Palavras

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Minha mãe costumava dizer que não devemos ser levianos com as palavras. Eu nunca a entendi de fato até, aos quinze, ser impelido a dizer um eu te amo. Na época eu não tinha certeza do que sentia — convenhamos que nunca temos certeza de nada — e silenciei-me diante do meu alvo amoroso. Ao contrário do que eu esperava, a pessoa compreendeu. Sorriu-me e beijou minha bochecha.

Desde então só me descuidei quando comecei a namorar, já mais velho. Eu tinha tanta certeza do que sentia e do que minha pessoa amada sentia que não poupei os versos. Eu te amo. Amo você. Para sempre. Estas últimas, por muito tempo, eram só nossas. Numa ilusão jovem de futuro imutável, nos perdemos em palavras. Usei e abusei de todas que conhecia.

O término foi tão doloroso quanto o verbete parece ser. Lembrei do que minha mãe dizia e pensei que fui tolo e inconsequente, mas que pelo menos havia vivido intensamente. Percebi que às vezes somos assim, meio inconsequentes, ainda que aos quinze, aos vinte ou aos vinte e sete. Hoje tento seguir o conselho à risca, mas sempre escorrego. Das palavras sou muito amigo, mas das pessoas nem tanto. Principalmente quando o vocabulário acaba e só resta a saudade para sentir.

Que tudo seja azulOnde as histórias ganham vida. Descobre agora