Quando Um Conde Se Apaixona

By amorpelaescrita7

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#1 em Ficção Histórica - 17/05/2018 A casa de York está a beira da falência. Com o passar do tempo se tornou... More

Prólogo
Epígrafe
I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII
IX
X
XI
XII
XIII
XIV
XV
XVI
XVII
XVIII
XIX
XX
XXI
XXII
XXIII
XXIV
XXV
XXVI
XXIV
XXIX
XXX
XXXI
XXXII
XXXIII
XXXIV
XXXV
XXXVI
XXXVII
Epílogo
Agradecimentos

XXVII

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By amorpelaescrita7

A volta para casa foi tranquila e pouco discutida. Os quatro permaneceram em silêncio depois que se despediram do oficial eclesiástico e entraram em sua carruagem, rumo a mansão Hughes.

Tayla olhou pela janela durante todo o percurso e dava pequenos gritinhos de dor quando a carruagem arrancava por conta de pedras no caminho, visto suas queimaduras recentes.

O coração de Edmond se inquietava ao ver a esposa passar por tamanha dor. Ele faria qualquer coisa para trocar de lugar com ela. Como não podia sequer tocá-la, ele se contentava em admirá-la e lhe lançar seu sorriso mais doce nas poucas vezes que ela o olhava.

Na cabeça de Tayla, um turbilhão de emoções. Ela queria confiar que Edmond não era o pai do filho de Rose pois seus modos éticos nunca o permitiriam traí-la dessa forma, por mais conquistador que fosse.

O fato é que Rose era muito convincente e Tayla sabia do envolvimento passado dos dois. De toda forma, algo estava muito incerto nessa história mal contada. Tayla queria concentrar-se nisso para que pudesse pensar de fato se Rose poderia estar certa ou não, mas ela estava com a mente cheia e sobrecarregada.

Qualquer mísera lembrança de Rose contando do filho que carregava causava lapsos de sofrimento em Tayla. Ela não conseguia sequer controlar o que sentia, por mais que tentasse. Sua única alternativa era evitar o marido enquanto estudava suas plantas, até que Rose decidisse contar para Ed sobre a criança.

Nesse dia, seu mundo cairia. Disso, ela tinha certeza.

Ao chegar na mansão Hughes, Tayla saiu em disparada, se despedindo de todos rapidamente e indo atrás de suas plantas antes que Edmond sugerisse observá-la fazendo os remédios. Sua missão em evitá-lo e ser evitada estava cada vez mais difícil.

Ela decide ir trabalhar na pequena estufa de Olívia. Tayla junta algumas plantas e seu caderno de anotações. Ela verifica o que precisa e se dirige até a sala de chá, torcendo para que sua sogra e a avó de Edmond não tivessem demorado ao sair da carruagem e estivessem em sua sala de descanso, conversando amenidades do dia. Para seu alívio, elas já estavam lá, aguardando a porção de biscoitos com seu sagrado chá.

- Tayla! - sua sogra exclamou, surpresa. - Quer se juntar a nós? Pensei que não gostasse de beber chá.

- Eu gosto, mas devo declinar o convite. - ela disse, com um pequeno sorriso no canto dos lábios. - Estava pensando em ir trabalhar na sua estufa, condessa Olívia, se eu puder...

- Ora, Tayla. - Olívia disse, quase gargalhando. - Você é a esposa do herdeiro, a Condessa Hughes. Tem mais poder nessa casa que eu e Isabelle juntas.

- Por favor, não me levem a mal. É difícil me acostumar com isso. Acho que sempre vou pedir permissão. Nunca fui dona de uma coisa maior que meu quarto, embora meu pai acreditasse que nem meus pertences eram de fato meus. - Tayla baixou os olhos xom um sorriso sem graça.

- Sente saudade dele? - Isabelle questionou.

- De meu pai? - Tayla rebateu a pergunta, abrindo um sorriso agora divertido. - De jeito nenhum. - falou descontraída fazendo Olívia arregalar os olhos, mas no fundo, até mesmo a avó de Edmond não gostava de Arthur York. - Desculpe pela minha falta de modos. Eu amo meu pai, mas ele é um tirano e eu nunca me dei bem com ordens.

- Se lhe servir de consolo, também não gosto de receber ordens. Então entendo como pode ser difícil conviver com um homem que pensa que pode nos mandar. - Isabelle disse, lembrando de seu próprio pai. - Mas agora está aqui e a casa é sua. No sentido literal e real. Faça o que lhe der vontade.

