Sirius | Fillie

By finnlosers

81.9K 5.1K 25.8K

Millie Bobby Brown e Finn Wolfhard tem algo em comum, as aulas de Astronomia no segundo horário. Ela era uma... More

Millie Bobby Brown
Finn Wolfhard
Prólogo
Elo
Condição
Flocos De Neve
Regras
Farpas
L'Artusi
Imprevistos
Descobertas
Mistifório
Polaroid
Tertúlia
Honestidade
Espaços (Especial)
Maledicência
Pugna
Sete Minutos
Pronunciamento

Rua Maine

4K 264 1K
By finnlosers

Finn escutou passos e ergueu seu olhar.

Ele ficou olhando para a entrada do prédio por alguns segundos observando saltos caminhando em sua direção, fazendo aqueles sons contra o chão. Ontem quando aqueles dois se conheceram na escola, ele havia achado Millie bonita mas ao conversar com ela, afastou esse pensamento. Finn gostou muito mais do jeito dela e podia afirmar isso com veemência em sua cabeça. Porém, essa noite a garota estava em um nível acima disso, não apenas de personalidade. Ele pensou de repente nos garotos dando em cima de Brown durante a festa, porque com certeza não iria passar despercebida, e com isso cogitou a ideia de tentar ser um irmão mais velho, com a obrigação de protegê-la.

O garoto deu um breve sorriso, quase reconfortante.

— Você está bonita, lady Brown.

— Obrigado Wolfhard, você não está nada mal.

Ela entrou no carro assim que ele abriu a porta. Finn deu a volta espiando o andar de cima, reparando que o rapaz da janela não estava mais ali o encarando.

De qualquer forma, não parecia muito feliz em vê-lo esperando por ela.

Durante o trajeto, os dedos do garoto manobravam o volante com toda a calma possível. Finn havia ganhado um carro de seus pais a poucos meses atrás direto da concessionária, quando conseguiu sua habilitação. Mas ele o usava apenas em situações necessárias, porque preferia andar a pé pelas ruas com seu fone de ouvido. Consigo mais tempo pra pensar de manhã e menos irritação em trânsito, disse ele uma vez para seu pai. Entretanto, quando ele saiu de casa pela última vez estava muito tarde, então optou por levar o automóvel. Por sorte, que serviria muito bem essa noite.

Naquele momento em diante, ele podia sentir o olhar de Millie.

— Você mora com seus pais? — pergunta ele olhando rapidamente para ela e o carro foi parando no sinal vermelho, fazendo Finn acrescentar. — No apartamento?

— Não, meus pais são separados e moram em outros lugares. Eu moro com mais uma pessoa.

Ele hesitou um pouco.

— Aquele garoto na janela era seu irmão?

— Que garoto na janela?

Ela estava confusa e Finn a encarou por uns segundos, abrindo um sorrisinho.

— Não me diga que aquele garoto é assombração.

Millie fez uma expressão entediada e sorriu um pouco, deixando transparecer seu alívio de não ter nenhuma alma vagando em seus aposentos.

— Com certeza era uma assombração e o nome dele é Noah, meu melhor amigo de infância.

— Noah é o garoto do jantar que você me convidou? — Millie assentiu com a cabeça e o garoto riu pelo nariz acelerando o carro quando o sinal ficou verde. Ela pensou que ele não diria nada depois daquela longa pausa, até que ouviu sua voz novamente, dessa um pouco mais baixa, porém ainda transparecendo firmeza. — Ele me fuzilou apenas com o pensamento e provavelmente não vai gostar de me ver de novo.

— Ele geralmente desconfia das pessoas que não conhece, isso é normal. Mas foi ele quem sugeriu que eu chamasse você para o jantar.

Finn ficou ligeiramente surpreso e até se sentindo um pouco melhor se fosse possível ou o mais próximo disso que conseguia imaginar. Não queria pensar em um clima completamente estranho na noite do jantar, não mais do que ele sabia que iria ser. O cacheado deixou que houvesse um pequeno silêncio que não durou muito, então começou a sorrir de lado sarcasticamente.

— Ele está certo Brown, você também não me conhece. Posso matar você e jogar em uma estrada qualquer.

Ela cruzou os braços e sentiu um clima divertido dentro do carro. Até deu uma risadinha.

— Me desculpe Wolfhard, mas você não me mataria. Ainda temos uma festa para ir e você não vai querer ir sozinho.

Ele cerrou os olhos.

— Deus, isso foi cruel.

