2:20 da madrugada...
- Meu Deus! - me assustei com uma figura em minha frente.
- Finalmente! Agora podemos nos conhecer não é mesmo Alexa? Ou melhor... Belinda. - pronunciou quase como um sussurro, sua voz desceu rasgando pelos meus ouvidos.
-Q-quem é você? - gaguejei ao perguntar.
-Quem você acha que eu sou?
Eu tinha suspeitas de quem ele poderia ser. Mas... Como poderia? Sim, ele existe, mas porque se dirigiria a mim de tal forma, tão diretamente?
-Você...- hesitei - Você é...
Ele riu, olhando-me com certo desdém, senti péssimas energias pairando no ar. Era um homem alto, cabelos e olhos escuros, pele clara. Eu não pude ver todos os detalhes afinal o lugar onde estávamos era malmente iluminado.
-É... Esperta. Quem diria. Mas olha, para suavizar a situação, você pode me chamar de Lucifer, ou seja lá como você quiser me chamar. São tantos nomes.
-O que você quer?- disparei.
-O que eu quero? Bom... Antes de tudo, quando eu soube que haveria alguém novo para enfrentar as minhas forças eu pensei em alguém que aparentasse ter mais força, não com uma garotinha qualquer - afirmou secamente, mesmo sem compreender o motivo daquelas palavras eu pudia sentir o ódio em seu olhar perverso enquanto seu sorriso de lado se esvaia e ele se aproximava lentamente, de passo em passo. - Ainda assim, eu não subestimo os meus inimigos, pelo menos não todos. Então, o que eu quero? Quero acabar logo com essa palhaçada! - ele aumentou a velocidade dos seus passos e concluiu rispidamente. - Eu vou destruí-la de uma vez!
Meu coração disparou ainda mais. Cada passo a mais que ele dava em minha direção era um passo a mais que eu dava para trás, até colidir com uma parede. Era o fim da linha, ele estava a uns vinte passos de mim... Quatorze, minha respiração estava falha, ofegante. Dez... cinco. Era a minha morte, até que algo muito grande caiu na minha frente tão rápido, liberando um onda de ar tão forte que fui empurrada para baixo. Me vi no chão, apoiada aos meus braços, mirando o alto com os meus olhos semicerrados, e vendo um par de asas brancas e iluminadas enormes cujo a luz se continha em baixa velocidade.
-Eu creio que não - falou o aparente dono das asas, em resposta a ameaça.
Lúcifer expirou e disse enfado:
- Rafael! Que surpresa desagradável.
- Para o pai da mentira você esta sendo sincero demais hoje.
-É, eu resolvi ir direto ao ponto... Até você me atrapalhar.
Permaneci no mesmo lugar, me sentia fraca, as asas do tal Rafael estavam entre-abertas, quase fechadas, no entanto abaixei minha cabeça e pus-me a ouvir a conversa.
-E quem é que o deu permissão para tocar nela? - Indagou o mesmo.
-Precisava de permissão?- fazendo-se de desentendido ele prosseguiu - Ora, eu não sabia - Sorriu maldosamente por um segundo.
-Ela vai se preparar, e no dia determinado ela enfrentará um dos seus.
-Ah, ela poderia enfrentar a mim.
-Não. Sua batalha não será com ela.
-Ah claro, como pude esquecer? Conheço essa profecia.
Fez-se silêncio por alguns segundos, me sentei com as mãos para trás, ainda perplexa com a situação.
-Bom, Belinda - falou inclinando-se para poder me ver, com o mesmo olhar desgostoso e o sorriso de lado. - Nos vemos em breve.
Depois Rafael virou-se para mim, o outro havia sumido de repente. Ele me estendeu a mão, a qual segurei e fiquei de pé.
-Você tem.. você... - minha vista começou a escurecer, senti uma fraqueza em minhas penas e então, tudo se apagou.
●●●
Acordei assustada naquela manhã, no apartamento da Mack, porém, tudo parecia normal. Aparentemente ao chegar no apartamento só havia tirado as botas, pois continuava com as mesmas roupas da festa.
-Foi um sonho! - sussurrei ao me sentar na cama e expirei aliviada - Ainda bem!
Depois do banho, pus um vestido acima dos joelhos, solto, branco com flores azuis e mangas curtas que ganhei da minha mãe.
Logo estava indo para a cozinha tomar meu café da manhã, quando ao olhar para o lado vi um vulto passado na janela do lado de fora, não senti medo ou calafrios como das outras vezes, então... devia ser coisa da minha imaginação, mas por pouco não caí para trás de susto ao voltar a olhar para frente
- Quem é você !? - perguntei, quase gritando ao rapaz que estava me fitando de olhos arregalados no corredor.
-P-perdão, é... sou um amigo da Mackenzye - explicou. - Mas já estou indo embora, tá bom? Eu... sou o Lucas.
-Alexa. Desculpa os maus modos, você me assustou.
