A Última Lágrima do Anjo

By ThatsitIza

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Há milênios o céu e o inferno batalham em uma luta sem fim... Amadeo, o amado de Deus sacrificou sua vida pa... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14 - Emanuel
Capítulo 15 - Revelações
Capítulo 16
Capítulo 17 -
Capítulo 18

Capítulo 3

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By ThatsitIza


            Aproximadamente duas semanas se passaram sem que Rebeca fosse perturbada pelas vozes ou tivesse outro daqueles sonhos perturbadores. Não havia sido demitida e conseguira vender bastante. Sua vida havia voltado ao delicioso tédio habitual, entretanto, em alguns momentos não conseguia deixar de pensar naquele estranho que conhecera duas semanas atrás e de quem não tinha nenhuma notícia desde então. Ela o mandara embora, era verdade, mas em algum lugar no íntimo do seu ser desejava que ele não tivesse ido.

          Não pensaria nisso naquele momento, Diego estava animado com um cara que conhecera no final de semana anterior no pub onde ela trabalhava e esta noite teria um encontro. Não falava em outra coisa.

- Que roupa eu coloco? – Diego perguntou ansioso na hora do almoço. Ainda comiam no lugar de sempre, próximo ao metrô, religiosamente todos os dias no mesmo horário. – Estava pensando em comprar alguma coisa nova, o que você acha?

- Não sei, você está perguntando para a pessoa errada, eu sei exatamente o que eu vou vestir – disse enfatizando o eu – E será um uniforme.

- Ai amiga! Faz um esforço! Estou muito ansioso! Nem acredito que ele me ligou. – falou estalando os dedos impaciente.

- Coloque alguma coisa que te deixe confiante, que faça você se sentir o máximo. É só o que eu posso contribuir... Que tal aquela blusa listrada que você adora? – arriscou.

- Não é um passeio no Shopping Rebeca! É um encontro com o possível homem da minha vida! Tenho que estar impressionante! – exclamou.

- Não crie muitas expectativas Diego, o cara pode não ser isso tudo.

- O importante é a experiência querida. E se eu fosse você saía dessa concha, porque aquele gato do Miguel estava cheio de boa vontade e você colocou o cara para correr. – disse tomando um gole do suco de laranja que estava bebendo.

- Eu sei, mas é muito complicado... – disse distraída.

- Seria complicado de qualquer forma meu bem. Não é mais complicado para você do que é para todas as outras meninas, isso não tem nada a ver com o que aconteceu no passado, tem a ver com o que você vai fazer com isso. – falou gentilmente.

- Talvez você tenha razão... Mas ninguém disse que ele queria alguma coisa comigo, e ademais, é passado não é? Ele sumiu, vamos esquecer isso e pensar no que você vai vestir hoje a noite! – exclamou.

- Ahhh! Sabia que era só usar o argumento certo – disse empolgado.

- Cretina! – ela riu e terminou o almoço.

          Ao final do expediente Rebeca pegou o metrô para sua casa a fim de descansar um pouco antes do próximo turno. Sexta feira era o dia mais cansativo da semana, mas não podia se queixar, precisava apenas de um banho e a horinha habitual de descanso antes de estar totalmente revigorada para vestir o uniforme e sacudir coqueteleiras a noite toda.

- Eu sabia que você precisava de mim. – uma voz sussurrou em seu ouvido pouco antes de tudo ficar embaçado mais uma vez.

           Ela sentiu que saía do chão, seu corpo doía, não tinha controle de nada... Sentiu o ar fresco em seu rosto, e depois a turbulência, sua consciência a estava traindo, ela se alternava entre o mundo real e aquele mundo, aquele de seus sonhos.

- O que está acontecendo? – perguntou sem saber como ou a quem, sem saber se as palavras eram apenas pensamentos. Ouviu uma risada, depois uma série de risadas que ficaram altas demais para que seu ouvido suportasse.

            Acordou algum tempo depois, a cabeça doía tanto que mal conseguiu abrir os olhos, mas se não levantasse imediatamente chegaria muito atrasada. Pegou um dos milhares de remédios para enxaqueca em sua mesa de cabeceira e se esforçou para entrar no chuveiro.

           O que havia sido aquele sonho? Era real e enlouquecedor ao mesmo tempo, ela sentiu como se fosse real, sentia a dor deles, a súplica deles, sentia o medo, a raiva... – E definitivamente você está viajando garota – disse para si mesma no espelho, ainda enrolada na toalha.

              Ligou a música para dispersar os pensamentos ruins, mesmo que sua cabeça ainda latejasse um pouco. Precisava entrar no clima, a noite seria longa.

