-O que foi isso na sua testa?- questiona Alfie, no silêncio do café da manhã.
-Ah uma grande possibilidade de um filho da mãe ter quebrado o espelho com a minha cabeça. -digo sem olha-lo, e mordendo um padaço de pão.
Alfie obviamente se referia a cruz vermelha que se formou no canto da minha testa depois da noite de ontem.
-Só você pra fazer algo assim soar tão banal.
-É um dom natural.
-Prometeram que voltariam inteiras. - reclama ele.
-Está sentindo falta de algum pedaço? - debocha Katye.
-Não foi isso o que quis dizer.
-Onde está Simon? - questiona Sara, interrompendo a conversa.
-No quarto, ele não quis comer. - responde Noah.
-Tadinho... - murmura Diana. - Deve ser difícil pra ele.
-Dificil? Ser enganado como trouxa durante quatro anos?- ironiza Diogo, que recebe um tapa de Diana. - Ei!
-Para de falar assim. -repreende ela.
-Mas é verdade! - diz Noah, que também recebe um castigo de Sara.
-Calem a boca vocês. - intervém Miller. - Nem no café da manhã temos paz?!
-Acredite, esse é o máximo que eles vão chegar dessa palavra. - diz Jack.
-Vocês poderiam tentar algum tipo de terapia. O único normal aqui é o Taú. - murmura Miller.
-Isso porque ele não sabe falar. - replico.
-Natasha! - repreende Alfie.
-Quê? É a pura verdade!
-Vocês estão deixando a chefinha irritada. - diz Noah.
-Não me chama assim, garoto. - reclama Miller.
Sinto meu celular vibrar no bolso da calça jens e instintivamente franzo a testa. Todos que conhecia estava naquela sala.
-Morgan falando. - murmuro seca.
-Natasha? Adivinha quem é?
Faço um sinal com o dedo, pedindo silêncio a turma. A primeira a notar o jesto foi Miller, que imediatamente tratou de acalmar os animos.
-O que você quer?
-É assim que você atende o telefone? - debocha.
-Não me enrola Dylan. Fala logo.
-Como quiser... está na hora de você provar o seu valor e fazer aquilo combinamos.
-O que exatamente vou fazer?
-Isso saberá somente quando nos encontrarmos.
-E Quando será isso?
-Em meia hora, na frente da sua casa.
-Minha casa? Como você... deixa pra lá...
-Natasha, não faça nenhuma gracinha, sem celular, arma e comunicadores. Essas são as regras. - disse, antes de desligar.
Encaro Jack, sentado bem a minha frente, esperando algum comando do que deveria fazer.
-Você vai. - se pronuncia Miller.
-E vai seguir exatamente o que ele disse. Não podemos ariscar.
-Vamos deixar ela totalmente exposta?! - intervém Alfie- Aquele cara é maluco!
-Agente Handrick, essa decisão não é sua, e acredito que a Morgan saiba muito bem se cuidar. - murmura Miller.
-E se algo acontecer? Como vamos saber? - questiona ele.
-Não saberemos, a menos que ela dê um jeito.
-Então vamos contar com a famosa "criatividade"? - debocha Noah.
-Ideia melhor?
-Precisamos fazer com que ele confie em você, Natasha. - diz Jack.
-Acho que a minha palavra não bastaria. - digo. - Ainda mais depois desse telefone, ele claramente percebeu o meu tom.
-O que ele pedir, você vai fazer. Precisamos estar por perto e saber de tudo o que ele planeja. - diz Miller.
-Se tudo der errado, sua influência sobre as pessoas vai garantir que pelo menos algumas não morram. - acrescenta Jack.
-Tem certeza disso? - sussurra Alfie.
-Sim. - respondo no mesmo tom.
-Só me promete que não vai correr riscos desnecessários, e muito menos sozinha.
-Nós já falamos sobre isso...
-Me prometa, Natasha.
-Esta bem... prometo. -digo, levantando da cadeira. - Antes de sair, vou colocar uma roupa mais confortável.
Saio da cozinha, ainda ouvindo os murmúrios de cada um, preocupados com o que poderia acontecer. Mas a realidade é que nenhum deles poderiam fazer mais nada, pelo menos não agora.
Troco meu shorts por uma calça legging negra, e permaneço com a camisa xadrez de Alfie que me apropriei e que com a ajuda de Diana, customizei. Ouço batidas na porta, e enquanto calçava minhas botas, dei permissão para entrar.
-Olha só quem apareceu? - brinco, vendo a expressão triste no rosto de Simon.
-Vim me despedir.
