POV Manoel
Já faz 2 meses da morte de Janaina. Meu irmão ainda continua calado, além do seu normal, mas está em tratamento com a Aline e sua amizade com Patrícia está ajudando. Ela vem sempre até nossa casa, fazem seus deveres juntos, jogam videogame, assistem filmes e séries. Ele começou a pintar, e fica horas no pequeno estúdio improvisado. Desabafa em suas pinturas, onde a dor é latente.
Vovó, com seu jeito divertido, é a única a fazê-lo rir, mas mesmo ela tem dificuldades. Deixou de se importar com as piadas sobre seu romance com o Sr Magalhães, pois percebeu que Edmilson gosta, apenas finge irritação para vê-lo sorrir.
Chego em casa e vejo a mesa arrumada e sinto um delicioso odor vindo da cozinha. JC, Larissa, Joana e Pedro vieram para jantar. Inês está radiante e sei que tem notícias boas sobre o vestibular.
- Família, quero fazer um anúncio – ela começa depois de limpar a garganta.
- Fale, minha neta. O que tem para nos contá?
- Passei no vestibular para Enfermagem na mesma universidade pública que JC.
- Parabéns, querida. Fico tão orgulhosa de minha filhinha – minha mãe a abraça em primeiro lugar.
- Sabia que conseguiria, minha neta. É tão inteligente, puxou a avó – D Severina sempre disposta a fazer uma gracinha.
- Obrigada, obrigada. E o senhor, papai? Também está feliz? – pergunta a meu pai que nem esconde o choro emocionado.
- Antes de JC, talvez eu não entendesse. Mas agora que abri meus olhos, posso dizê que estou feliz demais, minha menina. Me enche de orgulho.
- Que bom, papai. Não sei se poderia lutar contra sua vontade, como o meu irmão.
- Nunca desista de seus sonhos, minha filha. Lute sempre.
- Agora me deixem abraçar a Inês – me aproximo e a acolho em meus braços – Parabéns, você merece.
- Leve meu legado adiante, hein, irmãzinha. Sucesso! - JC também cumprimenta.
- Quando vamos terminar com essa melação e comer de uma vez? - Toninho pergunta insensível enquanto ela recebe o abraço silencioso de Edmilson.
- Pare de aperriá, menino alesado – minha avó dá um cascudo brincalhão em meu irmão, que foge rindo.
O jantar corre alegre, até Edmilson participa da conversa. Minha irmã está radiante, seu jantar delicioso, e sei será uma grande profissional, pois coloca amor em tudo o que faz.
Passado a pior fase do luto, decido fazer meu pedido de casamento. Irei fazer uma serenata e ensaiei por dias com meu violão para ficar bonito.
Combino com seus pais, para que me ajudem. Visto uma camisa que ela me deu e vou até sua casa. Jogo uma pedrinha em sua janela no andar superior, que abre para a rua. Começo a dedilhar a música e canto Pra Você, de Paula Fernandes, colocando todo meu coração nas palavras:
Eu quero ser pra você
A alegria de uma chegada
Clarão trazendo o dia
Iluminando a sacada
Eu quero ser pra você
A confiança, o que te faz
Te faz sonhar todo dia
Sabendo que pode mais
Eu quero ser ao teu lado
Encontro inesperado
O arrepio de um beijo bom
Eu quero ser sua paz, a melodia capaz
De fazer você dançar
Eu quero ser pra você
A Lua iluminando o Sol
Quero acordar todo dia
Pra te fazer todo o meu amor
Eu quero ser pra você
Braços abertos a te envolver
E a cada novo sorriso teu
Serei feliz por amar você
Eu quero ser pra você
A alegria de uma chegada
Clarão trazendo o dia
Iluminando a sacada
Eu quero ser pra você
A confiança, o que te faz
Te faz sonhar todo dia
Sabendo que pode mais e mais e mais
Eu quero ser ao teu lado
Encontro inesperado
O arrepio de um beijo bom
Eu quero ser sua paz, a melodia capaz
De fazer você dançar
Eu quero ser pra você
A Lua iluminando o Sol
Quero acordar todo dia
Pra te fazer todo o meu amor
Eu quero ser pra você
Braços abertos a te envolver
E a cada novo sorriso teu
Serei feliz por amar você
Se eu vivo pra você
Se eu canto pra você
Pra você
Eu quero ser pra você
A Lua iluminando o Sol
Quero acordar todo dia
Pra te fazer todo o meu amor
Eu quero ser pra você
Braços abertos a te envolver
E a cada novo sorriso teu
Serei feliz por amar você
Eu quero ser pra você
Eu quero ser pra você
Pra você
Andréia me sorri da janela, enxugando as lágrimas de emoção que teimam em descer pelo seu rosto. Deixo meu violão no suporte, retiro a aliança de meu bolso e coloco-me sobre um joelho.
- Quer casar comigo, coração?
- Sim, sim! – corro para sua casa, na ansiedade de tê-la em meus braços. Ela me encontra na escada, com seu sorriso radiante. Ajoelho aos seus pés, tomo sua mão e coloco o anel. Levanto-me e a ergo do chão, selando nosso momento com um longo beijo. Escuto as palmas e, olhando ao redor, vejo sua família e a minha, todos aplaudindo emocionados.
Recebemos os cumprimentos e até seu tio está aqui.
- Faça minha afilhada feliz e ficarei satisfeito – diz-me ao apertar minha mão.
- É meu maior desejo, senhor.
- Cadê meu neto? Quero dá um beijo nesse violeiro.
- Estou aqui, vovó – ela me abraça gostoso.
- E pensá que te vi sofrente por causa desse amor e agora vão se casá. Que alegria.
- Ela aceitou, vovó.
- Oxente! E como recusaria um cabra bonito como meu neto? – minha avó ri enquanto dá tapinhas leves em meu rosto como carinho.
- Parabéns, Manoel, será bom te receber no clube dos casados – JC me abraça.
- Obrigado, irmão. Alguma dica?
- Ame, apenas isso. Sem medida, sem reservas, sem orgulho bobo, cuida dela com todo o seu coração.
- É o que pretendo. Sabe que vai ser padrinho, não é?
- Só faltava me deixar de fora – ri, ao dar lugar ao Edmilson.
- Parabéns, que sejam felizes – me diz sorridente, mas vejo a tristeza nublando seus olhos.
- Obrigado, irmãzinho. Chegará sua vez também.
- Já perdi a minha chance, Manoel. Mas me alegro por você.
- Não fale assim. Têm apenas 15 anos e uma vida inteira pela frente. Como pode saber o que ela lhe reserva? Não desista de viver, por favor – ele apenas concorda com a cabeça e dá licença para Inês, que me abraça.
Até os vizinhos vieram ver o que estava acontecendo e nos cumprimentaram também. Quando todos voltam para suas casas, ficamos apenas Andréia e eu na varanda. Pego meu violão e toco e canto baixinho só para ela.