            Colocou o uniforme na bolsa como de costume, vestiu jeans e camiseta e desceu correndo as escadas, o cabelo em um coque relaxado. Se corresse ainda pegaria o ônibus das 20:00h.

                   Diego chegou por volta das 23:00h e sentou pesadamente no balcão.

- Estou tão nervoso que até a minha língua está dormente. – confessou.

- Calma cara, nem é a primeira vez que você sai com ele. – disse batendo um drink para acalmar o amigo – É por conta da casa – sorriu.

- Lindo! – disse tomando um gole exatamente no momento em que viu o cara vindo na direção dele.

- Boa sorte – desejou a amiga e ficou observando os dois se afastando quando percebeu cabelos escuros e brilhantes a uma certa distância conversando com algumas pessoas. Estava bonito, com uma calça preta e blusa de malha branca, simples, como tudo deveria ser. Olhou para ela mas não se moveu, continuou conversando com os outros, não dava para identificar muito bem quem eram com aquelas luzes e tudo mais, e repentinamente ela desejou estar lá, ao invés de atrás de um balcão sujo servindo gente mal educada.

- Não seja ridícula Rebeca – disse para si mesma batendo com força demais o drink que estava em sua coqueteleira e consequentemente arruinando tudo. – Ótimo. – resmungou bebendo a mistura que não era ruim de gosto, mas estava longe de estar perfeito.

         Olhou novamente na direção onde o vira anteriormente, mas não estava mais lá. Talvez estivesse alucinando mais uma vez, pensou consigo mesma. Precisava esquecer, não podia pensar em nada daquilo, pessoas como ela não tinham vidas como a dele.

      Algumas horas depois viu Diego piscar para ela antes de sair com a nova companhia, ainda faltava um pouco para fechar mas as pessoas já estavam começando a sair. Mais umas duas horas poderia ir para casa e virar esta página para sempre.

- Uma dose de whisky por favor – um cliente pediu enquanto ela guardava algumas coisas na prateleira.

- É para já senhor. – disse servindo o copo com habilidade, sem olhar para ele.

- Obrigado Rebeca. – A menção ao seu nome fez com que realmente olhasse para o estranho,

- Miguel – falou surpresa.

- Te vi mais cedo, mas precisava ficar de olho na minha equipe, eles são um pouco... instáveis, por assim dizer. – falou tomando um gole.

- Se eu soubesse que era você não teria servido o falsificado – disse com um risinho meio debochado.

- É, percebi. – sorriu encarando o copo.

- E então, onde está a sua equipe agora? – perguntou embaraçada.

- Eu os levei de volta para casa. – falou casualmente.

-Sério? E por que voltou? – perguntou genuinamente curiosa.

- Não sei ao certo – disse encarando novamente o copo. – Eu só meio que quis voltar.

- Entendi... Neste caso então... – falou tomando o copo dele e servindo outro de outra garrafa, assim como um para si mesma – vamos tomar um drink – sorriu.

- Bom te ver sorrindo – reparou.

-É, estou feliz pelo Diego – mentiu em parte, realmente estava feliz, mas não era por isso que estava sorrindo.

- É um bom motivo – disse com um meio sorriso.

-Desculpe ter falado com você daquele jeito... – disse timidamente.

- Desculpe não ter aparecido assim mesmo. Não é assim que os amigos fazem. – falou apoiando a cabeça na mão mordendo o polegar de um jeito que Rebeca achou hipnotizante.

- As pessoas que eu gosto sempre se machucam, sempre vão embora... Não queria... Não quero que aconteça com você também – ela falou encarando o líquido âmbar em seu próprio copo.

- Isso é muito lisonjeiro, eu acho... – sorriu.

- Lisonjeiro? – perguntou confusa.

- É, posso concluir que faço parte das pessoas que você gosta... – disse fazendo-a rir.

- Talvez eu tenha gostado um pouquinho... Principalmente da parte em que você praticamente salvou a minha vida – pausou – Duas vezes.- Miguel riu.

- Acho válido. – disse dando mais um gole. Um silêncio constrangedor reinou por alguns instantes, até que ele o quebrou.

- Rebeca. – falou com calma, pensando por onde começar – Eu tenho certeza que existe uma razão para temer que as pessoas a deixem. - pausou - Mas veja uma coisa, desde que nos conhecemos, não houve muita normalidade e eu ainda quero estar aqui. Você é uma pessoa que... – hesitou – Esquece, o importante é que eu acredito que você pode conquistar coisas que nunca imaginou, eu queria muito, muito mesmo, que você se juntasse a minha equipe. Realmente acho que você é perfeita para a função que quero te oferecer, e de alguma forma eu... – hesitou novamente - Eu não sei se consigo não continuar cuidando de você, eu sinto que isso faz parte da minha missão e seria muito ruim se eu não pudesse cumpri-la. – concluiu encarando-a com o semblante sério.