Finn fez uma careta rindo e ficou falando coisas dramáticas entre as risadas sutis da garota e logo as mesmas se transformaram em gargalhadas, que se espalhavam dentro do carro e talvez se as janelas estivessem abertas, o veículo que passasse ao lado também seria capaz de ouvir os dois adolescentes. Pensariam que eles eram loucos, por estarem rindo tanto.

— Preste atenção na estrada. — alertou ela para o rapaz, que rapidamente desviou de colidir com a traseira de outro carro. Millie colocou as mãos no rosto pelo susto, mas ainda estava com a barriga e as bochechas doendo e recuperava o fôlego em seu lugar. Não lembrava-se da última vez que teve uma crise de risos parecida, talvez estivesse com Sadie na semana passada falando sobre a queda que a própria Millie teve no corredor do apartamento. — Seu amigo Jack me mataria se você não chegasse na festa e me ressuscitaria apenas pra me matar depois.

— Não tenha dúvidas.

Finn ligou o rádio, ainda cessando as risadas. Eles juntaram as sobrancelhas quando ouviram tocar My Girl do The Temptations, fazendo os dois gargalharem por mais alguns momentos quando se entreolharam por míseros segundos. Céus, como eles pareciam jovens para o momento. Aquela música tocando atualmente no rádio era um lapso tão incomum e distante da atualidade, por conta do soul dos anos sessenta e os corações batendo forte.

Ele negou com a cabeça.

— Não.

— Sim. — afirmou ela, enquanto cobria os lábios com as mãos em forma de concha devido a um sorriso despreocupado. Finn voltou a olhar para a estrada e disse em tom divertido:

— Aposto que minha avó estava no ensino médio quando essa música conheceu as rádios.

— Está sentindo?

— O que?

— Essa vontade de dançar? — perguntou Millie balançando os ombros e estalando os dedos no ritmo da canção. Finn olhou rapidamente pra ela com um riso no rosto e negou com a cabeça.

— Não mesmo.

— Anda.

— Sou melhor no canto. — garantiu ele, com uma expressão galanteadora.

— E o que está esperando? — questionou ela ainda sacudindo os ombros e ele fingiu-se de surpreso pela resposta. Ele girou o volante, entregando-se ao ritmo da música e arriscando cantarolar uns trechos de um jeito exagerado e alto demais para os ouvidos dela.

O cacheado não sabia cantar a música e trocava todas as palavras. Millie usou seu celular de microfone e acompanhou o garoto quando as risadas não a interrompiam de cantar.

Os dois ficaram assim até a música acabar. Pelos infernos, aquela festa parecia distante. Aqueles minutos dentro do carro haviam sido bem aproveitados e ambos até arriscariam pensar que, se a noite estava começando bem assim não tinha qualquer coisa que estragasse. Logo após as vozes do grupo abandonarem o rádio, um locutor interrompeu o finalzinho da música falando sobre a previsão do tempo e Wolfhard trocou a estação.

— Então você mora com Noah Schnapp?

Uma música, agora atual, estava bem baixinha no aparelho e ela assentiu brevemente. Finn achava aquela ideia tão acolhedora e colocaria um fim em suas saídas de casa, que por sinal, necessárias. Jack aceitaria morar com o amigo em algum apartamento ou casa, mas ele não largaria das barras da calça da mãe por mais alguns anos e se ficasse doente correria para a Sra. Grazer sem nem pensar duas vezes. Talvez voltasse pra casa dela em um período de no mínimo dois meses. Wolfhard não gostava do inconclusivo, então logo percebeu que aquilo não iria se realizar, pelo menos não com Jack.

— Moramos eu e Noah, mas Sadie, namorada dele e minha outra melhor amiga, sempre está lá. Então é como se morasse conosco também.

— Como aguenta morar com um casal? Eu teria enlouquecido.

Ela deu de ombros orgulhosa consigo mesma.

— Tenho minhas flores pra regar na varanda. Não ligo muito quando eles estão de risadinhas pelos cantos.

— Eu ligava para os meus pais. Era super estranho os ver de carinhos pela casa. — confessou ele em tom agradável. Ele entortou um pouco os lábios. — Meu irmão dizia que ficava com náuseas.

— Então quer dizer que você tem uma versão de você? Mais velha ou mais nova?

— O nome dele é Nick e fez questão de nascer primeiro do que eu.

— Às vezes é bom ser irmão mais novo...

Millie deixou aquela frase no ar e Finn perguntaria sobre os irmãos dela no segundo seguinte, mas eles tinham entrado na rua Maine, aonde a festa acontecia e os dois ficaram distraídos e impressionados pela quantidade de carros chegando e faróis ligados na frente deles. Aquele foi o ponto final do assunto. Wolfhard estacionou o carro em uma vaga próxima e saiu ajeitando seu casaco preto de botões, dando a volta para abrir a porta do lado oposto.

