Se alguém me perguntar qual caminho seguir na minha vida, minha resposta é simples: O caminho que não me faça sentir.
Não estou optando pelo sofrimento, como vocês podem estar pensando. Eu só estou me protegendo, eu não quero me despedaçar novamente, não quero chorar horas em cima de um túmulo no cemitério. E depois de alguns anos agir, como se nada tivesse acontecido. Como se nosso coração ainda estivesse intacto. Ah, não quero ser hipócrita, não quero dizer a vocês: No final encontramos a felicidade.
Não quero ser clichê, o final feliz não chega, a dor permanece. Sinto muito em lhe informar, ela vai permanecer com você a cada segundo. A cada esquina, você pode passar em frente de uma sorveteria e as lembranças mais assombrosas vão lhe consumir. Te devorar como um animal faminto. Não pode fugir, EU não consigo fingir que nada aconteceu.
Na manhã seguinte, após a minha prisão, a minha mãe e a minha irmã cochichavam, quando entro na cozinha as duas cessam a conversa imediatamente. Sei que estão falando sobre a minha vida desastrosa, mas eu não me importo!
─ Solana. ─ pronuncia-se a minha mãe. ─ Conversei com o seu pai ontem a noite.
Meu corpo estremeceu, eu faço de tudo para minha mãe não perceber. Abro os armários procurando o achocolatado.
─ Hmmm. ─ resmungo.
─ Ele nos convidou para viajar para Minas Gerais, não é incrível? ─ Violet comenta com a voz entusiasmada. ─ Infelizmente, eu não posso por causa da Universidade. Porém…
─ Eu não vou!
─ Sol, apenas escute.
─ Não quero. ─ insisto, minha garganta oscilava.
─ Você vai. ─ Rebate minha mãe, ríspida e decidida. ─ Quantas vezes eu alertei, eu não aguento mais. Sol, você foi expulsa de três colégios, não terminou o ensino médio, sempre está metida em confusões, preciso buscá-la na casa das amigas. Fica dias fora, sem me avisar, sem mandar uma única mensagem. ─ puxa o ar. ─ Cansei, ontem foi a gota d'água para mim. Você vai viajar amanhã para Minas Gerais, e vai permanecer na fazenda por um ano.
─ Mãe, você está sendo muito radical. Sol, não foi a culpada. Ela só estava envolvida com as pessoas erradas.
─ A sua irmã é a pessoa errada, ela é estranha.
Violet ficou pálida, a minha cópia exata. Gêmeas idênticas, Violet é apenas 5 centímetros mais baixa. No resto, tudo igual. Até mesmo a marca de nascença em nosso ombro. Meu reflexo vivo!
Quando olho para Violet tenho a impressão de ser bonita, apesar da minha irmã ser mais vaidosa. Sempre maquiada, os cabelos perfumados e bem arrumada.
─ Eu não vou! ─ volto a retrucar.
─ VOCÊ VAI SOLANA. ─ Grita a minha mãe. ─ Sérgio vai buscá-la no aeroporto.
Engulo em seco, suplicando ajuda a minha irmã, que está atordoada com tudo.
─ Sol, você precisa encontrar um sentido para a sua vida. Ainda dói pensar no passado…
─ E você está me mandando de volta para lá. ─ altero a voz. ─ Para enfrentar os seus demônios.
Minha mãe encolheu os ombros, sua expressão ficou sombria.
─ Já chega! ─ Violet levantou-se da cadeira. ─ Sol, será bom o ar puro da fazenda. Um recomeço, você não precisa bancar a legal…
─ Isso é loucura. ─ me apoio no balcão, encarando minhas unhas mal-feitas. ─ Descartável, eu sou descartável.
Assisti em um documentário na televisão que os problemas dos filhos estão originados nos pais e em sua dinâmica de relacionamento. Meu pai e minha mãe eram perfeitos, um casal maravilhoso. Aquele tipo de casal que as pessoas tiram foto e postam nas redes sociais com a legenda: Meta de relacionamento.
