Já passava das onze quando Max e Caio conseguiram parar para conversar, de verdade. A festa já tinha acabado, o salão já estava arrumado para uma próxima comemoração. Rodrigo e Enzo já estavam no terceiro sono e Pedro levara o mais velho no colo para dormir, após um dia de grandes momentos felizes. Os dois amigos estavam sentados nas cadeiras da mesa na varanda do apartamento, de onde podiam observar a praia, apesar do medo de Caio do mar à noite. Há um bom tempo os dois não se reuniam para colocar os assuntos em dia. Não pessoalmente. Na mesa, duas latas de cerveja e um caixa de mini coxinhas, parte das coisas que sobraram da festa.
— Acho que tem salgado e doce para até o fim do mês. – Disse Max, com um sorriso cansado no rosto.
— Duvido! – Retrucou Caio. – Aposto que até terça aquelas três forças da natureza que são os meninos já acabaram com tudo. Mas de qualquer maneira eu vou dar uma ajudinha aqui. – Disse, devorando umas quatro minis coxinhas.
Max riu. Ficou por alguns instantes fitando o amigo, pensativo.
— E você?
— O que que tem? – Indagou Caio, de boca cheia.
— Como você está?
Caio terminou de mastigar, engolindo a comida, seguida de um gole de cerveja. Olhou para a paisagem à janela da varanda e respondeu:
— Acho que eu nunca estive melhor.
— Sério?
— Você esperava que eu dissesse algo do tipo: "Eu acho que cheguei à conclusão de que apesar de toda a grana que ganhei eu sinto falta de um amor", certo?
— Você que está dizendo. Mas fiquei feliz de você não virar um Howard Hughes.
— Nah. Sou péssimo em projetar aviões. – Respondeu, Caio, sorrindo. – Tampouco quero acabar usando caixas como sapatos.
— Mas me conta uma coisa... aconteceu alguma coisa no banheiro entre você e o Alberto?
— Não, por que? – Respondeu Caio enquanto devorava mais algumas coxinhas.
— A cara dele na festa depois que você chegou. Teve umas quatro vezes que o vi de longe, te observando, com um ar meio borocochô, sabe?
— Problema dele. Vai ver foi recalque do que falei da barba dele.
— Ai, nem me fale. – Comentou Max, com a mão na testa. - Gente, que uó. Pareceu aqueles velhos querendo pagar de garotão. De onde ele tirou que aquilo está bom?
— Culpa do seu pupilo, Leonardo. Foi "sugestão" dele.
— Não te falei? O Leonardo não trabalha mais na Venture.
— Não sabia! Me conta tudo.
— Ele largou a faculdade de Design para fazer Gastronomia. Segundo eu soube, ele "estava insatisfeito" e quis "ir atrás da sua verdadeira vocação".
— Ou seja, viu a roubada que seria trabalhar com o marido. Com dinheiro é muito fácil ficar trocando toda hora de vocação. E o Alberto? Como ficou nessa história?
— Foi um mês tenso, com "eme" e "cedilha". De 'Snape' ele passou a ser o próprio 'Voldemort'. Cá para nós, eu acho que ele pintou a barba só para fazer as pazes com o Leonardo.
— Gente... que coisa. Mas por um lado, o Leonardo achou melhor se dar bem como chef do que como chefe.
— Putamerda, Caio! Depois dessa, minha aventura termina aqui! Vai ficar para dormir? Preparo o quarto de hóspedes em um minuto.
— Nem precisa se preocupar, amor. Já fiz isso. – Disse Pedro, como se surgisse do nada, na varanda, abraçando Max.
— Como estão os três, amor?
— O Gui custou um pouco para dormir, mas os outros dois continuam dormindo que nem duas pedrinhas. – Riu.
Caio se levanta e dá uma espreguiçada.
— Eu agradeço, pessoal, mas não quero incomodar.
— Não quer incomodar ou já tem compromisso? – Indagou Max, com um sorrisinho.
— Um pouco de ambos, seu venenoso. Quero sair para dançar hoje. Eu soube que vai ter um Bearcontro. Com sorte eu ainda dou uns beijos, abro umas camisas, nham-nham...
— Tá, e depois?
— Se eu arrumar companhia, lugar para ficar não vai ser problema.
— E se não arrumar? – Perguntou Pedro, Curioso.
— Ué, eu vou para o meu apartamento. Ou pior: eu alugo uma suíte mega luxuosa num hotel e me esbaldo de champanhe e canapés.
Max respondeu o comentário de Caio com uma careta:
— Isso, aproveita e grita: Eu sou RYCA!
Caio respondeu dando um selinho no próprio ombro direito. Max e Pedro o acompanharam até a porta.
— Sério, eu vou ficar bem. – Respondeu o rapaz, num tom tranquilo.
— Se cuida. Qualquer coisa me liga, ok? – Despediu-se Max.
Os três se abraçaram e Caio seguiu rumo ao elevador, indo ser feliz.
Isso era o que ele achava.