- Só não coloque fogo em tudo. - Olívia disse, descontraída e Tayla se permitiu sorrir. Elas sabiam que aquele incêndio não foi culpa da jovem. A refeência ao fogo era mesmo pelo apelido de Tayla. A dama das chamas.

Tayla ouviu o conselho risonha, ciente do que a chamavam nos jornais. Ela sabia que provavelmente algo foi veiculado sobre ela no último dia e com toda a certeza as más bocas já levaram a informação para Londres.

Talvez até mesmo a Rainha Vitória (que Tayla conheceu no baile onde foi pedida em casamento) estava ciente do ocorrido. Ela amava sua rainha e gostaria de poder vê-la de novo e perguntar como conseguiu superar o medo da mulher vitoriana de engravidar.

Ela se dirige para fora da mansão, carregando seus pertences em uma caixa que encontrou em sua salinha improvisada. Só quando já estava na estufa, que percebeu ainda vestir suas roupas fúnebres pretas. O véu foi tirado assim que chegou na mansão, mas seu vestido passou a incomodá-la pelo clima um tanto quente na estufa. Correu para seu quarto pedindo aos céus que Edmond não estivesse lá.

Quando chegou agradeceu por não vê-lo presente. Devia estar na biblioteca ou até mesmo no escritório, bebendo um bom conhaque escocês.

Aproveitou a presença da arrumadeira no local e pediu que ela a ajudasse a desamarrar o vestido.

No geral, Tayla não gostava de ser arrumada por ninguém e preferia se vestir sozinha, por isso sempre optava por modelos que não exigissem muito para serem colocados ou tirados e quando precisava de ajuda, era somente para amarrar ou desamarrar algo. Mas aquela veste preta era um tanto diferente.

Ela tinha acabado de enterrar sua criança, mas estava disposta a seguir seu caminho, ainda que tortuoso e incerto, para conviver com a dor e aos poucos voltar a ser feliz de verdade.

Depois de agradecer a ajuda, ela coloca um vestido simples de musselina amarela-limão e consegue amarrá-lo sozinha. Ele era mais arejado e exibia seus ombros, o que não tornava tão sufocante para permanecer dentro da estufa por um bom tempo. Seu cabelo permanece preso por mais que ela gostasse de soltá-lo. Pronta, ela desce as escadas e vai direto para a estufa.

Quando chega lá, Tayla começa a analisar seu caderno de anotações. A primeira receita de remédio que ela gostaria de tentar levava Glycyrrhiza glabra, mais conhecido como alcaçuz. Era uma planta não tão específica no continente americano, conhecida há mais de três mil anos na Europa e na Ásia.

Ela serviria para tratar tosses, inflamações e alguns problemas respiratórios. Em uma época na qual os médicos ainda não possuíam informações suficientes sobre bronquites, asma e afins, os remédios caseiros cujas receitas passavam de geração em geração eram um grande avanço para a Medicina.

Tayla gostava de pensar que poderia ser importante e reconhecida, não por fama, mas por contribuir para as inovações no campo da ciência, onde poucas mulheres atuavam.

Ao perceber que deveria usar água quente, ela pensou em improvisar uma pequena fogueira, mas ela não tinha nenhum dom de marceneira.

Como cabeça dura que era, ela não desistiria de forma alguma. Saiu da estufa e olhou em volta para ver se encontrava algum pedaço de madeira perdido por aí.

Sem encontrar algo que valesse, Tayla decide olhar no terreno que cercava a mansão e por sorte ela encontra algumas lascas da reforma da ala norte soltas atrás da residência.

Não eram lascas queimadas pois todo o material perdido naquela noite foi recolhido e levado para uma área de lixo depositado. Aquelas madeiras pareciam novas e talvez alguém poderia matá-la por utilizá-las para fazer fogueira. Mas ela não se importava.

Ela recolhe duas lascas grandes pelo fato de não encontrar nada menor e vai até a estufa com elas. Lá, ela procura (e encontra) um material cortante em uma caixa de ferramentes que devia ser de Edmond. Ela não fazia a menor ideia de como usar aquilo e estava morrendo de medo de ficar sem sua mão, mas também odiava depender de alguém. O instrumento era um serrote.

- Vamos lá, Tayla York. É melhor você se esforçar se quer algo. - ela tenta subir o vestido na altura do joelho e se incomoda ao tentar amarrá-lo por lá.

