A manhã chegou radiante. Todos acordaram cedo e logo estavam imersos nos preparativos para o casamento. Vinícius tinha saído para resolver algumas coisas e quando Caio acordou ele já não estava lá. Foi até a cozinha e tomou café em meio à correria de pessoas de um lado para o outro da casa, falando com ele rapidamente para logo continuarem o que estavam fazendo. Quando voltou para o quarto para se arrumar também, Vinny estava saindo do banho.
— Bom dia, amor — disse após beijar Caio rapidamente. — Eu tenho que correr aqui porque eu sou padrinho e também vou levar o noivo.
— Tudo bem, eu vou me arrumar rapidinho, mas se quiser pode ir na frente com ele e eu vou depois.
— Não, dá tempo. Eu espero você. — Então deu um sorriso que Caio retribuiu antes de ir para o banheiro.
Quando saiu do banho Vinícius estava de frente para o espelho terminando de se arrumar.
— Uau! — disse Caio ao ver Vinny vestido no terno preto clássico. — Que homem é esse?
— Gostou? — perguntou Vinny dando uma voltinha.
— Adorei. — O olhar de Caio se demorou um tempo a mais na parte de trás da calça dele, o que fez Vinny rir. — Mas, sério, você está muito lindo.
Vinny voltou a se olhar no espelho.
— Eu devia usar mais terno, não é? O que você acha de eu começar a dar aula assim?
Caio deu uma gargalhada junto com Vinny.
— Nossa, ia dar muito certo. Ainda mais naquele calor maravilhoso de Fortaleza.
— É, não dá. Vou deixar só para o nosso casamento mesmo. — Caio não disse nada, pois o comentário o pegou de surpresa. — Eu vou ver se o Felipe já está pronto, já que eu passo aqui pra gente ir. — E saiu do quarto.
Caio se arrumou rápido e logo Vinícius voltou para que fossem para a igreja. No carro também foram os pais de Vinny. Felipe parecia bastante nervoso e a todo momento seus pais falavam alguma coisa para tentar acalmá-lo, relatando fatos do dia do casamento deles e sobre a vida de casado. A igreja não ficava muito longe, então logo eles chegaram. Desceram do carro e ficaram na frente da igreja, esperando para começar as entradas.
Mayra, que seria madrinha e entraria na igreja com Vinny, já estava lá esperando, com Manuela ao seu lado segurando o bebê nos braços. Vinny perguntou por Heitor e ela lhe disse que ele havia ficado na casa da avó em Fortaleza. Pouco tempo depois todos os padrinhos, damas e pajens, também estavam lá. A noiva não deixou de seguir a tradição e se atrasou um pouco. Quando o carro dela finalmente parou em frente à igreja, Caio entrou com Manu e sentaram numa cadeira próxima de onde os padrinhos sentariam.
Então começou o cortejo de entrada e em seguida a cerimônia. O padre fez um sermão muito bonito falando sobre o amor e o compromisso do casamento, os noivos fizeram os votos e trocaram alianças. Quando Caio percebeu, a cerimônia já havia acabado, ele nem percebeu o tempo passar.
Vinny levou os noivos até o salão onde aconteceria a recepção. Caio e ele sentaram numa mesa com Mayra, Manuela e outros amigos deles. Caio achou bom conhecer os amigos de escola de Vinny, mas e alguns momentos se sentiu meio sobrando, principalmente quando eles começaram a falar sobre coisas que tinham acontecido na infância e adolescência deles. Caio percebeu que Manu também estava se sentindo assim, então os dois acabaram fazendo companhia ao outro na maior parte do tempo.
Após o almoço, Vinny convidou Caio para dançar. Ele ficou meio envergonhado no início, mas logo aceitou e se sentiu bem à vontade dançando com Vinny, junto com outros casais. Não demorou muito e os noivos se saíram da festa, pois viajariam em Lua de Mel.
Aos poucos os convidados foram embora e Vinny convidou Caio para ir até o mirante. Sentaram em um banco, Vinny já sem o terno e com a blusa solta.
— Eu nunca tinha ido a um casamento — disse Caio ao sentar.
— Sério?
— Sim. As pessoas ao meu redor não casam. — E riu.
— Eu já fui a alguns. A minha família adora casar, todo ano algum primo meu está casando. E quando não é minha família são meus amigos de infância.
— Eu achei tão bonito. Todo o ritual, a simbologia, a emoção... um momento de celebração do amor. Gostei.
— Verdade. E um dos casamentos mais bonitos que eu já fui foi o da May. Elas estavam lindas e radiantes. Foi simples, mas foi perfeito. E por ser um casamento homoafetivo, foi ainda mais importante para mim.
— Eu imagino. Deve ter sido lindo.