-Sinto muito. Prazer em conhecer você - deu um breve sorriso e virou-se para ir embora - Tchau. Tchau Mackenzye.
- Tchau Lucas! Ah, e obrigada!
- O que ele fazia aqui? - perguntei ao vê-lo abrir a porta.
- Não esquenta, ele só veio me visitar. - falou enquanto terminava o seu café da manhã na bancada.
- O que ele fazia no corredor?
- Provavelmente tinha acabado de sair do banheiro, e você?
- Tinha acabado de sair do quarto. Qual é o seu problema? - estranhei seu modo de agir tão, normal.
- O Que?
- Você... não está - fiz um gesto com o punho fechado e o polegar suspenso pondo ele próximo aos lábios.
- Ué, eu disse que estava mudando.
- Ahã. Parece bem - observei.
- Eu estou, mas não posso dizer o mesmo de você. O que aconteceu?
- Tentaram me matar - lembrei-me do sonho. Ela olhou para mim e começou a rir
- Você é hilária.
- Eu tive um sonho, pesadelo... acho. - Sentei-me perto dela, cotovelo em cima da bancada apoiando meu rosto com a palma da mão.
- Olha, tudo bem - virou-se para mim novamente. - Eu vou trabalhar, e quando eu voltar vamos ver um filme, um romance bem dramático e vamos comer pipoca, chocolate, tomar refrigerante e chorar, certo?
- Você é estranhamente... demais.
- Eu sei. Esse é um dos motivos de você me amar.
- E nem um pouco convencida.
- Jamais! - rimos. Naquele momento senti que algo mais estava estranho, parecia haver algo errado e como se pudesse ler a minha mente a Mackenzye diz - E você perdeu a faculdade.
- Droga! - pulei do acento quando tudo fez sentido, era o primeiro dia de aula da semana. Corri até a sala e encontrei o celular da Mack em cima da mesa de centro, logo o peguei para olhar a hora com a esperança de que ainda houvesse tempo de ir á aula. Me iludi. Já passava das 10 horas da manhã, meus pais não iriam gostar de saber.
Nos abraçamos e ela foi para o seu novo trabalho, blusa branca, blazer preto e uma calça caramelo. Uma perfeita atendente no café que seus pais abriram na cidade a pouco tempo... Ela é ótima lidando com as pessoas, o único problema era que a mesma se mostrava bastante desinteressada algumas vezes, mas isso estava mudando. Mack tinha 19 anos, deixou a faculdade de administração quando faltavam dois anos para completar, mas ainda assim eles deram essa chance a ela.
Terminei meu café, lavei a louça e fui ver um pouco de televisão, mesmo com a distração eu pudia imaginar meus pais recebendo a ligação da faculdade comunicando que a aluna aqui faltou a aula - Normalmente, se o aluno ainda é de menor idade e não pôde ir a aula, eles pedem que os pais liguem informando. Se não, eles ligam e solicitam uma explicação -. Os dois ficariam chateados e nunca mais eu iria numa festa com a Mack.
Tentei afastar esses pensamentos pelo menos no momento. Enquanto corria os canais com o controle a procura de algo interessante a campainha soou.
Ding dong
Levantei e fui abrir a porta. Demorei alguns segundos mas, assim que reconheci quem estava alí, fechei-a com muita rapidez mas ele havia posto o pé para me impedir e entrou. Corri e comecei a jogar tudo o que eu encontrava em cima dele, um par de sapatos da Mack que estava próximo ao sofá, joguei as almofadas - que não fizeram nada a não ser deixa-lo confuso - então fui até a cozinha e peguei uma faca em cima da bancada.
- Você! Foi você! Rafael. Ontem. E tinha... asas - estava ofegante e segurando a faca de cozinha com uma das mãos, eu não tremia o que era ótimo.
- Sim, era eu.
- Foi um sonho! C-como pode?! O que quer aqui?
- Estou aqui para ajudar você, mas antes, poderia largar essa faca?
- Como posso confiar em você?
- Eu estava com você ontem, e estou com você hoje. Ouça a sí mesma, sabe que pode confiar em mim.
E ele tinha razão, algo dentro de mim me fazia sentir que eu podia confiar nele, que ele não me faria nenhum mal. Em fim coloquei a faca de volta no lugar. Ainda assim, posso ter soltado a faca, mas isso não significa que acredito em tudo o que ele diz.
- Aquilo não foi um sonho, foi real. - falou e eu estava perplexa.
- O que aconteceu lá? Como... eu cheguei aqui?
- Ele queria destruir você, e bom... eu a trouxe.
- Como sabia do apartamento?
- Digamos que eu sei muitas coisas sobre você.
Passei as mão pelos cabelos pondo-os para trás, estava preocupada, confusa...
- Quem é você? É... um tipo de anjo ou, sei lá?
Do que eu estou falando? - pensei.
Ele assentiu serenamente e disse:
- Um amigo da família. Acho melhor irmos conversar com Líria e Uziel agora.