Suas coxas a incomodavam muito, e ela não via a hora de suas queimaduras sararem. As bolhas já melhoravam um pouco, e as meias macias facilitavam sua locomoção. Ainda sim, seu repouso deveria ser absoluto, mas quem conseguiria manter Tayla parada?

Em cima da mesa da estufa, ela apoia a madeira e tenta segurar o serrote com as duas mãos enquanto se esforça para partir a lasca. Sem muito sucesso pois a madeira se mexia a todo instante, ela decide tentar de outra forma.

Tayla coloca metade da madeira para fora e a outra ainda apoiada na mesa. Ela tenta novamente serrar, mas sem apoiar sua mão, a lasca cai, fazendo-a pular de susto.

Uma última vez, ela repete seus últimos movimentos, mas segura a madeira com uma mão o serrote com outro. Com muita força e longos minutos, ela corta a madeira quase ao meio, mas com uma boa precisão para um iniciante.

Tayla serra a outra da mesma forma. Agora ela tinha quatro pedaços e já podia montar uma boa fogueira para colocar seu vasilhame e esquentar água.

Todo o seu trabalho poderia ser substituído por esquentar a água na cozinha, mas a experiência que Tayla teve em fazer tudo sozinha, foi extremamente instrutiva.

Ela pega umas pedrinhas e as esfrega, do mesmo jeito que viu em um livro de seu pai. De primeira não funcionou e ela quase pensou em utilizar um isqueiro. Na segunda tentativa, entretanto, o fogo apareceu e com muito cuidado ela o direcionou para a madeira, incendiando-a.

Tayla pega seu vasilhame e se dirige até a fonte dos jardins da mansão, pegando um pouco de água. Ela volta tomando cuidado para não derramar uma gota sequer. Quando chega perto da estufa, ela se abaixa próxima a fogueira que fez na grama e posiciona o vasilhame lá.

Novamente em seu caderno de anotações, ela tenta seguir a receita.

- Uma colher e meia da raiz do alcaçuz cortado em pedaços. - ela diz em voz alta. - A quantidade de água deve ser a medida de uma xícara... - ela diz, enquanto encara seu vasilhame cheio até o topo. - Talvez eu tenha exagerado um pouco. - Ela diz sozinha. - Mas isso não vai alterar a receita, duvido que faça diferença. - ela prossegue. - Antes de observar bolhas na água, retire-a do fogo... bolhas? - ela pergunta. - Sim, sim. - ela se lembra de como preparava café. - Ferver.

Depois de esperar a fervura da água, ela retira o vasilhame do fogo, coloca-o sobre a mesa de madeira e tenta apagar a chama, empurrando as lascas para longe umas das outras. A princípio o fogo se espalha, mas logo vai se esvaindo pelo chão úmido do local.

- O que eu faço agora? Espero? - ela disse, observando que seu caderninho para nesse ponto. - Onde está o resto da receita?

Enquanto aguardava um tempo para ver o que aconteceria na água, Tayla passa seus olhos sobre as pequenas receitinhas no seu caderno. Tão concentrada no que estava escrito lá, ela pouco percebe a presença do marido no local, pois estava de costas para a entrada.

Edmond percebeu que ela tinha saído depressa para não lhe dar explicações. Ele também sabia que ela estava o evitando por que não conseguiria se controlar perto dele. Ele também devia admitir que não conseguia se controlar perto dela, mas estava tentando.

Talvez, em seu coração, Edmond desconfiasse de que havia algo mais, que ela não queria contar para ele. Ele não iria pressioná-la e sabia que ela precisava de espaço, mas ele simplesmente não conseguia se afastar dela.

Ele observou todo o seu trabalho em fazer fogo e esquentar a água de seu remédio pela janela de seu escritório.

Assistiu tudo extasiado e maravilhado, orgulhoso da mulher teimosa que carregava seu sobrenome. Ela precisava de repouso mas não ouviria seu conselho de jeito nenhum. Quando estava obstinada, nada podia parar suas determinações.

Quando se aproximou, saindo de sua sala, da mansão e tomando seu caminho rumo a estufa, ele ficou ainda mais encantado (isto é, se fosse possível) com a figura feminina a sua frente. Ela estava radiante em seu vestido amarelo-limão e a visão de seus ombros e pescoço eram como uma bela pintura.

Ele sabia que devia voltar antes que seus impulsos de tomá-la em seus braços o dominassem, mas ela era como uma força que o puxava e ele só sabia obedecer à essa influencia que ela exercia sobre ele.