E ficaram lá, sentados, olhando para o mar. Caio tentou o quanto pôde não pensar em Rafael naquela viagem, mas era muito difícil. A todo momento alguma coisa o fazia lembrar. O mirante onde estava sentado naquele momento, a praia, as ruas, a pracinha em frente à igreja, tudo isso lembrava aquela viagem que eles fizeram juntos. Todo esse assunto de casamento o lembrava das muitas vezes em que eles haviam sonhado juntos em se casar na praia... Esse pensamento o levou a outro, de Vinny falando com tanta naturalidade mais cedo "Vou deixar só para o nosso casamento mesmo". Será que isso um dia aconteceria? E se sim, como seria? Como será que Vinny imaginava o casamento deles, ou será que ele nunca pensou sobre isso? Caio estava curioso. Será que ele deveria perguntar? Não. Ainda era muito cedo.
— No que você está pensando aí tão distraído? — perguntou Vinny, trazendo Caio de volta à realidade.
— Em nada. Só olhando o mar, como ele é lindo.
— Verdade. Eu nunca canso de olhar para ele. — Então olhou para Caio novamente. — Vamos descer até a praia?
— Pra quê? Eu estou cansado.
— Deixa de preguiça — disse Vinny se levantando e puxando o braço de Caio para que ele levantasse também. — Vamos entrar na água.
— Desse jeito? — disse Caio apontando para as roupas que eles usavam.
— Qual o problema?
— Não. Eu não vou entrar na água assim.
— Tudo bem, mas eu quero pelo menos sentir a água, nem que seja só nos pés, antes da gente ir embora.
Caio levantou.
— Ok.
Desceram até a praia e foram andando pela areia enquanto o sol se inclinava cada vez mais em direção ao horizonte. Vinny tirou o sapato e dobrou a calça até quase a altura dos joelhos, em seguida foi até onde as ondas podiam tocar seus pés. Caio o observou por um momento e então o seguiu. Ficaram ali por algum tempo, os braços de Caio envolvendo a cintura de Vinny, observando a imensidão do oceano.
— Quando eu morava aqui às vezes eu vinha até a praia e ficava aqui por horas só olhando o mar e pensando como seria se eu pegasse um barco e fosse em direção ao horizonte... — falou Vinícius. — Era uma ideia que me atraía bastante e eu ficava imaginando o que eu encontraria por esse mar a fora. Aventuras? Criaturas fantásticas? Uma ilha mágica onde eu poderia ser quem eu era sem que ninguém me julgasse ou me odiasse por isso?
Caio olhou para ele.
— Eu era só um garoto — disse Vinny sorrindo. — Mas bem que eu queria que esse lugar realmente existisse.
— Eu também — Falou Caio quase num sussurro.
E então lembrou do dia em que ele, Rafael e Amanda estavam voltando da festa da Lili e Rafael foi espancado por três caras que não gostaram de ver eles dois de mãos dadas. Naquele dia ele sentiu mais do que nunca o ódio que as pessoas podiam sentir por eles, apenas por acharem que sua forma de amar era errada. Então ele entendia muito bem o desejo do garoto Vinícius de muito tempo atrás e do homem Vinícius de hoje. Pensar nisso o deixou triste e ele também desejou, olhando para o mar, que esse lugar realmente existisse, ou que viesse a existir um dia.
— A gente tem que ir embora, amor — falou Vinny, olhando para o sol que descia rápido no céu. — Eu estou muito cansado e prefiro não pegar a estrada de noite. — Caio concordou. — Eu bem que queria ver o sol se pôr aqui com você, mas... — Deu de ombros.
Caio o beijou.
— A gente vai ter muitas outras oportunidades de vir aqui ver o sol se pôr e fazer tudo que você quiser — disse Caio.
— Eu adorei essa promessa. Você vai ter que cumprir. — E o beijou novamente. Então começaram a andar. — Olha, Caio! — disse apontando para uma quiromante numa barraca improvisada na praia. — Vamos ler nossa sorte?
Caio riu.
— Você acredita nessas coisas?
— Não. Mas estou curioso para saber o que ela vai dizer. Vamos?
— Não. Eu não sei se eu quero saber minha sorte. Eu nunca fui uma pessoa de muita sorte mesmo.
— Você é uma pessoa de muita sorte sim, afinal tem um namorado como eu. — Caio riu. — Bonito, inteligente, legal, sabe fazer uma massagem ótima.
— Esqueceu de dizer que é modesto também.
— Claro. Tô brincando. Mas vamos.
Foram andando em direção à mulher. Assim que se aproximaram e pararam diante dela, a mulher falou:
— Quer que eu leia sua mão, Vinícius?
Vinny e Caio se entreolharam, meio espantados por ela ter acertado o nome dele.
— Sim. De nós dois — disse Vinny.
— Me dê aqui sua mão. — Então ele abriu a mão e entregou à mulher. Ela olhou por um tempo as linhas e então começou. — Eu vejo uma grande mudança na sua vida. Algo que você queria muito vai acontecer. — Vinny sorriu e olhou para Caio. Ela continuou. — Porém, sua felicidade será abalada e você terá que tomar uma decisão difícil. — Ele sentiu um calafrio percorrer seu corpo ao ouvir essas palavras. — Você terá que reencontrar seu equilíbrio. — Ela olhou para Vinny, que estava com o cenho franzido, e sorriu. — Não se preocupe, Vinícius. Confie no seu coração. Você saberá tomar a decisão certa. — Então soltou a mão dele.
