Amor e Outras Guerras

By maricarign

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No ano de 1852, na Inglaterra vitoriana, Helene White enfrenta a dura realidade da vida após a perda de seus... More

Dedicatória
Capítulo 1: A Casa dos Taylor
Capítulo 2: O Segredo da Floresta
Capítulo 3: Mistérios de Dover
Capítulo 4: O Baile dos Taylor
Capítulo 5: A Surpresa
Capítulo 6: O Que Houve com os Homens?
Capítulo 7: Todo Mundo Tem Segredos
Capítulo 8: Laços Desfeitos
Capítulo 9: As Últimas Gotas de Esperança
Capítulo 10: Há Um Brilho Em Tudo
Capítulo 11: Não Acredite Nessa Falsa Esperança
Capítulo 12: A Guerra Ainda Não Está Perdida
Capítulo 14: Só o Amor Fica Eterno
Capítulo 15: A Um Minuto da Fuga
Capítulo 16: Me Faz Sorrir De Novo
Capítulo 17: Focos de Ação do Amor e do Ódio
Capítulo 18: Ai Daqueles que se Amaram
Capítulo 19: Nós estrangulamos nossos próprios Corações
Capítulo 20: Acima de tudo ame
Capítulo 21: O caminho é este
Capítulo 22: Corra na outra direção
Capítulo 23: Por entre o perdão e a coragem
Capítulo 24: Perigoso é a gente se aprisionar
Capítulo 25: Passo a passo
Capítulo 26: O suor, as lágrimas ou o mar
Capítulo 27: Incêndios Selvagens
Capítulo 28: A ti vim encontrar
Capítulo 29: Matar o sonho é matarmo-nos
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 13: Na Luta Por Uma Justa Sobrevivência

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By maricarign

"Ela disse:
— Ousadia é ser eu
mesma em um mundo
onde as pessoas inventam
versões minhas."

— Zack Magiezi


Meus passos eram lentos e cautelosos, a escuridão que se instalou na floresta me impedia de enxergar um palmo sequer a minha frente. Podia escutar o vento assobiando por entre os galhos, o farfalhar das folhas sob meus pés e uma coruja que insistia em cantar continuamente.

Assim que cheguei ao local combinado, uma clareira que havia perto da casa dos funcionários, percebi que Isabelle ainda não estava lá. Cruzei os braços em uma tentativa de me proteger, estar sozinha na floresta novamente me causava um medo familiar, me recordava do dia que havia sido perseguida e escapado por pouco.

Olhava em volta repetidas vezes na tentativa de procurar uma sombra, um barulho, qualquer sinal de que ela já estava se aproximando, mas não conseguia ver nada além do vazio. De repente um par de mãos envolveu meus pulsos e os puxou para trás, fazendo todo o ar que havia em meus pulmões desaparecer — Parece que você está em perigo mocinha. — Uma voz feminina que eu conhecia bem chegou em meus ouvidos afim de me assustar, mas eu não tinha medo dela.

— Deus! Você me assustou! — Pensei que iria me soltar para podermos conversar, ou que me mostraria fosse lá do que seu segredo se tratava, só que suas mãos ainda me seguravam com força.

— Se quiser ser solta terá que fazer o que eu disser. — Isabelle sussurrou em meu ouvido, fazendo um arrepio percorrer todo o meu corpo.

— Ora, pare com isso — argumentei, apesar dela não parecer ligar para as minhas suplicas.

— Gire seu pulso de dentro para fora — insistiu, com uma voz tranquila e empolgada, enquanto eu, relutante, seguia suas direções — Ótimo! Essa foi a sua primeira lição.

Havia conseguido me desvencilhar facilmente com as suas orientações, não era capaz de compreender como Belle podia saber daquilo. Mulheres não tinham conhecimento sobre tais coisas, ainda mais com a nossa posição. — O que é isso? — Questionei.

— Bem, primeiro de tudo você precisa me prometer que irá manter isso em segredo! — Apontou em minha direção com os olhos arregalados por conta da empolgação, assim que assenti com a cabeça ela continuou — Quando eu era pequena meu pai me ensinou algumas poucas coisas sobre como se defender. Ele costumava dizer que vivemos em um mundo muito cruel, e que um dia, quando ele partisse, eu ainda teria comigo uma parte dele para me proteger. E agora estou passando para você, quero que saiba se cuidar também Lene.