Millie e Finn ficaram parados lado à lado, encarando a mansão branca com frustração como se ela fosse um monstro. Duas pessoas que tem como lazer favorito: ficar em casa.

Como eles vieram parar aqui?

A música eletrônica estava alta e muitas luzes coloridas giravam pelo lugar. Eles começaram a ouvir barulhos estranhos de lataria e olharam para o lado quase ao mesmo tempo. Um casal se beijava com fúria no capô de um carro. A garota de cabelos compridos passava as mãos pelo peitoral do rapaz rapidamente e ele agarrava sua cintura com firmeza, a colocando em cima do capô.

Finn e Millie estavam assustados com a cena, então logo desviaram o olhar constrangidos.

Ela se inclinou um pouco para o lado dele, sem tirar os olhos da mansão.

— Essa não é a casa do Jacob Sartorius?

— Se eu não errei o endereço, é essa sim. — respondeu Finn.

Millie quase arregalou os olhos.

— Aonde eu vim meter? — ela perguntou com a voz quase sumindo, olhando para os próprios pés sentindo a confiança se esvaindo do seu corpo. Nunca esteve tão nervosa antes e ela sabia muito bem o motivo.

— Isso é troca de favores. — respondeu ele achando engraçado o pânico formado no rosto dela, mas logo Finn notou a seriedade em seu semblante e a encarou nos olhos com preocupação. Ele franziu a testa. — Você está bem? Está sentindo alguma coisa?

Millie respirou fundo. É claro que estou sentindo, paixão adolescente não correspondida, pensou.

— Estou bem. — ela disfarçou ainda sentindo o estômago revirar e continuou com um sorriso simples no rosto. — É que... faz um tempo que eu não vou em uma festa.

— Tem certeza?

— Sou uma careta, pra falar a verdade.

Finn voltou a olhar para a mansão com um pouco de apreensão. Não queria que a ansiedade o atacasse naquela noite.

— Eu não estou muito diferente disso... — ele pensou alto demais e ouviu a risadinha da garota atrás dele. Millie não estava sozinha naquela, afinal. — E então, vamos entrar?

Ela sorriu em resposta. Pelos céus, Millie sempre estava sorrindo com sua formosura. Parecia que nada a abalava completamente e Finn gostava daquela sensação.

— Vamos entrar, antes que você desista.

— Qual é? Nem estou nervoso.

Finn sorriu forçadamente e Millie gargalhou. A ideia de ter alguém na mesma situação provocou certa calmaria nela. Eles caminharam para a entrada. Enquanto Millie andava na frente de garoto, ele reparou que muitos adolescentes, que ele geralmente via nos corredores do colégio, dançavam no gramado e outros estavam gargalhando demais, no meio de nuvens de fumaça. Wolfhard pôs a mão nos bolsos e seguiu em frente.

O que ele não fazia por Jack?

O lugar era enorme, espaçoso e muito bonito, de uma maneira rústica. Naquela noite os pais de Jacob tinham plantão para cumprir no hospital da cidade vizinha, devido à um paciente em especial. Assim o filho ficava com tudo um passo à frente. Na verdade, ele e seus amigos. Não era a primeira vez que Finn pisava aqui, lembrou-se do ano passado quando veio e a casa continuava com a mesma decoração.

A música estava muito alta dentro da mansão e muitas pessoas passavam por eles, haviam garrafas de cervejas, bacias com ponches e copos vermelhos espalhados em cada canto da casa e outros jogavam beer pong na cozinha.

Finn ergueu um pouco a cabeça para procurar Jack e assim que o avistou um pouco longe, foram até ele em passos largos. O menor estava com uma camisa branca e dançando com uma garota de cabelos loiros. Na sua mão havia um copo e pelo jeito não parecia o primeiro.

— Jack?

— ... Dylan Grazer a seu dispor. — ele completou virando-se e quando notou que era seu amigo, seus olhos se arregalaram e seu coração se abrandou em felicidade. O menor pulou em Finn dando um abraço apertado e o cacheado quase jurou ter visto os olhos dele reluzindo satisfação. — Você veio mesmo? Você é um puta amigo. Eu te amo.

— Chegamos. — Finn riu um pouco sem jeito em seu ombro e pôde sentir o cheiro de álcool, com perfume amadeirado emanando do amigo.

Jack soltou-se dele olhando para Millie, com um sorriso radiante.

— Você deve ser a...

— Millie. — ela respondeu um pouco sem graça e Grazer sorriu mais ainda, apertando a mão da menina.