- Você está me oferecendo um emprego? – perguntou perplexa.

- E essa foi a única parte que você ouviu... – suspirou – Mas sim, basicamente é isso.

- Eu gostaria muito de aceitar, mas as minhas circunstâncias são peculiares e se eu aceitasse te colocaria em uma situação que provavelmente você vai preferir evitar.

- Por que não me conta e deixa que eu decida? – perguntou olhando nos olhos dela que pensou por alguns instantes.

- Tudo bem, mas não aqui. – falou por fim – Vou fechar o Pub, pode me levar para casa? Te conto no caminho. – Miguel assentiu e aguardou, não demorou muito e ela já estava novamente com suas roupas, entrando no carro dele.

- Tudo bem? – perguntou ao ligar o carro.

- Eu só não sei por onde começar... – deu de ombros.

- Pelo começo talvez? – sugeriu.

- Aí é que está... Eu não tenho começo... Não sei onde tudo começou, nem como... Só sei que... – suspirou pensando se deveria continuar, provavelmente essa seria a última vez que o veria, mas tinha que contar, ela queria. – Um dia eu dei por mim e estava amarrada a uma cama em um hospital psiquiátrico. Não sabia quem eu era, de onde vinha ou por que estava ali, só sabia que não estava sozinha. Haviam as vozes, milhares delas, de todos os tipos, mas eu não conseguia entender. Eu pedia ajuda, mas só conseguia mais remédios, mais tratamentos, e ainda assim elas continuavam, continuaram e continuam... Um dia eu fugi, não sei como consegui, mas gosto de pensar que pelo menos uma vez elas me ajudaram, indicaram uma direção. 

               Eu estava tão desesperada, tudo me assustava, eu lembrava vagamente do mundo fora dali, e fiquei perdida durante dias, sem nome, sem documentos, eu não era ninguém... Alguém uma vez me disse que meus pais me colocaram ali por causa das vozes, que eu era louca, a mais louca. - parou por uns instantes - Esquizofrênica. Ouvia eles dizendo pelas minhas costas... Autista... Não sei, acho que nem eles sabem... Mas os esquizofrênicos ouvem vozes... Então devo ser isso mesmo. - sorriu sem graça - Passei uns dias na rua, fui acolhida por um casal de idosos quando fiquei doente passei uns dias com eles. Meu nome escolhi aleatoriamente, qualquer um... Acho que tinha visto em uma banca de revistas... E assim me tornei Rebeca. Soller era o sobrenome deles, e quando saí de lá pulei de emprego em emprego até chegar onde estou hoje.

         Sou uma mentira entende, não sei nada sobre mim, não há nada além das vozes, nada além daquelas lembranças de sofrimento, nada além de alguns meses na rua, nada além do emprego clandestino que consegui na livraria. Não tenho documentos e provavelmente alguém procura por mim em algum lugar para me internar novamente. – disse sem conseguir encará-lo em seguida. Algumas lágrimas escorriam em seu rosto maquiado e a deixavam ainda mais constrangida. Miguel não falou nada pelo que pareceu uma eternidade.

- Eu sinto muito – ele falou por fim, muito sério. Estacionando o carro próximo a casa dela.

- Eu sabia que seria demais – sorriu resignada, então saiu do carro e começou a subir as escadas.

- Rebeca espere! – Miguel disse seguindo a garota. – Você não entendeu.

- O que eu não entendi? – perguntou parada à porta do apartamento.

- Se você me deixar ajudar nunca mais vai se sentir abandonada e impotente novamente. Deixe eu ajudar você a superar isso tudo. – falou segurando a mão dela de um jeito protetor. Ela quase conseguia acreditar na sinceridade estampada em seus olhos, mas era demais, era muita coisa, era mais do que já havia sido oferecido a ela em toda a sua vida, ela não merecia.

- Não tem que ser assim Rebeca, não precisa ser. – falou com convicção.

            Por um momento se imaginou com ele em um escritório até tarde da noite discutindo algum assunto relevante, mas imediatamente afastou esse pensamento e voltou para a mesa.

"Não tem que ser assim" parecia ouvir a voz dele em sua cabeça, mas infelizmente, precisava ser.

- Prometa que vai pensar, que vai pensar com afinco? – disse entregando um cartão para ela. – Me ligue se mudar de ideia ou se precisar apenas conversar está bem?

- Eu prometo. – assentiu entrando no apartamento em seguida. E neste momento, não conseguiu conter todas as lágrimas que não permitia cair há muito tempo. 

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