Não posso negar o quanto fiquei maravilhada com toda a situação, veja bem, eu sempre admirei Isabelle, e naquele momento minha consideração por ela só aumentou. Passamos horas na clareira enquanto ela me ensinava todos os golpes que sabia, não eram muitos, mas certamente da próxima vez que alguém me encurralasse, eu saberia o que fazer. — Você é uma mulher incrível, sabia? — Perguntei, quando ambas caímos no gramado exaustas.

— Ora, pare com isso, você é uma boa amiga, é o mínimo que posso fazer para retribuir. — Ela abriu um sorriso ofegante e notei que seus cabelos estavam úmidos de suor.

— Eu posso confiar em você, certo? — Perguntei, deixando toda a empolgação do momento tomar conta de mim, Belle assentiu rapidamente com a cabeça sem mover os olhos um segundo sequer. Acabei contando a ela sobre a sombra, sabia que não poderia entender aquilo sozinha e que precisaria de alguém de confiança para me ajudar. Não havia ninguém mais apto para o cargo do que ela.

— Quando a viu pela última vez? — Questionou, apoiando a cabeça em uma das mãos enquanto ainda estávamos deitadas na grama.

— Fui a mercearia buscar suprimentos para Grace, você sabe, no mesmo dia do incidente com Dylan. Decidi segui-la para ver até onde iria, só que desisti assim que a coisa se aproximou do sanatório. — Isabelle se sentou em um piscar de olhos.

— Helene, precisamos ir até lá! — Sua expressão animada era o oposto da minha, a última coisa que queria no momento era voltar àquele lugar. — Você quer descobrir quem, ou o que é isso não é? Então, temos que ir ao sanatório!

— Você não bate muito bem da cabeça Isabelle Thompson — afirmei, me levantando e começando a andar em direção a trilha que nos levaria de volta para a casa dos funcionários, já estava ficando tarde.

— Ora, olha quem fala Helene White! — Ela se levantou rapidamente e começou a correr em minha direção, apressei o passo enquanto nossas risadas se misturavam aos sons da floresta. Nunca poderia imaginar que o dia acabaria daquela forma, mas devo confessar que estava me sentindo completamente animada com o que estava por vir.

Havia um baile se aproximando, e por mais que eu adorasse sonhar que seria eu e Charles dançando no meio do salão, precisava acordar para a realidade. A comemoração seria para a família Bennet, que havia acabado de chegar em Dover. O casamento se aproximava e os Taylor pareciam determinados em impressionar o máximo possível.

Longas cortinas laranja-avermelhadas, feitas do tecido mais bonito que já havia visto, emolduravam as grandes janelas brancas da casa dos Taylor. Por trás, havia uma fina renda francesa que trazia uma leveza ao ambiente, e ainda combinava perfeitamente com o lustre de cristal imponente que havia no centro do salão.

Velas sobre os candelabros de prata deixavam pequenas nuvens amareladas pairando no ar, as quais se misturavam com os grandes arranjos de lírios, crisântemos e rosas e faziam o ambiente infinitamente mais romântico. Parecia que havia sido transportada diretamente para um conto de fadas.

Terminei de acender a última vela e voltei correndo para a cozinha, Sra. Grace nos esperava para uma pequena reunião antes do início da festa. — Muito bem, espero que todos estejam presentes — ela disse, enquanto me observava entrar com o canto dos olhos.  Me dirigi rapidamente entre as pessoas e encostei em uma das bancadas ao lado de Isabelle, que logo tratou de entrelaçar nossos braços e me dar um largo sorriso empolgado.  — A Srta. Charlotte Bennet e sua família acabaram de chegar para uma maravilhosa estadia em Dover, eles serão  hóspedes dos Taylor por algumas semanas, e é nosso dever fazer o possível para tornar essa experiência o mais confortável possível.

Burburinhos de conversas e fofocas foram gradualmente surgindo, mas eu me mantive calada, seria loucura expressar minha opinião sobre o assunto em meio a tanta gente. — Silêncio! — Grace gritou, enquanto Esther batia com a colher de pau em uma das panelas para chamar atenção. Todos se calaram de imediato. — Quero que tudo ocorra perfeitamente, entenderam? Não pode haver uma taça fora do lugar, um uniforme amarrotado, uma pessoa fora do seu dever. Bom serviço à todos!