— Eu vi você no colégio hoje, se não me en... gano. — ele dizia um pouco enrolado e pensando um pouco, mas logo pareceu desistir. — Afinal, meu nome é... Jack, caso o Finn não tenha dito pra você que somos casados.

— Jack.

— Tira o olho dele.

Ele ria descontroladamente alcoolizado e Finn balançou a cabeça em negação, enquanto segurava um sorriso para não perder a razão. Aquilo fez Millie dar uma risada e perceber o quanto o menor era engraçado.

— Quantos copos você já bebeu? — perguntou o cacheado, o olhando com confusão. — Não deve fazer nem uma hora que você chegou aqui.

— Queria poder ter contado quando tive chance. — Grazer gargalhou e ficou entre Millie e Finn passando o braço pelos ombros deles. — Estão vendo a-aquela garota ali na frente? Ela é muito legal, estamos conversando... sobre tra...tarugas. Taratugas. Tartarugas.

Ele caiu na gargalhada de novo ao tentar falar a palavra certa.

— Ela também não parece estar nas melhores condições. — disse Millie, deduzindo a mesma coisa que Finn, que em seguida perguntou:

— Por acaso, sabe qual é o nome dela?

— Queria ter perguntado quando tinha memória, assim eu podia lembrar depois. — Jack se desembestou a rir de novo e se soltou deles, virando o copo de uma vez. — Acho que é Jacob.

Finn e Millie se entreolharam não aguentando e começaram a rir.

— Tem certeza que está tudo bem?

— Claro Finn, não fiquem longe dos meus... olhos, crianças. — ele sorriu de novo e quase derrubou sua bebida, erguendo a mesma no ar. — Ou vai ter castigo hoje à noite.

Jack se afastou mirando para seus próprios olhos e em seguida apontando para Finn e Millie, que estavam lado a lado o observando se afastar. Em seguida, o rapaz continuou a dançar com a garota de um jeito estranho e balançando os braços de um lado para o outro, porque estava realmente bêbado.

A menina ergueu o olhar para Finn.

— Não me contou que era casado com seu melhor amigo.

— E eu juro que também não sabia que Reylynn se chamava Jacob.

Millie gargalhou colocando a mão no rosto, com todos aqueles minutos de confusão e começou a seguir Finn, até chegarem em um balcão, em um espaço na sala aonde podiam ver todos dançarem, inclusive Jack, para não perdê-lo de vista. Os dois não eram acostumados a ingerir bebida alcoólica, mas serviram-se com um pouco de ponche. Eles brindaram aquele copo vermelho e antes do primeiro gole, ela resolveu perguntar:

— São todos menores, como conseguiram comprar essas bebidas?

— Pagando bem, ninguém fica sabendo.

— Meus pais nunca me deixariam fazer uma festa dessas em casa. — comentou Millie com o pensamento distante, olhando tudo em sua volta, vendo pessoas dançando, casais se beijando pelos cantos.

— Você mora sozinha com um garoto, por quê não deixariam?

Millie cerrou os olhos vendo o sorriso afrontoso nos lábios de Finn.

— Sua mãe não deixaria você morar com uma garota?

— Quer morar comigo então, espertinha? — brincou ele e Millie deu uma risada colocando seu copo em cima da madeira da bancada. Finn pareceu reconsiderar sua fala com astúcia. — Quer dizer... você não vai querer morar comigo, lady Brown.

— Por que não? — ela entrou no jogo cruzando os braços, querendo ouvir o que ele tinha a dizer.

— Porque estou morando sozinho em um hotel.

— Muito engraçado, mas não caio nessa. — ela riu baixinho.

— Está falando dessa forma, porque não é você que tem que ficar acordada só por causa do serviço de quarto e dirigir quase duas horas pra chegar ao colégio e ter aulas angustiantes, só porque está hospedada do outro lado de Nova Iorque.

Millie percebeu que ele ainda manteve o tom de brincadeira, mas sentia uma seriedade em seu rosto. Ela pôs a mão no peito e olhou fixamente para os olhos castanhos dele no meio do escuro, aonde algumas luzes coloridas piscavam, para então testá-lo.

— Você está falando sério, Wolfhard?

— Muito sério.

— Como suporta sua própria presença?

Finn riu de um jeito adorável e em seguida colocou a mão no coração como se tivesse sido atingido por uma faca.

— Você está me machucando.

— Me desculpe, eu pratico meu veneno nas horas vagas. Mas diga-me, afinal, o que está fazendo do outro lado da cidade morando sozinho em um hotel?

Ele tomou mais um gole de sua bebida, como se se preparasse para proferir.