Ele limpa a garganta para que ela note sua presença. Tayla dá um pulo de susto.

- Você precisa parar de chegar dessa forma. No silêncio completo. Vai acabar me matando. - ela coloca a mão sobre o coração que batia acelerado.

- O que está fazendo? - ele pergunta, com as mãos no bolso, encostado no batente da porta com a postura masculina mais atraente que Tayla já tinha visto.

- Gesù, dammi la forza... - Tayla suspirou em italiano para que ele não ouvisse, enquanto tentava não olhar mais para ele. Ela tinha aprendido com sua mãe e era muito útil quando queria falar mal (ou reclamar) de alguém na presença da pessoa. Contando, é claro, que a pessoa fosse inglesa sem conhecimento de italiano. - Testando um novo remédio. - ela tentou sorrir, mostrando que realmente se deleitava com o que fazia. Ciência, Tayla gostava mesmo de experimentos.

- Fico feliz que esteja tão empenhada. - Edmond admite, com um meio sorriso. - Vi você improvisando a lareira e trabalhando de verdade por isso. É bom que vai dormir a noite toda e não vai sequer roncar, de tão cansada. Você tem me atrapalhado muito, sabia? - ele diz em um tom brincalhão e agora Tayla se permitia gargalhar, defendendo-se.

- Você sabe muito bem que os barulhos que ouve são os do seu estômago que nunca parece estar satisfeito com a comida que ingere. Eu nunca ronquei uma vez sequer! - Tayla ria bastante, até sentir a barriga doer em um misto de boas sensações que um riso podia causar.

- Veja bem... - ele muda de assunto mas permanece na mesma posição e Tayla estava quase certa de que ele estava daquela forma para seduzi-la. Se aquela era sua meta, ele estava se saindo muito bem. - Sei que estamos passando por momentos difíceis, mas eu faria qualquer coisa para manter um riso nesses lábios formosos que você tem, Sra. Hughes.

- Lábios formosos? - ela estava surpresa pelo elogio um tanto diferente.

- Sua boca é adoravelmente irritante, mas igualmente formosa. Totalmente beijável e cem vezes mais desejável e convidativa que qualquer outra que eu já tenha visto. - ele rebate, fazendo um rubor subir nas bochechas de Tayla instantaneamente. - Me encanta quando você vira a personificação de um tomate, Tayla Hughes. Você corou muito. - ele a analisa enquanto Tayla solta risadas nervosas para disfarçar.

- Estamos parecendo dois adolescentes no início da temporada de bailes, flertando. - Tayla diz, baixando seu olhar para o chão.

- Acho que a jovem em questão está gostando muito de flertar. - Edmond observa.

- Ela é apenas uma vítima do charme indiscutível do rapaz a sua frente. - Tayla diz e quando para pra pensar, aquilo saiu bem mal colocado e serviria para aumentar o orgulho de Edmond. Tayla gargalha.

- Estou começando a pensar que as maiores composições musicais, até mesmo as de Schubert, deveriam se inspirar no som da sua risada. - Edmond disse e Tayla torceu o nariz.

- Por favor, Edmond. Esse foi o seu melhor? Você não é chamado de Lobo a Rigor? - Tayla provoca.

- Você gosta de brincar com fogo, mocinha. Você mesma disse que está tentando se afastar de mim. Não provoque o Lobo a Rigor se não estiver disposta a tolerar minhas conquistas. - Edmond diz, observando o rosto pequeno da esposa e seus olhos verdes chamativos.

- Tolerar não é o difícil. O mais complicado é resistir, se eu puder ser sincera. - falou, soltando risadinhas tímidas. Tayla realmente tinha mudado seu humor e jeito difícil. Certamente ele e todos os eventos recentes eram o motivo.

- Estou adorando o seu excesso de sinceridade sobre a nossa relação. - Edmond admitiu, se desencostando da porta para a infelicidade de Tayla. Ele lembrava muito uma pintura perfeita dos grandes mestres naquela posição despreocupada encostado no batente.

- Claro que está. Alimenta o seu orgulho, sua autoafirmação de si mesmo e seus atrativos para com as mulheres. Não acredito que me vi fisgada por esse pescador feminino. Estou perdida. - Tayla colocou as mãos no rosto, como se estivesse envergonhada. Tinha ironia em sua fala e Edmond podia perceber.

- Agora não está sendo sincera. - ele rebateu. - Julgo dizer que estava sendo dissimulada desde que nos casamos, fingindo um interesse, não é? - ele perguntou, também com ironia.