É claro que rapidamente os funcionários trataram de assumir seus postos, ninguém ousaria desafiar a ira de Grace em um dia tão importante, nem mesmo Isabelle, que ultimamente parecia sumir com mais frequência. Ela passou a noite inteira perto de mim, e boa parte com um sorriso estampado no rosto. — Posso saber o motivo da sua alegria? — Sussurrei em seu ouvido, assim que estávamos prestes a entrar no salão para servir o espumante.

— Oh, da para notar? — questionou, enquanto suas bochechas coravam levemente — Bem, tudo o que posso dizer é que verei alguém muito especial hoje.

— Srta. Thompson! De quem está falando? — questionei em um tom divertido, não tinha a menor ideia do que ela estava falando. Para a minha surpresa, e infelicidade, Belle deu de ombros e se apressou para servir o primeiro convidado. Parecia que eu não tiraria nada dela naquela noite.

Devo confessar, mesmo que precise de todas as minhas forças para isso, Srta. Bennet estava deslumbrante. Seu vestido era rosa claro, com mangas bufantes e uma imensa saia pregueada, usava um colar de pérolas em volta do pescoço que combinava perfeitamente com os brincos.  Parecia o par perfeito ao lado de Charles, com seu terno elegante e seus cabelos loiros penteados para trás sem um fio sequer fora do lugar. Eu nunca estaria a sua altura, pensei. — Com licença? — Ouvi alguém pigarrear atrás de mim — Pode me servir outra taça?

Não poderia passar a noite inteira imersa em meus devaneios, precisei arrumar forças em todo o meu ser para me concentrar no que estava fazendo. E, é claro, ignorar completamente aquele a quem meus sonhos pertenciam.

Havia acabado de servir um grupo de senhores que discutiam fervorosamente sobre a política do país, quando percebi que estava ouvindo algo que não deveria. — Como está Oliver, Albert? Ainda arrumando problemas?

— Graças aos céus ele entrou na linha, está se preparando para ir para a faculdade de direito em breve, sabe? Charles é que me preocupa ultimamente. — Sr. Taylor comentava, certamente sem perceber que eu estava por perto, era uma das poucas vantagens de ser invisível. Continuei enrolando por alguns minutos afim de ouvir o resto da conversa.

— Jura? Que surpresa! Ele sempre foi tão responsável, tão preocupado com o bem da família, nunca imaginei que ouviria tal coisa a seu respeito. — O homem dava um longo gole em sua bebida e encarava o Sr. Taylor com as sobrancelhas erguidas.

— Anna está preocupada de que ele esteja envolvido com uma das novas criadas, entende? Disse que estava obcecado por ela, que até ousou dizer estar apaixonado! — Meu coração explodiu, era a última coisa que esperava ouvir aquela noite, Charles apaixonado por mim? Era impossível. Os dois soltaram uma risada profunda como se tudo não passasse de uma boa piada.

— Essa é boa! Esses jovens não parecem raciocinar com a cabeça certa, entende? — Pude vê-los trocar um olhar divertido e começarem a rir novamente —Fique tranquilo, quem nunca teve um fetiche pela empregada? Deixe o menino se divertir um pouco antes do casamento!

Não podia acreditar no que acabara de ouvir, certamente era por isso que o Sr. Taylor havia me defendido durante o chá, eu era uma diversão para seu filho. Nada além disso. Notei que minhas mãos começaram a tremer, já não sabia mais se por causa do peso da garrafa ou do nervosismo que tomava conta de mim aos poucos.

Observei Charles do outro lado do salão, ele conversava com um grupo de pessoas enquanto tomava um gole do seu uísque, nossos olhares se cruzaram por alguns segundos e desejei saber quais eram suas intenções. Será que o Sr. Taylor e seu amigo estavam certos? Será que eu realmente era só uma diversão para ele? Notei seus lábios se curvarem em um sorriso quase imperceptível, porém, fui incapaz de retribuir, as lágrimas que se formavam em meus olhos me impediam.

Não poderia me dar o luxo de surtar no meio de uma noite tão importante como aquela, eu seria forte, pensei, não era como se tivesse outra opção de qualquer modo. Fui a cozinha buscar outra garrafa de vinho e aproveitei para respirar fundo algumas vezes. — Você está bem menina? — Esther perguntou, enquanto arrumava uma bandeja com pequenos sanduíches de pepino.

