Não foi dessa vez...-Eu disse e logo Elis empurrou o vestido para os braços da moça.
Não foi dessa vez, nem daquela outra e muito menos da outra, antes daquela outra!
— eu sinto muito...- A vendedora me olhou com pena.
— Eu também tô sentindo.... muita FOME!- Elis não era normal, definitivamente.
Saiu me arrastando loja a fora.
A loja de noivas, com todo aquele ar romântico e delicado, pouco combinava comigo.
Suas paredes branca, jarros de flores, cabides com os vestidos mais desejados, piso de mármore em um tom de marrom claro frio.
Cheiro de perfume caro e toda a elegância e delicadeza das mulheres que trabalhavam ali.
E todas as formas gentis e robóticas de dizer: "ah... sinto muito!".
— Está tão calada...-Olhei para Elis e não consegui dizer muito, apenas dei um sorriso de lado e o sinal abriu, fazendo com que eu apertasse o acelerador do carro.
É como se eu estivesse, mais uma vez, começando do zero.
Eu deixei alguém esperando, mas finjo que esqueci e apenas tomo um café com uma amiga.
Eu sou esse tipo de pessoa.
— Bom trabalho, Madah!-Elis desceu do carro e entrou no seu restaurante.
Elis, Hoseok e jin são donos de um restaurante maravilhoso, de comidas com inspirações em cada país, meu preferido é o prato do Brasil.
Acenei de volta e corri para a minha perfumaria.
Madalene's Perfums, era o melhor lugar do mundo, para renovar os ares.
Cheiro de lavanda, de café, de vinho, de frutas cítricas...
A loja é grande e têm enormes prateleiras, com belos frascos.
Há um balcão enorme de madeira, até o final da loja (de uma ponta a outra), onde ficam os produtos e objetos que utilizo durante a criação dos meus "bebês".
No meio da perfumaria, tem enormes mesas de madeiras com tampas de mármore e em cada mesa um jarro de flores coloridas.
Na porta de entrada há um sininho e cada vez que alguém abre a porta eu ouço.
Esse espaço, a uns 40 anos atrás, era de uma família alemã que possuía uma biblioteca.
Reformei quase inteira, mas deixei as enormes prateleiras e cultivei o jardim que havia atrás.
Lá eu colho algumas plantas úteis, pra ultilizar em algumas fragrâncias.
Madalene's tinha toda aquela aparência de biblioteca do século passado.
Enquanto eu me concentro no meu mais novo perfume, ouço o sininho da porta alarmando.
—Bom dia...-Cumprimento, tirando meus quase minúsculos óculos, e olho para a pessoa que acaba de bater a porta.- o que deseja?
Obviamente um perfume. Porém, pode ser que ele seja cego e não saiba.
—Um perfume... Que seja...-Parecia confuso.
Isso geralmente acontece.
As pessoas entram aqui e não sabe o que escolher e sempre sobra pra mim!
"Olha, essa é a foto da minha namorada. Qual é mais a cara dela?".
Muitas vezes ouço isso.
Respiro fundo e procuro um perfume bom.
Não tem como eu saber qual se adequa melhor a ela ou a ele.
É difícil! Perfumes são a sua marca registrada.
Há pessoas que combinam apenas, APENAS, com cheiros amadeirados. Outras, caem bem com uma lavanda.
Já outros, uma mistura de frutas vermelhas cairia bem!
—É pra uma garota...-Bem, nesse caso, ele não devia me mostrar uma foto dela. Mas eu ajudaria melhor se me falasse da mesma.
— Poderia me contar sobre? Como se conheceram, o que ela costuma usar de perfume... O que mais te agrada nela...-Ele coçou a nuca e mordeu a boca. Olhou por alguns segundos a prateleira e se encostou no balcão de frente pra mim.
Ele retirou a máscara, as luvas, o casaco e com os dedos no balcão, andou até onde o móvel alcançava e logo voltou, arrastando os dedos pela madeira.
Estava frio hoje na Coréia.
—nos conhecemos em um show. Estamos nos conhecendo melhor a dois meses... Mas... Talvez ela precise ir embora.-Seus olhos se perderam um pouco e logo voltaram a me olhar.