- Não é possível fingir interesse com esse belo espécime masculino na minha frente. - Tayla falou, despreocupada. - Você desperta qualquer sentimento nas mulheres, eu não saberia bem dizer qual sentimento é esse.

- Desejo? - ele sugeriu. Mas Tayla não estava certa quanto a isso sobre seu próprio evolvimento com ele. Para ela, era muito mais que desejo. Fazer a palavra "amor" sair de sua boca seria mais difícil do que ela imaginava.

- Talvez. - Tayla disse, provocando um desânimo profundo no marido. Ele queria que o laço que os unisse fosse mais do que somente seus corpos esperando um pelo outro. - Sabe, você era o melhor partido de Londres.

- Era? - Ele perguntou, sentindo seu orgulho ferido.

- Você não está mais no mercado. Isso eu posso garantir e falar com propriedade. - Tayla afirmou, de cabeça erguida. - O fato é que todas as mulheres se jogavam aos seus pés.

- Está certa. Mas veja como é a vida. Agora estou implorando pela atenção de uma mulher. Isso nunca aconteceu antes. - ele disse se aproximando.

- Talvez você deva se achar um tolo por isso. - Tayla disse, observando o quão rápido o marido podia chegar perto dela. Em poucos segundos, ele estava tão próximo que ela sentia sua respiração.

- De forma alguma. Eu seria um tolo se eu implorasse por atenção e não fosse correspondido. Sorte a minha que, algumas vezes, você demonstra por si mesma que minhas atenções lhe agradam. Apenas isso, faz meu dia valer.

- Eu me lembro de ter dito...

- Não estrague o momento, por favor. - Edmond disse e Tayla começou a rir. - Tayla, eu... - Edmond pensava estar pronto para dizer a frase que nunca proferiu para pessoa nenhuma que não fossem seus pais ou sua avó. Antes que ele terminasse a frase, o cheiro de alcaçuz fervido na água subiu em suas narinas e se tornou tão forte como insuportável. Edmond estava muito perto de Tayla e ela muito perto da panela, o que fez com que o cheiro viajasse diretamente para o nariz dos dois, os separando imediatamente.

Tayla se recuperou facilmente, mas Edmond tossia como se o mundo fosse acabar e isso fosse salvá-lo. Ele não conseguia se recuperar e quando tossia era como se colocasse seus pulmões para fora.

- Eu não precisei estragar o momento. - Tayla analisou risonha enquanto segurava o marido esfregando suas costas para que o incômodo no pulmão parasse.

- Quando eu disse que podia ser médica, não queria que fizesse um remédio para me matar. - Ele disse, com muita dificuldade ainda tentando recuperar sua garganta. Tayla o solta e vai até o recipiente com alcaçuz para analisar o conteúdo. - Ei, volte aqui. Tenho certeza que se você me abraçar e me envolver com seu corpo, compartilharemos calor humano e minha garganta vai melhorar. - ele disse, quase recuperado totalmente.

- Ora, eu tenho certeza que você possui uma infinidade de casacos em seu armário. - ela disse, rindo das intenções do marido, enquanto provava um pouco do "chá de alcaçuz" que ela tinha acabado de fazer. Pegou um dos potes com etiquetas e colocou seu conteúdo lá, escrevendo com um pouco de tinta e pena o nome da planta que ela tinha usado.

- Para que serve? - Edmond questiona.

- Ele atua como expectorante e ajuda a tratar tosses, catarros e inflamações. - Tayla falou, rindo.

- Ele só nos provocou tosse! - Ed rebateu, um tanto irritado. Ele queria ter falado algo importante no momento que os dois foram separados pelo bendito chá de alcaçuz.

- Por que foi inalado. Ele precisa ser ingerido para funcionar e atua em pessoas resfriadas. Nós estamos saudáveis. - ela disse firme e Edmond admirou o conhecimento da esposa.

- Ter uma médica em casa pode ser extremamente útil. - Ed falou, sorrindo. Tudo o que ele mais quis em uma esposa era uma mulher única, diferente das moças que ele conhecia. Alguém a frente de seu tempo. Lá estava ela, bem à sua frente. - Quando eu estiver doente, vai cuidar de mim.

- E de nossos filhos também... - ela disse observando o marido arquear a sobrancelha. - Não me olhe assim. Eu já disse que teremos filhos. Só preciso de...

- Um tempo. - ele completou suspirando.

- Sim. - Tayla sussurrou baixo.