-Não é como se eu fosse morrer, Simon.
-Não quis dizer isso.
-Fica tranquilo, sei disso... como você está?
-Bem.
Reviro os olhos.
-Tenho cara de trouxa, Simon?
Pela primeira vez desde que chegou à aquele cômodo, ele ri e me abraça de lado. Olho para meu relógio de pulso, vendo o quanto estava atrasada. A base era um pouco longe da cidade, portanto, se quissesse chegar no horário, deveria partir imediatamente.
-Tenho que ir.
-Tome cuidado.
-Eu sempre tomo.
-Me faça rir varporzinho. - diz sarcástico.
-Não me chame assim, quatro olhos.
-Eu uso lente de contato.
-Era pra fazer diferença?
-Você não tinha que ir?
-Está me expulsando? - questiono brincalhona.
-Vai logo, ou vai se atrasar.
-Tchau e... Simon...?
-O que?
-Sinceramente... acho que nem tudo foi mentira.
-Ela mesma disse que foi tudo uma farça.
-Eu tenho dom da mentira, lembra? Sei quando alguém mente, ou me esconde alguma coisa.
-Acho que isso não funcionou muito bem com ela.
Dou de ombros.
-Não uso meus dons contra os meus amigos... bom... pelo menos evito usar... e ela é minha amiga.
-"É"?
-Como já disse, nem tudo foi mentira.
-Ela te incriminou.
-E á odeio por isso. Mas uma parte de mim... ainda gosta dela, entende?
-Sinto a mesma coisa. E você está ficando muito sentimental, Morgan.
-Cala essa boca. É coisa daquele caipira idiota. - murmuro sem paciência.
-Ele te faz bem.
-Ela também te fazia bem.
(...)
Reviro os olhos, vendo uma van preta parar logo a minha frente, numa freada brusca. Como de costume, e sem nenhuma delicadeza, sou puxada para dentro pelos brutamontes acefalados de Dylan. Quase que instantaneamente o carro volta a acelerar, me deixando observar o ambiente a minha volta. Toda a turma de Dylan estava lá, apontando suas armas para mim.
-Por que as armas? Não estamos do mesmo lado? - indago, escondendo o sarcasmo.
-Não, você só está nos ajudando. - responde Alex.
-Eu não diria isso.
-O que quer dizer? - indaga Dylan.
-Que estou do lado de vocês.
Ele ri debochante.
-Estou falando sério.
-E o porquê dessa escolha repentina? - indaga Clara.
-Só quero garantir que aqueles que amo estejam bem. - digo, dando de ombros. - Além disso, vocês podem não fazer o meu estilo, mas prefiro ficar do lado do vencedor.
Dylan sorri, arrogante. Apesar disso, seus olhos diziam não acreditar em nenhuma palavra minha.
-Onde estou indo? - indago, vendo o carro diminuir a velocidade.
-Não podemos dizer, você logo saberá e antes disso, precisamos te revistar. - murmura Aline.
As portas são abertas e assim que meus olhos atingem o lado de fora da Van, meu cerebro imediatamente reconhece aquele lugar. Estive ali a muitos anos atrás.
-Vamos! - murmura Lucas, me empurrando com força.
Faço uma careta e abano a cabeça, tentando esquecer a ideia de mata-lo.
Passo pelos corredores movimentados, sendo guiada pela turminha do mal até a sala onde esperariamos que o "show" começasse.
-Pensei que o Jornal Storm fosse um programa de fofocas. - murmuro confusa.
-E é, mas também servirá para o que desejamos. - responde Clara.
-Você vai vestir isso. - fala Aline, apontando o vestido azul estendido no sofá.
-Nunca.
-Colabore. - diz Alex, sem paciência.
-Faz diferença? É só um vestido!
-Você disse que está do nosso lado, comece a provar colocando o vestido. - intervém Dylan.
Suspiro frustada.
-Esse vestido é horrível. - sussurro.
-Tem um provador logo ali no canto.
-Mas antes, Clara vai te desarmar. - diz Alex.
-Não estou armada. - digo.
-E nós somos os bonzinhos da história. - ironiza Dylan.
Reviros os olhos e ergo as mãos, ouvindo o barulho das minhas armas e facas caindo no chão enquanto Clara me revistava.
-Ok, isso é cientificamente impossível! - murmura Lucas.
-São dez facas e seis armas. - conta Clara.
-Onde estava tudo isso? - murmura Aline.
-E depois diz que esta " do nosso lado". - fala Alex.
Dou de ombros.
-Não é nada pessoal. E só pra constar, cinco das armas são minúsculas.
-