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— Clarke, o que diabos há com você? - A loira se virou bruscamente, ainda debruçada no balcão, ao ouvir a voz da colega de trabalho, que estava com uma carranca em sua frente. — Não faço ideia do que houve entre você e Bellamy, mas... - Ela fechou os olhos momentaneamente e baixou a cabeça; balançando-a para os lados lentamente. — Ele estava péssimo ontem à noite, e você está conseguindo ficar pior que costuma ser, Clarke! - A morena usou toda sua sinceridade, não que ela não fizesse isso, mas esse "pior que de costume" era literal, já que a própria conseguia ver o reflexo de seu rosto inchado, assim como as olheiras imensas e seu cabelo bagunçado e ressecado, na pia nova colada ao balcão, onde ela continuava debruçada, apenas fitando um saleiro repleto de moscas, que voavam sobre os frascos de maionese e ketchup. A morena se aproximou, e sustentou seu corpo sobre as duas mãos sobrepostas encima do balcão, voltando a falar:
— É sério Clarke! Eu estou falando muito sério. Você não pode trazer seus problemas pessoais para cá! Vejamos, quantas mesas você atendeu hoje? - A loira elevou os olhos sem vida sem mexer a cabeça, encarando sem muito interesse a morena, que tinha os olhos esbugalhados, e erguia o queixo seguidas vezes, esperando por uma resposta. A loira apenas continuou fitando ela por uns segundos, logo voltando a olhar o revoar das moscas, que parecia bem mais interessante para ela. — Você não atendeu nem aquela... - A morena decidiu responder a própria pergunta, mas se calou-se rapidamente ao perceber o rumo que o assunto tomou. Ela suspirou alto e demoradamente, travando seu notório maxilar e semicerrou seus olhos turvos, fitando a loira, que continuava com sua inexpressividade exposta no rosto. — A cliente que te pedir para sempre atender. - Disse sussurrando, para logo em seguida voltar a berrar:
— Você sabe que não suporto nem ao menos olhar para a cara de pau daquele "mulherzinha" e mesmo assim você não foi atendê-la! - A morena voltou a respirar fundo, como se estivesse se controlando para não arrancar os cabelos da loira, que só então percebeu que merecia ter até sua cabeça decepada, afinal sua amiga, cunhada e companheira de trabalho odiava a mecânica, embora Clarke não entendesse o por quê, pois enxergava Raven Reyes uma pessoa legal, embora ainda tivesse um pé atrás devido o fato dela ter estado com o pai de seu filho, quando Clarke e ele estavam juntos. Raven alegou não saber e talvez não soubesse mesmo, afinal Harper, e até e Gaia que eram as "santinhas" da cidade ficaram grávidas dele!
— Acima de tudo sou sua amiga, mas também sou sua colega de trabalho e não posso fazer todo o trabalho por nós duas, não! - A loira encarou a amiga ao ouvir seu lamento, deixando seus pensamentos e questionamentos sobre Raven Reyes para uma outra hora. — Em três dias Niylah estará de volta! E para o seu bem, eu sinceramente espero que você mude! - Disse baixo, batendo levemente no ombro esquerdo d e Clarke, que antes de se arrastar preguiçosamente até a cozinha, soltou:
— Ok, Octavia!
— Clarke, tire o dia de folga e amanhã só apareça aqui em seu estado "normal". - A morena disse caminhando atrás da lei, que se perguntou o que seria esse seu estado normal, enquanto se virou para observar Octavia fazer aspas sobre esse adjetivo, se é que da maneira que ela colocou era de fato uma adjetivo. — Ou considere-se demitida desde já! - Concluiu definitivamente berrando a última parte, assustando Clarke.
...
Após ter tomado um banho de lama de um carro guiado em alta velocidade por uma morena esguia, Clarke, que ainda se limpava da forma de era possível, se surpreendeu ao vislumbrar Bellamy e Roan conversando próximo a Escola que seu filho estudava. Ela estranhou ver os dois juntos, até onde tinha conhecimento, eles não se conheciam para ter essa intimidade de conversarem em um banquinho da praça da cidade. A loira caminhou sorrateiramente para perto do banco, quase entrando em pânico ao ouvir o namorado, ou aquela altura, ex, de maneira alterada dizer:
— Você não irá pegar o menino!
A loira cuidadosamente se aproximou mais, por trás das pequenas árvores e coqueiros, ouvindo Roan então falar:
— Você teve quase quatro anos para se aproximar de Clarke e fazê-la sumir de Polis com o bastardo para sempre, mas você não teve progresso algum, Blake! - A loira ficou inerte, enquanto sentia seu sangue se esvair ao ouvir aquela acusação contra o namorado que a julgar pela expressão era uma afirmação verdadeira. — Você nem mesmo conseguiu sequer casar com aquela cabeça de vento! - Roan deu de ombros, sorrindo minimamente. Ainda em choque a loira começou lembrar de todas as vezes que o namorado a pressionou para que eles se casassem e que dizia que após isso se mudariam da pequena cidade.
— Ela terminou com você? - Roan gargalhou, fazendo Clarke voltar a realidade e fitá-los. Ela observou Bellamy abrir a boca tentando falar alguma palavra mas tudo que ela ouvia era o som da risada escandalosa de Roan.
— Não foi bem assim! - Após alguns segundos murmurando sons baixos e indecifráveis, Bellamy por fim conseguiu falar, na verdade gritou:
— Ela e a aquela velha estavam falando umas coisas de mim, ouvir e sair de lá. - Afirmou com convicção. — Foi apenas isso! - O moreno bufou, parecendo bravo com as insinuações do outro, que continuava gargalhando.