— Briguei com meus pais e resolvi dar um tempo de casa. Eles querem que eu seja advogado como toda a família Wolfhard antes de mim. — Finn levantou uma das sobrancelhas e Millie ficou o olhando esperando que ele continuasse. Ele deu de ombros.— Mas eu não me dou bem com leis.

— Vai atrapalhar a linhagem da sua família? Quero ser você quando crescer. — respondeu ela e o garoto deu de ombros, com uma falsa imitação de ego. Millie ainda estava curiosa. — Se não quer ser advogado, o que quer ser?

— Ainda não sei, sou um careta. — ele repetiu o que ela disse mais cedo.

— Bem vindo ao clube.

Millie estava sorrindo um pouco com o que se instalou ali e logo passou sua atenção para a escada, aonde um garoto de cabelos castanhos claro estava descendo com um sorriso no rosto. Ele era muito bonito. Todos sabiam quem ele era, é claro. Jacob usava uma camisa do Oklahoma City Thunder, que era o time de basquete da sua cidade natal. Aliás, como ela sabia disso? Perguntou-se a si mesma e então lembrou exatamente porquê e revirou os olhos. Sartorius cumprimentava todos no meio do caminho, sempre sendo muito simpático. Ele fora andando fazendo toques com os garotos que passavam por ele e beijos nos rostos das garotas, que lançavam sorrisos atirados demais em sua direção. Sartorius fez um toque até mesmo com Jack e foi em direção à cozinha encontrando-se com um grupo de garotos, sorrindo com eles.

Finn finalmente olhou para Millie.

— Muito apaixonada?

— O que? — ela desviou sua atenção diretamente para ele e com o nervosismo dando sinais, refez a pergunta em sua cabeça. Suas sobrancelhas juntaram-se. — Do que você está falando?

— Ele está solteiro, suponho. Vi o jeito que olhou para Jacob, ele tinha ido para a cozinha e você ainda não tinha piscado os olhos.

Millie ficou em silêncio.

— Está tão perceptível? — ela perguntou em um tom derrotado e colocou a mão no rosto, virando de costas e tomando mais um gole maior e mais exagerado de bebida. Sentia-se estranha de repente por ter sido pega em flagrante, na cena do crime. — Eu nunca aprendi a disfarçar emoções.

Finn encostou-se na mesa de frente para as pessoas que estavam dançando e olhou para a garota confusa ao seu lado.

— Escute Brown, não tem problema em gostar de alguém.

— Mas Jacob nunca olharia pra mim.

— Como não? Você sinceramente é muito bonita, mesmo sem toda a produção de hoje à noite. — declarou Finn calmamente, por algum motivo sentindo-se bem em confessar aquilo em voz alta. — Eu estou falando muito sério.

— Obrigado, Wolfhard. — ela sorriu um pouco sem graça e suspirou olhando para as pulseiras em seu pulso. Millie esteve uns segundos quieta observando o rosto do cacheado concentrado na movimentação, para então prosseguir. — Mas não acho que minha beleza serviu de muita coisa. Jacob não sabe mais quem eu sou.

Finn passou a língua entre os lábios, analisando o que ela tinha dito.

— O que temos no currículo?

— Um beijo em uma peça escolar, aos doze anos. Era a peça de Romeu e Julieta.

— Vocês se beijaram? — repetiu Finn surpreso com um sorriso divertido nos lábios e logo, o sorriso foi se desmanchando de forma vaga. Ele franziu a testa com certa confusão tomando conta. — Se bem que os motivos para a morte dos dois, era por... Espera, vocês se beijaram mesmo?

— Nos beijamos, mas foi apenas um selinho.

Millie sentindo-se um soldado de poucas expectativas, revirou os olhos novamente. Finn pensou mais um pouco, esvaziando seu copo de ponche de uma vez e pondo suas íris na menina.

— Temos uma raiz, falta apenas a flor brotar.

— Como assim?

— Posso não ser a melhor pessoa em relacionamentos, mas posso ajudar você, se quiser.

— Conhece o Jacob?

— Jack conhece e ele me passará informações.

— Melhor não, ninguém pode saber disso. Isso fica apenas entre nós Wolfhard, por favor.

— Sem problemas, lady Brown. — ele concordou, pela primeira vez estava se sentindo vitorioso em questão à Millie. Seus cotovelos apoiados no balcão. — Jack não precisa saber de nada disso e muito menos Jacob, fechado?

— Já reparou que sempre estamos fazendo acordos?

Ele sorriu amigavelmente.

— Fechado ou não? — ele repetiu fazendo ela encará-lo por tempo demais, em dúvida.

Millie tomou seu último gole.

— Fechado.

[...]

