Capítulo 10

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POV Andréia

Surpreendo-me quando chego em casa e há uma nova carta de Manoel.

"Querida Andréia,

Obrigado pela chance de me permitir estar por perto. Provarei que sou digno de seu amor.

Continuarei a escrever e hoje te envio um poema que minha irmã me apresentou e que me lembrou de você. É da Cora Coralina e chama-se Poeminha Amoroso.

Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasma, surpresa, perplexa...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...

Com amor, Manoel"

Ligo imediatamente para Júlia, preciso que alguém me segure antes que saia correndo e me jogue nos braços dele.

- Amiga, está muito difícil resistir ao meu ex-namorado.

- Por quê? O que ele fez agora?

- Me enviou outra carta, tem até poema de amor – leio para ela que suspira do outro lado da linha.

- Foi lindo, mas lembre-se de tudo que penou por causa dele. Deixe ele se esforçar mais um pouco.

- Falo alguma coisa, agradeço?

- Nada – é categórica.

- Mas preciso vê-lo, estou morrendo de saudades.

- Convide-o, como amigo, para um cinema. Que tal? Mas nada de filme romântico ou terror.

- Por quê?

- No primeiro pode ter momentos emocionantes para ele te consolar e no outro, cenas assustadoras para ele te proteger. Ele pode achar que é um convite.

- Há um suspense policial em cartaz, acho que não tem perigo, não é?

- Talvez. Depois me liga e conta tudo.

- Pode deixar. Até mais e obrigada.

Combino o cinema para amanhã. Durmo com um sorriso nos lábios e sua carta nas mãos, já decorei o poema de tanto que li e reli.

Descubro que o sr. Magalhães voltou ao hospital fora do meu horário, com febre alta. Como é possível que recusasse tratamento só por preconceito, sendo que não estava bem? Não consigo entender uma pessoa assim.

Uma adolescente entra em minha sala acompanhada por sua mãe, ela está visivelmente abatida e se senta com dificuldade.

- Bom dia, sou a Dra. Andréia. Em que posso ajudar?

- Oi, sou a mãe da Janaina. Ela tem leucemia, já em tratamento. Porém seu médico está em cirurgia hoje e ela não está se sentindo bem. Falei com ele por telefone e pediu que passasse aqui para lhe ministrarem um medicamento para que fique melhor até ele poder vê-la. Aqui está o que ele pediu que anotasse e entregasse para o médico com quem falasse

- Certo, vou fazer um exame rápido e depois as encaminharei para a enfermaria.

Depois que a menina sai, fico deprimida e peço uma pausa rápida nos atendimentos. Ela é tão jovem, mas a doença não olha idade. Temo que ela não sobreviva, pois está muito debilitada. Esta é a parte mais difícil de minha profissão, quando, apesar de todo o conhecimento e avanço médico, nos deparamos com situações sem solução. Volto para meu trabalho, mas ela não sai de meus pensamentos.

Manoel passa em casa para me pegar. Está lindo numa calça jeans e camisa azul, e tenho que me conter para não beijá-lo. No cinema, o filme me faz saltar na cadeira e ele segura minha mão. Se o motivo da escolha foi não haver contato com ele, não foi uma boa opção.

- Está tudo bem? Te peguei pensativa em vários momentos hoje.

- Me desculpa, é o trabalho.

- Problemas?

- Uma garota que está com leucemia e talvez não se recupere. É muito triste, tão jovem e tão doente.

- Meu irmão Edmilson tem uma amiga numa situação parecida. Acho que ele está apaixonado por ela, cortou meu coração ver sua preocupação.

- Não consigo nem imaginar como está sendo difícil para ele.

- Os adultos pensam que garotos de 15 anos são muito jovens para sofrer por amor, mas se esquecem de como se sentiam com a mesma idade.

- Tem razão. Lembra como todos achavam que o que tínhamos era passageiro?

- Sim, e sei que ainda hoje, depois de todos esses anos, ainda sinto o que sentia na época, apenas mais solidificado.

- Manoel, por favor...

- Desculpa, apenas amigos. Eu sei. Haverá uma festa no clube neste final de semana. Gostaria de ir? Podemos ir com um grupo, para que se sinta mais confortável.

- Tudo bem. Falarei com a Júlia.

Me despeço dele no portão com um abraço singelo. Ligo para minha amiga e conto, com detalhes, como foi a noite.

Depois de um dia cansativo, chego em casa e tenho uma agradável surpresa: outra carta de Manoel.

"Querida Andréia

A cada vez que te vejo e falo com você, meu amor aumenta ainda mais. Não pensei que fosse possível isto acontecer, mas me apaixono novamente a cada dia.

Darei o tempo do qual necessita, apenas preciso que saiba o que vai no meu coração. Segue mais um poema que escolhi pensando no que sinto por você. É de Pablo Neruda e chama-se Ainda te Necessito:

Ainda não estou preparado para perder-te
Não estou preparado para que me deixes só.

Ainda não estou preparado pra crescer
e aceitar que é natural,
para reconhecer que tudo
tem um princípio e tem um final.

Ainda não estou preparado para não te ter
e apenas te recordar
Ainda não estou preparado para não poder te olhar
ou não poder te falar.

Não estou preparado para que não me abraces
e para não poder te abraçar.
Ainda te necessito.

E ainda não estou preparado para caminhar
por este mundo perguntando-me: Por quê?

Não estou preparado hoje nem nunca o estarei.
Ainda te Necessito.

Te amo, coração, volta pra mim.

Com amor, Manoel."

Suspiro ainda mais apaixonada. Como não me render?


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Readquirindo sonhos - Livro 2 - Série SonhosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora