— Manheirento! — vociferou irritada batendo a porta.
Heitor ficou alguns segundos estático, sem reação. Não sabia que Ana estava irritada e menos ainda que ela ficaria puta por ele ter comido a última fatia de pudim. Era só comida, ué.
Esperou alguns minutos antes de ousar abrir a porta do quarto. A viu deitada na cama, de bruços. Sentiu-se ligeiramente mal, sabia que ser uma pessoa reticenciosa era um defeito latente naquelas horas: o que diria?
— Ana? — ensaiou uma aproximação. Sem resposta. Queria que ela o prelevasse. Era meio insensível, sabia disso. Sempre atreito a magoar os outros, meio retardado também. Mas a amava e queria dar mais felicidade à vida dela. — Me desculpa?
Ela se remexeu na cama, não queria ter se prelevado daquela forma com ele. Na verdade, estava com medo. Medo da reação dele, medo do futuro e da vida. Decidiu falar de uma vez só:
— Estou grávida! — E fechou os olhos abraçando mais o travesseiro. Adeus, coragem.
Sentiu algum tempo depois uma mão macia afagar sua bochecha, num ato significativo. Viu os olhos castanhos de Heitor, cheios de lágrimas, e um sorriso bobo na cara. Ia ser pai.
— Te amo — murmurou beijando a face da mulher com delicadeza.
— Vamos ter alguém fazendo garatujas na parede — riu nervosa o puxando pra um abraço na cama.