Um pouco mais tarde, os dois estavam reunidos em um sofá jogando conversa fora com algumas pessoas que conheceram durante a festa e talvez estivesse um pouco alterados, pois estavam rindo das piadas de um garoto loiro, que pelas suas recordações tinha o nome Chris e jogava no time de basquete do colégio. Em um certo momento, Finn chegou perto de Millie e a avisou que precisava de uns minutos. Nesse intervalo de tempo, a garota tirou o celular da bolsa e notou que havia uma mensagem.

Noah mandou avisar que caso você chegue no apartamento antes de nós, a chave está debaixo do tapete. Espero que esteja se divertindo.

Beijos, Sadie.

Ela deu uma risadinha.

Está tudo correndo bem aqui.

Beijos, Millie.

Enquanto a garota respondia a mensagem, Jack andava pela mansão agora um pouco mais sóbrio. Tinha lavado o rosto e respirado fundo no banheiro por um tempo. Ele sentou-se ao lado de Millie e ela ergueu o olhar confuso assim que percebeu sua presença. A garota franziu a testa ao ver a expressão de seu rosto.

— Você está bem, Jack?

— Você viu a Reylynn por aí? A garota que estava dançando comigo no começo da festa. Estou ficando um pouco preocupado.

— Me desculpe, mas não a vi. — ela respondeu sinceramente e o garoto estava tão aflito, ela podia sentir, que Millie não resistiu dar apenas aquela resposta. — Se quiser podemos procurá-la... A mansão é grande, mas temos que esperar Wolfhard voltar.

— Você faria isso? — ele perguntou e passou a mão na nuca, enquanto tentava vasculhar com a visão aquela aglomerada pista de dança. Grazer retornou seus olhos escuros para o rosto da garota ao seu lado e demorou um instante para continuar. — Eu... eu acho que o namorado dela apareceu e ele tem um comportamento estranho, não sei... Deve ter me visto dançando com ela.

— Você acha que ele pode ter levado ela embora?

— Talvez. Ele tem a cabeça fora do lugar.

— Finalmente você cansou das pistas de danças, mas me deixa perguntar, ouviu a nova piada do Chris? — Finn chegou com um sorriso largo no rosto mas quando percebeu a tensão, fechou o mesmo devagar intercalando seu olhar entre os dois. — O que aconteceu?

— Estou procurando a Reylynn. Acho que o namorado dela está por aqui.

— Péssimas noticias.

— Já liguei pro celular dela e só chama. — respondeu Jack um pouco distante e Finn pareceu um pouco perdido em pensamentos. — Algum de vocês tem uma sugestão do que deveríamos fazer?

— Vamos procurar pela casa toda.

Os olhares deles se voltaram para Finn.

A garota deu um longo suspiro.

— Então é melhor começarmos logo. É, então... Jack você procura na cozinha e na parte de trás da casa. Wolfhard, você vai para o salão principal e para a frente da casa, eu vou para o andar de cima e procuro no banheiro feminino. Se alguém souber de alguma coisa primeiro ligamos pra você. — Millie se referiu ao cacheado que assentiu. Ela levantou rapidamente e ao fazer isso ficou tonta. Realmente não estava acostumada com bebidas, ela sorriu ligeiramente e piscou algumas vezes antes de voltar a falar. — Me lembrem de nunca mais beber isso na vida.

Jack deu um pequeno sorriso compreensível.

— Eu deveria fazer o mesmo. — comentou o menor dando espaço para Millie passar em sua frente. Em seguida Grazer colocou a mão no ombro de Finn, que estava dando mais um gole em seu copo antes de começar a busca. — Isso também serve pra você.

O mais alto sorriu de canto.

Os três se separaram, seguindo para seus rumos. Naquele momento, o cacheado caminhava por entre as pessoas perguntando por Reylynn aonde só recebia um sinal negativo em resposta, em seguida de um dar de ombros. Millie não estava muito diferente enquanto ia em direção ao banheiro feminino, quando entrou reparou que nenhuma das meninas ali era a garota de cabelos loiros e respirou frustrada. Por outro lado, Jack atravessa a cozinha e seguiu para a parte de trás da casa e iria retornar se não tivesse ouvido vozes altas.

Ele se aproximou com as sobrancelhas franzidas e encontrou o que esperava.

— Você estava dançando com outro, se aproveitando que eu não tinha chegado na festa. — grunhiu ele segurando o braço da menina de maneira hostil, enquanto as lágrimas acumulavam-se em seus olhos azuis. — Se comportando da maneira suja que sempre se comportou.

— Para com isso, eu estava...

— Victor, solta ela.

Victor Garvin era um garoto do terceiro ano, todos o conheciam mas ele não era totalmente popular, era apenas bonito demais.