No entanto, vou lhe contar um fato verdadeiro: Quanto mais perfeito um relacionamento, mais intensa é a dor que vai surgir para separá-los.
─ É injusto. ─ lamuriei. ─ Essa vida é totalmente injusta.
─ Pense o que quiser sobre a vida. É um direito seu, mas eu não vou deixar de viver, não vou me torturar por erros cometidos no passado. ─ Minha mãe pegou a bolsa e a chave do carro. ─ Preciso trabalhar, essa conversa está encerrada. Comece arrumar as suas malas, leve tudo o que for preciso.
─ Eu sinto muito. ─ Disse Violet.
─ Será a mesma coisa. A única diferença será o cheiro de coco de vaca.
─ Um ano, Summer… ─ choraminga. ─ Eu só tenho você.
─ Você tem nossa mãe, ela é uma mulher boa. E no momento ela está precisando mais de você. ─ sento-me à mesa para tomar meu café da manhã.
─ Vai me ligar todos os dias, né?
─ Meu celular sumiu, perdi na noite em que fui presa. ─ bebo meu café. ─ É uma bosta, essa vida é uma porcaria.
─ Sabe porque tudo na sua vida é assim, complicado? ─ entrega-me a manteiga. ─ Você profetiza demais tudo ao seu redor. Nada de bom sai da sua boca, só palavras negativas, pensamentos horríveis. Todos nós sofremos, foram anos doloridos, difíceis de suportar. No entanto, estamos vivas. Não podemos esquecer de viver e pensar nas pessoas que já se foram!
─ Poético. ─ debochei.
─ Eu estou começando a desistir também. ─ Confessa cabisbaixa.
Encaro a minha irmã, minha cópia, às vezes creio que dividimos a mesma alma.
─ Violet, eu não tive culpa. Não fui eu, um garoto do nosso grupo quebrou a vitrine de uma loja. Tudo aconteceu muito rápido. Quando percebi um policial à paisana estava apontando uma arma na nossa direção. ─ seguro na mão da minha irmã. ─ Acredite, jamais faria algo tão estúpido.
─ Eu acredito em você. ─ sorri de leve.
─ Agora me conte, como está o envolvimento com o garoto da Universidade?
Minha irmã é uma romântica adorável, ela consegue falar sobre sentimentos, expressá-los, dizer o que seu coração puro e intacto sente. Não existe nada gelado dentro dessa garota, tudo em Violet é quente, vibrante e mágico.
─ Xande é incrível, ele já me apresentou para a família e sábado… ─ hesita, arregalando seus olhos de jabuticaba em minha direção. ─ Solana, eu acho que estou pronta.
─ Está falando de sexo? Sabe, que não tenho nenhuma experiência nesse assunto.
─ Você vive na noite, eu não consigo acreditar. ─ mordeu pedaço de queijo.
Ela não entende, mesmo que explicasse como me sinto ninguém vai entender.
─ Acho que ninguém me despertou o interesse. E tenho medo também. ─ está aí um pouco da verdade.
─ De doenças sexualmente transmissíveis? ─ zombou, rindo.
─ De sentir!
─ Summer, às vezes você me deixa sem saber o que dizer. ─ revela.
─ Enfim, se acha que chegou o momento e ele é a pessoa certa. Mete fundo!
Violet gargalhou, rindo descontraída.
─ Eu amo muito você!
Nunca consegui expressar ao certo o que sinto por minha irmã. Talvez, nunca vou conseguir eliminar a dor, nunca vou conseguir deixar tudo o que aconteceu para trás. Não consigo esquecer o cheiro do cemitério, da agonia das discussões, da decepção de uma separação e da dor do luto.
─ Me prometa que vai ficar bem!
─ Sol, eu vou ficar bem não se preocupe. Quero que volte, mas volte conseguindo dizer que me ama. ─ os olhos da minha irmã lacrimejaram.
Não acredito que o amor possa salvar tudo, esse sentimento para ser honesta. Só nos destrói.
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Querem as fotos das inspirações para criar os personagens?
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