Capítulo 3

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            Aproximadamente duas semanas se passaram sem que Rebeca fosse perturbada pelas vozes ou tivesse outro daqueles sonhos perturbadores. Não havia sido demitida e conseguira vender bastante. Sua vida havia voltado ao delicioso tédio habitual, entretanto, em alguns momentos não conseguia deixar de pensar naquele estranho que conhecera duas semanas atrás e de quem não tinha nenhuma notícia desde então. Ela o mandara embora, era verdade, mas em algum lugar no íntimo do seu ser desejava que ele não tivesse ido.

          Não pensaria nisso naquele momento, Diego estava animado com um cara que conhecera no final de semana anterior no pub onde ela trabalhava e esta noite teria um encontro. Não falava em outra coisa.

- Que roupa eu coloco? – Diego perguntou ansioso na hora do almoço. Ainda comiam no lugar de sempre, próximo ao metrô, religiosamente todos os dias no mesmo horário. – Estava pensando em comprar alguma coisa nova, o que você acha?

- Não sei, você está perguntando para a pessoa errada, eu sei exatamente o que eu vou vestir – disse enfatizando o eu – E será um uniforme.

- Ai amiga! Faz um esforço! Estou muito ansioso! Nem acredito que ele me ligou. – falou estalando os dedos impaciente.

- Coloque alguma coisa que te deixe confiante, que faça você se sentir o máximo. É só o que eu posso contribuir... Que tal aquela blusa listrada que você adora? – arriscou.

- Não é um passeio no Shopping Rebeca! É um encontro com o possível homem da minha vida! Tenho que estar impressionante! – exclamou.

- Não crie muitas expectativas Diego, o cara pode não ser isso tudo.

- O importante é a experiência querida. E se eu fosse você saía dessa concha, porque aquele gato do Miguel estava cheio de boa vontade e você colocou o cara para correr. – disse tomando um gole do suco de laranja que estava bebendo.

- Eu sei, mas é muito complicado... – disse distraída.

- Seria complicado de qualquer forma meu bem. Não é mais complicado para você do que é para todas as outras meninas, isso não tem nada a ver com o que aconteceu no passado, tem a ver com o que você vai fazer com isso. – falou gentilmente.

- Talvez você tenha razão... Mas ninguém disse que ele queria alguma coisa comigo, e ademais, é passado não é? Ele sumiu, vamos esquecer isso e pensar no que você vai vestir hoje a noite! – exclamou.

- Ahhh! Sabia que era só usar o argumento certo – disse empolgado.

- Cretina! – ela riu e terminou o almoço.

          Ao final do expediente Rebeca pegou o metrô para sua casa a fim de descansar um pouco antes do próximo turno. Sexta feira era o dia mais cansativo da semana, mas não podia se queixar, precisava apenas de um banho e a horinha habitual de descanso antes de estar totalmente revigorada para vestir o uniforme e sacudir coqueteleiras a noite toda.

- Eu sabia que você precisava de mim. – uma voz sussurrou em seu ouvido pouco antes de tudo ficar embaçado mais uma vez.

           Ela sentiu que saía do chão, seu corpo doía, não tinha controle de nada... Sentiu o ar fresco em seu rosto, e depois a turbulência, sua consciência a estava traindo, ela se alternava entre o mundo real e aquele mundo, aquele de seus sonhos.

- O que está acontecendo? – perguntou sem saber como ou a quem, sem saber se as palavras eram apenas pensamentos. Ouviu uma risada, depois uma série de risadas que ficaram altas demais para que seu ouvido suportasse.

A Última Lágrima do AnjoWhere stories live. Discover now