Jack o chamava de maurício pelas costas, tinha preguiça de falar o termo mauricinho ou melhor, o adolescente rico e favorito dos pais. Afinal, quem quer que fosse o maurício original, poderia ser melhor do que Victor, disse ele uma vez para Finn.

Victor tinha olhos verdes, cabelos pretos e possuía o sobrenome Garvin, a família tinha negócios em outros estados com vendas de automóveis, o que deixava-os em uma bela posição no ranking imaginário da cidade. Parecia até que ele tinha saído de um filme romântico padrão das telonas de Hollywood, mas aquilo não era o suficiente para esconder seus maus modos. Victor era um rapaz insensível, todos sabiam disso, menos Reylynn até pouco tempo atrás quando questionou a si mesma se estava com a pessoa certa ou o que a fez se submeter a tal relação.

Ao ver Grazer, seu sorriso maldoso se alargou.

— Abram as cortinas, chegou a estrela principal. — ele sibilou sem largar o braço da garota e Jack revirou os olhos castanhos.

— Eu sei que sou importante Victor, mas por favor, dê um tempo.

Reylynn gemia em dor e tentava argumentar algo para o namorado.

— Cala essa boca, Reylynn.

O grito dele assustou a menina.

— Você não manda na vida dela. Não tem o direito de achar que é dono das pessoas, apenas porque não aceita o fato de ser completamente desequilibrado. Eu quero que você solte a Reylynn, agora.

— Ela é minha namorada, não sua Grazer.

— Sua namorada e não seu objeto, seu cretino.

O garoto largou o braço da namorada com brutalidade, dando alguns passos para perto de Jack. Reylynn estava temerosa com o que viria a seguir. Os dois eram da mesma altura e seus rostos ficaram poucos centímetros de distância, com os olhares sustentados e acirrados.

— Está explicado por que se merecem. Ela estava se comportando como uma vagabunda na minha ausência.

— Não fale assim dela. — replicou Jack.

— Eu falo do jeito que eu quiser. Mais alguma coisa?

— Não é de hoje que você não passa de um babaca que precisa mostrar autoridade em cima de uma mulher, porque é covarde o suficiente para não precisar lidar com as consequências quando fizer isso na frente de um homem. — Jack sorriu debochado e o olhou de cima. — O que você iria fazer, Victor? Gritar comigo?

Victor cerrou os punhos e o atacou, após o silêncio conflitante que se manteve. Os dois rolaram na grama e Reylynn totalmente nervosa não sabia o que fazer e em um ato de desespero ela gritou por ajuda. Logo um aglomerado de pessoas chegou para assistir, algumas com olhares curiosos e outras com um pouco de receio. Jack acertou um soco forte na boca do garoto, que gemeu em dor dando outro de volta. Os dois estavam trocando tapas e socos de um modo furioso.

— Parem com isso, por favor. — Reylynn estava assustada e com os dedos tremendo.

Do lado de dentro da mansão, Finn escutou os murmúrios de briga que as pessoas começaram a falar ao redor dele. Ele correu rapidamente para o aglomerado de pessoas e as tirava do seu caminho com um pouco de brutalidade. Estava com medo de encontrar Victor e Reylynn brigando ou que a briga tivesse se elevado para algo que ele nem queria imaginar. Quando conseguiu ter espaço o suficiente, avistou dois garotos brigando e por um momento pensou estar vendo coisas.

— Jack, o que você tá fazendo? — ele estava com olhos arregalados, vendo os dois rolarem na grama entre punhos e tapas. Finn olhou para os lados vendo que ninguém fazia nada, alguns torciam e começavam a fazer apostas uns com os outros para ver quem ganhava. Aquilo tirou o cacheado do sério. — O que estão esperando? Me ajudem a separar esses dois imbecis.

Assim alguns garotos se juntaram ao cacheado.

Um pouco antes da confusão começar, Millie ainda estava dentro da mansão procurando por Reylynn tentando lembrar como era seu rosto. Ela tinha certeza de que quando a visse, iria reconhecer. A garota começou a subir as escadas colocando uma mecha do cabelo claro atrás da orelha. Ela o olhou por cima dos ombros e reparou que ninguém prestava atenção para onde ela estava indo, pois todos estavam se divertindo o bastante, a transformando em uma peça minúscula. Se Reylynn fosse conversar com seu namorado ou brigar, teria que ser em lugar calmo, pensou sozinha. E com esse pensamento chegou ao corredor aonde alguns casais namoravam no andar de cima, porém não reconheceu ninguém.