— Qualquer mulher "mãe solteira" daria tudo para achar um otário assim como você para... - Roan pôs a mão direita no ombro esquerdo de Bellamy, enquanto explodia de tanto rir. — Assumir seu filho mas ela simplesmente dispensou você, Blake! - Roan concluiu ainda sorrindo de forma tão intensa que seu rosto estava ainda mais escarlate que sempre fora. — Você deve muito ruim na cama! - Debochou, batendo uma mão em sua própria coxa e a outra nas costas do moreno cabisbaixo. — Ou ela o deixou apenas por causa de sua feiúra mesmo! - Gargalhou ainda mais alto, batendo com mais força no ombro de um irritadiço Bellamy que bruscamente se levantou do banco, ficando de pé em frente a ele.
— Olha aqui, eu não vou ficar aqui ouvindo essas merdas não, Roan! - Bellamy apontou o dedo diante do rosto do outro, que também se levantou rosnando; mudando seu bom humor para uma repentina fúria.
— Olha aqui você, Blake! - Roan pôs a mão direita atrás de suas costas, sob o casaco negro, levantando intencionalmente ou não um pouco do tecido mostrando sua pistola, o que não passou despercebido pela loira que os espreitava.
Totalmente aturdida Clarke observava Roan bater com o mão livre na mão de Bellamy que involuntariamente a baixou e recuou, dando um passo para trás.
— Todo mês você tira muito dinheiro da Prefeita e digamos que ela não está muito feliz com seu progresso, ou melhor com a com falta dele, como eu citei. - Roan falou, e Clarke sentiu outro soco atingir em cheio o seu estômago e não conseguiu conter as lágrimas que desceram por sua face de forma instantânea e sem que ela quisesse ou permitisse. Ela sempre se sentiu mal por namorar Bellamy mesmo sem amá-lo, sentia-se ainda pior pelo fato de que ele cuidava de seu filho financeiramente e por não querer magoar a irmã dele que era sua melhor amiga.
— Então, Bellamy agradeça imensamente por eu não estourar seus miolos bem aqui. - A voz de Roan tirou Clarke do transe. — E saia da minha frente que eu vou pegar aquele moleque! - Disse, empurrando o moreno de maneira brusca, iniciando uma caminhada rápida e nada elegante rumo à escola, enquanto Bellamy começou a correr atrás dele, segundos depois o acompanhando e segurando em seu antebraço esquerdo.
— Espera Roan! Me dê mais um tempo! Eu juro que dou um jeito de tirar ela e o menino até do país, mas não faça isso! - Enquanto praticamente arrancava seus cabelos, e transitava de um lado para o outro atrás do arvoredo, a loira ouviu o pedido aparentemente desesperado do moreno, que foi rudemente empurrado pelo assassino de aluguel. — Por favor!
— Você teve tempo de sobra para se livrar do moleque bastardo, daquela loira burra e daquela velha aleijada e barraqueira, e o que você fez? - O homem que tonha um rabo de cavalo bem organizado na nuca cuspiu as palavras em forma de grito, aproximando sua face da de Bellamy, que recuou apenas a cabeça, fechando seus olhos. — Não me venha bancar o paizão agora, Blake! - Pegou no queixo de Bellamy, de forma brusca, forçando ele a abrir os olhos e lhe encarar. — No fundo estou lhe fazendo um favor, você me disse que estava com muito ódio dela! - Roan sorriu sem som.
Enquanto Clarke observava atentamente algumas crianças que passavam pelo portão da escola, Roan puxou os ombros de Bellamy quando o mesmo tentou marchar rumo à escola, dando uns empurrões em sej peitoral. O moreno que continuou tentando impedir Roan de ir adiante. A loira passou o dorso da mão direita em seu rosto, limpando as lágrimas que involuntariamente continuavam a cair.
Roan girou seu corpo, saindo das mãos de Bellamy, fazendo seu casaco se abrir ao movimento do vento, e nesse movimento a loira arregalou seus olhos ao perceber o maior sacar a pistola e mirar em Blake, que estava estático assim como ela. Bellamy levantou suas mãos, abrindo sua boca, suor pingou de sua temporã, o medo estava estampado em sua face, o sobe e desce em sua garganta era nítido. Clarke desviou o olhar da cena, sentindo um calafrio percorrer sua espinha. Ela olhou para a escola, vendo seu filho passar correndo pelo portão da escola, voltou a olhar para os dois homens, vislumbrando as pálpebras de Bellamy fechando-se lentamente, ao mesmo tempo que ela deixou seu esconderijo.
Roan deu um passo sobre Bellamy, que estava pálido e trêmulo, seu braço armado mirou no tronco de Bellamy. Um disparo foi ouvindo, seguido de um som estridente, o grito de Clarke com a junção dos gritos das educadoras e crianças e as passadas rápidas do atirador para trás. A camisa de Bellamy se encharcava lentamente, conforme o fluxo sanguíneo se expandia enquanto o mesmo lutava para não cair no chão. Clarke correu desesperada em direção ao portão da escola, passando pelo cenário, observando as muitas crianças assustadas se espalhando por todos os lugares. Suas lágrimas voltaram a descer involuntária e incessantemente, quando ela passou próximo a Roan que estava de pé, e olhava de Bellamy com as mãos sobre o peito à ela e posteriormente ao garoto, elevando seu braço e colocando o filho dela em sua mira. O loirinho inocentemente correu de encontro com a morte, sem se importar com nada, ao vislumbrar o namorado de sua mãe caído no chão, apertando seu peito. Clarke abriu sua boca, deixando um grito estrondoso deixar sua garganta, enquanto um borrão invadiu sua visão do garotinho que desviou o olhar de Bellamy para a mãe, que tinha o rosto banhado em lágrimas.
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