—seus sentimentos...?-Ele respirou fundo e sorriu sem graça.
—Ainda não surgiram por ela... Não deu tempo.-Sorri concordando. Afinal, quem sou eu para descordar.
Pelo o que ele foi me contando, a garota é sorridente, fofa, super feminina, parece uma boneca, é hiper delicada e ama vestir vestidinhos leves.
Sem querer ser crítica, mas ele acaba de me descrever uma criança que tem a idade de 18.
Eu não conseguiria ser fofa e princesinha. Sempre fui mais agressiva e...ok! Não estamos aqui pra falar de mim.
Escolhi a fragrância de algodão, mas a reformulei.
Coloquei um toque de especiarias especiais,da minha caixa da indecisão.
Embaixo do meu balcão havia uma caixa escrito: "Caixa dos indecisos, para casais (ou quase isso)!".
Fechei o vidrinho com uma rolha (era a marca registrada de minha loja), e pendurei uma etiqueta.
—qual o seu nome?-Perguntei.
—Yoongi!-estendeu a mão.—Min Yoongi.-Me encarou.
Ri e estendi a minha mão.
—Não é um interesse, senhor Min!-Ri e ele me olhou sem enteder.—Precisava pôr o seu nome na etiqueta.
Ele abriu a boca e riu sem graça, apresentando timidez coçando a garganta.
—obrigado!-enteguei a sacola.
—Volte sempre!-Abri a porta e ele entrou no seu carro preto (muito provável de ser blindado. Vidros bem escuros e fortes).
Parece ser um homem importante.
E sinto que ele voltará mais tarde. Minha intuição nunca está errada, principalmente quando o assunto é a indecisão amorosa.
A atitude é tardia, mas os sintomas são os primeiros a chegar!
O dia foi bem lento, pra ser sincera.
Fiz mais uns 10 bebês. E o último era forte, transparente e tinha um cheiro meio doce, mas nada enjoativo. Talvez, eu o dedicaria para alguém mal humorado durante as manhãs.
Ri com meus pensamentos e o deixei de canto.
Uma senhora entrou na loja e nada lhe agradava, saiu de cara é feia e eu a xinguei pelas costas.
E enquanto eu a xingava, não consigo ouvir o sininho tocando e continuo.
—É meio feio falar coisas assim dos clientes, principalmente de uma senhorinha!-tomei um susto e derrubei três frascos.
—Filho da pu...-Tampo minha boca quando vejo que é o cliente de mais cedo.
Ele se abaixa e junta os restos mortais do vidro.
O ajudo e jogamos fora.
—Então, vim trocar o perfume.-O olhei assustada. Isso não costumava acontecer. Maioria dos clientes, ou quase todos, sempre amavam as minhas criações!
Franzi a sobracelha e ele comprimiu a boca.
Retirou o vidro da sacola e a empurrou no balcão.
—É uma boa criação. Eu não entendo...-Ele negou e me interrompeu.
—Ela foi embora, em todos os sentidos.-expressei um "ah" mudo e peguei lentamente o perfume.
Yoongi falou que apesar de ter comprado aquela fragrância, queria trocar por um que ele gostasse de usar e não de sentir.
Fui recolhendo todos que ele poderia, talvez, gostar e os coloquei em uma cestinha.
Cherou um por um e nada parecia lhe encantar.
—Me perdoe, já está ficando tarde. Amanhã o senhor pode voltar e eu faço uma especial.-Sorri meio sem graça.—Eu realmente preciso chegar em casa.
—E essa? Posso sentir?-Assenti e aproximei no seu nariz. Ele sorriu doce e assentiu.
Era essa que ele queria.
Coloquei na sacola no lugar da outra, e devolvi para a prateleira.
—Boa noite...- típica frase de que quer saber o nome.
—Madalene!-Fiz uma pequena reverência e saímos juntos da loja.
Apaguei as luzes e tranquei os portões.
Apenas o letreiro ficava aceso.
—Boa noite, Madalene.-Sorriu e cada um entrou em seus carros.