Vinny se afastou lentamente, pensando no que ela havia acabado de dizer. A mulher olhou para Caio e sorriu.
— Agora você.
Caio hesitou um pouco. Não tinha certeza se queria saber o que ela iria lhe dizer. Olhou para Vinny, mas ele estava com o olhar distraído. Então ele se aproximou e levantou a mão lentamente. A mulher segurou sua mão e ficou olhando atentamente para ela.
— Sua linha da vida é bem intensa e confusa. — Olhou para ele. — Muitas dúvidas nessa cabecinha, não é? — Caio não respondeu e ela voltou a olhar para sua mão. — Mas tem algo aqui que não é confuso, algo bastante claro. Eu vejo um amor muito forte. Bem intenso. — Caio estava com medo de ouvir o resto, mas permaneceu ali. — Eu vejo uma pessoa, cuja vida está completamente entrelaçada na sua... — Apertou os olhos, como se tentasse focar em algo. Olhou novamente para Caio. — Rafael. Esse nome te diz alguma coisa?
Caio puxou a mão rapidamente. Seu coração começou a bater acelerado. Olhou para Vinny, que estava sério ao seu lado, o encarando com um olhar que Caio não conseguia decifrar.
— Claro que me diz alguma coisa — disse voltando a olhar para a mulher. — Ele é meu melhor amigo, é normal que nossas vidas estejam entrelaçadas.
A mulher o olhou por um instante, em seguida olhou para Vinny e então voltou a olhar para Caio.
— Claro — disse sorrindo. — Deve ser isso. O que poderia ser mais forte que uma amizade verdadeira, não é?
Caio concordou. Vinícius continuou sério.
— Vamos, Caio — disse ele —, está tarde.
— Vamos.
Vinny pagou a quiromante e saiu andando na frente com pressa. Caio o seguiu, tentando acompanha-lo, mas só havia andado alguns passos quando sentiu alguém tocar seu ombro. Virou e viu que era a mesma mulher que havia lido sua mão.
— Caio, você sabe que não era amizade o sentimento que eu vi — sussurrou ela, em seguida se afastou.
Então ele apressou o passo e alcançou Vinny.
***
No caminho de volta o silêncio preenchia o carro. O barulho do motor e da música baixa que tocava eram os únicos sons existentes ali. Caio estava inquieto e aflito com tanto silêncio. Vinny havia estado calado desde que voltaram da praia. Haviam se despedido de todos e pegado a estrada antes do pôr do sol, e ele tinha permanecido distante todo esse tempo. Caio não sabia se esse silêncio tinha alguma relação com o que a quiromante havia dito, mas tinha quase certeza que sim. Não sabia se ele estava chateado, triste, ou não era nada disso. E não aguentava mais ficar sem saber.
— Vinny — disse ele, enfim.
— Oi — disse sem olhar para ele.
— Por que você está tão calado?
— Por nada, só não tenho nada a dizer.
— Você está assim por causa do que aquela mulher falou?
— Não.
— Tem certeza?
Vinny olhou para ele.
— Por que você está me perguntando isso?
— Porque você está estranho desde que a gente falou com ela.
— É impressão sua. — E voltou ao silêncio.
Após um instante Caio falou novamente.
— Você disse que não acreditava nessas coisas.
— E não acredito.
— Então por que isso está te afetando?
Vinny olhou para ele novamente.
— Eu não acredito nessas coisas, mas... eu fiquei pensando no que ela falou porque foi bem estranho, não foi? Por exemplo, como ela sabia meu nome? E mais, como ela sabia o nome do Rafael?
— O seu nome não é tão difícil ela saber, afinal você é de lá e nesses lugares pequenos todos sabem o nome de todo mundo. E acho que o Rafael foi coincidência mesmo.
— Muita coincidência, não acha?
Caio não respondeu. Então o silêncio voltou a ocupar o lugar. Ele continuou olhando para Vinny enquanto este mantinha os olhos fixos na estrada à frente. Caio tentou entender a expressão no rosto dele. Não parecia chateado. Nem sua voz denunciava isso. Ele parecia triste. Parecia que algo o machucava por dentro. E vê-lo assim fazia o coração de Caio doer.
— Vinny, vamos esquecer o que essa mulher falou? Não era verdade. Eu te amo. Isso é verdade.
Vinny olhou para ele mais uma vez. Soltou a mão direita do volante e segurou a de Caio. Sorriu levemente.
— Eu também amo você, Caio. Muito. Eu vou tentar esquecer isso. Prometo. — Então beijou a mão dele e voltou a segurar o volante e olhar a estrada.
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Espero que esteja gostando da história. Não esquece de comentar o que está achando, o que espera para os próximos capítulos. E também deixar seu voto. ;)
Um abraço,
Sam