— Sim Sra. Harris, vim buscar outra garrafa pois a minha está vazia — Ela apontou em direção à dispensa e voltou a concentração para os canapés.

Enchi o peito com toda a coragem que consegui e dei um passo em direção ao salão, dessa vez disposta a não deixar nada me abalar. Foi o exato momento em que os vi dançando. Sabe aqueles livros onde tudo acontece de propósito na hora errada e no momento errado? Eu estava dentro de um deles.

Charles beijava carinhosamente a mão de Charlotte antes de rodopiá-la pela pista de dança, e então voltavam a se mover como se fossem um só. Uma lágrima correu pelas minhas bochechas e se espatifou na bandeja de prata que eu estava segurando, parecia um tapa na cara, entende? Como se o destino estivesse gritando em alto e bom som que aquele não seria meu futuro.

Me aproximei do círculo que havia em volta dos noivos até que ele pudesse me ver, queria que percebesse que eu estava presente, queria que me notasse. Uma vez que seus olhos chegaram até os meus, não se moveram mais. Era como se seu corpo estivesse dançando com a Srta. Bennet, mas seu coração fosse meu. Aquele momento me deu forças para seguir em frente, limpei qualquer vestígio de lágrimas que havia em meu rosto e em seu lugar coloquei um sorriso. Apesar de tudo, ele era meu.

Tudo se tranquilizou depois de um tempo, a festa seguia alegre e sem mais desastres. Notei Isabelle servindo um grupo de convidados do outro lado do salão, ainda não tinha a menor ideia do que ela estava tramando, e qual motivo a levou a ficar tão feliz de repente. Porém, uma pista surgiu assim que percebi onde seus olhos estavam pousados, um casal conversava um pouco mais adiante. O homem convidou uma moça jovem para dançar, e Belle, com uma expressão de completo desgosto estampada em seu rosto, os acompanhou em todos os movimentos. Parece que eu não estava sozinha naquele barco, todos temos tempestades para enfrentar.

— Com licença Srta. White — Escutei o tom doce de sua voz chegar em meus ouvidos, me tirando a atenção de Isabelle — será que poderia me conceder uma dança? — Arregalei os olhos incrédula com sua audácia, quase deixei a bandeja fria em minhas mãos se espatifar contra o chão.

— Está louco? — Questionei, enquanto cada nervo do meu corpo se contorcia de desejo de aceitar sua proposta e sentir sua pele contra a minha novamente.

— Mil perdões, mas imaginei este momento tantas vezes em minha mente essa noite, não saberia como iria dormir se ao menos não tivesse tentado. — Charles sussurrou, abrindo um sorriso divertido e em seguida olhando em volta para garantir que não havia ninguém nos espionando.

Ele pegou uma das taças que estava sobre a bandeja e em seu lugar deixou um pequeno papel muito bem dobrado. A curiosidade fervia dentro de mim, queria ver imediatamente o que estava escrito, porém, tudo o que pude fazer foi discretamente escondê-lo dentro de meu avental, e torcer para que ninguém mais tenha nos escutado. Era um jogo perigoso demais para nos arriscarmos assim.

Corri imediatamente para a cozinha, abri a porta da despensa ignorando todos os aromas de ervas e especiarias que invadiram meu espaço. Só uma coisa importava naquele momento. Peguei o pequeno papel que havia guardado e abri um sorriso somente de encará-lo, ansiava em saber qual seriam suas próximas palavras.

"Me encontre no meu lugar preferido da floresta após a meia-noite,
estarei a espera perto do lago"

Um encontro secreto. Meu coração parecia querer pular para fora de meu peito de tão rápido que batia, talvez aquilo pudesse dar certo, talvez tivéssemos uma chance, eu pensava esperançosa, certamente antes de ouvir a voz de Grace ecoar pela cozinha. — Onde está a Srta. White?

— Estou aqui Senhora, vim pegar outra garrafa de vinho — menti, esperando que ela não brigasse comigo.

— Bem, a Srta. Bennet deseja falar com você imediatamente, disse que não pode esperar. — Perdi todo o ar e esperança que haviam se acumulado dentro de mim ao passar daquela noite, seria o meu fim. Charlotte havia descoberto tudo.

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