Ela suspirou insatisfeita sabendo que voltaria com más notícias para os garotos. Millie pegou seu celular da bolsa e virou o corredor, mas esbarrou-se com alguém deixando seu celular cair no chão.

— Droga, me desculpe... — falou Millie e quase arregalou os olhos ao ver o garoto de cabelos claros juntando seu celular e entregando-a.

— Eu que peço desculpas, eu subi apressado aqui e... não me perdoaria se tivesse quebrado seu celular. — Jacob sorriu e a garota abriu a boca para falar mas fechou de novo. — Você ficou chateada? Me desculpa mesmo, eu não quis...

— N-não, não. — ela interrompeu com o coração acelerado. — Eu ia fazer uma ligação e... enfim. Está tudo bem.

Millie sorriu também um pouco nervosa e Sartorius ficou a olhando fixamente por bastante tempo, como se analisasse cada detalhe. Ele ainda lembrava dela mas não tinha notado no quanto tinha crescido e do quanto tempo tinha passado desde a peça de Romeu e Julieta, quando tinham doze anos.

— Então tudo bem. — murmurou ele e Millie apontou para trás do garoto dizendo:

— Eu preciso...

— Você tem que descer, não é? Eu estava atrapalhando seu caminho. — ele percebeu envergonhado dando espaço para a garota descer as escadas. Ela sorriu de canto sentindo suas bochechas corarem mais ainda e começou a descer os degraus devagar, porém Jacob não estava satisfeito e então chamou-a novamente. — Espera... Você se importa se conversarmos amanhã no colégio?

Ela sorriu ainda de costas e escondeu sua felicidade ao virar-se de frente para o rapaz.

— Não sei, não costumo fazer planos.

A garota deixou ele para trás com um riso no rosto. Ela estava se sentindo nas nuvens porém não queria criar falsas esperanças, mas era isso que os olhos de Jacob diziam.

Não conseguiu perceber que estava sorrindo sozinha com o celular na mão. E agora, precisaria ligar para Wolfhard para avisar sobre os maus resultados em achar a menina. Ela estava com o celular no pé da orelha quando todos começaram a andar para apenas um lugar só, eles pareciam estar curiosos. Millie reparou que o celular do garoto apenas chamava e guardou novamente na bolsa, franzindo a testa. Seus olhos se voltaram para um garoto baixo que foi até Jacob, que no momento estava no começo da escadaria, ele pareceu dizer algumas coisas no ouvido do mesmo e logo foram com pressa na direção daquele mar de pessoas.

Antes que ela fosse até lá saber, Finn e Chris, o garoto que estava conversando e contando piadas para eles mais cedo, apareceram com Jack apoiado em seus ombros. Suas condições não era as melhores. Seu supercílio estava cortado e havia um corte fino em sua bochecha.

Millie arregalou os olhos.

— O que aconteceu?

— Jack e Victor brigaram. Melhor irmos embora, a noite acabou pra nós. — respondeu Finn calmamente. — Jacob foi tentar amenizar o clima que ficou. A festa vai continuar.

Jack sorriu para a garota, com o canto da boca sangrando.

— A cara dele está pior, vai por mim.

xxx

Pessoal, me animei muito com os leitores da fanfic que crescem cada vez mais aqui e no Spirit Fanfics, estamos quase em 700 visualizações, eu não podia estar mais feliz. Muito obrigada MESMÃO. Enfim, consegui postar o capítulo totalmente intacta. Desculpem também pelo tamanho do capítulo, eu queria ter feito menor, mas sou muito detalhista.

Reylynn Caster e Chris Richards entraram em Sirius, eles são os amigos de elenco do Jack Grazer em Me, Myself and I.

Aqui está o link da playlist de Sirius que eu prometi desde o capítulo passado, espero que gostem: https://open.spotify.com/user/22mwi5anyzwn3aanxewtnib5a/playlist/6AW5iaTptzFmI25CpL7Gpz?si=JBa-uavJQFiiOKZ2TkW_Qw

Até a próxima

Continue Reading

You'll Also Like

Opostos. By ✨

Fanfiction

344K 19.1K 81
Para a maioria das pessoas só existe um amor perfeito, o amor de conto de fadas. Mas, e se pra mim, um príncipe encantado não fosse o suficiente?
406K 41.3K 46
O que pode dar errado quando você entra em um relacionamento falso com uma pessoa que te odeia? E o que acontece quando uma aranha radioativa te pica...
767K 20.6K 95
Pura putaria, se você não tem uma vida romântica é só se iludir junto comigo 😘
102K 4.7K 9
Dois melhores amigos que vivem se provocando decidem adicionar um pouco mais de cor na amizade... O que pode dar errado?