- Sabe... - Ed se pronunciou. - Eu estava pensando em fazer algo para lhe animar. Vai ser bom para mim também, ultimamente tenho ficado concentrado em desmascarar Oscar e prendê-lo, preciso me divertir um pouco. - Agora foi a vez de Tayla arquear a sobrancelha. - Não é nada do que você está pensando. - ele disse, tranquilizando-a. Por mais que ele quisesse, o divertimento não envolvia os dois somente. - Vamos fazer um piquenique. Chamaremos Will, Daisy, Maria...

- Rose e Lisa também? - Tayla perguntou, um pouco enciumada. Ela não planejava ver Rose tão cedo depois do ocorrido e o rosto de Lisa também lhe causava nojo.

- São nossas amigas. - ele disse.

- São suas amigas. - ela rebateu. - Na verdade, ambas foram mais que amigas para você.

- Eu gostaria de chamá-las. - Ed tentava convencer a esposa, mas Tayla estava obstinada a não aceitar. Edmond não queria mais nada com Lisa ou Rose, mas achava injusto não chamá-las uma vez que frequentavam o mesmo circulo social. Além do mais, ele não via maldade nas duas como a esposa via.

- Então arrume outra condessa Hughes para participar, por que eu não vou estar lá. - ela disse, fazendo o marido desconfiar de sua atitude. "Tayla estava com ciúmes?" ele se questionou, mentalmente.

- Sua implicância com elas vai muito além de desconfiar das duas, ouso dizer...

Se Edmond soubesse o que Rose escondia, com certeza daria razão a Tayla.

- Bom, talvez eu possa aceitar. - ela disse e Edmond escutava atento. - Com uma condição.

- Eu já imaginava...

- Eu não tinha terminado! - Tayla disse, um tanto nervosa. Ed se calou no mesmo momento. - Vamos chamar Francisco e Alfonso. Ele pode ter voltado para Portugal mas posso apostar que veio visitar seu primo novamente.

- O herdeiro rico que queria você e o primo português que não tirava os olhos do seu corpo? - agora era Edmond que se irritava.

- O que foi? Não confia em si mesmo para chamá-los? Acha que vou me jogar nos braços deles? - Ela disse, provocando. - Francisco tem olhos bonitos e Alfonso é charmoso... Mas você... Você é meu marido Edmond. E eu não esqueci o que vivemos na viagem para o Brasil. - Tayla disse, fazendo Edmond estremecer.

- Ainda não concordo. - Edmond rebate, alternando entre encarar os olhos verdes esmeraldas da esposa ou sua boca. Ele precisava beijá-la novamente. A distância estava corroendo-o.

- Você não vê maldade na conduta das suas jovens amigas e eu não vejo maldade neles.

- Eu conheço os homens e nem todos tem a dignidade de respeitar uma dama.

- Eu conheço as mulheres e nem todas são dóceis e tranquilas como você pensa. Muitas são lobo em pele de cordeiro. Podemos esconder todos os segredos em nosso coração. - ela diz, pensando no amor escondido que ela nutria pelo marido.

- Tudo bem. - Ed disse por fim.

- A decisão de todo modo, não era sua mesmo. - Tayla disse em um tom divertido. Aquela era sua casa também e se ela havia decidido que não, aquelas cobras de saia não iam entrar de jeito nenhum.

Mas ela entendeu o apelo do marido. Todos seriam convidados e mesmo não suportando aquelas meninas, seria injusto deixá-las para trás. Se Rose não abrisse a boca na frente de todos (o que Tayla julgava ser impossível, Rose não tinha tal coragem) o piquenique seria excelente para rever os velhos tempos e os velhos amigos.

- Quando devíamos marcar? - ele questiona. - Suas queimaduras vão permitir que se sente? - Edmond estava preocupado, não queria exigir da esposa mais do que ela poderia suportar.

- Não quero que minha saúde seja impedimento e eu estou excelente. - ela disse e ele quase a censurou por ela ser tão desligada quanto a gravidade de seus ferimentos. Ela recebeu o olhar repreensivo do marido e reformulou a frase. - Podemos montar uma mesa com quitutes em vez de forrar o chão se é isso que te preocupa. Pode ser um momento descontraído, vai ser bom, de fato.

- Então estamos de acordo.

- Estamos sim. - ela sorriu e pela primeira vez em muito tempo, sentiu que estava realmente morando em seu lar.

Não uma mansão velha passada por gerações de York's. Não, sua casa, com pessoas que realmente se importavam com ela e sua opinião.

















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